O AMOR DOMINA SUA ALMA
JUNTO DOS PAIS
Antonio nasceu na Espanha no ano de 1807, na pequena cidade de Sallent de Llobregat, comarca de Manresa, próximo a Barcelona, e foi Batizado no dia de Natal na Paróquia de Santa Maria, na mesma cidade. Seus pais escolheram para o seu nome de Batismo “Antonio João”, mas, posteriormente ele acrescentou o nome de MARIA, em homenagem a MÃE DE DEUS, que sempre lhe auxiliou ao longo da sua existência e a quem amava com dedicada ternura. Teve onze irmãos, sendo seis homens e cinco mulheres. Seus pais eram João Claret e Joséfa Clara, muitos devotos do SANTÍSSIMO SACRAMENTO e de NOSSA SENHORA.
Desde criança, era um menino tranquilo e de bom coração, sempre ajudando a quem necessitava de um pequeno serviço, assim como tinha um profundo respeito as pessoas idosas.
Estava com seis anos de idade quando foi matriculado numa Escola, em que o primeiro professor era o senhor Pascoal, homem inteligente, dedicado ao magistério e muito religioso. Mesmo após o horário escolar, aos meninos que se interessassem, ele ensinava religião. E um dos primeiros a se apresentar para as aulas extraordinárias era Antonio.
Na família, os pais procuraram educar os filhos com respeito e amizade, ensinando-lhes os bons costumes e os fundamentos da religião. Geralmente após o almoço, por volta das 12 horas e 15 minutos, o pai mandava Antonio fazer uma leitura espiritual, sobre a vida de algum Santo ou um texto sobre assuntos religiosos. Este fato despertou no menino um amor tão apaixonado a JESUS, que o fazia beijar o crucifixo em todas oportunidades.
O senhor João Claret era proprietário de uma fábrica de fiação e de tecidos, e o colocou lá para aprender e trabalhar. Antonio gostou muito, e aprendeu o ofício com interesse e sabedoria, tendo passado em todas as seções da fábrica, o que lhe deu grande experiência em todos os segmentos da tecelagem e da produção. Os aplicou no serviço com inteligência e dedicação, pois não queria decepcionar os seus pais, a quem amava com muita dedicação e respeito.
MENINO RELIGIOSO
Desde tenra idade revelou uma grande inclinação para a religião e a piedade. Aos domingos e dias Santos, nunca faltava a Santa Missa, e nos dias da semana, frequentava a Igreja quando podia, mas na verdade, sempre dava um jeitinho para estar presente e assistir a Santa Missa.
Fez a Primeira Comunhão aos 10 anos de idade, e depois, nunca mais se afastou do Sacramento da Eucaristia e do Sacramento da Confissão. Nas orações, habitualmente Antonio se oferecia a DEUS para os serviços no Altar, revelando com frequência o seu desejo de ser Sacerdote. Por isso mesmo, logo que terminou o Curso Primário, o Padre João Riera começou a lhe dar aulas de latim.
Nesta mesma época sua devoção a NOSSA SENHORA foi despertada, e também cresceu jubilosa e apaixonada em seu coração, enchendo de ternura a sua vida. Tendo ganhado de presente um Terço, logo aprendeu a recitá-lo, e todos os dias, o rezava em honra a MÃE DE DEUS.
NA INDÚSTRIA TÊXTIL
Naquela época um bom empregado não era fácil encontrar. Por isso mesmo, embora fosse jovem, o seu pai o contratou definitivamente para trabalhar na Fabrica de Tecidos, aproveitando os seus avançados conhecimentos a fim de ajudar na produção. O pai via as excepcionais qualidades do filho e quis aproveitar para fazê-las crescer ainda mais. A verdade é que a fama de artesão do filho cresceu bastante e chegou a Barcelona. Amigos do seu pai queriam levá-lo para lá, prevendo que o rapaz tinha condições de fazer fortuna.
