“MARAVILHOSA HOMILIA”
=SIGNIFICADO DAS LÁGRIMAS
DE NOSSA SENHORA=
O Santo Padre João Paulo II, ao consagrar no dia 6 de Novembro de 1994 o Santuário de NOSSA SENHORA DAS LÁGRIMAS em Siracusa, Itália, proferiu este magnífico ensinamento catequético sobre o sentido dessa invocação mariana:
1. Dominus flevit (cf. Lc 19,41).
Há um lugar em Jerusalém, na encosta do Monte das Oliveiras, onde, segundo a tradição,CRISTO chorou pela cidade de Jerusalém. Nessas lágrimas do FILHO DO HOMEM há quase um eco distante de outro grito, de que fala a primeira leitura do Livro de Neemias. Depois de voltar da escravidão babilônica, os israelitas começaram a reconstruir o templo. Antes, porém, eles ouviram as palavras da Sagrada Escritura e do sacerdote Esdras, que então abençoou o povo com o livro da Lei. Então todos começaram a chorar. De fato, lemos que o governador Neemias e o sacerdote Esdras disseram aos presentes:
“Este dia é dedicado ao SENHOR VOSSO DEUS; não chore e não chore![...] não fiquem tristes, porque a alegria do SENHOR é a sua força ”. (Ne 8,9,10).
Eis que o dos israelitas chorava de alegria pelo templo restaurado, pela liberdade recuperada.
2. O grito de CRISTO na encosta do Monte das Oliveiras não foi, porém, um grito de alegria. De fato, ele exclamou: “Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas e apedrejam os que te são enviados, quantas vezes EU quis ajuntar os teus filhos, como uma galinha ajunta os pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa ficará deserta para vós”. (Mt 23,37-38).
Palavra semelhante JESUS dirá um pouco mais tarde no caminho para o Calvário, encontrando as mulheres de Jerusalém em lágrimas.
No pranto de JESUS sobre Jerusalém, o seu amor pela Cidade Santa encontra expressão, juntamente com a dor pelo seu futuro não distante, que ele antevê: a Cidade será conquistada e o templo destruído, os jovens serão submetidos à mesma tortura que a sua, a morte da cruz.“Então começarão a dizer às montanhas: caiam sobre nós! e para as colinas: cubra-nos! Porque se eles tratam a madeira verde assim, o que vai acontecer com a madeira seca”? (Lc 23,30-31).
3. Sabemos que JESUS chorou novamente no túmulo de Lázaro. “Então os judeus disseram: 'Veja como ele o amava!' Mas alguns deles diziam:"AQUELE que abriu os olhos ao cego não poderia impedir que morra?" (Jo 11,36-37). Então JESUS, novamente manifestando uma profunda emoção, foi ao túmulo, ordenou que a pedra fosse removida e, erguendo os olhos para o PAI, gritou em alta voz: “Lázaro, sai do túmulo”! (cf. Jo 11, 38-43).
4. O Evangelho ainda nos fala da emoção de JESUS quando se regozijou no ESPÍRITO SANTO e disse: "EU TE louvo, PAI, SENHOR do Céu e da Terra, por teres escondido estas coisas dos eruditos e sábios e as ter revelado aos os pequenos. Sim, PAI, porque te agradou fazê-lo”. (Lc 10,21) JESUS se alegra com a paternidade divina; ele se alegra por ter a oportunidade de revelar essa paternidade e , finalmente, se alegra com uma determinada irradiação dessa paternidade sobre os mais pequenos.
