O ORATÓRIO
INÍCIO DO ORATÓRIO
Através do Confessionário pode se relacionar com muitas pessoas, que na continuidade, o procuravam a fim de estabelecer amizade, pelo prazer de conversar com ele. E com este objetivo, muitos penitentes passaram a encontrá-lo de uma maneira mais informal e absorver os seus conselhos e orientações. E assim, passaram a se reunir no começo da tarde, no próprio quarto do Padre Filipe, em San Girolamo e os temas abordados eram religiosos e espirituais. E como não havia cadeiras suficientes, se usava pequenos tamboretes e caixotes de madeira, enquanto Filipe ficava sentado na sua cama. E ali, num ambiente de grande espiritualidade, com palavras sábias e adequadas, acendia no coração deles, de modo maravilhoso, um imenso Amor a CRISTO, conforme o testemunho do seu Confessor Padre Gallonio, realçando também, que Filipe se esforçava, sobretudo, para infundir naquelas pessoas interessadas, o desejo de rezar, de se aproximar com mais frequência dos Sacramentos, e de colocar em prática o amor a DEUS, assim como o amor ao próximo.
O assunto central das reuniões era sempre a leitura e comentário das Sagradas Escrituras, particularmente do Evangelho de São João, ou também, de trechos ou capítulos de um livro espiritual. Muitas vezes, na parte final da reunião, eles cantavam e falavam de músicas. Depois, o grupo saía para atender doentes no Hospital de São Tiago dos Incuráveis, e também, passeavam pelos recantos bonitos que havia nas proximidades, ou ainda, faziam visitas a JESUS no Sacrário em muitas Igrejas romanas. No retorno, voltavam aos seus lares. Mas, um grupo de fiéis mais íntimos permanecia junto dele rezando na Igreja de San Girolamo. E desse modo se esboçava as grandes linhas do que viria ser a sua fundação, muito embora, nesta época, ainda não lhe passasse pela cabeça a idéia de fundar uma Congregação.
Com o tempo, o quarto de Filipe ficou muito pequeno para acolher tanta gente e então, transferiram os encontros para uma Capela lateral na Igreja de San Girolamo, especialmente adaptada por eles. E nesta outra realidade o “Oratório” começou a se delinear. Essa designação foi dada pelo próprio Padre Filipe, que também escolheu o mesmo nome para a futura Congregação Religiosa que ele fundou em 1557, quando estava com apenas 6 anos de ordenação sacerdotal.
OS PRIMEIROS SEGUIDORES
Muitas pessoas acolheram de corações abertos e bem interessados, a iniciativa da fundação do Oratório: gente nobre, pessoas simples e outras muito cultas todas unidas pelo Amor de CRISTO. Entre eles havia os auxiliares, colaboradores e aqueles que se decidiram seguir a vida consagrada. Dois daqueles companheiros dos primeiros tempos constituíram para Filipe uma grande e preciosa amizade, por que foram fiéis até o fim da vida. Francesco Maria Tarugi foi um deles: um verdadeiro “cavalheiro”, educado, inteligente e muito fiel. Falava muito bem, sendo um dos melhores oradores e um dos grandes pilares do Oratório. Impelido pelo seu espírito empreendedor e dinâmico, foi quem iniciou as atividades do Oratório em Nápoles. Ordenado Sacerdote, foi enviado para divulgar o Oratório na França, Espanha e Portugal, como legado do Papa Pio IV. Posteriormente, o Papa o fez Arcebispo de Avinhão, e anos mais tarde, ele foi escolhido Arcebispo de Siena. Por fim, terminou os dias da sua laboriosa existência junto aos oratorianos em Roma.
