FORMAÇÃO DE UM SANTO
FAMÍLIA E BUSCA DO IDEAL
Geraldo nasceu no dia 6 de Abril de 1726, na Itália, na cidadezinha de Muro Lucano, Província de Basilicata, nas encostas dos Montes Apeninos, não muito distante de Nápoles. Seus pais eram Domingos Magela, que tinha a profissão de alfaiate e Benedita Galella, uma senhora do lar, extremamente carinhosa e preocupada com a educação e formação dos seus filhos. O caçula era Geraldo, que desfrutava da preciosa atenção materna, ao lado de suas irmãs: Brígida, Ana e Isabel. Domingos e Benedita além de verdadeiros trabalhadores, eram muito religiosos, rezavam com frequência e participavam das Santas Missas nos dias de preceito. Amavam com convicção ao maravilhoso DEUS CRIADOR, que proporcionou a vida a todos nós, dando-nos a oportunidade de alcançarmos as alegrias, o conforto e as delícias da eternidade. Por isso mesmo, com muito empenho e dedicação, o casal procurava incutir no coração de seus filhos a ternura, o valor e a grandeza das verdades cristãs e do Amor Divino.
Embora fosse uma criança absolutamente normal, igual a todas as outras, com a idade de cinco (5) anos Geraldo começou a revelar algumas manifestações interessantes, que despertou a atenção dos pais, por que brotava espontaneamente do seu interior, sem que nada fosse planejado, de modo que não existia nele nenhum tipo de afetação. Era uma delicadeza pura, modesta e totalmente simples, que procurava servir e ser útil, revelando a existência de um procedimento diferente, gerado na profundeza do seu íntimo, que era uma simpática e admirável qualidade: ele tinha o maior prazer em servir a quem necessitasse de alguma coisa.
O MENINO DEUS BRINCA COM GERALDO
Aprendeu a rezar com seus pais, e conheceu NOSSA SENHORA pelos ensinamentos maternos, a quem chamava de “Nossa Mãezinha do Céu”. Na contemplação dos Mistérios Divino, compreendeu e exultou de alegria, com o imenso e infinito Amor de DEUS que derrama diariamente sobre toda a humanidade uma caudalosa quantidade de graças, para beneficiar e estimular todos os seus filhos, independentemente se eles correspondem ou não, ao Amor Divino.
Geraldo amava NOSSA SENHORA!
A uns quatro quilômetros de Muro havia uma pequena Igreja dedicada a VIRGEM MARIA, sob a denominação de NOSSA SENHORA DE CAPOTIGNANO. Embora ainda fosse pequenino, certo dia saiu de casa e enfrentou aquele caminho pedregoso, por que queria prestar uma homenagem a MÃE DE DEUS, fazer-lhe uma visitinha e rezar perto Dela. Entrou na Igrejinha vazia e caminhou para o Altar onde estava a imagem da VIRGEM MARIA com o MENINO JESUS ao colo. Olhou para um lado e para o outro, para ver se havia alguém por ali. Como o Templo estava mergulhado em completo silêncio, ele subiu os degraus do Altar e se aproximou o máximo da bela imagem. Ajoelhou e começou a rezar. Ninguém ficou sabendo quanto tempo permaneceu em orações. O que ele revelou pouco antes de morrer, foi à magnífica e inesquecível experiência Divina que teve e marcou indelevelmente toda a sua vida. Estava com os olhos fixos na imagem, quando de repente, o MENINO JESUS ganhou vida e sorridente abanou-lhe a mãozinha. E logo a seguir, se desprendeu dos braços de NOSSA SENHORA e deu um salto ao chão, pegou Geraldo pela mão e saíram correndo pelo interior da Igreja, brincando como duas crianças amigas e muito alegres. O Menino Geraldo brincava com o MENINO DEUS! E para sua felicidade e imensa satisfação, esta experiência se repetiu várias vezes ao longo da sua infância!
