Chegaram a Lisboa no dia 23 de Junho
de 1540. O Rei queria que os dois prelados ficassem hospedados em seu Palácio
e comessem das refeições em sua mesa. Com dificuldades eles
conseguiram escapar e foram viver, ele e o Padre Simón Rodríguez no Hospital
de Todos os Santos, junto dos enfermos e recebendo as
refeições por caridade.
As Santas Missas que celebravam
começaram a atrair o povo, porque eram celebrações realizadas com muito amor.
As pregações eram diretas, objetivas e bem preparadas, uma mensagem para a vida
extraída do evangelho de cada dia. E não eram longas, não ultrapassavam 15 minutos.
A frequência a Igreja aumentou de modo considerável, diariamente estava cheia de
gente, nos confessionários, na oração do Terço e durante a Santa Missa. O povo
estava eufórico e não queria deixá-los sair de Lisboa. Por essa razão, os planos
foram alterados e Dom João, o Rei Missionário, fez um acordo com Ignácio de
Loyola: Xavier seguiria para a Missão na Índia e Simón permaneceria em
Lisboa para atender a Comunidade cristã.
Em Agosto de 1540 Sua Santidade o Papa
Paulo III promulgou quatro (4) “Breves” (Bula Papal) em favor de Xavier, para
dar-lhe autoridade e poder, a fim de atuar na Missão na Índia, África e Oriente, com liberdade:
1ª Breve – Designando-o
“Núncio in Omnibas Portugaliae Conquistis ultra et
citra Caput Bonnue Spei”. 2ª Breve – Concedendo-lhe
"amplos poderes para estabelecer e manter a Fé
no Oriente". 3ª Breve – Recomendando-o a
David, Imperador da Etiópia."
4ª Breve – Recomendando-o aos
Príncipes e Soberanos da África Oriental, das
regiões do Mar Vermelho, do Golfo Pérsico e das Índias (aquém e além do Rio
Ganges). A CAMINHO DA ÁFRICA Com muitas lágrimas do povo, no dia
7 de Abril de 1541, Francisco Xavier com dois companheiros: Padre Paulo Camerini
e Irmão Francisco Mansilhas, zarparam para a Índia. Outros quatro navios completavam
a frota. Num barco viajava o governador da Índia Dom Martín Afonso de Souza e além
da tripulação havia nos navios muitas outras pessoas: passageiros, soldados, escravos
e convertidos. Gente de todas as classes sociais e de gênios totalmente diferentes. De
modo que Xavier desde o início, teve que combater a blasfêmia, o jogo e outras desordens,
ao mesmo tempo em que procurava catequizar todos eles. Aos domingos pregava o
Evangelho ao lado do mastro maior da nave. Transformou o seu camarote em enfermaria
e cuidava dos enfermos, apesar dele também ter sofrido muito durante a viajem com enjôo,
por causa do balanço do barco. Usavam sangrar, ou seja, tirar o sangue, para acalmar o
enjôo. Ao longo da viagem tiveram que sangrá-lo por sete vezes. Mesmo assim, Xavier
não revelava desânimo e atendia aos enfermos, ensinava e pregava o Evangelho,
confessava as pessoas, os doentes e sadios. Todavia para agravar o trabalho dos
missionários, ocorreu a bordo uma epidemia de escorbuto e somente eles é que estavam
preparados para cuidar dos enfermos dispensando os cuidados e as providências
necessárias. Dessa forma, o trabalho aumentou consideravelmente.
Ao se aproximarem do circulo do equador,
o calor aumentou e a água doce apodreceu. Mais pessoas ficaram doentes. Xavier se
desdobrava, até lavava as roupas dos doentes. A água para ser utilizada tinha que ser
fervida. Durante a noite, ele se recostava na parede do quarto, próximo aos enfermos
e lhes dava continua assistência. Confessava os moribundos com pesar e tristeza,
porque tinha presente em sua mente as cenas que normalmente aconteciam no
último ritual. Aqueles que morriam, os cadáveres eram lançados ao mar e comidos
pelos tubarões. Ele presenciou esta realidade muitas vezes.
Pararam cerca de 40 dias no Golfo da Guiné.
A calmaria era grande e não impulsionava as velas das embarcações. Surgiu peste
a bordo e Xavier também foi contaminado. Mesmo assim, seguiu cuidando dos enfermos
com empenho e dedicação. Ao fim da quarentena, o vento soprou forte e eles seguiram
viagem. Contornaram o Cabo da Boa Esperança e chegaram a Moçambique em Setembro
de 1541. Ali os portugueses tinham um castelo. Colocaram os enfermos no Hospital,
sangraram Xavier mais uma vez, e desta vez ele ficou curado. Permaneceu
trabalhando arduamente durante 6 meses exercitando o apostolado da caridade para
com o próximo. Em Fevereiro de 1542, o Governador da frota para adiantar a
viagem, embarcou com Xavier em outra nave e seguiram para Melinde, uma cidade
com nobres edifícios e mesquitas, rodeada de muralhas, com amplos jardins e
bosques de coqueiros. O Rei muçulmano era amigo dos portugueses. Xavier ficou
muito alegre ao ver uma grande cruz dourada no meio daquelas construções pagãs,
primordialmente porque ele estava ali justamente para
“plantar” a verdadeira Cruz de CRISTO nas Índias.
Depois seguiu para a Ilha Socotorá, onde havia uma grande quantidade de palmeiras
e tamareiras. Também lá se encontravam moros e alguns cristãos muito ignorantes
em matéria de religião, e mais grave ainda, haviam sacerdotes analfabetos. Xavier
aproveitou sua estada e batizou muita gente, crianças e jovens, inclusive algumas
que corriam perigo de vida. Depois de uma semana, seguiu viagem para a Índia.
