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“UMA GRANDE ESPERANÇA”

 

O PATRÃO TATUAVA OS ESCRAVOS

Na verdade o sofrimento de Bakhita não se restringiu somente aos maus tratos. Com efeito,  um dos piores momentos que passou e que ela mesma descreve a seguir, superou todos os limites de perversidades. Por incrível que possa parecer, o patrão tatuava todos os seus escravos, para deixar gravado no corpo dos mesmos, a sua marca, revelando a quem eles pertenciam. E esse patrão maldito e malvado comprou Bakhita para trabalhar em sua casa. A tatuagem geralmente era feita com um estilete cortante, e que permanecia para sempre gravada no corpo do escravo.

Com efeito,  um dos piores momentos de Bakhita foi o que ela mesma narra e que superou todos os limites de perversidades,  como se verá abaixo.

“Chegou a minha vez, não tinha forças nem para me mexer, mas, o olhar do patrão me fez deitar por terra imediatamente. Se fazia o desenho convencional no corpo do escravo para marcar os lugares que iria ser tatuado e era com farinha branca. Pegaram a navalha e fizeram seis talhos no meu peito, sessenta no ventre, e quarenta e oito no braço direito, Oh! É impossível descrever como eu me sentia principalmente quando espalhou o sal nas feridas para tornar mais evidente o bárbaro desenho. Sofrimento atroz! Quase desmaiada pela dor e perda de sangue fui levada para a minha enxerga. Nas intermináveis noites, ardendo de febre e de sede, eu esperava em vão o alívio de algum remédio ou de uma palavra de conforto”.

Bakhita e a companheira, um dia presenciaram uma discussão do general com a esposa, e observaram que a mulher venceu a discussão, e então o general muito nervoso descarregou sua raiva sobre elas, justamente nelas as testemunhas inocentes que não tiveram nenhuma participação na briga, e mais, ordenou aos soldados que as flagelassem.

 “A vara golpeando várias vezes na minha coxa, arrancou a pele e cortou a carne, formando no local uma grande ferida que nunca cicatrizou”. E concluiu: “Quantas de minhas companheiras morreram depois de terem sido barbaramente chicoteadas. Eu não morri por um milagre de DEUS que me destinaria coisas melhores”.

Essa palavra de Bakhita nos faz compreender o que ocultamente acontecia: ela só não morreu em razão de uma milagrosa assistência sobrenatural de DEUS, que lhe reservava um prêmio maravilhoso!

 

VENDIDA PARA UM GENERAL

Depois dessa macabra residência, ela foi vendida a um general da Armada Turca. Nesse espaço de tempo surgiu um personagem chamado Mohammed Ahmed que, se proclamava como sendo um “Madhis”, isto é, adepto de uma seita que se considerava “enviado por Deus”. Esse homem deixou sua residência em 1881 e se lançou à conquista do Sudão e do mundo inteiro, animado pelo seu estranho ideal islâmico.

Várias missões católicas, fundadas pelo Padre Daniel Comboni  encontravam-se na trajetória de sua desastrosa invasão: tudo era saqueado e destruído. Inclusive já existia projeto entre os adeptos da seita, para ocupar a capital de Codofan, “El Obeid”.

Essas invasões islâmicas se espalharam por todos os cantos. O General que havia comprado Bakhita resolveu voltar imediatamente para o seu país. E assim, vendeu a maior parte dos seus escravos, ficando com apenas 10, e entre eles, Bakhita que o acompanhou até a Turquia.

 

SURGIU UMA ESPERANÇA

Em Kartum, ela também é colocada a venda. Estando em seus aposentos,  recebeu ordem de deixar o hotel e seguir um senhor que nunca tinha visto, e que a conduziu para o seu próximo dono. E quem será esse homem?  Era um Diplomata: Senhor Calixto Legnani, Cônsul da Itália em Cartum, Sudão.

Bakhita cheia de curiosidade ficou observando a mulher que veio buscá-la. Ela usava uma faixa branca que prendia os seus cabelos negros; seu vestido era branco e ela revelava certa educação, pois com palavras gentis convidou Bakhita a acompanhá-la. E no caminho a mulher falava com muita doçura, como se já fosse uma amiga.

Ao chegarem diante de um Edifício, havia uma bandeira branca, vermelha e verde, a mulher disse:“ESTE É O EDIFÍCIO DO CONSULADO ITALIANO. O CÔNSUL TE COMPROU PARA TE DAR A LIBERDADE”.

Bakhita compreendeu apenas uma coisa:“Desta vez serei verdadeiramente Bakhita, isto é, a mulher afortunada”.

A senhora conduziu Bakhita a um ambiente apropriado, onde ela pode se lavar e inclusive, a ajudou vestir a roupa que ali estava reservada para ela.

