"MISSÃO ENCERRADA DIGNAMENTE"
A SEPULTURA
Como a doença de Edwiges progredisse sensivelmente, sua filha Gertrudes, que era a Abadessa do Mosteiro, com aquele jeitinho de filha carinhosa, começou a sondar Edwiges para saber onde ela gostaria que ficasse a sua sepultura. A mãe que cultivava a simplicidade como padrão de vida, longe de toda pompa, respondeu:
- “Desejo ser sepultada num Cemitério comum”.
Percebendo que a filha não estava concordando, suplicou então que a enterrasse numa sepultura colocada na sala de reunião do Capítulo das Irmãs. Mas Gertrudes também não concordou em enterrar a sua mãe naquele local, e disse-lhe então:
- “Mãe, vamos sepultá-la na Igreja junto ao corpo de Papai”.
Respondeu Edwiges:
- “Se for preciso me sepultar na Igreja lhe peço, não coloque o meu corpo junto do seu Pai. Não quero depois de morta, estar ligada a um morto do qual, pelo amor à castidade, combinamos e estivemos separados longo tempo, durante a vida”.
- “Mãe, então irei sepultá-la com seu filho, meu irmão”.
- “Como não quero ninguém como companheiro no sepulcro, se de qualquer modo quer me sepultar na Igreja, coloque minha tumba diante do Altar de São João Evangelista”.
Nessa Igreja, dedicada a São Bartolomeu Apóstolo, diante do Altar pedido por ela, jaziam sepultadas diversas criancinhas, netos de Edwiges. Como ela amava a inocência, queria estar sepultada ao lado dessas criancinhas.
Disse a filha:
- “Mãe, faremos para a senhora uma sepultura diante do Altar de São Pedro, para que possamos ter sempre diante dos olhos, a sua sepultura”.
Edwiges, mais uma vez mostrou que tinha uma antevisão dos acontecimentos, e respondeu a sua filha:
- “Seja! Mas se fizerem isso vão se arrepender mais tarde por causa dos incômodos que minha sepultura irá causar”.
E assim aconteceu, como ela predisse. Por causa das multidões que vinham rezar diante do sepulcro de Edwiges, as Irmãs estavam constantemente perturbadas em seu silêncio. Não tinham mais tranquilidade para fazer as suas orações.
ÚLTIMOS MOMENTOS
Descreve a tradição que Edwiges nos seus últimos dias de vida, em face dos muitos sofrimentos causados pela sua doença, foi muito consolada pela bondade infinita de NOSSO SENHOR. Diversos Santos que eram da sua devoção e outros que ela conhecia e apreciava, veio lhe visitar, consolar e lhe dar coragem, falando-lhe das alegrias eternas no Céu.
No dia 15 de Outubro de 1243, já no final do dia, todos percebiam também que o fim de Edwiges estava para chegar. No Mosteiro reinava um clima fúnebre, um verdadeiro clima de velório. Por isso mesmo, as Irmãs não abandonavam aquele quarto. Ali permaneciam em estado de vigília, rezando em silêncio, servindo e fazendo companhia a ela.
Soou a hora das Vésperas, as Irmãs se afastaram silenciosamente para entoar os louvores a DEUS na Capela. Apenas a Abadessa Gertrudes e outra Irmã permaneceram na cela de Edwiges. Ali da pequena cela se ouvia as Irmãs rezar na Capela do Mosteiro, e rezavam os Salmos: “Eu espero no SENHOR, a minha alma espera, confio na Palavra DELE. A minha alma espera no SENHOR, mais do que a sentinela na aurora. Como a sentinela espera na aurora, espere Israel no SENHOR, porque com ELE está a misericórdia e NELE é abundante a Redenção”... [Sl 130 (129)] – “De profundis” (Salmo de Esperança).
Neste momento Edwiges pareceu querer se erguer no leito. Em seguida, deixou-se cair suavemente, sem estertores, olhou mais uma vez para o alto e voou para a eternidade. Com todo o amor de filha, a Abadessa Gertrudes fechou-lhe os olhos. Edwiges morreu.
PREPARAÇÃO DO FUNERAL
Pouco depois, as Irmãs chegavam silenciosamente e passando vagarosamente diante do corpo sem vida da sua amiga e protetora Duquesa Edwiges, faziam uma curta oração e retornavam a Capela.