Outro personagem central da Congregação, e também, um dos filhos espirituais prediletos de Filipe foi o advogado Césare Baronio. Desde que conheceu Filipe em 1558, não pode mais se separar dele e dedicou-se de corpo e alma ao Oratório. Muito antes de se ordenar sacerdote, dava palestras sobre temas espirituais aos membros do Oratório. Mas Filipe lhe pediu e ele prontamente atendeu: escrever sobre a História da Igreja não só para divulgar a verdade e instruir o povo, como para refutar as falsas versões publicadas pelos heréticos protestantes. E Padre Baronio se aprofundou tanto nas suas pesquisas que escreveu 12 preciosos volumes dos “Annales Ecclesiastici” , os quais se tornaram um verdadeiro marco zero da ciência histórica e fonte insubstituível para quem quiser conhecer o passado cristão, sendo considerado o “Pai da História Eclesiástica”.
Nos últimos dias da vida de Filipe, na escolha do substituto para dirigir o Oratório, Padre Baronio foi eleito por unanimidade por toda Congregação para ocupar o cargo, e após a morte do “mestre Filipe” , foi feito Cardeal pelo Papa Clemente VIII, tão grande era o seu prestígio.
DIFICULDADES E PERSEGUIÇÕES
Logo que a fama de Filipe começou a crescer, o recém constituído grupinho do Oratório despertou a atenção do povo, desencadeando todos os tipos de falatórios, inclusive a inveja, ressentimentos e por fim, a perseguição aberta e covarde. Autoridades religiosas chegaram acusar Filipe de estar criando um núcleo protestante, por que ele colocava alguns membros do Oratório, pessoas inteligentes e estudiosas, embora não fossem sacerdotes, a fazerem palestras sobre assuntos religiosos como instrutores da Comunidade. Depois, incidiram violentamente contra Filipe, por causa das peregrinações as “Sete Igrejas de Roma”. Ele em silêncio, suportava tudo com serenidade e repetia aos membros do Oratório que estavam assustados com aqueles absurdos acontecimentos: “Minha preocupação é a glória de DEUS e a salvação das almas. Não me preocupo absolutamente com nada que diga respeito a mim”.
As pessoas maldosamente chegaram ao ponto de tecerem intrigas junto ao Papa Pio V, pressionando o Sumo Pontífice para fechar o Oratório. Mas nada conseguiram graças à firme intervenção do Cardeal Federico Borromeo, que era um grande amigo de Filipe, o qual conseguiu impedir que a conspiração continuasse e alcançasse êxito.
IGREJA NOVA
No começo do ano 1564, quando Filipe acabava de se curar de uma grave doença, veio uma comissão de administradores de Florença para lhe pedir que se encarregasse da Paróquia de São João dos Florentinos (San Giovanni dei Fiorentini). Tratava-se de uma Igreja construída no século XVI, em bom estado de uso. A principio o convite não lhe agradou, mas quando soube que era um desejo expresso do Papa Pio IV, seu grande amigo, obedeceu imediatamente aceitando o encargo. Destacou três dos seus discípulos mais importantes para cuidarem do assunto com a necessária urgência: Césare Baronio, Germânico Fedeli e Giovan Francesco Bordini. O Oratório começava a se multiplicar. Filipe continuou em San Girolamo, mas ia com frequência à Igreja dos florentinos.
Todavia, em San Girolamo della Carità, a intriga continuava acesa, e incidia diretamente querendo incomodar os planos de Filipe, por isso, ele decidiu arranjar outro local a fim de edificar a sede do Oratório. Em 1574 contou com a ajuda do Papa Gregório XIII, o Sumo Pontífice lhe ofereceu a “Igreja de Santa Maria in Vallicela”, que estava situada num dos bairros mais terríveis de Roma. Mas Filipe aceitou disposto a restabelecer o decoro e a ordem na região. Demoliu a Igreja velha e com muita disposição, em 1575 iniciou a construção de uma Nova Igreja (Chiesa Nuova). Em 1577 a Nova Igreja estava pronta e Filipe mudou o Oratório para lá, com todos os seus membros. Ele permaneceu sozinho em San Girolamo, pois gostava de solidão para melhor fazer as suas orações. Todavia, em 1583 a pedido do Papa, ele se mudou para a Casa Central dos Oratorianos. Ainda em 1575, por interesse e impulso do Papa Gregório XIII, a Congregação do Oratório foi reconhecida canonicamente. E como Filipe não queria estabelecer normas rígidas para os membros, deixando que cada um exercitasse a sua religiosidade de conformidade com sua vontade interior, ainda não tinha sido providenciado o Estatuto da Ordem. Todavia, havia necessidade do referido documento, para o equilíbrio da própria Ordem Religiosa, pois tinha que existir uma “Regulamentação” , estabelecendo regras que definissem os seus fins e o seu espírito. E assim, com a ajuda dos principais membros, alguns tópicos logo de início ficaram em evidência:
1 - Os membros do Oratório deviam efetuar exercícios espirituais que servissem à salvação da alma do próximo.
