NASCIMENTO DE UM SANTO
DESDE O PRINCÍPIO
Policarpo nasceu em Esmirna, na Turquia, de uma rica e nobre família cristã, no ano 69 d.C. Desde criança até sua juventude, viveu com seus pais e irmãos, conforme a conclusão dos estudos dos hagiógrafos que pesquisaram sua existência.
Ele era um menino estudioso e obediente, muito aplicado em todos os seus deveres, e na medida em que atingiu a maioridade, demonstrou certo e profundo interesse pela religião, frequentando os ambientes e as reuniões dos cristãos, assim como participando das cerimônias na Igreja com interesse e devoção. E foi justamente naqueles encontros para estudo e nas celebrações religiosas, que teve oportunidade de conhecer São João Evangelista Apóstolo de JESUS, e para sua satisfação e imenso prazer, na época propícia se tornou Discípulo dele.
A data que marcou este memorável acontecimento não ficou devidamente esclarecida, porque existem hagiógrafos que fixaram o ano 87 dC, outros em 89, e ainda outros fixaram o ano 90 dC, quando ele tinha 21 anos de idade. Importante, todavia, é destacar que ele sempre foi um homem respeitoso com excelentes qualidades pessoais, de caráter íntegro e que cultivava com seriedade o direito e a razão, buscando através do estudo e dos ensinamentos do Apóstolo João, sedimentar na mente e no coração, os preceitos Divinos e o impressionante e admirável Amor de JESUS por toda humanidade.
Policarpo foi Batizado pelo Apóstolo João e teve a graça de conhecer e conviver com diversos Apóstolos de JESUS. Dedicado e repleto de carinho e amor pelo trabalho evangelizador, ele sentia a força Divina lhe impulsionar com vivacidade em suas coerentes e fiéis realizações, onde estivesse, consolidando a integridade da sua fé, tornando-o ainda mais resoluto e respeitado por todos, inclusive pelos seus adversários.
O trabalho era intenso e diversificado, e por isso, em muitas ocasiões ele partia sozinho para realizar outras missões e evangelização, ou auxiliar numa obra que ainda não estava bem estruturada, necessitando de uma energia maior, mais forte e decidida.
PROVÍNCIA TURCA
Em Esmirna, onde ele nasceu, foi onde começou o seu trabalho. Era uma cidade de porte médio ao sudoeste da Turquia, na região do Mar Egeu, que possuí um notável golfo marítimo, o qual ensejou o acesso e grande movimentação de embarcações vindas de muitos países. Hoje é considerada a terceira cidade da Turquia em desenvolvimento e progresso. Dentro da Província a cerca de 30 quilômetros, está Éfeso, onde existe a Casa da SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA. Hoje, Éfeso somente guarda suas ruínas e lembranças, é patrimônio mundial. Mas naquela época era uma grande e bonita cidade, tendo alcançado um progresso admirável, sendo inclusive considerada a segunda cidade mais importante do mundo, somente inferior a Roma, que era a capital do Grande Império Romano. Então, em Éfeso e em toda aquela região, se congregava e movimentava pessoas de todas as naturezas, raças e crenças, com intensa agitação no trabalho e no lazer. Significa dizer que era um campo vastíssimo a ser evangelizado. Hoje, os mais respeitados autores chegam afirmar, que a pregação dos Apóstolos e dos Discípulos dos Apóstolos, foi tão efetiva e benéfica, que o Cristianismo no século II naquela região, predominava na maioria dos corações.
IGREJA DE ÉFESO E IGREJA DE ESMIRNA
As duas Igrejas também faziam parte das Sete Igrejas da Ásia, que estão mencionadas no Livro do Apocalipse, as quais, os Anjos delas, receberam mensagens e recomendações do SENHOR, atestando assim, as dificuldades que enfrentavam:
Ao Anjo da Igreja de Éfeso, o SENHOR disse “que conhecia a tua conduta, tua fadiga e tua perseverança”. ELE estimulava os membros da Igreja a continuarem fiéis, porque afluía à cidade gentes de variadas correntes de pensamentos e religiões, e muitos deles deturpavam o Evangelho com grosseiras teorias e falsos argumentos. Mas Policarpo e os chefes cristãos iluminados pelo ESPÍRITO SANTO souberam distinguir o erro e a mentira, e buscaram corrigi-los sem demora.
Quanto a Igreja de Esmirna, o SENHOR “preveniu as autoridades religiosas que falsos judeus caluniavam os cristãos”, procurando tornar tensas as relações entre os cristãos, e com o povo e as autoridades locais. Era um emaranhado de intrigas e despeito que incidiam violentamente contra a fidelidade cristã. Eram na verdade, alguns dos melindrosos e dedicados trabalhos dos Apóstolos de JESUS e dos seus Discípulos, entre eles: Policarpo de Esmirna, que buscava solucionar todas as dificuldades, com respeito e dignidade.