Assim que todas as Irmãs se despediram, de conformidade com o costume do Mosteiro, a Irmã Wenceslaua, que era a priora, entrou na cela com outras irmãs para lavar o corpo de Edwiges. Ficaram não só pasmadas, mas horrorizadas com o que viram: sobre o corpo dela havia um duríssimo cilício e na cintura, uma grossa corda de crina, toda retorcida. Em consequência o corpo estava coberto de chagas provocadas por estes instrumentos de penitência, sendo que algumas delas sangravam e manchavam a veste interior.
Assim que ela estava totalmente despida, as Irmãs admiradas observaram a realização de uma imensa metamorfose! O corpo de Edwiges foi submetido a uma notável transformação: ele que era tão pálido e quase azulado por causa dos frequentes jejuns e das macerações, e também, sua pele que estava enregelada e rugosa, começaram tomar uma tonalidade rósea e a brilhar com uma luz estranha, não conhecida, mas muito bonita. O rosto que estava com uma cor amarela gris, assumiu um colorido vivo como se ela tivesse sido maquiada e seus lábios ficaram vermelhos como rubi. Os pés, outrora magros e cheios de rachaduras, tornaram-se alvos, lisos e delicados. As Irmãs ficaram encantadas com esta transformação.
Terminada a higiene do corpo, ela foi revestida com as vestes para o funeral. Imediatamente as Irmãs do Mosteiro acorreram novamente aos aposentos de Edwiges, por que queriam ficar com alguma relíquia dela, uma lembrança muito importante e útil, por que Edwiges em vida soube cativar uma imensa e carinhosa amizade com NOSSO SENHOR.
Depois com grande solenidade transportaram aquele inestimável tesouro para a Igreja, onde ela permaneceu durante três dias em velório, disponível a visitação e veneração dos fieis. E foi muito grande a multidão que vieram vê-la e lhe prestar a última homenagem, assim como suplicar a sua inestimável e tão eficaz intercessão junto a DEUS.
ACONTECERAM FATOS SOBRENATURAIS
Embora o corpo de Edwiges ainda não estivesse sepultado, DEUS bondade infinita já começava a glorificar a sua serva, realizando fatos extraordinários pela intercessão dela.
A Irmã Júlia estava com a mão paralisada por causa de uma grande inflamação. Toda a sua mão esquerda, até o antebraço estavam de uma cor violácea. Não havia remédio que fizesse regredir o mal. Ela cuidadosamente aproximou-se do caixão e com muita fé tocou o corpo de Edwiges com a mão doente. Tocou também o duro cilício usado por ela, que as Irmãs deixaram no mesmo local. De repente um agradável e não conhecido perfume começou inundar toda a Igreja. Em estado de admiração e suspense, olhou para sua mão... E que magnífica surpresa, estava completamente curada!
Irmã Marta sofria de um mal esquisito: tinha a boca sempre horrivelmente seca. A língua lhe parecia um pedaço de lixa. Essa secura fazia com que sentisse o peito arder, como se nele estivesse uma brasa. Não havia água que lhe matasse a sede. Tanta era a sede que muitas vezes estando na Igreja, até a água benta ela bebia. As outras Irmãs a repreendiam. A própria Abadessa chamou-lhe a atenção, dizendo-lhe que aquilo não passava de uma mania. A pobre irmã ficava em silêncio, nada respondia, mas por causa daquele problema real, ficava muito atormentada.
No dia da morte de Edwiges aproximou-se do corpo ainda na cela e rezou assim:
- “Minha Senhora Beata Edwiges, livre-me deste tormento. Peça a JESUS por mim. Não suporto mais as críticas que me fazem. Padeço e sofro muito com elas”.
Feita a oração, assim que o corpo foi levado para a Igreja, aproximou-se da bacia com a água que lavaram o corpo de Edwiges, lavou a sua boca, o pescoço e a garganta. Na mesma hora a misericórdia de DEUS curou Marta, por intercessão da Edwiges. Marta nunca mais sentiu sede em toda a sua vida.
No terceiro dia de velório, antes que o corpo fosse à sepultura, sua filha Gertrudes que era a Abadessa do Mosteiro de Trebnitz, mandou que a Irmã Wenceslaua tirasse o véu que cobria a cabeça da sua mãe e trocasse por outro. Isto por que, o véu que cobria o rosto de Edwiges, pertenceu a Santa Isabel da Hungria, sobrinha de Edwiges, e Gertrudes queria ficar com ele, porque sua mãe sempre usava aquele véu com grande reverência e cuidados.
Assim que a Irmã se aproximou do caixão para fazer a troca de véus e desvendou o rosto de Edwiges, viu que ela estava com a boca ligeiramente entreaberta e dela saia um perfume inebriante, que logo envolveu a todos na Igreja, e o seu rosto estava totalmente iluminado com uma luz maravilhosa, que deixou a Irmã embevecida e propositalmente ela retardou a colocação do outro véu, a fim de que as pessoas que estavam na Igreja presenciassem aquele fenômeno extraordinário.