Antonio não estava estimulado a ir, porque interiormente tinha a convicção de que DEUS queria que ele fosse um Sacerdote e não um artesão.
Mas no momento, ajudando o seu pai na Fábrica, ele sentiu que era o seu dever e obrigação se desenvolver na especialidade, se aperfeiçoando nas artes têxteis. E por essa razão, pediu ao seu pai permissão para estudar em Barcelona. E o seu pai não só permitiu como o levou. E lá ele se dedicou com disposição e interesse, inclusive conseguindo estudar desenho na “Casa Lonja” que era uma notável especialista na arte.
CHAMAMENTO A CONVERSÃO
E assim, entusiasmado e envolvido pelos estudos e trabalho, percebeu que aquele fervor pelas orações havia se amainado, pois na sua cabeça as orações se misturavam e ferviam com as idéias de novos projetos têxteis, utilizando outros métodos mais eficientes e adequados. E certo dia, no meio de um turbilhão de idéias que lhe varria o raciocínio, em plena Santa Missa, veio a sua mente as palavras do Evangelho: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele perder a sua alma”? (Lc 9, 25). A frase lhe causou uma impressão tão forte, como se uma robusta flecha lançada com toda a força, atravessasse a sua alma. E a partir daquele momento, como se estivesse assustado por reconhecer que tinha se afastado do seu rumo idealizado, passou a pensar no que devia fazer.
Visitou o Oratório de São Felipe Neri e lá foi apresentado ao Padre Pablo Amigó, que o escutou e louvou a sua atitude, pela resolução tomada. Aconselhou-o a recomeçar o estudo do Latim. E ele seguiu o conselho do Padre.
PROTEÇÃO DIVINA
Então, Antonio começou a pensar na realidade da sua vida e a rezar mais, o que o ajudou a retomar aqueles primeiros fervores da sua existência. Seus olhos se abriram e vieram a sua lembrança perigos que enfrentou, dos quais foi salvo milagrosamente. E por isso mesmo, como reconhecimento e gratidão a DEUS NOSSO SENHOR, com simplicidade quis relembrá-los:
“No verão passado, na cidade de Barcelona, NOSSA SENHORA o livrou de morrer afogado. Por causa do trabalho intenso e o grande calor reinante, sempre que podia, buscava alívio na orla marítima. Certo dia, ele foi a um local chamado “Mar Velho”, e para refrescar os pés e o calor do corpo entrou um pouco no mar. Veio uma onda alta e logo seguida por outra, e depois outra, que o envolveu de tal forma, com um terrível movimento de afogá-lo. Todavia, invocando seguidamente a SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA, surpreendentemente ele começou a flutuar sobre as ondas... E logo na sequência, as ondas foram se deslocando e o lançaram nas areias da praia. Ainda deitado e muito assustado, levantou o olhar para o mar e se arrepiou de medo, muito trêmulo e nervoso pode perceber o iminente perigo que passou e que foi salvo, graças a bondade infinita da RAINHA DO CÉU”!
“Em outra ocasião, ainda em Barcelona, travou amizade com um rapaz que se revelara seu companheiro e amigo, e juntos fizeram uma sociedade lotérica. Na época apertada dos estudos e do aprendizado têxtil, a despesa era grande, e ele, naturalmente muito responsável, buscava com suas transações custear os seus estudos, sem sobrecarregar os seus pais. E o negócio da lotérica prosperou, pois frequentemente acertavam os números sorteados e ganhavam um bom dinheiro. Acontece que o companheiro era viciado no jogo de cartas, o que ganhava na sociedade que fundaram, gastava no jogo. E desse modo gastou tudo o que ele possuía. E certo dia, entrou no quarto onde Antonio morava, abriu o cofre e roubou tudo o que havia, e depois, perdeu tudo na mesa de jogo. E mais, pegou os livros do Antonio, roupas e pertences pessoais e empenhou, para liquidar dívidas de jogo. E por último chegou ao cúmulo de entrar na casa de uma senhora rica, roubar várias jóias e vende-las, e também, colocou o dinheiro no jogo e perdeu tudo. Acontece que a senhora descobriu o roubo e deu queixa a polícia, que foi atrás do bandido e o prendeu. O rapaz acabou confessando todos os delitos e pegou dois anos de prisão.