DEDICADO AO ESTUDO E A CARIDADE
Entrou na escola com sete anos de idade e em pouco tempo estava lendo e escrevendo, revelando uma notável e eficiente capacidade de aprendizagem. O seu aproveitamento escolar era tão evidente, que muitas vezes o professor lhe incumbiu de ajudar e ensinar aos mais atrasados. Todavia, apesar das suas excepcionais qualidades, não se orgulhava de nada, mantinha-se humilde e se manifestava sempre com modéstia, reconhecendo que tudo era dom de DEUS. Ele acreditava com convicção que o SENHOR lhe emprestara os dons como recurso para ajudar os outros e santificar a sua própria vida. E esse era o segredo de sua admirável e cativante simplicidade. Todos gostavam dele e não se acanhavam em lhe solicitar alguma coisa.
Assim foi Geraldo, desde a infância a bondade de seus pais edificou a generosidade em seu coração. Este acontecimento modulou a sua existência de maneira concreta e definitiva. Aparentemente ele era um menino franzino e magro e por isso, sua mãe tinha um cuidado todo especial com ele, preparando um lanche para comer no colégio. Mas lá, vendo os seus coleguinhas com fome e sem nada para comer, repartia o seu pequeno lanche com os pobrezinhos. Desde a infância, ele aprendeu a se impor certas penitências, principalmente pequenos jejuns, que foram os tijolos iniciais da construção do seu magnífico edifício de santidade.
APRENDEU AMAR JESUS
Tão avidamente acompanhava os ensinamentos maternos, que também formou no seu raciocínio um maduro e correto entendimento sobre a Eucaristia. E esta verdade cresceu tanto em seu coração que fez CRISTO Sacramentado o centro de sua vida. Compreendeu tão bem o significado da Santa Missa, que ninguém precisava convidá-lo a participar de uma celebração, ele mesmo tomava a iniciativa e ia a Igreja. Sua fé era madura e concreta, sentia a presença real de JESUS no Santíssimo Sacramento, e por isso mesmo, com o maior respeito e sentido de adoração, participava das celebrações, e se deliciava com aquele momento sobrenatural diante da presença amorosa da Segunda Pessoa da SANTÍSSIMA TRINDADE.
E por essa razão, a hora da Comunhão, Geraldo sentia uma imensa vontade de caminhar até o Altar e receber JESUS Eucarístico. Por que ele não podia? Os outros recebiam e ele não podia receber? Por que era criança e não tinha sido preparado para a Primeira Eucaristia? Mas JESUS não era seu amigo? Não tinha brincado com ele? E assim pensando, um dia não resistiu. Emocionado e repleto de alegria aproximou-se da mesa Eucarística. Chegando a sua vez, tremendo de emoção abriu a boca e fechou os olhos. O Padre olhou para ele e passou direto, sem lhe dar a Comunhão. Geraldo ficou vermelho, triste e com lágrimas nos olhos voltou para o seu lugar. Transtornado ele voltou a casa como uma criança que verdadeiramente era, e chorou muito e desabafou a sua decepção!
Durante a noite não conseguiu dormir, virava de um lado para o outro na cama e ficava só pensando no “danado do Padre que não tinha lhe dado JESUS Sacramentado”. E tanto virou e rolou na cama que acabou adormecendo. De repente, durante o sonho lhe apareceu um Anjo, era São Miguel Arcanjo, de quem era devoto e lhe dedicava grande estima. E o Arcanjo trazia na mão uma Hóstia Consagrada. Aproximou-se e lhe deu a Sagrada Comunhão. Que alegria! Que surpresa inesquecível foi receber JESUS na Hóstia Consagrada!
De manhã, cheio de felicidade, contou o seu sonho aos seus amigos e conhecidos. Sua alegria transbordava de seu coração e contagiava todas as pessoas.
Aos dez anos de idade quando recebeu a sua Primeira Eucaristia, depois de devidamente preparado pelos Catequistas da Paróquia de NOSSA SENHORA de Capotignano, teve a satisfação de reviver aquela adorável experiência que também ficou gravada em seu coração, pela alegria de Comungar JESUS pelas mãos do seu querido Arcanjo São Miguel.