Com certeza era mais uma carícia Divina, prenúncio da luz eterna que Edwiges e os outros Santos já usufruíam e gozavam na eternidade junto a DEUS.
AGORA JUNTO DE DEUS
A notícia da morte de Edwiges atravessou rapidamente todo o país. O luto foi geral. Todos tinham perdido não um governante, mas uma verdadeira e atenciosa mãe. As preces que eles dirigiam a DEUS por ela, na verdade, eram mais preces pedindo a intercessão dela junto a DEUS, em benefício de suas necessidades, na certeza de que ela estava junto do SENHOR nos Céus, como a grande intercessora que sempre se revelou aqui no mundo.
O povo silesiano e o povo polonês começaram a invocar o seu auxílio na firme esperança de serem atendidos. Pois eles acreditavam: quem fez tanto bem em vida, agora junto de DEUS, continuará sendo sem dúvida, aquela mãe benfazeja olhando por todos, principalmente por aqueles que suplicavam a sua eficaz intercessão junto a DEUS.
E logo, as noticias correram ligeiras e se espalharam por todas as partes. Ouvia-se falar que pela intercessão de Santa Edwiges, DEUS estava realizando uma quantidade incontável de curas de uma infinidade de tipos de doença: dos olhos, da cabeça, do coração, do estomago, de aleijados, surdos e muito mais.
Domingos, um garoto esperto e alegre, era filho do soldado Vitoslau de Borech, e estava com sete anos de idade. Todavia, adoeceu gravemente e os médicos não davam nenhuma esperança de recuperação. Suas mãos e os seus pés estavam amortecidos, os olhos revirados, de sua garganta saíam apenas alguns sons não conseguindo falar, além de respirar com extrema dificuldade. A mãe vendo que a morte se aproximava do menino, com os olhos tristes e cheios de lágrimas, falou para o marido:
- “Nosso filho está partindo. Já não teremos mais o nosso filho”!
O pai ouvindo, elevou as mãos aos Céus, e em prantos clamou:
- “Minha Senhora, Bem-aventurada Edwiges, eu servi a Senhora enquanto estava viva. A Senhora gostava de mim. Agora, por favor, necessito da intercessão da Senhora: consiga para mim, neste momento, a graça de DEUS para que o meu filho seja curado e permaneça vivo, junto de mim e da minha esposa. E seja isso a paga dos serviços que lhe prestei. Faça-o pela sua liberalidade”.
E DEUS misericórdia infinita, atendendo imediatamente o olhar suplicante de Edwiges, ouvindo o clamor do soldado Vitoslau, concedeu a graça pedida. O menino que estava agonizando virou-se no leito, olhou para o pai e sorriu. Desapareceram os sinais de morte, o menino que estava entrevado há quinze dias, no terceiro dia após a invocação a Santa Edwiges, estava completamente recuperado e em pleno vigor.
O próprio pai contou este fato no processo instaurado para a canonização de Edwiges. Era tanta a sua comoção que com dificuldade narrava os fatos entre muitas lágrimas e soluços.
Walter, um garotinho filho de um rico senhor de Amilia, na Wlatislávia, foi seriamente afetado quando sua babá levou um desastrado tombo com ele nos braços. Em consequência o menino sofreu uma séria lesão nos rins, e não houve remédio que desse um jeito. A senhora Berchta, mãe do menino, na esperança de curá-lo recorreu à cirurgia. Mas ao invés de melhorar, o estado da criança piorou.
Desesperada, a senhora Berchta, apelou para NOSSO SENHOR, suplicando a bondade Divina pela intercessão eficaz e atenciosa de Santa Edwiges. A senhora Berchta repleta de lágrimas suplicou a ela que conseguisse de DEUS a cura do seu filho. E sua confiança em Edwiges era tão grande, que se propôs levar a criança mortalmente enferma até o túmulo da Santa em Trebnitz. Muitas pessoas aconselharam que ela não empreendesse tal viagem, tão longa, com o filho naquele estado, mas ela partiu com muita fé e pensando consigo mesma: ou trago o meu filho curado ou eu o sepulto em Trebnitz mesmo. Ela andava triste, aflita e amargurada, presenciando durante longos meses, aquele terrível sofrimento do seu filho.
