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QUOTIDIANO DIFÍCIL

 

 

A VIÚVA

Quando morre uma pessoa da família, a tristeza e a nostalgia envolvem os corações de muitos membros. Todavia, passados aqueles primeiros momentos, em muitas famílias, a ambição supera a saudade do falecido e surgem desavenças e inimizades entre os parentes, por causa da herança. A esse respeito, o mais abominável que se possa imaginar aconteceu em Wartburgo. Isabel tinha um filho com 5 anos de idade, de nome Hermann, que era o único sucessor legítimo de Luís, pertencendo-lhe portanto, o Governo do Ducado. Acontece que o demônio envolveu e tentou terrivelmente Henrique Raspon, irmão do falecido Luís e cunhado da viúva, fazendo crescer vertiginosamente sua ambição.

Cortesãos iníquos e gananciosos trataram de seduzir Henrique, formando uma infame conspiração contra Isabel, para se apoderarem de tudo. Inventaram uma derivação da Lei da Thuríngia, dizendo que o Ducado inteiro devia ficar nas mãos do Príncipe mais velho da família, que no caso, era o Henrique Raspon. E estimularam Henrique a se apoderar do poder, tomando como medida inicial, expulsar do Castelo e até da cidade de Eisenach, a viúva e os filhos. O Duque Henrique teve a fraqueza de concordar e ceder a esses infames conselhos.

Entretanto, nem ele e nem o seu irmão mais jovem Conrado, não ousaram se aproximar abertamente da cunhada, dando aos conselheiros plena e total liberdade para agir.

Os homens ao invés de comunicar a Isabel com educação e piedade, a decisão do conselho, os infames penetraram no gabinete onde a encontraram conversando com a sogra Sofia, mãe do Luís falecido, e dos ambiciosos Henrique e do Conrado. E acusaram Isabel de injúrias, de ter arruinado o país, de haver esbanjado e exaurido o tesouro do Estado gastando todo o dinheiro existente, enganando e desonrando o esposo. E lhe anunciaram que em castigo dos crimes praticados, ela ficava despojada de todas as suas possessões e que o Duque Henrique, que era o soberano verdadeiro, lhe ordenava se retirar imediatamente do Castelo.

Isabel ficou espantada e muito surpresa, enquanto a senhora Sofia, a Duquesa mãe, reagiu contra aqueles homens, apertando Isabel contra o seu peito e lhes dizendo:

- “Ela ficará comigo. Ninguém será capaz de me separar dela. Onde estão os meus filhos? Quero falar urgentemente com eles”.

E os emissários conselheiros, que estavam devidamente preparados para aquela ocasião, trataram de separar a força as duas Princesas, dizendo:

- “Não, senhora, cumpre que ela saia agora mesmo, neste instante”.

E Isabel com seus três filhos menores foram expulsos do Castelo, sob o olhar aflito de Sofia que viu a sua resistência ser inútil. Embora pedisse para conversar com os seus filhos: Henrique Raspon e Conrado, os conselheiros disseram que não sabiam onde eles estavam, e que não seria possível localizá-los. A viúva acompanhada dos três filhos e de duas servas fieis, só tiveram tempo de recolher uns poucos pertences e algumas roupas, e foram enxotados do Castelo a pé, em pleno inverno Europeu.

A Duquesa Sofia, cheia de ira e de vergonha pela perfídia dos seus filhos, nervosa e triste viu a nora e os netos partirem, passar o grande portão do Castelo, que logo se fechou atrás deles.

 

AFLIÇÃO, MISÉRIA E NECESSIDADES

Se a desumana expulsão do Castelo foi uma injúria desmedida, coisa pior a esperava em Eisenach, cidade em que Isabel semeou benefícios durante anos. Pois bem, o Duque Henrique havia mandado proclamar na cidade, que quem acolhesse a Duquesa Isabel e os seus filhos, “incorreria em todo o seu desagrado”.

E assim, todos os habitantes da cidade, por incrível que possa parecer, obedeceram. Todas as famílias ficaram contaminadas com a infâmia e baixeza de deixar na rua em pleno inverno, uma senhora mãe piedosa, com seus três filhos menores e duas servas, “se esquecendo do bem que ela havia semeado a todos na cidade”.

