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A CRUZADA

 

 

GUERRA E FLAGELO DA FOME

Atendendo a um chamado do Imperador Frederico II, que quis empreender uma expedição guerreira a Itália, em 1226, ele, o Landgrave Luís com seus soldados atravessou os Alpes em companhia do Imperador rumo ao solo italiano. Todavia, apenas o Duque Luís partiu para a missão, uma grande fome assolou a Alemanha, principalmente a Thuríngia. O povo chegou ao extremo da miséria, com uma fome violenta. Os mais pobres saíam à procura de raízes, frutas agrestes e até pasto de animais, para matar a fome, que era muito grande, pois no campo e no comércio não havia quase nada para se comer.

A vista de tantas misérias, Isabel ficou sensibilizada e decidiu socorrer todos aqueles infelizes. Seu Castelo se tornou o centro de uma caridade sem limites. Havia muito dinheiro no tesouro Ducal em face da venda de diversas concessões, e a Duquesa não teve dúvidas de distribuí-lo criteriosamente, aos indigentes. Depois, mandou abrir os celeiros, cheios do melhor trigo, e da mesma forma, regulou as doações, a fim de que todos fossem atendidos, socorrendo mais de 900 pessoas durante um bom tempo.

O Duque quando chegou, o administrador do Castelo e diversos cortesãos vieram reclamar com ele. Luis respondeu:

- “Deixai minha boa Isabel dar quantas esmolas lhe aprouver, ninguém a contrarie o que ela fizer pelos necessitados”.

 

AMOR MATERNO

Isabel havia fundado um asilo particular para os meninos órfãos, e ela tratava todos com muita ternura, como se fossem seus próprios filhos. As crianças ficavam muito felizes e na realidade, criança não se esquece do bem que lhes fazem. E assim, apenas avistavam a chegada da Duquesa, corriam ao seu encontro chamando “Mamãe Isabel, mamãe Isabel”. E ela também, sentia-se muito feliz de observar aquele carinho espontâneo das crianças.

 

CORAÇÃO DILACERADO

Os muçulmanos infiéis ocuparam na Palestina (Israel) os lugares sagrados do cristianismo, onde NOSSO SENHOR viveu e nos redimiu, não permitindo que os cristãos os visitassem. Cresceu e evoluiu vigorosamente um sentimento valoroso em todos que amavam DEUS, com o objetivo de arrancar mesmo que fosse a força, aquela raça que tripudiava sobre os cristãos, e para isto foi formado um grande exército, as “Cruzadas”, para expulsar os infiéis daqueles lugares tão sagrados. E o Luís, Duque da Thuríngia, esposo de Isabel, não ficou indiferente a aquela realidade, e como bom cristão que era, também se enfureceu e decidiu se juntar à força do exército da cristandade. Recebeu a "CRUZ VERMELHA" das mãos do Bispo Hildesheim e fez voto de se reunir com seus soldados a expedição que o Imperador Frederico II preparava em 1227.

Entretanto, voltando ao seu Castelo de Wartburgo, ficou pensando na imensa dor que sentiria Isabel, e não teve animo de mencionar o assunto a sua esposa. Todavia, numa tarde em que os dois estavam sozinhos, sentados bem ao lado, um do outro, num momento de ternura e íntima familiaridade, Isabel enfiou a mão na bolsa do Luís, que pendia do cinturão, para ver o que nela havia. E o primeiro objeto que encontrou e tirou, foi exatamente a “CRUZ VERMELHA” que identifica os Cruzados. Imediatamente compreendeu a desgraça que ameaçava e esmagada pela dor e terror, caiu por terra sem sentidos.

 

RESIGNAÇÃO

O Duque consternado ergueu a esposa e procurou lhe recobrar os sentidos, acalmando sua dor com palavras meigas e afetuosas. Depois disse:

- “Isabel, é pelo amor de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO que me alistei entre os Cruzados. Não hás de querer me impedir de fazer por DEUS, uma coisa que seria obrigado a fazer por um Príncipe temporal, pelo Imperador e pelo Império, se eles exigissem”.

Após um longo silêncio e copiosas lágrimas, Isabel falou:

- “Caro irmão, caso não seja contra a vontade de DEUS, fica comigo”.

Luis falou:

- “Minha irmã, foi um voto que fiz a DEUS, deixe-me partir”.