SACERDOTE E BISPO DE ESMIRNA
Por sua admirável e preciosa dedicação, mantendo uma convivência fraterna e operosa junto aos Apóstolos do SENHOR, tornou-se Sacerdote e gradualmente passou a realizar sermões nas celebrações eucarísticas e doutrinar o povo, destemidamente ensinando um correto conhecimento dos Mandamentos Divino e sua real aplicação na existência de cada pessoa. Ele seguia com lucidez, inteligência e perfeição, todas as doutrinas e ensinamentos de JESUS, que os Apóstolos lhe transmitiam. O trabalho cresceu e as responsabilidades aumentaram. Em todas as oportunidades, ele soube demonstrar uma dedicação extremosa, com profunda e sincera santidade, e por isso mesmo, por iniciativa do Apóstolo São João Evangelista, e integral concordância dos demais Apóstolos, Policarpo foi sagrado Bispo de Esmirna provavelmente no ano 100 d.C. com 31 anos de idade.
Como Bispo cresceu ainda mais as suas atividades e providências, pois se empenhava em conhecer cuidadosamente o seu rebanho, ajudá-lo nas necessidades, aconselhar e infundir a verdade cristã em todos os corações. Sem dúvida, foi também à grande oportunidade que ele teve para revelar sua santidade em plenitude! Policarpo era amigo de todos, embora sempre fizesse o povo compreender a primordial necessidade de cada pessoa considerar a existência, “como uma missão, dada por DEUS, em benefício de cada um”. Ele explicava: “Porque através dela, da sua missão, cada criatura terá a oportunidade de alcançar a eternidade junto de DEUS e de todos os Santos.”
Ele também era amigo daqueles que já trilhavam o caminho da verdadeira santidade. Entre eles destacamos o grande Santo Inácio de Antioquia que também era um que sempre correspondia com ele e que escreveu cartas a Igreja de Esmirna. Por fim, quando Inácio de Antioquía condenado pelo Imperador Romano a morrer no Coliseu Romano entregue as feras, a caminho do martírio passou na residência Episcopal Romana em 107 d.C, onde o Bispo Policarpo se encontrava; rezaram juntos e se despediram.
Importante mencionar, nas cartas que Santo Inácio de Antioquia escrevia a Policarpo e a Igreja de Esmirna, que ele fazia questão de enaltecer e evidenciar o admirável e cuidadoso trabalho, assim como, as preciosas qualidades do seu estimado amigo Bispo Policarpo.
Santo Irineu, Bispo de Lyon, na França, foi Discípulo de Policarpo e também tinha verdadeira admiração por sua santidade. Durante um bom tempo trabalharam juntos. Depois, quando o dever e os compromissos missionários os mantiveram distantes, Santo Irineu lhe escreveu diversas missivas, e depois da morte dele, foi o seu primeiro biógrafo.
OBRAS DO BISPO POLICARPO
Ele escreveu muitas missivas para os amigos e para as Igrejas, objetivando manter vivo e aceso o ideal cristão, apesar das heresias que infestavam todas as áreas, criando confusão, com argumentos errôneos e falsos. Entretanto, do seu trabalho literário só chegou aos nossos dias a “Epístola de São Policarpo aos Filipenses” (também denominada apenas de “Epístola aos Filipenses”, escrita entre os anos 110-140 d.C. endereçada à Comunidade Cristã de Filipos.
A Epístola de Policarpo foi uma iniciativa em atendimento ao pedido dos próprios filipenses, que lhe solicitou palavras e exortações à fé para estimular o povo, e também, solicitou-lhe que enviasse uma cópia da Epístola em outra missiva endereçada a Igreja de Antioquia, com a mesma finalidade. Por fim, os filipenses também pediram que lhes enviasse qualquer Epístola de Santo Inácio, com conselhos e exortações, se ele possuísse e se pudesse. Este derradeiro pedido é bem relevante, pois Santo Inácio em outra época havia solicitado às igrejas de Esmirna e de Filadélfia que enviassem congratulações a Igreja de Antioquia pela restauração da paz. Desse modo, podemos supor que ele também, tenha dado as mesmas recomendações aos filipenses quando esteve em Filipos.