O Evangelista Lucas define tudo isso como uma exultação no ESPÍRITO SANTO. Uma exultação que leva JESUS a se revelar ainda mais: «Tudo me foi confiado por meu PAI e ninguém sabe quem é o FILHO senão o PAI, nem quem é o PAI senão o FILHO e quem quer que o FILHO o queira revelar". (Lc 10,22) (cf. João Paulo II)
5. No Cenáculo, JESUS prediz o seu futuro chorando aos Apóstolos: “Amém, em verdade vos digo: chorarás e ficarás triste, mas o mundo se alegrará. Você será afligido, mas a sua aflição se transformará em alegria”. E acrescenta: “Quando uma mulher dá à luz, ela sofre, porque é chegada a sua hora; mas, ao dar à luz o filho, já não se lembra da aflição pela alegria de um homem ter nascido ao mundo”. (Jo16, 20-21) Assim, CRISTO fala da tristeza e da alegria da Igreja, do seu choro e da sua alegria, referindo-se à imagem de uma mulher a dar à luz.
6. As histórias do Evangelho nunca se lembram do grito da MADONNA. Não a ouvimos gemer nem na noite de Belém, quando era chegada à hora de dar à luz o FILHO DE DEUS, nem no Gólgota, quando estava ao pé da Cruz. Nem mesmo conhecemos suas lágrimas de alegria quando CRISTO Ressuscitou.
Mesmo que a Sagrada Escritura não mencione este fato, a intuição da fé fala a favor. MARIA chorando de tristeza ou alegria é a expressão da Igreja, que se alegra na noite de Natal, sofre na Sexta-feira Santa aos pés da Cruz e se alegra novamente na alvorada da Ressurreição. Foi a Noiva do Cordeiro que nos apresentou a segunda leitura tirada do Livro do Apocalipse (cf. Ap 21, 9).
7.As lágrimas de MARIA aparecem nas Aparições, com as quais ELA, de vez em quando, acompanha a Igreja no seu caminho pelas estradas do mundo. MARIA chora em La Salette, em meados do século passado, antes das aparições de Lourdes, num período em que o cristianismo na França vive uma hostilidade crescente.
ELA ainda chora aqui, em Syracusa, no final da Segunda Guerra Mundial. É possível entender esse choro justamente no pano de fundo desses trágicos acontecimentos: o enorme massacre, causado pelo conflito; o extermínio dos filhos e filhas de Israel; a ameaça para a Europa do Oriente, do comunismo abertamente ateu.
Naquela época também chora a imagem de NOSSA SENHORA DE CZESTOCHOWA em Lublin: este fato é pouco conhecido fora da Polônia. Por outro lado, a notícia do evento de Syracusa se espalhou amplamente e muitos peregrinos vieram aqui. O cardeal Stefan Wyszynski também veio aqui em peregrinação em 1957, após sua libertação da prisão. Eu mesmo, então um jovem Bispo, cheguei aqui durante o Concílio e pude celebrar a Santa Missa no dia da comemoração de Todos os Fiéis Mortos.
As lágrimas da MADONNA pertencem à ordem dos sinais: testemunham a presença da MÃE na Igreja e no Mundo. Uma mãe chora ao ver seus filhos ameaçados por algum mal, espiritual ou físico. MARIA chora participando do pranto de CRISTO sobre Jerusalém, ou no túmulo de Lázaro ou, finalmente, no caminho da cruz.
8. É certo, porém, lembrar também as lágrimas de Pedro. O Evangelho de hoje narra a confissão de Pedro perto de Cesárea de Filipe. Ouçamos as palavras de Cristo: «Bendito és tu, Simão, filho de Jonas, porque nem a carne nem o sangue to revelaram, mas Meu PAI que está nos Céus» (Mt 16,17). Outras palavras do REDENTOR a Pedro são bem conhecidas por nós: «Certamente, em verdade vos digo que o galo não cantará enquanto não me tiveres negado três vezes» (Jo 13,38). E assim aconteceu. Mas quando, na casa do sumo sacerdote, JESUS olhou para Pedro ao cantar do galo, ele “lembrou-se das palavras que o SENHOR lhe havia dito... E ele saiu e chorou amargamente”. (Lc 22,61-62). Lágrimas de dor, lágrimas de conversão que confirmam a verdade de sua confissão. Graças a eles, depois da ressurreição, ele pôde dizer a CRISTO: “SENHOR, TU sabes tudo; TU sabes que eu TE amo”. (Jo 21,17).
