PRESENÇA DO ESPÍRITO SANTO
HOSPITAL DE SÃO TIAGO DOS INCURÁVEIS
E desse modo, nas caminhadas pelas Sete Igrejas Romanas, ele se relacionou com muita gente, e acabou entrando em contato com os confrades da Companhia do Divino Amor, que tinha o objetivo de atender espiritual e materialmente os pobres, os doentes, os órfãos e os encarcerados. Atraído por este apostolado, Filipe passou a se dedicar aos doentes mais miseráveis, junto com os membros do Divino Amor e muitos outros voluntários, no famoso Hospital de São Tiago dos Incuráveis (San Giacomo degli Incurabili). Lá, eles lavavam os doentes, limpavam os corredores, davam de comer aos incapacitados e, sempre estavam à disposição de qualquer um que necessitasse deles. Foi frequentando este Hospital, praticamente até o fim da sua vida, que ele conheceu Santo Inácio de Loyola e São Camilo de Lélis.
Também, não satisfeito com a visita que fazia aos hospitais dando assistência a todos que necessitavam, Filipe percorria as ruas e praças de Roma, falando às pessoas sobre religião e as coisas de DEUS, de maneira comovedora e cativante. E naquele momento em que abordava as pessoas perguntava: “Então, meu irmão, quando é que começamos a amar a DEUS?” E de outras vezes perguntava: “É hoje que nos decidimos nos comportar bem?” Sem dúvida, Filipe Neri foi um corajoso semeador da santa alegria dos filhos de DEUS.
CATEQUISTA SÁBIO
Com disposição, interesse e muita boa vontade, ele nunca cessava de atrair as pessoas para o seu grupo. Tinha o gênio alegre e muito acessível. Era todo fervor e alegria. Seus discípulos o admiravam profundamente e testemunhavam que ele procedia assim com todos, com as crianças, as mulheres, os homens, os sacerdotes e os cardeais, se familiarizando com todos de modo amigo e fraterno. E por essa razão, as pessoas que conversavam com ele, gostavam e na primeira oportunidade regressavam para ouvir suas palavras, absorver os seus ensinamentos, por que também se sentiam felizes ao seu lado. Filipe era agradável e carinhoso com as pessoas, facilitando assim o seu objetivo principal de atraí-las para o caminho de DEUS, e procedendo assim, poucos eram aqueles que não voltavam e não permaneciam na sua companhia.
OS CAMINHOS DE DEUS
Muito embora fizesse este magnífico apostolado, inclusive ajudando a muitos sacerdotes, seminaristas e Congregações, não queria se prender a nenhuma Ordem Religiosa. È como dizia: “DEUS me chamou a viver como um leigo comum e assim quero permanecer”.
Certa ocasião em que fazia orações nas Catacumbas de São Sebastião, um pouco antes da festa de Pentecostes no ano 1544, suplicando ao ESPÍRITO SANTO que lhe enviasse dons para realizar a missão da sua vida conforme a Vontade de DEUS ocorreu um episódio inesquecível o qual ficou conhecido pelo nome: “Pentecostes de Filipe”. Uma bola de fogo entrou por sua boca dilatando-lhe o peito com tanta intensidade, que ele imaginou ser prenúncio da sua morte. Caindo ao chão, a sensação de dor era grande e acompanhada de um forte fogo interior de tal ordem, que caracterizava a ocorrência de um fato sobrenatural. Então ele gritou: “Basta, SENHOR, basta! Não resisto mais”!
Desse acontecimento surgiram diversas sequelas que os médicos nunca conseguiram explicar: apareceu uma forte palpitação do coração e um tremor incontrolável por todo o corpo, sempre que ele entrava em contato com DEUS, através das orações, ou celebrando a Santa Missa, ou pregando o Evangelho. Era um tremor tão forte que transmitia a cadeira onde estava sentado, ou ao banco em que estivesse ajoelhado. Outra consequência foi que passou a sentir um calor tão intenso, que mesmo nos dias de inverno mais rigoroso ele dormia com a janela aberta e, saía em plena noite para rezar ao ar livre. Também por causa do fenômeno, teve uma notável dilatação no peito de aproximadamente 12 centímetros, justamente na área que protege o coração. Quando ele morreu, o médico Dr. Andrea Cesalpino fazendo a autópsia relatou: “Aberto o tórax, percebi que as costelas estavam rompidas naquele ponto, ou seja, separadas da cartilagem. Evidentemente foi uma providência Divina, por que se não existisse aquele espaço o coração não podia pulsar com tanta força, e se pulsasse, bateria contra as costelas”.