2 – Exercitar principalmente as práticas diárias sobre temas de moral, sobre a vida dos Santos e sobre a história da Igreja.
3 – Cultivar o exercício quotidiano da oração.
4 – Que tivessem também, uma busca frequente dos recursos do Sacramento da Penitência ou Confissão, e do Sacramento da Eucaristia.
Estas quatro decisões representavam um esboço do “Carisma” da Congregação. Mas, verdadeiramente, ainda foram passados muitos anos, até que o Estatuto da Ordem ficasse plenamente elaborado e aprovado pelo Sumo Pontífice, o que aconteceu no ano 1612, ou seja, dezessete anos após a morte do Fundador.
FUNDAÇÃO DE OUTRAS CASAS DO ORATÓRIO
Inicialmente Filipe não era favorável a abertura de Casas do Oratório em outras cidades, isto em face das dificuldades e grandes problemas que enfrentou e estava enfrentando em Roma. Todavia, em face das contínuas solicitações dos seus membros, ao longo dos anos, ele acabou cedendo.
O primeiro Oratório fora de Roma foi o de Nápoles. Em 1584, Francesco Maria Tarugi conseguiu uma bela casa para iniciar os trabalhos que logo despertou grande interesse no povo, e no ano seguinte nela começou a funcionar o Novo Oratório, com a necessária autorização da autoridade eclesiástica. E o entusiasmo cresceu de tal forma, que em seguida, foram instalados Oratórios em outras cidades italianas, todas por solicitação dos Bispos Diocesanos locais, em razão do êxito e do bem causado ao povo. Pouco depois da morte do Padre Filipe, orientado pelo Padre Césare Baronio, substituto do Fundador, foram criados Oratórios na França, Espanha, Bélgica, México e Índia. Atualmente existem Oratórios em quase todos os países do mundo.
O SEGREDO DO SANTO
Filipe mantinha um completo silêncio sobre a sua vida, não falava e nem mencionava nada sobre os fatos sobrenaturais que aconteciam com ele ou pela intervenção dele. O chamado “Pentecostes de Filipe” , só se tornou conhecido poucos dias antes do seu falecimento, ou seja, mais de 50 anos depois do fato ocorrido, quando ele revelou o acontecimento ao seu Confessor Padre Pietro Consolini. Além deste fato, existiu uma quantidade notável de ocorrências, estando a pessoa dele direta ou indiretamente envolvida nos casos, ou pela intercessão dele, que sem qualquer dúvida, foram fatos sobrenaturais que aconteceram pela Suprema Vontade de DEUS. Somente para registrar o tipo dos fatos, vamos citar duas ocorrências, que fazem parte do seu processo de Beatificação e de Canonização.
Fabrizio Massimo era seu grande amigo, casado com a senhora Lavínia com quem tinha cinco meninas, e no momento, ela estava grávida de uma sexta criança. Entretanto, havendo complicações na gravidez colocando em risco a vida da criança em gestação, Filipe rezou por ela. O amigo Fabrizio impaciente e preocupado pediu-lhe sua sincera opinião. Ele com toda a segurança afirmou ao seu velho amigo, que tudo corria muito bem, e que desta vez nasceria um menino saudável, que eles deveriam colocar o nome de Paulo. E realmente tudo aconteceu assim.