APRENDIZ DE ALFAIATE
Já contava doze anos de idade quando o seu pai faleceu. Chorou muito e ficou muito triste, com um imenso vazio no coração. Geraldo gostava muito de seu pai e ele, era um precioso exemplo para a sua vida: pela dedicação ao trabalho, o cuidado em cumprir fielmente todos os compromissos assumidos, assim como a sua própria palavra, que revelava um coração honesto e digno de todo o respeito e amizade. Mas ele não era somente aquele homem trabalhador que não deixava faltar nada em sua casa. Era um pai fiel, que amava Dona Benedita, e junto com ela, assumia responsavelmente a educação dos filhos. E foram através de suas palavras, dos ensinamentos de seu pai, e ao lado de sua carinhosa mãe, que conheceu JESUS e nossa MÃE SANTÍSSIMA. Então, a ausência dele foi por demais sentida, e sem dúvida, abriu uma cratera de dimensões incalculáveis no seu coração, no coração de suas irmãs e no coração da sua mãe.
Sendo ele o único filho homem era necessário enfrentar o caminho do comércio para alcançar o indispensável pão de cada dia, para ele, suas irmãs e sua mãe. E por essa razão, dedicou-se em aprender a mesma profissão de alfaiate, que seu pai exerceu desde a juventude, e ao partir para a eternidade, deixou um nome respeitável de correto e caprichoso alfaiate, que ele também desejou conservar.
Para começar, se empregou na Alfaiataria do Senhor Martinho Panuto que conheceu o seu pai. E com todo ímpeto se esforçou em apreender e desenvolver a profissão. Todos os dias, era o primeiro a chegar à alfaiataria, fazia as suas orações e iniciava firme no trabalho. Geraldo aprendeu unir o trabalho a oração. Compreendeu que sem a oração, o trabalho não consegue alcançar o êxito desejado. Então, sabiamente aproveitava todas as pausas no trabalho e nos descanso das refeições para se colocar diante de DEUS e rezar.
Todavia, o senhor Panuto tinha um sócio que era um verdadeiro carrasco. Era bruto, grosseiro e terrivelmente cruel. Tratava todas as pessoas com desprezo e secamente, e ao Geraldo ele caprichava, fazia questão de tratá-lo muito mal: dava-lhe bofetadas, pontapés e empurrões. A atenção, a bondade e o respeito que Geraldo dedicava a todos, a clientes, empregados, inclusive a ele, eram para ele, para o sócio do senhor Panuto, como se fossem verdadeiras bofetadas, por que ele desconhecia totalmente as palavras: piedade, respeito e amor ao próximo. Por essa razão agredia a todos, com palavras e ações. Geraldo nunca reagiu e também, nunca levou aquele fato ao conhecimento do senhor Panuto. Cumpria o seu ofício e entregava os seus sofrimentos e decepções a DEUS, pela conversão dos pecadores e maior glória do SENHOR.
QUERIA SER UM RELIGIOSO
Em 25 de Junho de 1740, estava com 14 anos de idade, e junto com diversos jovens, recebeu o Sacramento da Crisma na Capela das Irmãs Clarissas em Muro, administrado por Dom Cláudio Albini, Bispo de Lacedogna. Para Geraldo, foi como um Pentecostes, que vigorosamente acendeu em seu coração um fogo magnífico, que era a sua devoção ao ESPÍRITO SANTO. Nas epístolas católicas encontramos: “Não sabeis que sois um templo de DEUS e que o ESPÍRITO SANTO habita em vós? Se alguém destrói o templo de DEUS, DEUS o destruirá. Pois o templo de DEUS é santo e esse templo sois vós”. (1 Cor 3,16-17). O conteúdo destas palavras arrastava Geraldo, o cativavam e o deixavam emocionado. Todos os dias ele invocava o ESPÍRITO DE DEUS e gostava de LHE dizer muitas palavras, pois DELE recebia força e coragem para enfrentar e seguir a sua difícil caminhada.