Na sua poderosa Epístola, Policarpo recomenda a necessidade de ser mantida a fé em CRISTO, com uma catequese clara e objetiva, que por certo ia ajudar os cristãos a raciocinar na necessidade de ser cultivada a fé, protegê-la e guardá-la com a pregação da Verdade, e também, sendo explicada diariamente para tranquilidade de todos os espíritos desejosos da salvação. Na sua missiva, ele menciona trechos da Epístola que São Paulo escreveu aos filipenses, da mesma maneira que usa citações do Antigo e do Novo Testamento. Também, repete muitas informações recebidas dos Apóstolos, especialmente de São João Evangelista. E, sobretudo, ele mantém um raciocínio com plena e robusta argumentação cheio de verdade, exortando os filipenses a uma vida virtuosa, ao cultivo e realização das boas obras e à firmeza de coração, mesmo ao preço de morte, se necessário fosse, considerando que também eles, como toda a humanidade foram salvos da morte eterna, pela fé na Redenção de CRISTO. Isto porque, se JESUS não tivesse vindo, a humanidade não teria salvação. Nesta missiva, Policarpo com palavras fortes, faz sessenta citações do Novo Testamento, das quais trinta e quatro foram retiradas dos escritos de São Paulo, evidenciando assim, que ele tinha um profundo conhecimento da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Filipenses, assim como, dos demais escritos contidos no Novo Testamento.
Por isto, ele é considerado uma testemunha valiosa da vida e da obra da Igreja primitiva. Diversos hagiógrafos estudiosos e colecionadores das informações sobre a vida do Bispo Policarpo, imaginam que em face do seu amplo conhecimento da Sagrada Escritura, é bem possível que ele tenha sido um daqueles que ajudou a compilar, editar e a publicar o que mais tarde passou a ser denominado “Novo Testamento”. Por isso, é voz corrente na Igreja que Policarpo de Esmirna, junto com Clemente de Roma e Inácio de Antioquia forma o trio de personalidades mais importantes dos Padres Apostólicos.
Assim sendo, a Igreja de Esmirna, junto com a Igreja de Éfeso que foi fundada por São Paulo, tendo o Apóstolo João Evangelista entre eles permanentemente, é uma testemunha verdadeira da “Tradição dos Apóstolos”.
RECONHECIMENTO PÚBLICO
A fama de Santidade de Policarpo se espalhou por todas as regiões. Suas celebrações e suas homilias eram participadas e ouvidas com muito respeito e atenção. Nelas sempre realçava o seu imenso e fiel amor a DEUS e sua preocupação maior, em seguir as doutrinas Divinas e de não suportar a heresia. Só atendia os hereges dentro dos limites da caridade cristã. Santo Irineu, Bispo de Lyon, um de seus discípulos descreve sobre ele numa missiva: Um homem que era de estatura muito maior e uma testemunha mais firme da verdade do que todos os heréticos gnósticos que ficam pregando grosseiras inverdades contra o cristianismo. Na manifestação da sua simpatia e admiração por Policarpo, Santo Irineu acrescentava: “Posso dizer até o lugar onde ele se assentava para falar, a dignidade e o respeito de como entrava e saía, o seu santo modo de viver, seu aspecto físico, a tranquilidade e o fervor fiel das suas preleções à multidão, como se referia as suas relações de amizade e de fé com o Apóstolo João Evangelista e com os outros Discípulos do SENHOR, como relembrava as palavras Deles e o que ouvira a respeito das pregações de JESUS. Era admirável! Posso atestar diante de DEUS, que aquele presbítero era um homem santo”.
E verdadeiramente, Santo Irineu não exagerava, pois Policarpo não transigia e era bastante enérgico quando se tratava da salvação de almas.
Conta-se que certa ocasião em Roma, na rua cruzou com o herege gnóstico Marcião, cuja heresia causava grandes aborrecimentos a Igreja Católica. Ele não parou, seguiu em frente. O herege meio sem jeito e sem graça, perguntou;
- “Não me conheces?”
Ele respondeu:
- “Conheço sim, e sei que tu és o primogênito de satanás.”
Também em sua obra “Contra as Heresias” , relembra o quanto João Evangelista detestava aqueles terríveis heresiarcas que andavam pregando as doutrinas mais absurdas, fazendo confusões nos corações bem intencionados. São Policarpo de Esmirna contava que certa vez o Apóstolo João Evangelista entrou nas Termas de Éfeso. Mas observando que lá se encontrava o herege Cerinto, deu meia volta e acelerou o passo para sair rapidamente daquele local, dizendo: “Fujamos daqui, o prédio pode desabar sobre nós, pois aqui dentro está o terrível Cerinto, inimigo da verdade!” E acelerou o passo para sair daquele local.
Todos, sem exceções, afirmavam: “O Bispo Policarpo sempre ensinou o que aprendera dos Apóstolos, a mesma Doutrina que a Igreja transmite e que é a única verdadeira. Esta realidade, todas as Igrejas da Ásia e todos os sucessores de Policarpo atestam e confirma, esse homem é um testemunho da verdade.”