Impossível explicar o choque e as preocupações que tudo isto causou ao Antonio, sobretudo o abominável perigo de também ser envolvido nos crimes, pois era sócio do ladrão, e assim, ficou sujeito inclusive a perder a sua dignidade e a honra. A confusão na sua cabeça e a vergonha eram tantas que ele nem tinha coragem de aparecer na rua... Tinha a impressão de que todos olhavam para ele”!
E Antonio rezou muito e implorou a inspiração e proteção de NOSSO SENHOR e da VIRGEM MARIA, para não ser atingido por tantas transgressões e infâmias. Decepcionado e muito aborrecido, decidiu que o melhor era abandonar o mundo e se isolar na solidão, entrando na Cartuxa (Ordem Religiosa fundada por São Bruno). Ele retornou aos estudos e na primeira oportunidade, aproveitando a ida de seu pai a Barcelona, descreveu-lhe todos os acontecimentos, inclusive a sua decisão de deixar a Fábrica e entrar num Mosteiro.
DECIDIU PELO IDEAL RELIGIOSO
Dedicou-se aos estudos em Barcelona, principalmente a gramática latina, tendo por professores e orientadores, pessoas com capacidade e apurado espírito cristão, como o Padre Tomás e o Padre Francisco Artigas. E lá permaneceu até ir para Vic, a fim de iniciar o estudo da filosofia.
Deixou Barcelona depois de quatro anos, no início de Setembro de 1829. Chegando a Vic, no dia seguinte foi visitar o senhor Bispo, Dom Paulo de Jesus Corcuera que o recebeu com bastante atenção. Ficou hospedado no mesmo quarto junto com o Padre Fortunato Brés, sacerdote competente e com quem cultivou excelente amizade.
Naquele ambiente tranquilo e acolhedor, Antonio pode reconstruir a sua vida espiritual, que andava meio desleixada, assim como, se dedicar seriamente aos estudos.
Logo nos primeiros dias, desejando fazer uma Confissão geral, a seu pedido, indicaram-lhe um Padre da Ordem de São Felipe Neri: Padre Pedro Bach, que se tornou o seu confessor e diretor espiritual, em todas as ocasiões.
Na continuidade, para atender as suas necessidades, ele criou um calendário espiritual, que cumpriu perseverantemente todos os dias: a) Participava diariamente da Santa Missa celebrada pelo Padre Fortunato; b) Fazia meia hora de visitação ao SANTÍSSIMO SACRAMENTO; c) E rezava diante da imagem de NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, na Igreja dos Dominicanos.
Esta conduta fez renascer nele o antigo fervor religioso, sem que descuidasse dos estudos e das obrigações do quotidiano. E também, por uma sequência de acontecimentos, foi aos poucos, esfriando no seu coração, o desejo de se isolar do mundo, entrando na Ordem Cartuxa.
Continuando os estudos em Vic, no dia 20 de Dezembro de 1834, recebeu o Diaconato.
ORDENADO SACERDOTE
No dia 13 de Junho de 1835 (dia de Santo Antonio) foi ordenado presbítero, não pelo senhor Bispo de Vic que estava adoentado e veio a falecer no dia 5 de Julho, mas pelo Bispo de Solsona. E antes da ordenação sacerdotal, ele fez 40 dias de Exercícios Espirituais, prescritos pela Ordem Religiosa.
Padre Antonio Maria Claret celebrou a sua primeira Santa Missa no dia 21 de Junho, festa de São Luíz Gonzaga, padroeiro da Congregação de São Felipe Neri.