Chegando a cidade do túmulo de Edwiges, seguiu direto para o cemitério. Ajoelhou-se perto de diversas pessoas que se encontravam ao redor do sepulcro e colocou nele uma grande vela e um algodão impregnado de pus tirado do curativo sobre os rins da criança. Depois de fazer o Sinal da Cruz, rezou com toda fé:
- “Minha Senhora, Bem-aventurada Edwiges, peça a DEUS para curar o meu filho ou então, faça com que, antes de eu me retirar deste local, ele descanse em DEUS”.
E num gesto de extremo amor, colocou sobre o tumulo a criança, e todos os presentes puderam ver e pressentir que o menino estava morrendo.
Todavia, logo que colocou o menino sobre o tumulo, ele começou a se mexer, como se estivesse reagindo, e visivelmente, a chaga sobre os rins começou a se fechar. Foi uma cena clara e totalmente visível, que chamou a atenção de todas as pessoas que se encontravam ali. E desse modo, a ferida fechou-se totalmente deixando apenas uma pequena cicatriz. E a criança cheia de vida e saúde desceu do túmulo e abraçou fortemente a sua mãe.
O menino viveu muitos anos, e também, foi ele mesmo quem descreveu este fato extraordinário perante a comissão de inquérito para a canonização de Edwiges.
Diante de tantos testemunhos e inumeráveis fatos, a Igreja iniciou o processo canônico para examinar tais fatos, a vida, as virtudes e a santidade da Duquesa da Silésia e da Polônia. Foi instituída uma primeira comissão para reunir os depoimentos. Uma infinidade de pessoas de todas as classes sociais, gente simples do povo, nobres, militares, religiosas e religiosos, todos se dispuseram testemunhar as virtudes de Edwiges.
No ato seguinte, a Santa Sé organizou a primeira Comissão para dar inicio ao processo canônico. Para chefiar tal Comissão foram designados Dom Valmiro, Bispo de Wlatislávia e Frei Simão, Provincial dos Padres Dominicanos. Tinham a incumbência de investigar profundamente a vida e os milagres ocorridos por sua eficaz intercessão. A Comissão começou a funcionar em Novembro de 1262, dezenove anos após a morte de Edwiges, e funcionou no Mosteiro de Trebnitz. Todavia, por causa das longas distâncias que separavam as testemunhas e também a dificuldade de locomoção até Trebnitz, a Comissão não pode funcionar 100% como todos desejavam.
Em 15 de Março de 1263 foi nomeada pelo Sumo Pontífice uma segunda Comissão. Ela se reuniu pela primeira vez no dia 15 de Março de 1263, no mesmo Mosteiro de Trebnitz. Houve uma terceira reunião no dia 6 de Abril de 1264, e a quarta reunião no mesmo ano, no Convento dos Padres Dominicanos.
Como chegavam muitos pedidos à Santa Sé suplicando a canonização de Edwiges, o Papa Urbano IV, encarregou o Arquidiácono Salomão de Cracóvia e Herengeberto, o Decano de Nissagrade, e muitos outros ilustres personagens, para que examinassem todos os documentos referentes à vida e aos milagres acontecidos pela intercessão de Edwiges. Foi um tanto demorado esse processo e o Papa Urbano IV faleceu.
O Papa Clemente IV foi o sucessor, e ele já estava a par de toda a vida de Edwiges. Mas exigiu mais um milagre, para que fosse confirmada através de fatos, a extraordinária santidade da nobre Duquesa. E DEUS não se fez esperar para satisfazer o desejo do Pontífice.
Clemente IV fora soldado e legitimamente casado. Ficando viúvo, abraçou o estado sacerdotal. Mais tarde foi eleito Papa. De seu casamento teve uma filha que era cega de nascença.
Como por convicção exigia mais um milagre para a canonização, ele mesmo, durante uma Santa Missa, rezou e pediu a Edwiges que intercedesse junto a DEUS e lhe conseguisse a graça especial da cura da sua filha cega.
DEUS bondade infinita ouviu o pedido e providenciou a graça. A moça recuperou a visão, permitindo que o Papa Clemente visse claramente a Vontade Divina, que queria que Edwiges fosse invocada como Santa não só pelo povo, mas oficialmente também pela Igreja.
Nesta época a Cúria Romana estava instalada em Viterbo. No dia 15 de Outubro de 1267, durante uma Santa Missa Solene, o Sumo Pontífice declarou: “Por nossa autoridade declaramos que EDWIGES é SANTA e será inscrita no Catálogo dos Santos. O dia 15 de Outubro será o dia de sua festa”. Posteriormente a data da Festa foi alterada definitivamente para o dia 16 de Outubro.
FIM