Foi o primeiro vestido após anos de escravidão, conforme a palavra da própria Bakhita. E assim foi apresentada ao Cônsul: Senhor Calixto Legnani. E com muito medo e bastante timidez ela foi conduzida a presença dele, e ao chegar ele disse:

“Não tenhas medo… aqui estarás bem e todos gostarão de ti. Ajudarás a camareira nos pequenos serviços domésticos. Ninguém te maltratará. Agora podes ir e permaneça tranquila e alegre”.

 

AQUELA FOI A ÚLTIMA VENDA

Foi à última vez na sua vida que Bakhita, uma mulher tão sofrida era vendida. Passaram-se dois anos de tranquilidade e de paz para toda aquela região e pessoalmente para Bakhita. Mas esta tão apreciada paz foi interrompida, pois os “Madhis” abomináveis revolucionários, tinham em mira alcançar Kartum, justamente onde Bakhita estava. A notícia espalhou, e o Cônsul imediatamente providenciou viajar para Itália. Ela muito preocupada com aqueles acontecimentos, ficava tristonha e com medo, pois sabia da maldade dos “Madhis”. Então pensava:“Será que o senhor Cônsul levará Bakhita com ele?”

Depois meditava: “Não sei por que, mas quando ouvi falar no nome da Itália, da qual ignorava a beleza e os encantos que ela possuía, nasceu no meu coração um ardente desejo de seguir o patrão. Ele me queria bem, por isso ousei lhe pedir para me levar consigo à Itália. O Cônsul fez algumas objeções, mas eu insisti tanto que ele resolveu atender ao meu pedido”.

 

DE VIAGEM PARA A ITÁLIA

E os preparativos para a viagem tiveram que começar com a maior urgência, pois um bando dos militantes madhistas estava às portas de Kartum. Na viagem seguiu Bakhita, o Cônsul senhor Calixto Legnani, um comerciante de Veneza senhor Augusto Michieli e um africano.

A partida aconteceu depois do Natal de 1884. Chegaram a Suakin, através do mar Vermelho, em janeiro de 1885. Durante o mês, enquanto esperavam o navio que devia levá-los à Itália, o Cônsul e o amigo ficaram sabendo que um bando de revolucionários assediou Kartum, devastaram e saquearam todas as propriedades, fazendo as pessoas de escravos.

Bakhita pensou: “Se eu tivesse ficado lá, também teria sido levada. E o que teria sido de mim?”

Ainda em fins de Janeiro de 1885, o Cônsul embarcou para Suakin rumo à Itália. Bakhita ficou deslumbrada com a viagem e se perguntava:

-“Quem será o patrão destas coisas maravilhosas?” Ela feliz como nunca esteve, ficava admirada e radiante com a imensidão do mar! Olhando o sol, a lua e as estrelas, nascia um sorriso em seus lábios e ela ficava pensando: Quem é o Mestre (Patrão) dessas coisas bonitas?

Bakhita ainda não era católica, mas tinha uma alma reta e sabia admirar as belezas e as tonalidades da natureza tão lindas, “criadas por um patrão tão poderoso”, que ela não conhecia, mas que haveria de conhecer. DEUS, misericórdia e bondade infinita, em que pese todos os sofrimentos e tristezas da vida de Bakhita, protegia aquela preciosa pérola negra, o SENHOR cuidava dela, para erigi-la como uma mártir, o que certamente atrairia para ela e seu povo graças e favores muito especiais, preparando-a ademais para uma altíssima vocação.

Se assim não fosse, de que outra maneira se poderia explicar a sua capacidade de sofrer, sua resignação e paciência, jamais se queixando dos abomináveis sofrimentos e não desejando o mal para os seus algozes?

 

CHEGARAM A GENOVA

A viagem transcorreu agradavelmente e logo chegaram a Gênova, com desembarque definitivo. Mas aconteceram outras surpresas na sua vida. Pelo fato de ser uma negra bonita, com traços delicados, olhos cor de amêndoas, chamou a atenção da senhora Maria Turina Michieli, que veio ao porto esperar o marido senhor Augusto Michieli. E logo decidiu: queria Bakhita para ela e chegou a ficar severamente zangada com o marido. Então o Senhor Cônsul Calixto Legnani, resolveu ceder Bakhita para esse casal como presente, pois eram recém-casados e amigos dele.  Então Bakhita foi para Zianigo (que é uma fração territorial de Mirano Veneto) com o casal, e lá nasceu Mimmina que é a primeira filhinha do casal Michieli, e Bakhita ficou tomando conta da pequenina, como uma babá, e passou a se vestir à moda européia ajudada pela senhora Maria Turina.

Desse modo, Bakhita preencheu a sua vida com prazer, tomando conta de Mimmina e com muito capricho na execução dos afazeres domésticos. Mas nos momentos a sós, lembrava-se dos seus familiares e pedia a DEUS por todos eles.

 

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