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TENTATIVAS INFRUTÍFERAS

 

O FILHO DO PREFEITO

Um dia, em que Inês voltava da Escola, sorridente e solícita como sempre, foi observada por Procópio, que era filho de Semprônio, Prefeito de Roma, nobre rico e poderoso na sociedade romana. Ele, assim que viu aquela jovem, com pouco mais de 12 anos de idade, ficou impressionado com sua beleza pura e, pela ingenuidade dos seus movimentos. Nenhuma das moças nobres romanas, ainda que vestidas de seda e ornadas de ouro e jóias preciosas, não lhe pareceu poder ser comparada a Inês, tão singela em seu vestido branco, sem adornos e nem jóias. Passou a segui-la para saber onde morava e a que família pertencia. Vendo-a entrar no Palácio dos Clódia, compreendeu que ela era nobre e digna, para unir o seu destino ao do filho de Semprônio, Prefeito da cidade, ou seja, de se unir a ele.

De volta a sua casa, descreveu o fato ao pai e lhe suplicou que conseguisse um meio de conquistar aquela moça, pois desejava ardentemente se casar com ela.

 

O PAI ASSUME A MISSÃO

O Prefeito, depois de conseguir todas as informações, aprovou a escolha, e ele mesmo, assumiu o compromisso de conversar com os pais da moça, a fim de lhes solicitar autorização para as núpcias dos filhos. O senhor Semprônio foi ao Palácio dos Clódia, onde foi muito bem recebido. Numa sala particular se reuniu com o casal, pais de Inês e, utilizou os argumentos mais persuasivos em favor do seu filho, salientando as boas qualidades e real interesse dele no casamento. Os pais de Inês ouviram tudo em silêncio e respeitosamente dedicou a maior atenção a todos os argumentos do Prefeito, que mencionou o seu elevado Posto na cidade, a nobreza da sua família, assim como também o seu desejo pessoal de unir a sua família aos Clódia. Tudo em vão, os pais de Inês disseram ao senhor Semprônio que a filha já havia traçado um projeto de vida, do qual não desejava se afastar. Mas não lhe explicaram o que significava o projeto da filha, apenas com bastante cordialidade, lhe manifestaram ser impossível aquele casamento desejado por ele.

O Prefeito se despediu meio desapontado, e chegando a casa contou ao filho o resultado da entrevista. O rapaz ficou inconsolado e imaginou que o seu pai é que agira com incompetência. E então decidiu: “Irei eu mesmo. Levarei ricos presentes e então veremos se ela saberá resistir a minha insistência”.

 

PROCÓPIO VISITA INÊS

E então, devidamente trajado, fez-se anunciar na residência dos pais de Inês. Na presença dela, sentiu aumentar a um extremo a sua paixão. Mas ela educadamente não aceitou, não acolheu as suas sedutoras palavras afirmando que já tinha um projeto de vida. O rapaz ficou desapontado pela franqueza da moça, e meio sem jeito, se despediu e voltou para sua casa. Mas, depois de muito pensar, decidiu e, na semana seguinte voltou novamente com novas promessas, com mais presentes, tentando seduzir Inês. Ela agradeceu, mas não aceitou nada e o despediu novamente. Dias após o rapaz voltou mais alvoroçado, sentia-se oprimido e chegou a se ajoelhar aos pés da moça... Ela triste e aborrecida, pediu que ele se moderasse e voltasse para a sua casa e fosse cuidar da sua vida. O rapaz muito sem graça, sem argumentos que pudessem mudar aquela situação, partiu. Mas, voltou na semana seguinte com uma fortuna em jóias lindas, feitas com ouro maciço e pedras preciosas, que sorridente colocou aos pés de Inês, suplicando-lhe que recebesse aqueles presentes que eram testemunhos do seu amor e acolhesse o seu pedido. Ela cansada, impaciente, detestando aquela desagradável insistência, perdeu a tranquilidade e expulsou-o da sua presença, dizendo: “Afasta-te de mim fonte de pecado, isca maligna, alimento de morte. Vai para longe de mim, pois já pertenço a Outro mais nobre por origem e dignidade. ELE me ofereceu dons mais preciosos que os seus e colocou no meu dedo o Anel de Esposa. A ninguém mais posso amar, sem traí-LO. Sua MÃE é Virgem, seu PAI não conhece mulher, os Anjos O servem. Somente a ELE serei fiel, NELE somente confio. Amando-O sou casta; tocando-O sou pura; possuindo-O sou virgem”.