 : NA ÍNDIA A embarcação alcançou a costa
ocidental da Índia, junto à baía do rio Mandovi, uma ilha com cerca de vinte quatro
quilômetros de circunferência, onde estava Goa. Um pequeno riacho separa a cidade
do continente. Ela foi edificada pelos indígenas e também, da mesma forma que toda
a costa oriental, foi governada pelos muçulmanos. Os portugueses conseguiram
terminar com o domínio muçulmano e estabeleceram fortes praças de guerra, cercando
a cidade com altos muros repletos de canhões, aríetes, escadas, esconderijos e vigias,
completando a defesa com sua potente esquadra naval. O pequeno povoado português
dominou o mar naquela época até as Moluscas e o Japão. Foi o herói Alfonso
de Albuquerque com um punhado de valentes homens, que tomou a cidade de Goa
e expulsou os muçulmanos, convertendo-a na capital do Império Português do
Oriente. A cidade cresceu e se desenvolveu, tornando-se bonita e bem conservada,
possuindo dezenas de bosques de coqueiros que lhe davam uma característica
especial, o que levou muitos escritores a compará-la com cidades européias
importantes. Chegou a ter 225.000 habitantes e possuía também, grande número
de Igrejas e Mosteiros das Ordens Franciscanas e Dominicanos. Inclusive recebeu
o nome de Goa a “Dourada”, por suas riquezas, seu progresso e o esplendor de sua corte.
Xavier chegou a Goa no dia 6 de Maio
de 1542. Se por um lado o progresso e a beleza da cidade eram visíveis,
a educação do povo estava relegada a um plano inferior. Lá viviam muitos
funcionários portugueses, mercadores, soldados e aventureiros, unidos à civilização
muçulmana e hindu. A mistura daquelas diferentes raças, num ambiente em que
predominava o paganismo e a sensualidade, aliada a uma acirrada disputa comercial,
escassez de sacerdotes e outros fatores negativos, levou o povo a relaxar com a fé
e os bons costumes. Muitos portugueses foram atraídos pela ambição, usura e os
vícios. Não cultivavam os Sacramentos e só usavam o Rosário para contar o número
de açoites que mandavam dar aos escravos infratores. A conduta escandalosa dos
cristãos neutralizava a fé que deviam cultivar e servia de mal exemplo para os infiéis.
Nos arredores de Goa ainda existia mais anormalidade, só haviam quatro pregadores
e nenhum deles era sacerdote. Xavier encarou a realidade com disposição. Começou
pela Catequese, instruiu devidamente os portugueses e os hindus, iniciando
pelos princípios básicos da religião, incutindo nos jovens o valor da fé e
a prática das virtudes. Aos domingos além de celebrar a Santa Missa, pregava
aos cristãos e hindus, e também, visitava as famílias em suas casas. Raras eram as
mulheres portuguesas que viajam para Goa. Os homens não se casavam, viviam
amasiados com as mulheres de lá. A cidade era uma verdadeira
Babilônia...
Xavier visitou o Bispo local D. João de
Albuquerque e lhe mostrou as Bulas do Papa, que o nomeava Delegado Papal
com plenos poderes. Contudo, humildemente disse ao senhor Bispo que só usaria
aquelas prerrogativas especiais, com a permissão dele. O Bispo apreciou o seu
gesto e se tornaram grandes amigos.
Era o mês que fazia mais calor durante
o ano, quando Xavier começou o seu apostolado. Vivia no Hospital, atendendo
e confessando os enfermos. Dormia numa esteira, sempre junto dos doentes que
estavam em situação mais grave. No período da tarde visitava as prisões e os cárceres,
dando assistência àqueles homens, tentando reintegrá-los a sociedade. Aos domingos
atendia os leprosos. Numa cabana próxima ao Hospital reunia as crianças e lhes ensinava
as Orações, Cânticos, os Mandamentos e os fundamentos do Cristianismo. Em
pouco tempo havia mais de 300 crianças na catequese. O bispo ficou tão admirado que
ordenou que em todas as Igrejas os Padres fizessem a mesma coisa. Com habilidade
Xavier preparou muitos Catequistas para ajudá-lo na missão.
Durante cinco meses permaneceu em Goa
e em tão pouco tempo a transformou. Foram abertas Escolas, formou Equipes de Catequese,
incrementou a prática dos Sacramentos e o cristianismo cresceu em todos os corações: os
Mandamentos eram respeitados e o povo dedicava-se as orações. Seu jeito amável
e caridoso com o próximo, possibilitou que ele conquistasse muitas almas para o SENHOR.
E sempre estava inovando para alcançar êxito em seus projetos. Foi assim que criou um
modo fácil de instruir, colocando as Verdades do Cristianismo como letra de uma música
popular. O método teve tal êxito que pouco tempo depois se cantavam as canções que
ele havia composto, nas ruas, nas casas, nos campos e no trabalho.
Xavier fez de Goa o seu quartel general. De lá viajava para catequizar e levar o amor
de DEUS a todos os lugares, mas sempre voltava para dar assistência espiritual aos
necessitados, dar ordens de serviço aos membros da missão e repartir os seus
missionários enviando-os em todas as direções. Aceitou instalar o Seminário São
Paulo, quando Ignácio de Loyola lhe enviou missionários para administrá-lo.
Este Seminário que trabalhou na formação do clero indígena, teve enorme
influência na evangelização do Império Português do Oriente.