O Sacramento da Crisma despertou em Geraldo uma sede incontida do DEUS da Vida. Em seu coração começou a crescer uma poderosa vontade de se consagrar a DEUS. Perto de Muro havia um pequeno Convento dos Padres Capuchinhos. A simplicidade, a humildade e a pobreza dos frades encantavam a todas as pessoas, inclusive a ele. Um dia, cheio de fé e de vontade, criou coragem e bateu a porta do Mosteiro. Atendeu o Prior, que era o Padre Superior da Ordem. Geraldo estava cheio de esperanças e de entusiasmo, por que trazia consigo a certeza de que seria aceito na Ordem Religiosa. O Padre Prior o escutou atenciosamente, enquanto o examinava dos pés a cabeça. Quando Geraldo concluiu o seu pedido, o Frade lhe disse: “Meu filho, essa vida não é para você. Você é fraco demais para poder suportar as durezas da vida religiosa. Sua vocação é outra”. E despediu-o.
Aquela negativa teve o efeito como se fosse um punhal rasgando o seu coração. Ficou triste e desapontado diante daquelas palavras fortes e incisivas que selaram a primeira negativa ao seu ideal religioso. Retirou-se decepcionado e com um profundo vazio na alma.
UM CAMINHO DIFERENTE
Estamos no ano de 1741 e Geraldo já estava cansado de ser ofendido e de levar cascudo do abominável sócio do senhor Panuto, na alfaiataria. E por isso mesmo, pensou em arranjar outro trabalho. Tornou-se criado do Bispo de Lacedogna, Dom Cláudio Albini, que procurava uma pessoa de confiança para ser o seu criado. E ficou muito feliz quando Geraldo se apresentou ao palácio episcopal, recebendo-o como se fosse um Anjo enviado por DEUS. Não era para menos, pois o senhor Bispo “era espeto”, era terrivelmente “chato, exigente e ranzinza”. Muito brigão e impaciente. A fama do gênio dele já havia alcançado uma distância muito grande. Todos já conheciam sua abominável fama. E o Geraldo estava muito bem informado sobre a maneira de agir do senhor Bispo, pois por aquele emprego já haviam passado um verdadeiro exército de pessoas. Mas Geraldo era meio teimoso, embora fosse extremamente paciente. Por essa razão se dispôs a testar a sua paciência, a sua capacidade de aceitação, o seu respeito e o limite da sua tolerância.
O dia a dia começava negro e perturbador, Geraldo tinha que ouvir os gritos histéricos do velho impaciente. Depois vinha uma saraivada de injúrias e de palavrões sobre ele. E Geraldo não abria a boca, realizava todos os serviços em silêncio, concentrado no que fazia e sem erguer os olhos. Tinha uma imensa paciência, suportando o Bispo com todos os seus defeitos e palavrões. E sua obediência era tão cega e incondicional, que às vezes, em certo momento, o Bispo caia em si e até ficava envergonhado de suas atitudes, isto naturalmente, até a próxima ocasião, quando ele repetia o mesmo show com excesso de autoridade e desumana incompreensão.
Quando os amigos do Geraldo o encontravam, logo perguntavam: “Tudo bem? Quando você vai dar o fora no Bispo?”E Geraldo sorrindo respondia: “O senhor Bispo me quer bem e eu também gosto muito dele. Vou ser o seu empregado até a morte, se ele não me despachar antes”.
Geraldo tinha uma força oculta que sempre se renovava e o fortificava admiravelmente: era a Eucaristia. Todos os dias ele estava na Santa Missa, rezando e abrindo o seu coração ao SENHOR, e depois da Consagração, acompanhado pelos fieis, no momento da Comunhão, recebia no Altar JESUS Sacramentado. Além desta providência, não perdia o seu tempo: sempre que surgia a oportunidade de uma “folguinha”, pequena que fosse, corria para a Capela do Palácio Episcopal e permanecia diante do Sacrário, rezando e fazendo companhia a JESUS. E assim, sempre fortalecido por este pão do Céu, pôde resistir sua caminhada existencial ao lado de Dom Cláudio durante três longos anos, quando o senhor Bispo faleceu no dia 25 de Junho de 1744, e ele retornou a Muro Lucano.