9. Hoje, aqui em Siracusa, é-me concedido dedicar o SANTUÁRIO DA MADONNA DELLE LACRIME. Portanto, aqui estou, finalmente, pela segunda vez, depois que a planejada visita de 1º de maio passado foi adiada por razões bem conhecidas.
Agora, porém, venho como Bispo de Roma, como Sucessor de Pedro, e cumpro com alegria este serviço pela vossa comunidade,que saúdo com afeto na pessoa do seu Pastor, Dom Giuseppe Costanzo, que, assumindo os seus antecessores, com tanto esforço, ele preparou este dia. Com ele saúdo o Cardeal de Palermo, todos os Bispos da Sicília e as autoridades civis, administrativas e militares presentes, agradecendo-lhes a colaboração na organização da minha visita pastoral.
Dirijo um pensamento particular a todos os sacerdotes, convidando-os a serem fiéis imitadores do apóstolo Paulo, que peregrinou nesta esplêndida cidade durante a viagem que o trouxe de Cesárea a Roma (cf. At 28,12). A missão que recebestes queridos exige coragem e perseverança, mas o SENHOR será capaz de recompensar o vosso generoso serviço. A seguir, a minha saudação aos religiosos e às religiosas e aos membros dos institutos seculares. Espero que, como foi sublinhada na recente assembléia do Sínodo dos Bispos, a vida consagrada resplandeça como testemunho dos valores do espírito e se torne promotora de um apostolado «fronteiriço», capaz de responder à profunda necessidade de DEUS presente no nosso tempo. Saúdo também com afeto todos os fiéis leigos, especialmente as famílias, neste ano a eles dedicado: sejam sinal numa sociedade muitas vezes distraída e indiferente de um amor oblativo, enraizado na fé da Igreja e aberto à vida.
10. Ouço ressoar em mim hoje, neste lugar, as palavras de CRISTO que diz a Pedro:“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”. (Mt 16, 18-19). Estas palavras de CRISTO expressam a autoridade suprema que ELE, como REDENTOR, possui: o poder de perdoar os pecados, comprado ao preço do sangue derramado no Gólgota; “o poder de absolver e perdoar”.
11. “SANTUÁRIO DA MADONNA DELLE LACRIME”, você se levantou para lembrar a Igreja do “choro da MADRE”.
Lembra também o choro de Pedro, a quem CRISTO confiou as “chaves do reino dos céus” para o bem de todos os fiéis. Que essas chaves sirvam para “ligar e desligar”, para redimir toda a miséria humana.
Aqui, dentro destas paredes acolhedoras, deixe aqueles que são oprimidos pela consciência do pecado vir e experimentar a riqueza da misericórdia de DEUS e do seu perdão! Aqui deixem que as lágrimas da MÃE os guiem. São “lágrimas de dor” por quem rejeita o amor de DEUS, pelas famílias desfeitas ou em dificuldade, pelos jovens ameaçados pela civilização da consumação e muitas vezes desorientados, pela violência que ainda faz tanto sangue correr, pelos mal-entendidos e ódios que eles cavam lacunas profundas entre homens e povos.
São “lágrimas de oração”: a oração da MÃE que dá força a todas as outras orações, e também se levanta em súplica por quem não reza porque se distrai com mil outros interesses, ou porque está obstinadamente fechado ao chamado de DEUS.
São lágrimas de esperança, que derretem a dureza dos corações e os abrem ao encontro com CRISTO REDENTOR, fonte de luz e de paz para as pessoas, as famílias, toda a sociedade.
Ó
NOSSA SENHORA DAS LÁGRIMAS,
olha com bondade maternal a dor do mundo!
Enxugue as lágrimas dos que sofrem,
dos esquecidos, dos desesperados,
das vítimas de toda violência.
Obtenha lágrimas de arrependimento
e vida nova para todos, que abram os corações
ao dom regenerador do amor de DEUS,
obtenha lágrimas de alegria para todos
depois de ver a profunda ternura do seu coração.
Louvado seja NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!