QUASE JESUÍTA – UM MISSIONÁRIO
PROCURANDO O CAMINHO
Sua ida a Roma não era a passeio, tinha feito planos para trabalhar, atender os necessitados e sofrer por JESUS. E assim, após uma viagem de cinco dias de barco chegou ao Porto de Civitàvecchia na Itália, e dali, ele seguiu a Roma.
Na Capital italiana, logo procurou os seus contatos, para agilizar os seus objetivos. Acontece que as pessoas que procurava, inclusive, levando cartas de referências para elas, não se encontravam em Roma. Algumas estavam viajando e outras estavam doentes em tratamento.
Então ele decidiu procurar um Padre da Companhia de JESUS. O bom sacerdote depois de ouvi-lo pacientemente e de conhecer o seu ideal missionário, deu-lhe um conselho: “Visto ter o SENHOR DEUS lhe chamado às missões, o certo seria você entrar na Companhia de JESUS, que tem a especialidade Missionária. Por ela, você seria enviado e ajudado no seu trabalho, ao passo que, indo sozinho, por sua própria conta, poderia correr muitos riscos e os perigos da missão”.
Antonio ficou entusiasmado e muito mais satisfeito com a orientação, porque ouviu a verdade. E para completar o bom sacerdote recomendou-lhe: “Você vai fazer agora o pedido ao Superior Geral da Companhia”. O Superior residia naquele mesmo prédio! E assim, o pedido foi feito naquele momento.
No dia seguinte o Superior Geral quis conversar com ele. Mandou chamá-lo. Quando Antonio chegou, saía do Gabinete do Superior um outro Padre.
A conversa foi normal e tranquila, o Superior queria conhecê-lo, assim como saber dos seus planos e ideal. E depois de um agradável entendimento, ele disse a Antonio: “Aquele Padre que saiu, quando você entrou, é o Padre Provincial, ele reside em Santo André do Monte Cavallo. Vai lá e lhe diga que eu lhe mandei. Faça o que ele lhe disser”.
Antonio encontrou o Padre Provincial e foi acolhido com suma gentileza, e assim, no dia 2 de Novembro de 1839, já estava no Noviciado Jesuíta.
Acontece que durante os estudos, em Fevereiro de 1840, surgiu uma forte e estranha dor na sua perna direita, que o levou a enfermaria da Congregação. Embora fosse medicado e a dor tenha melhorado um pouco, estranhamente continuou a incomodá-lo, até impedindo-o de caminhar corretamente.
A verdade é que as preocupações chegaram a tal ponto, que certa manhã o Padre Provincial foi conversar com ele, e disse: “O que lhe acontece não é natural, pois sempre andava contente, disposto, saudável e, agora, em dado momento, aparecem estas dores que são novidades inexplicáveis. Isso me faz pensar que o SENHOR DEUS quer outra coisa de você”.
E continuou: “Se lhe parecer conveniente poderá consultar o Superior Geral, que por sinal é um homem muito bom, e com imenso conhecimento de DEUS. Quem sabe se verdadeiramente lhe faria bem Antonio, se o consultasse”?
E assim aconteceu. O Padre Superior Geral o recebeu com carinho e muita atenção. Depois de analisar todas as explicações de Antonio, definiu com autorizada firmeza: “É vontade de DEUS que você volte de imediato à Espanha. Não tenha medo. Ânimo”!
Numa carta que enviou posteriormente, o Padre Superior Geral escreveu: “DEUS o trouxe à Companhia de JESUS não para ficar nela, mas para aprender a salvar os homens”.
MOVIMENTO MISSIONÁRIO
Antonio deixou Roma em meados de Março de 1840 e voltou a Catalunha, na Espanha. Esteve em Olost e depois em Vic. No dia 13 de Maio os seus Superiores Eclesiásticos o enviaram a Viladráu com o encargo de auxiliar o Pároco. Ali foi se recuperando daquele problema na perna direita até que aquela terrível dor desaparecesse totalmente, e assim, aos poucos, foi assumindo as atividades paroquiais.
Foi em Viladráu, que em Agosto de 1840, com a Novena da Assunção de NOSSA SENHORA aos Céus, ele deu início ao movimento das Missões. Foi um sucesso e tão comentado, que a partir daquele dia foi insistentemente solicitado a pregar em outros locais. Foi pregar as Missões em Espinelvas, perto de Viladráu. Depois foi a Serva. E nesta última cidade, a pregação missionária causou alarde, com numerosa conversões e inclusive nasceu a fama de curador de doenças. Na cidade não havia médicos, e talvez por isso, os fieis vinham lhe pedir uma bênção e remédios. Então, Padre Antonio teve que se fazer de médico da alma e do corpo. Na verdade, ele há anos exercitava a leitura de manuais de medicina e tinha certa prática de receitas e remédios. Quando aparecia casos mais difíceis, ele recorria aos livros. DEUS NOSSO SENHOR, ajudava o seu esforço, concedendo-lhe graças especiais. A notícia se espalhou com tanta veemência que ele teve de passar oito meses missionando naquela região. Depois voltou a Viladráu onde sua presença já era muito reclamada.