À medida que falava, a fisionomia da moça se animava cada vez mais, suas faces enrubesciam, os olhos brilhavam de uma luz que não era humana. As palavras que saíam dos seus lábios, sempre mais veementes, feriam o jovem patrício diretamente no coração. E assim, sem qualquer outro argumento, melancolicamente ele recolheu os presentes, saiu da casa de Inês e voltou para a residência dos seus pais. Passou dias como um verdadeiro doente, não querendo se alimentar, não procurando fazer algum trabalho, não querendo conversar com ninguém.

O pai ficou preocupado e chamou o médico, que depois de examiná-lo, diagnosticou que o mal do rapaz era febre de amor.

 

NOVO CONVITE DO PREFEITO

Depois de muito raciocinar sobre o assunto, o senhor Prefeito decidiu voltar à casa da moça, a fim de conversar diretamente com ela, pois queria conhecer o motivo de tão grande resistência. Lá chegando, foi recebido com toda cordialidade, oportunidade em que logo investiu dizendo à moça que sob a proteção dele, ela e toda a sua família estariam garantidas pelo resto da vida. Todavia, Inês depois de se manifestar mencionando que a paz reinava em sua casa e nela todos viviam confiantes num futuro próspero e saudável, respondeu: “E eu, senhor Prefeito, já estou comprometida com Outro e não posso traí-LO”.

Semprônio conhecia os cristãos através dos comentários que circulava na cidade. Para ele, o Cristianismo não era mais do que uma seita de feiticeiros vindos do Oriente, capazes de fazer as coisas mais impressionantes. E pensando assim, começou a imaginar Inês como se fosse uma feiticeira, que sob uma aparência de simplicidade e belas virtudes, encantara o seu filho irremediavelmente. Voltou para o seu lar e na sua cabeça, estava ciente de que existia “algo anormal.”

 

COM OS SACERDOTES PAGÃOS

Como era costume dos pagãos, para buscar a tranquilidade do espírito, Semprônio sentiu a necessidade de sugestões que orientassem a sua vida, e por isso, recorreu aos sacerdotes dos “falsos deuses” , inimigos dos cristãos. E eles não tiveram dúvidas em aconselhá-lo: “Senhor Prefeito, há pouco o Imperador não assinou um Decreto ordenando a perseguição aos cristãos? Eles não deviam ser exterminados da face da Terra? Então Senhor! Este é o caminho. Como Prefeito de Roma, o Senhor está obrigado a dar o exemplo, obedecendo à ordem do Imperador”.

Este foi o terrível conselho que os falsos sacerdotes das religiões pagãs deram a Semprônio, que saiu dali disposto a resolver o assunto de um jeito ou de outro. Ou Inês cedia e se casava com o seu filho, ou a sua obstinada negativa seria paga com a morte.

Assim, no interior do seu coração se formou duas grandes correntes: sabia que Inês era cristã e de acordo com a Ordem Imperial deveria “apostatar a fé” ou “morrer”. Mas ele pensava no filho... Mais do que o cumprimento da lei importava a saúde do seu herdeiro. Então ele precisava encontrar outra solução, o caminho ideal para conquistar a moça.

 

BUSCANDO OUTRO RUMO

Mas, não quis renovar as suas súplicas indo à residência dos Clódia, mandou uma escolta de soldados convocar à jovem e os seus pais a presença dele na Prefeitura.

Semprônio recebeu a jovem com toda a pompa do seu cargo, para intimidá-la. Porém, vendo-a calma e sorridente como se estivesse na própria casa chamou-a a parte tentando um estratagema. Usou de eloquência e procurou persuadi-la com palavras carinhosas forçando-a aceitar o pedido do seu filho Procópio. Mas ele, o Prefeito, era um homem pagão, sem fé, não conhecia a força e a constância de que são capazes aqueles que verdadeiramente amam a DEUS, e sem conhecer a verdade, imaginava que a virgindade de Inês fosse um capricho, o que na realidade era uma firmeza inabalável no seu santo propósito de fidelidade ao SENHOR. E por isso ela repetia sempre a mesma resposta: “Estou comprometida com Outro Esposo, mais nobre, mais rico e amável. Roubou-me o coração. Nem humanas promessas me seduzem, nem ameaças me atemorizam. Sou fiel ao meu Único amor, NELE confio com toda a minha alma”.

Semprônio ficou traumatizado... Sério, olhava para um lado e para o outro, como se estivesse procurando uma solução. Parou, olhou para ela e mandou a moça sair. E a seguir, mandou chamar os pais que estavam na sala ao lado. Ele esperava que os pais fossem mais práticos e mais cordatos com os assuntos da vida.

Mas o Prefeito se enganou, os pais de Inês a educaram para CRISTO, como agora eles poderiam ser incoerentes, pedindo que ela deixasse CRISTO para se casar com o filho do Prefeito?