A seguir celebrou a Santa Missa na sua terra natal, para os seus familiares, parentes e todo o povo, e no dia 2 de Agosto, começou a ouvir confissões.
Terminado os trabalhos em Sallent, ele teria que retornar a Vic para continuar os estudos e receber o “Certificado de Sacerdote” . Todavia, em face de ter iniciado a guerra civil espanhola, o senhor Vigário Capitular achou mais conveniente que ele continuasse os estudos em Sallent, do mesmo modo como faria se estivesse em Vic, e como não havia outro sacerdote disponível para ajudar o Pároco da cidade de Sallent, foi conferido ao Padre Antonio a nomeação de Coadjutor Paroquial até ele terminar os estudos, e nesta mesma época, no dia 27 de Agosto de 1839, o senhor Vigário lhe entregou o “Certificado de Sacerdote”.
PADRE EM SUA TERRA NATAL
Assim, Padre Antonio passou a morar na Residência da Paróquia de Santa Maria de Sallent, ocupando-se dos ministérios eclesiásticos e dos seus estudos pessoais. Repartia com o Pároco todos os trabalhos pastorais, alternando com ele nas pregações e celebrações Eucarísticas.
Depois de dois anos de laborioso trabalho, o Pároco teve de renunciar por motivos políticos, e Antonio ficou sozinho, assumindo todo o trabalho Paroquial, em Outubro de 1839.
Chamou a sua irmã Maria para vir ajudá-lo, na secretaria, na cozinha e arrumação da Casa Paroquial, enquanto ele realizava todo atendimento paroquial: celebrava a Santa Missa logo cedo; depois permanecia no Confessionário a disposição dos fiéis. Após o café da manhã saia para atender os doentes, ministrar a unção aos necessitados, aos quais acompanhava todos os dias. Mas não entrava nas casas para fazer visitas sociais a amigos e parentes, embora tivesse muitos naquela região. Atendia sim, o povo simples do campo, das lavouras e os doentes.
Padre Antonio gostava de ler, e com frequência lia a Vida dos Santos e principalmente a Bíblia Sagrada. Há muitas passagens nas Sagradas Escrituras que o impressionavam vivamente, e que inclusive, ele chegava a dizer que era como se estivesse ouvindo a Voz de DEUS:
“Ficarão envergonhados e desapontados todos os que têm raiva de ti. Reduzir-se-ão a nada e perecerão os que quiserem lutar contra ti ... Com efeito, EU, o SENHOR, teu DEUS, te tomarei pela mão e te direi: Não temas, Sou EU que te ajudo”. (Is 41, 11;13)
Esta outra passagem de Isaías o fazia chorar: “... Tu a quem estendi a mão desde os confins da Terra, a quem chamei desde os recantos mais remotos e TE disse: Tu és o MEU servo, EU te escolhi e não te deixei”. (Is 41, 9)
Estas palavras do SENHOR lhe estimulava a caprichar mais nas homilias e lhe produzia muito mais ânimo nas pregações durante a Santa Missa.
QUERIA SER MISSIONÁRIO
Mas Antonio tinha um ideal bem antigo: queria ser “missionário”. Ele tinha uma séria preocupação de santificar a sua existência, mas também, buscava meios de ajudar ao próximo e de conseguir a salvação das pessoas. Todavia, pretendendo exercitar a vida missionária teve de superar muitas dificuldades antes de deixar a Paróquia na sua terra natal, tanto por parte do senhor Bispo, como do povo. Viajou para Barcelona para preparar o passaporte. Não teve êxito. Conforme a recomendação de amigos, ele só conseguiria regularizar os seus documentos e tirar o passaporte, na França. Então, decididamente para a França ele foi, viajando de barco e a pé, com todas as dificuldades que surgem durante um trajeto tão longo, enfrentou todos os caminhos com decisão e coragem. Depois de passar por varias cidades, chegou a Prades, na França, onde foi muito bem recebido e conseguiu trocar o seu passaporte por um que o levaria a Roma.