Filipe ocultou este fato durante a sua vida e só revelou ao seu amigo e confidente Padre Pietro Consolini, no final da sua existência.
SACERDOTE DO ALTÍSSIMO
No quotidiano também sempre se mostrou ser um homem prático e muito equilibrado, com sólido bom senso, tendo grande aversão pelo falso misticismo. Não revelava e não gostava de falar sobre a sua pessoa. Por isso mesmo, inculcava nos seus discípulos a importância de ter uma direção espiritual, todo aquele que quiser seguir o caminho da imitação de CRISTO.
O seu primeiro Diretor Espiritual e Confessor foi o Padre Persiano Rosa, que conheceu em 1548, logo nos primeiros anos em Roma, o qual se revelou, sobretudo, um fraterno amigo, principalmente em dois momentos especiais da vida de Filipe. O primeiro momento foi quando o levou à Confraria da SANTÍSSIMA TRINDADE, que tinha uma específica finalidade devocional concentrada no culto da Sagrada Eucaristia. Seus membros se reuniam na “Chiesa de San Salvador in Campo” para receber a Sagrada Comunhão e realizar exercícios de piedade. E nesta oportunidade, Filipe criou a devoção das 40 horas, que consistia na adoração do SANTÍSSIMO SACRAMENTO durante quarenta horas. A fim de que todos participassem da adoração de JESUS SACRAMENTADO, estabeleceram uma escala de uma hora para cada membro da Confraria. Na continuidade ele criou a Confraria da Caridade, que era uma sociedade dedicada aos pobres e doentes. Essa Confraria se reunia na Igreja de San Girolamo (São Jerônimo), e por isso, recebeu o nome de Igreja de São Jerônimo da Caridade (San Girolamo della Carità), e que permanece até hoje. Filipe morou nesse lugar durante muitos anos e, foi ali que nasceu a sua principal obra: o Oratório.
O segundo momento importante que o Padre Rosa atuou na vida dele, foi quando forçou Filipe a ser Sacerdote. “Forçar” é a palavra certa, por que Filipe queria servir a DEUS como leigo e não como um consagrado, sendo um simples homem a serviço do SENHOR. Mas acabou cedendo aos argumentos daquele Padre, que além de amigo, conhecia muito bem a sua alma.
E desse modo, como ele sempre foi um homem que estudou com seriedade e buscou sempre aumentar os seus conhecimentos, em pouco tempo completou os estudos de teologia, e logo, no dia 23 de Maio de 1551, foi ordenado Padre e celebrou a sua primeira Santa Missa, na Igreja de San Tommaso, em Parione. E então, tornou-se um sacerdote profundamente dedicado a sua tarefa pastoral, alcançando uma íntima união espiritual com o SENHOR, apto a receber e participar da eficácia sem limites do ESPÍRITO SANTO.
O CONFESSOR
Logo após sua ordenação, Filipe ficou morando na Casa da Confraria da Caridade, onde residiam clérigos seculares que se dedicavam ao cuidado dos pobres mais miseráveis, dos doentes e dos condenados à morte. Naquela casa residiu durante 32 anos.
Atuando como sacerdote, intensificou sua incansável dedicação a DEUS e aos pobres, doentes e necessitados. Celebrava a Santa Missa todos os dias, o que não era comum naquela época. E por causa do seu problema dos “tremores” quando falava com DEUS na Santa Missa, gostava de celebrar no horário das 12 horas, ao meio dia, com a Igreja praticamente vazia, dando-lhe tranquilidade e mais tempo, para através das orações, falar sem preocupações ao “Amor da Sua Vida”.
Para atendimento a Confissão não fixava horário, toda e qualquer hora era possível se confessar com ele. E por isso mesmo, dezenas e centenas de pessoas acorriam ao confessionário em busca dos seus conselhos e orientações para a vida.