Passaram-se os anos. A esposa de Fabrizio e uma das meninas já haviam falecido, quando Paulo, com a idade de 14 anos, adoeceu gravemente. Durante mais de dois meses Filipe visitou o amigo para confortá-lo e lhe dar apoio espiritual. Mas, o jovem entrou em agonia e Filipe foi chamado às pressas. Como estava celebrando uma Santa Missa, demorou um pouco a chegar. Quando chegou o rapaz já tinha falecido.
Ele entrou no castelo e viu que o ambiente era de grande tristeza, com o corpo do jovem inerte sobre a cama e ao redor, o pai, as irmãs e os vizinhos choravam inconsolavelmente. Filipe se aproximou, ajoelhou próximo aos pés do jovem morto e mergulhou numa profunda e silenciosa oração, e assim permaneceu cerca de 7 a 8 minutos. Depois se levantou, pegou um frasco com água benta e aspergiu o corpo chamando em alta voz: “Paulo”, “Paulo”. O rapaz, para surpresa de todos, abriu os olhos e respondeu: “Padre”. A alegria foi geral e durante 15 minutos ele conversou com o Padre Filipe e com os presentes. Mas o milagre não terminou ai. O rapaz levantou-se foi ao banheiro, demorou cerca de uns cinco minutos, voltou e deitou novamente na cama. Padre Filipe lhe perguntou: “Paulo, você quer continuar vivo ou prefere ir para junto da sua mãe e da sua irmã no Paraíso Divino”? Paulo escolheu a segunda alternativa. Então, Padre Filipe lhe disse: “Vá, seja abençoado e reze a DEUS por mim”. Tendo dito isto, o rapaz tranquilamente fechou os olhos e sua alma partiu para a eternidade feliz. Seu pai, as irmãs e os vizinhos admirados presenciaram tudo e eles foram testemunhas do fato, no processo de Beatificação do Padre Filipe Neri.
No Castelo do seu amigo Fabrizio Massino, em recordação do milagre acontecido com o Paulo, todos os anos era celebrada uma Santa Missa no dia 16 de Março, em perene agradecimento a DEUS, pela graça concedida ao seu filho.
Outro amigo de Filipe, o senhor Gaspare Brissio, que era músico no Castelo de Sant’ Ângelo, estava com sua jovem esposa, Delia Buscaglia, grávida, calculando que ia dar a luz no último dia do ano. E inclusive, já se ouvia os fogos de artifício pelas ruas, quando iniciou o trabalho de parto que logo apresentou complicações, a criança nasceu morta, e a mãe também parecia não ter possibilidade de sobreviver. A parteira, os parentes e os vizinhos se movimentavam nervosamente, buscando providências para socorrê-la. O marido aflito foi buscar a ajuda de orações nas Igrejas e Conventos próximos, e voltou, trazendo pela mão o Padre Filipe. Ele quando entrou no quarto com o marido, vendo Délia agonizando, ficou com os olhos cheios de lágrimas. Ajoelhou-se e pediu que todos fizessem o mesmo. Rezou um Pai Nosso e uma Ave Maria. Depois, olhando para ela, chamou-a em voz alta: “Délia”. Ela começou a se mexer e abrindo os olhos como se despertasse de um sono, falou: “Padre, o que o senhor quer”? Filipe disse: “Que sejamos santos, que sejamos santos”. E Délia falou: “Que DEUS assim o faça... Oh, Padre! Estou tão mal”! Disse Filipe: “Vamos, não duvide, quero que sejamos todos santos”. E deixou o local, na companhia do marido Gaspare. As pessoas que estavam presentes e observavam, ficaram meio desapontadas, pois a senhora Délia ainda continuava muito mal, e estava deitada na cama, e o Padre foi embora? Padre Filipe ao descer as escadas da casa para a rua confiou ao seu amigo Gaspare: “Volte para o quarto e fique junto de Délia, DEUS NOSSO SENHOR já concedeu a sua esposa a graça que ela precisava. Que vocês continuem sendo boas pessoas”.
Assim que Gaspare entrou, Délia o olhou com a face alegre. Então ele viu um bonito sorriso ocupando toda a face da sua esposa indicando que ela já estava tranquila e bem melhor.