Isabel respirando fundo assumiu o sacrifício e disse:

- “Pois bem, não quero ser contra a Vontade de DEUS, por isso não quero te reter. DEUS te conceda a graça de fazer em tudo a Suprema Vontade DELE. Eu farei a DEUS o meu sacrifício por ti e por mim mesma”.

Em silêncio os dois ali permaneceram algum tempo e, depois se levantaram, se abraçaram carinhosamente e voltaram ao Castelo.

 

DESPEDIDA

O Duque não tendo mais motivos para ocultar o fato, fez a notícia chegar aos seus súditos. Depois de providenciar os preparativos militares que o projeto exigia, convocou os príncipes, barões e outros senhores, seus vassalos, para uma assembléia solene em Kreusburgo. Ali, expôs a resolução de partir para o Oriente, em honra de DEUS, e pela salvação da sua alma, a fim de acudir em auxílio da cristandade na Terra Santa. Exortou-os a governarem o povo com doçura e equidade, fazendo reinar a justiça e a paz entre todos. Em seguida, visitou e se despediu dos monges, todos que eram seus amigos, nos diversos Conventos em Eisenach. Terminada as despedidas, permaneceu no Palácio ultimando as derradeiras providências.

 

LOCAL DO ENCONTRO

O Duque designou Schmalkalde, onde os militares deviam se reunir no dia de São João Batista para a viagem a Terra Santa. Luís abençoou os seus dois irmãos e, sobretudo, recomendou a Henrique Raspon, o mais velho, que cuidasse especialmente da sua mãe Sofia, da sua esposa Isabel e dos seus filhos. Depois se despediu da sua mãe e dos seus dois filhos. Quando se voltou para Isabel que estava grávida do terceiro filho, os soluços e as lágrimas sufocaram a voz dos dois, num carinhoso e longo abraço de despedida.

E do mesmo modo que o Duque se despedia dos seus familiares, os outros militares que iam viajar, também se despediam das suas famílias, das esposas, dos filhos e dos parentes. Foi uma cena triste e comovente. A dor da separação era muito grande para todos, por que na verdade, a guerra é sempre uma incógnita, não permite ninguém sonhar que será fácil ultrapassar todos os obstáculos de uma missão armada e voltar herói e sorridente para casa, ou seja, considerando que seria uma vitória certa sem problemas. Todavia, sabemos que não é assim, e por isso mesmo, uma imensa comoção envolvia a todos e as lágrimas umedeciam todas as faces.

Afinal, o Duque teve forças para dar o último adeus aos seus entes queridos e alcançar o seu cavalo, ao mesmo tempo em que deu a ordem de partida, mas Isabel também montou o seu animal e caminhou a seu lado.

Chegados à fronteira do país, ela não teve forças para se separar do marido, e então, caminhou mais um dia com ele, depois outro dia vencida e arrastada pela dor da saudade e pela grandeza do amor que os unia. No fim do segundo dia, não sabia se devia deixá-lo ou ir com ele a Terra Santa. Luís chorava e não dizia uma palavra. Mas, Isabel tinha que ceder, o dever de mãe, a obrigação de educar os filhos e de empunhar as rédeas do Governo falaram mais alto, e acabaram por vencer. Por isso, ela resolveu voltar. Também Vargila, o cavalheiro fiel que sempre a protegeu, aproximou-se do Duque e disse:

- “Senhor, é tempo. Deixe regressar a senhora Duquesa. O dever exige que seja assim”.

Os dois esposos romperam de novo em grande pranto e se abraçaram com tanto fervor, que comoveu a todos que estavam próximos. Não foi fácil ao senhor Vargila conseguir que Luís afinal se vencesse e desse o sinal de partida. Num derradeiro adeus, Luís mostrou a esposa um anel que trazia no dedo, o qual lhe servia de sinete para as cartas secretas, e lhe disse:

- “Caríssima irmã Isabel! Vê este anel, no qual está gravado sobre uma pedra safira o Cordeiro de DEUS com seu estandarte, é um sinal seguro de tudo que se refere a mim. Aquele que te trouxer um escrito chancelado com ele e te contar que eu estou vivo ou morto, pode acreditar em tudo o que ele lhe disser. O SENHOR te abençoe, querida Isabel, irmã minha muito amada, meu rico tesouro. DEUS Todo-poderoso guarde tua alma e seja a tua fortaleza! Jamais esqueças de mim em tuas orações! Adeus!”