Sua fama de bom Confessor se espalhou pela Itália e principalmente em Roma, e o seu confessionário era muito frequentado. Conta-se que em certa ocasião veio para se confessar, um homem cujo arrependimento dos pecados não era sincero. Padre Filipe percebendo a realidade, não fez nenhuma repreensão, mas lhe disse: “Tenho que sair para fazer uma pequena tarefa, mas volto dentro de instantes”. E deixou o homem no Confessionário com um Crucifixo na mão. O homem, enquanto esperava, lançou um olhar meio de lado no Crucifixo, por curiosidade, e logo desviou o rosto. Mas, meio confuso, olhou outra vez, e agora demorou um pouco mais observando o SENHOR... A seguir, olhou outra vez e não conseguiu mais tirar os olhos de JESUS Crucificado, ficando extremamente arrependido pelos seus muitos pecados. Quando o Padre Filipe regressou, limitou-se a ouvi-lo numa verdadeira confissão e a lhe dar a absolvição sacramental.
Padre Filipe dirigia as almas com profundo sentido sobrenatural e com extremoso bom senso, além de usar em certas ocasiões de uma dose de humor, durante as confissões. A um homem rico que, depois da Confissão, se propunha a fazer grandes penitências por causa dos pecados cometidos ao longo da sua vida, ele lhe indicou que ao invés disso, desse muitas esmolas aos pobres; a uma jovem que se mostrava muito deprimida, com muitas manias e medos, mandou-a procurar um bom marido; uma senhora “vestida com certo exagero” que vaidosamente lhe pedia “conselhos estranhos”, usando um sapato fino e bem alto, ele recomendou que ela tomasse cuidado para “não cair”. Ele sabia como era importante colocar as almas frente a frente com a verdade, mas falava com muita delicadeza e grande senso de oportunidade. Deixava transparecer que a Confissão Sacramental não representava um Tribunal de punição severo, mas, sobretudo, nela se realiza uma imensa demonstração do Amor Misericordioso de CRISTO, que quer perdoar todos os filhos que arrependidos, buscam piedade e perdão. Por isso, ele tratava todos os penitentes com imensa paciência e muita compreensão. Mais tarde, recomendaria aos seus discípulos sacerdotes, que tivessem a mesma atitude: “Esforçai-vos sempre para conquistar o coração dos homens com benevolência, imitando o Amor de CRISTO, tendo a maior compreensão possível com as fraquezas deles, procurando ternamente fazê-los entender a amplitude do Amor de DEUS, que é a única coisa capaz de realizar grandes transformações no coração humano. Somente pela bondade e com muita paciência se consegue trilhar este caminho", ensinava o Santo Sacerdote.
A INVEJA DO MALIGNO
Em face das muitas conversões ocorridas no seu Confessionário, compreende-se que o demônio estava incomodado e, até com inveja. Então, decidiu perseguir o Padre através de tentações diretas ou provocando a frustração de acontecimentos no quotidiano.
Havia na residência de San Girolamo dois clérigos vindos de uma Ordem Religiosa, que invejavam o prestígio que o Padre Filipe tinha, pois ele era muito procurado por centenas de pessoas no Confessionário e também particularmente, para conselhos e orientações. Como aos dois foi dado o encargo de cuidar da sacristia da Igreja, em tudo eles procuravam dificultar o trabalho apostólico de Filipe, da mesma forma que não perdiam a oportunidade de caluniá-lo e difamá-lo pelas costas, o que, em consequência trouxe ao Padre diversas incompreensões e friezas por parte de outros habitantes da residência, que acreditaram nos mexericos dos dois clérigos. Padre Filipe suportou tudo com infinita paciência, mas ao seu Confessor ele afirmou que já não estava aguentando mais, e por isso rezava e suplicava a DEUS: “Bom JESUS, por que não me escutas? Peço-TE tanto e há tanto tempo”? Ele ouviu a resposta Divina no fundo do seu coração: “ME Pedes que te dê paciência? Mas esta é a estrada que justamente terá de percorrer para alcançá-la”.
E assim, continuando pacientemente no seu trabalho, apesar das calunias e insinuações malignas dos dois clérigos durante dois anos, sua paciência acabou por triunfar. Aqueles dois clérigos, por uma infinidade de razões se arrependeram e se desculparam com ele, e a seguir, retornaram aos seus Conventos. Um terceiro clérigo, que era a “eminência parda” na residência, o cabeça orientador de muitas perseguições contra ele, se converteu e publicamente lhe pediu perdão.