Depois de bater em muitas portas, sem ser recebida, ela caminhou para uma mesquinha e pobre taberna, na esperança de lá arranjar um lugar para se abrigar. O taberneiro a recebeu, mas não teve a coragem de acomodá-la com seus filhos na sua casa, por causa da ordem do Duque Henrique, acomodou-a com os filhos e as duas criadas num casebre separado da casa, que servia de depósito e chiqueiro. Retirou os animais e Isabel com seus filhos e as duas servas se instalaram sobre palhas. Ali puderam descansar um pouco, mas Isabel não conseguiu dormir, na sua mente afloravam pensamentos e imagens que jamais poderia imaginar. A meia noite ouviu tocar os sinos do Convento Franciscano que estava próximo, pois era o horário em que os religiosos se levantavam para louvar a DEUS. Isabel se ergueu, acordou os filhos e as servas, e foram para a Igreja assistir o culto Divino. Foi ela mesma, quando o seu esposo era vivo, quem fundou e construiu aquele Mosteiro. Inspirada pelo ESPÍRITO SANTO, pediu aos religiosos franciscanos que cantassem o “TE DEUM”, em ação de graças pelas grandes tribulações que DEUS permitiu que ela sofresse. Sem dúvida, esta atitude deve ter agradado a NOSSO SENHOR, pois era justamente na hora em que ela estava completamente pobre e abandonada, que passava a madrugada fria de inverno rezando na Igreja, mesmo assim, mantinha o coração transbordando de amor e de louvor a DEUS, PAI Bondoso e repleto de Misericórdia.

Deixando a Igreja com seus filhos e as servas, saiu à procura de um abrigo mais decente, do que o chiqueiro de porco da estalagem. Mas todas as portas estavam fechadas, ninguém queria recebê-la. Até que batendo numa pobre casa, um Padre idoso lhe ofereceu a sua pobre residência, com leitos de palha. Isabel aceitou a caridade do sacerdote com reconhecimento e depois, acomodando as crianças, saiu para empenhar uma jóia e conseguir alimento para eles.

Mas com o passar dos dias, os inimigos souberam que ela estava instalada na casa de um sacerdote. Como não podiam fazer nada contra o padre, teceram uma grande mentira, para arrancá-la dali. Foram lá e lhe disseram que ela podia ficar na casa de um tal nobre, que queria ajudá-la. Ela bem sabia que aquele tal nobre era um homem traiçoeiro e fingido. Mas na situação em que estava, diante da oferta daqueles senhores, ela tinha mesmo que ir lá para conferir. Agradeceu a hospitalidade do padre e seguiu para a casa do tal nobre. Tudo mentira. O tal nobre a recebeu cinicamente e a colocou com os filhos e as duas servas num único cômodo pequeno, sem móveis, num palacete onde havia mais de 10 quartos disponíveis. Imediatamente, sem nada dizer, Isabel abandonou aquela casa e voltou para a asquerosa taverna, onde tinha passado a primeira noite, por que era um local mais tranquilo e não estava exposta ao olhar rancoroso do nobre, que vivendo numa mansão, a colocou com seus filhos e as servas, num único cômodo vazio e sem janelas.

Na sequência dos dias, algumas pessoas de confiança, inclusive aparentados, penalizadas com o que ela passava, se ofereceram para tomar conta dos filhos, que estavam naquela terrível taberna, passando fome e frio.

Resignada com o seu viver, depois de proteger os filhos, de empenhar o restante dos objetos preciosos que possuía, inclusive a aliança matrimonial, tratou de ganhar o seu sustento fazendo fiação. E sempre caridosa, apesar da sua profunda miséria, nunca deixou de aliviar as necessidades alheias: sempre poupava alguma coisa do seu pouco alimento, para dar de esmola aos pobres que encontrasse.

A partir de então, mais do que nunca, Isabel passou a cultivar com plena e total dedicação o seu amor a DEUS. E muitas vezes, pela bondade infinita do SENHOR, era favorecida com visões, revelações e consolos sobrenaturais.

Certo dia estando muito cansada entrou no seu cantinho na taverna, deitou num banco próximo a janela e repousou a cabeça no colo da sua serva Isentrude. Às vezes fechava os olhos e às vezes olhava o céu. Num momento, a serva observou, que ela esboçou um doce e alegre sorriso e permaneceu com a face feliz um bom tempo. Depois fechou os olhos e derramou abundantes lágrimas. Na continuidade, pouco a pouco reabriu os olhos e um lindo sorriso cobriu toda a sua face. E assim permaneceu até a noite, alternando alegria e tristeza, com maior predominância da alegria. Mas, até aquele momento, não havia falado nenhuma palavra, até que de súbito, ela disse:

- “Sim SENHOR, se quereis estar comigo, quero estar Convosco e jamais me separarei de Vós”.