E partiu o nobre cruzado deixando a esposa nos braços das suas damas.

Isabel de volta ao Castelo de Wartburgo, muito triste e desolada, depôs imediatamente as vestes reais, vestindo trajes de viúva, permanecendo solitária e inconsolável, durante vários dias. Ocupava-se inteiramente de DEUS, fazendo obras de caridade e de misericórdia, cada vez melhores.

 

SEGUINDO A VIAGEM

O Duque Luis partiu com um esplêndido séquito de duzentos cavaleiros, cheios de ideal para reconquistar o Santo Sepulcro, que estava ocupado pelos muçulmanos infiéis. Quando chegou a Itália, foi recebido com grandes honras pelo Imperador Frederico, que logo admitiu a presença de Luís a conferência secreta que deliberava acerca do plano da expedição. O Imperador fez-se acompanhar por ele à Ilha de Santo André, onde se realizou a assembléia, por que o Landgrave da Thuríngia lhe inspirava bastante confiança.

Entretanto, no seio de diversas tropas, vindas de regiões frias e não acostumadas com o grande calor, principalmente aquele do verão italiano que é muito quente, desenvolveu-se em várias tropas uma doença contagiosa que vitimou grande número de cruzados. E para sua preocupação, na Ilha de Santo André ele sentiu os primeiros indícios da moléstia. Todavia, embarcou com o Imperador para Otranto, onde se encontrava a Imperatriz Yolanda esposa do Imperador Frederico. Visitou-a com grande respeito, mas fisicamente começou a sentir uns arrepios. A febre chegou firme e com grande violência, por isso, com dificuldade ele alcançou o seu navio, onde foi obrigado a se recolher ao leito.

Convocou os médicos da região e reconhecendo a gravidade do seu estado, e não havendo remédios que pudessem ajudá-lo, ditou o seu testamento e mandou chamar o Patriarca de Jerusalém, que lhe administrou os últimos Sacramentos. Depois de receber a Sagrada Comunhão, encarregou uns cavalheiros de anunciar a sua morte à sua família e entregar a sua esposa, o anel com o Cordeiro de DEUS.

Minutos antes de expirar, exclamou:

- “Vede, vede, esses pombos mais brancos que a neve!”

As pessoas presentes julgaram que ele estivesse delirando, mas Luís ainda falou:

- “Cumpre que eu voe com esses pombos radiantes!”

A seguir, sua alma partiu para a eternidade. Era o terceiro dia depois da Festa da Natividade de NOSSA SENHORA no dia 8 de Setembro do ano 1227. Luís morreu com apenas 27 anos de idade.

 

POBRE CORAÇÃO

Os cavalheiros encarregados pelo Duque Luís chegaram a Thuríngia para anunciar a sua morte quando Isabel acabava de dar a luz ao terceiro filho, uma menina bem bonita. A conselho de homens prudentes, a notícia não foi transmitida à viúva. Sofia, sua sogra, deu ordens severas à criadagem para que ninguém levasse a Isabel a notícia da morte do seu esposo.

Passado o tempo de resguardo, era necessário comunicar o fato à viúva. Assim, Sofia, acompanhada de algumas damas nobres e discretas, reuniram-se com a nora nos aposentos dela e lhe contaram o desfecho terrível da expedição, entregando-lhe o anel de Luís, dizendo:

- “Minha filha, resigna-te e recebe este anel que ele te mandou, pois infelizmente Luís morreu”.

- “Ah! Senhora, o que dizeis?" Exclamou Isabel.

- “Morreu Isabel! Luís morreu!”

Com as mãos no rosto, ergueu-se desvairada e pôs-se a correr com todas as suas forças através das salas e corredores do Castelo, gritando:

- “Morreu, morreu, meu querido Luís morreu!”

Só parou na sala de jantar, de encontro a uma parede, onde ficou pregada, chorando e banhada em lágrimas. Foi uma grande tristeza. Ela estava tão desequilibrada emocionalmente que desmaiou, caindo ao chão. Vieram as criadas e quiseram conduzi-la ao seu quarto. Isabel deixou-se arrastar cambaleando, em profunda depressão nervosa, tendo permanecido chorando por longo tempo.

 

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