Profundamente indignado e sentindo-se humilhado pelas duas recusas, Semprônio logo pensou em dar vazão ao próprio ódio... Mas a dúvida envolvia o seu coração. Meneou a cabeça diversas vezes... Estava meditando... Pensava no sofrimento do filho e como acalmá-lo, e então, decidiu seguir por outro caminho, mandando colocar em liberdade a moça e os seus pais.

 

DESENHADO AS CORES DO MARTÍRIO

Inês e os pais conversaram em casa sobre os acontecimentos e anteviram perfeitamente, com bastante clareza, o fim para o qual caminhavam naquele problema, e amorosamente, com toda a fé em DEUS, encorajaram Inês. As orações e a Sagrada Comunhão completaram as providências da fé. Estava desenhado o martírio em linhas vivas, e deste modo, prepararam-se para esta sublime prova de amor e fidelidade. Inês não temia a morte.

Passados alguns dias, ela é novamente convocada a comparecer a Prefeitura. Para sua surpresa, ao chegar, o senhor Semprônio lhe dirigiu na qualidade de um pai aflito, procurando comovê-la, em face do preocupante estado de saúde do filho. Fala da febre que não cessa desde a última vez que o filho esteve com ela e inclusive, revelou a falta de interesse e de disposição do jovem pelos fatos do quotidiano, julgando-o condenado a morte.

Inês permaneceu séria e em silêncio. Ele discorreu um pouco mais sobre a saúde do filho, mas logo percebendo o silêncio dela, decidiu buscar outra linha de raciocínio. Semprônio já havia compreendido que para Inês, a virgindade era uma virtude a mais querida, tão importante ou mais, do que a sua própria vida, e por essa razão, pensou em sugerir um tipo de ajuda. Entretanto, ele na sua ignorância de pagão, não tendo uma idéia clara da excelência da virtude da virgindade no Cristianismo, disse:

- “Se prezas tanto a tua virgindade, por que não entra para o templo da deusa Vesta, onde poderás fazer parte da equipe de virgens e, velar dia e noite os altares com o fogo sagrado da deusa”.

O Prefeito na sua ignorância quis comparar as virgens de Vesta, com as virgens cristãs. Segundo a crença pagã, Vesta era a senhora do fogo, símbolo da eternidade, motivo por que o fogo devia permanecer sempre aceso no altar. E as virgens pagãs (que não eram nem perpétuas e nem espontâneas), faziam companhia a deusa no altar e recebiam as honras e os privilégios dos pagãos.

 

INÊS RECUSOU A COMPARAÇÃO

Inês que conhecia esta verdade, compadecendo-se de Semprônio, falou:

- “Pelo raciocínio do Senhor, me leva a entender que não prezas tanto o teu filho! Pois, considerando o amor que ele queria me dedicar, é justo compará-lo a um amor dedicado a uma virgem de Vesta? Não aceitei o amor do seu filho, senhor Prefeito, não por vaidade. Como eu poderia trocar o meu amor puro e sagrado que dedico ao meu DEUS e CRIADOR, para venerar ídolos surdos, mudos, inconscientes e sem alma? Se eu procedesse assim, seria uma mulher inconcebível, e assim, o Senhor estaria considerando o seu filho sem juízo e insensato, por procurar o amor de uma mulher que venera ídolos feitos por mãos humanas!”

Diante da resposta firme da moça, o Prefeito reagiu aborrecido:

- “Se não fosses tão jovem, e por isso, incapaz de raciocinar sobre situações reais da vida, ninguém me impediria de te castigar por essa blasfêmia. Pensa bem antes de falar, a fim de não incorrer na ira dos deuses.”

Inês não se amedrontou e respondeu:

- “Não penses que por causa da minha pouca idade, não saiba avaliar os acontecimentos do quotidiano. A fé não se manifesta pela idade, mas através dos sentimentos, e o SENHOR DEUS Onipotente dá valor antes ao espírito do que à idade. Quanto aos deuses de cujo furor o Senhor mencionou, que poderiam me castigar por causa das minhas palavras, deixa-os fazerem o que quiserem se eles forem capazes de se moverem dali, de onde estão para me intimar a adorá-los. Eu sei, e o Senhor também percebe Senhor Prefeito, que isso é impossível. Portanto, fazes o que melhor lhe agradar.”

 

É COLOCADA NA PRISÃO

Semprônio se levantou e deixou a sala de recepção indo ao encontro do chefe da guarda, ordenando a prisão da moça. Os guardas conduziram a jovem ao calabouço.

Humilhado pelas recusas da jovem e entristecido pelo desespero do filho, ele precisava acionar alguma providência, mas estava acovardado. Por isso, lembrou-se de um artifício legal, de recorrer a um meio autorizado pelos antigos costumes sancionado pelo direito romano, ou seja, era permitido pela Lei vedar a condenação das mulheres virgens à morte.

 

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