O povo de Viladráu o envolveram de tal modo, pois já o consideravam como um verdadeiro Santo, que o obrigou a pedir permissão aos seus superiores, a ficar livre dos encargos paroquiais. E assim, ele podia ficar inteiramente a disposição para pregar onde fosse necessário. As autoridades eclesiásticas atenderam o pedido.
Em Janeiro de 1841, se afastou de Viladráu com grande sentimento de todo o povo. Eles sentiam a ausência do Padre Antonio primordialmente pelos milagres e as curas que DEUS NOSSO SENHOR fazia, pelo Divino poder e bondade do SENHOR, e pela intercessão do Padre Antonio. E também, pelo valor notável da Palavra Divina que ele pregava com entusiasmo e muita eloquência, fazendo com que todos o ouvissem com fervor, assim como, eram estimulados e conduzidos à conversão do coração.
Ele recebia muitos convites de diversas Paróquias, inclusive de outras Dioceses. Mas não gostava de aceitar. Deixava que o trabalho fosse escolhido e determinado pelo Bispo, que o enviava para pregar as missões em lugares determinados. E a ele, competia cumprir da melhor forma e com o maior empenho a missão.
Ele mantinha o ponto de vista de que o missionário nunca deve ser independente no apostolado. Só deve ir para uma missão, mandado pelo Superior. No caso, mandado pelo Bispo da Diocese. DEUS enviou todos os Profetas de Israel, enviou o próprio FILHO JESUS CRISTO. Por sua vez, JESUS enviou os Apóstolos, ensinando assim, que o caminho da missão deve ser percorrido pelo “missionário enviado”.
APOSTOLADO: UM RECURSO ADMIRÁVEL E EFICIENTE
Padre Antonio Claret sempre com aquela intenção de trabalhar para a maior glória de DEUS e salvação das pessoas, procurava se servir de diversos tipos de Apostolado:
O primeiro apostolado que ele sempre utilizava em todos os casos, era a “Oração”. Ele sempre recomendava as pessoas que vinham solicitar algum conselho: participação frequente na Santa Missa, recitação do Rosário ou Terço de NOSSA SENHORA, visitas ao SANTÍSSIMO SACRAMENTO, reza da Via-Sacra, assim como praticar e rezar diversas outras devoções salutares.
b) “O Catecismo às Crianças”. Ele sempre considerou o Catecismo como um robusto fundamento de toda instrução cristã. Passar às crianças a doutrina fundamental é sem dúvida, o meio mais importante de se iniciar uma missão. Ensinando as crianças que tem a mente mais aberta para aprender, também se pode chegar aos pais delas.
c) “Catecismo dos Adultos”. Ele pregava os sermões, assim como ensinava, sempre usando palavras simples e diretas, no sentido de que todos entendessem de fato, o conteúdo da mensagem. E também, não falava muito, porque o excesso de palavras e de sugestões, sempre cansam e gradativamente vai anulando a parte boa da pregação.
d) “Sermões e Homilias, durante a Santa Missa”. Ele os preparava cuidadosamente, porque no seu claro entendimento, eles servem para aprofundar os fundamentos da fé, no sentido de convencer as mentes dos fiéis e estimular as suas vontades. E por isso mesmo, o sermão deve ser elaborado de conformidade com o auditório, utilizando um estilo simples, claro e persuasivo.
e) “Exercícios de Santo Inácio”. São exercícios espirituais propostos por Santo Inácio de Loyola, com excelente resultado para a vida de todas as pessoas.
f) “Livros e Folhetos”. Dizia Padre Antonio Maria Claret, que uma boa leitura é como o ar puro para os nossos pulmões. Uma mensagem fiel e estimulante num folheto ou santinho, assim como um bom livro, entra em nossa casa e podemos usá-lo quando e como quisermos, além de nos repetir sempre o que desejamos, ou seja, o que ali está escrito, nunca muda.
A propósito do valor das boas mensagens e dos textos bem elaborados nos livros, há um fato ocorrido com o Padre numa cidade da Espanha. Ele caminhava por uma rua e um garoto ligeiro se aproximou e pediu um santinho. Ele deu um santinho ao menino, que saiu correndo e agradecido.