Isentrude que era muito querida e íntima da Duquesa suplicou-lhe que dissesse com quem falava. Isabel, sempre humilde, procurou ocultar as graças que DEUS acabava de lhe enviar. Mas, enfim cedendo, disse:

- “Vi o Céu entreaberto, e meu SENHOR JESUS dignou-se descer e a me consolar nas tribulações que me oprimem. A vista do meu Divino SALVADOR foi o momento em que mostrei alegria e sorri. ELE então disse:“Isabel, se queres estar comigo ficarei contigo e nunca hei de ME separar de ti”. “E eu respondi a JESUS aquela frase acima que já lhe disse”.

Isentrude desejou então saber como foi a visão que a patroa teve na Igreja. Isabel disse:

- “Não tenho o direito de contar o que DEUS me revelou. Mas não posso lhe ocultar que o meu espírito foi inundado da mais suave e agradável alegria, e que o SENHOR me permitiu ver, com os olhos da alma, admiráveis segredos”.

 

SOLIDÃO

Isabel com seus filhos e depois sozinha passou diversos meses numa terrível e abominável miséria, até que os parentes ficassem sabendo quão indignamente ela foi tratada e que em condições vivia. A comunicação era muito difícil naquela época e o povo estava amordaçado, com medo, por causa da proclamação do Duque Henrique.

A Duquesa-Mãe Sofia fez todos os esforços no sentido dos seus filhos aliviar a vida de Isabel, mas nunca foi atendida. Então não lhe restou relatar os fatos secretamente a Mectilde, tia de Isabel e irmã de Gertrudes mãe dela. Mectilde era religiosa Abadessa Beneditina em Kitzingen. Por causa das dificuldades mencionadas, somente em Outubro, ou seja, nove meses depois da expulsão de Isabel foi que a piedosa Abadessa soube da miséria da sua sobrinha. Traspassada de dor ao ouvir a triste narração, mandou imediatamente algumas religiosas do Mosteiro em duas carruagens a Eisenach, com ordem de trazer a jovem viúva para o Mosteiro.

As religiosas encontraram Isabel na Igreja, fervorosamente concentrada em orações. Como a Abadessa exigiu que ela viesse com os três filhos, Isabel com as Irmãs viajaram até onde as crianças estavam abrigadas com as famílias caridosas. Em seguida, voltaram imediatamente para o Mosteiro.

Para Isabel foi uma grande bênção Divina que recebeu, depois de tantos meses cheios de peripécias, de ser perseguida e maltratada de maneira desumana, haveria agora de desfrutar algum tempo de paz e descanso. A Abadessa, sua tia empregou todos os meios de lhe fazer esquecer aquelas cruéis dores da alma e do corpo que a acabrunhavam.

Todavia, na continuidade dos dias, o espírito misericordioso de Isabel não a deixou em paz. Na cidade de Kitzingen, o Mosteiro havia edificado um Hospital principalmente para atendimento aos enfermos com poucos recursos, o qual, tornou-se um lugar tão atraente para ela que todos os dias estava lá cuidando do corpo e da alma dos pacientes.

Isabel permaneceu no Mosteiro dois meses, quando o Bispo Egberto de Bambergo, irmão da Abadessa Mectilde, e também tio de Isabel, sabendo dos fatos, levou-a com os filhos para residir no Castelo de Bodenstein, que era um local mais próprio que o Mosteiro das Irmãs Religiosas, para criar os seus filhos. E assim, para lá ela foi com os três filhos e as duas servas fiéis, Isentrude e Guda.

Instalada no Castelo em Bambergo, Isabel continuou com os seus exercícios de piedade. E para ajudar, seu tio designou um sacerdote para a Capelania do Castelo.

A tranquilidade voltou e os afazeres diários se normalizaram, com as crianças estudando, acompanhadas pelas servas e Isabel exercitando a sua consciente piedade e sua amorosa caridade com os mais necessitados.

Todavia, o Bispo, seu tio, não conhecendo a profundidade do grau de mortificação da sobrinha e do seu desapego deste mundo, e vendo-a tão nova e tão bonita, quis arranjar um casamento para ela. Mas Isabel educadamente não aceitou e lhe explicou, que junto com seu esposo Luís, tinham feito voto de matrimônio eterno, não se casando uma segunda vez, se um dos cônjuges morresse primeiro. E explicou, que o referido voto foi feito oficialmente na Igreja, com seu Confessor Padre Conrado de Marburgo.

 

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