No dia seguinte, depois de ter celebrado a Santa Missa, se pôs no presbitério fazendo a ação de graças. Aproximou-se um senhor gordo, com um grande bigode e barba espessa e com voz rouca lhe perguntou se podia ouvi-lo em confissão. Ele concordou e levou-o a Sacristia, porque havia fila junto ao Confessionário. Na Sacristia, ele puxou uma cadeira próxima a sua e pediu que o senhor se sentasse. O homem caiu de joelhos aos pés dele e desandou a chorar convulsivamente. Padre Antonio tentando controlar a situação, fez algumas perguntas, para arrancá-lo daquele desespero. Entre suspiros e soluços ele contou: “Ontem a tarde o senhor passou defronte a minha casa. Meu filho correu para lhe beijar a mão e lhe pedir um santinho. Voltou imediatamente muito feliz depois de olhar o santinho. Deixou-o em cima da mesa e foi brincar com as outras crianças. Por curiosidade peguei o santinho e li o que estava escrito no verso dele. Acabando de ler algo misterioso se passou comigo, cada palavra era como um dardo cravando-me no peito. Senti que devia me confessar. Eu sou um grande pecador senhor Padre... Estou com cinquenta anos de idade e só me lembro de ter confessado na infância. Até já fui chefe de um bando de malfeitores. Senhor Padre, haverá perdão para mim”?
Padre Antonio, respondeu: “Sim, há perdão para você. DEUS é um PAI infinitamente bom e cheio de misericórdia. Tenha confiança. Você está aqui, porque ELE o chamou, e você não vacilou em abrir o seu coração ao SENHOR, com uma Confissão bem feita”.
Este é um exemplo do grande valor de um texto bem escrito, com amor e com fidelidade cristã. Por que a verdade desperta o amor que precisamos dedicar a DEUS, a NOSSA SENHORA e ao próximo. Sem esta virtude, os mais belos dotes serão vazios e inexpressivos.
MISSÕES NAS ILHAS CANÁRIAS
Padre Antonio foi fazer uma pregação em Manresa, para as Irmãs da Caridade que trabalhavam no Hospital. A Irmã Superiora da Comunidade contou-lhe que Monsenhor Codina, que era amigo do Padre Antonio, tinha sido eleito Bispo das Canárias, e por isso a Irmã lhe perguntou: “O Senhor Padre não gostaria de trabalhar nas Canárias”? Ele respondeu:“Não pensei no assunto, porque eu sempre gosto de trabalhar aonde sou mandado. Se meu prelado para lá me enviar, esse também será o meu gosto”.
A Irmã de imediato escreveu ao Monsenhor Codina e lhe contou a conversa. Este, por sua vez, escreveu ao Bispo de Vic narrando o acontecimento. O Bispo de Vic que era o Superior do Padre Antonio, gentilmente colocou-o a disposição do seu colega nas Canárias.
Em 1848, Padre Antonio partiu para Madri para se encontrar com Monsenhor Codina, e se hospedou na casa do Padre Ramirez, seu amigo, aguardando as providências referentes à viagem. Aproveitou o tempo para pregar e confessar os doentes do Hospital Geral.
Depois que Monsenhor Codina recebeu em Madri a Sagração Episcopal, Padre Antonio e o Monsenhor viajaram para Cádiz, a fim de tomar o navio. No começo de Fevereiro chegaram a Grande Canária, uma ilha montanhosa, cuja capital e principal cidade era Las Palmas.
Fez missões na Grande Canária, celebrando Missas, atendendo confissões e realizando magníficos sermões para o povo. Como as Igrejas eram poucas e pequenas, reunia o povo nas Praças Públicas, fazendo as celebrações ao ar livre. E durante muitos meses trabalhou com o povo, despertando o Amor a DEUS em cada coração, além de estimular as pessoas a se converterem.
Concluída as Missões na Grande Canária, dispôs o senhor Bispo que ele fosse pregar na outra ilha próxima, chamada Lanzarote, e que fosse acompanhá-lo o Padre Salvador, irmão do Bispo.
Acontece que o Padre Salvador era muito gordo e o Padre Antonio realizava as suas Missões a pé. A pé, o Padre Salvador não ia aguentar a caminhada, pois de Las Palmas a Lanzarote eram duas léguas, ou seja, 12 quilômetros. Então, para conciliar a questão, Padre Antonio decidiu ir com o Padre Salvador, montado em animais. Arranjaram um camelo para os Padres. Os dois tiveram que se ajeitar e equilibrar entre as corcovas do camelo. Não foi fácil. Mas quanto a missão, ele a cumpriu de maneira brilhante, como das outras vezes.