“COM FÉ E ESPERANÇA”
A FAMÍLIA
Jeanne (Joana) nasceu na cidade de Liège, na Bélgica, no dia 27 de Fevereiro de 1782. Era uma das filhas da numerosa e muito religiosa família Haze, sendo Batizada três dias após o seu nascimento. Seus pais eram Ludovico Haze e Marguerite Tombeur, e desde tenra idade, com apenas quatro anos, revelou uma inteligência viva e precoce, pois admiravelmente aprendeu a ler e a escrever corretamente. O seu pai era professor de Letras, e tinha prazer de usar o seu tempo livre para ensinar aos seus sete filhos. E Jeanne Haze, pela sua própria vivacidade, logo se destacou no aprendizado.
Também, desde criança acompanhava a sua mãe, que habitualmente frequentava o Mosteiro Cisterciense, a fim de participar da Santa Missa. Esta realidade conquistou o coração de Jeanne que se sentiu irresistivelmente atraída pela vida religiosa e pela clausura em particular. Tanto foi assim, que nos momentos de lazer a sua brincadeira preferida era vestir-se de freira e conduzir um grupo de moças vestidas como ela, reproduzindo com fidelidade os ritos que eram celebrados no Mosteiro. Seus pais possuíam uma confortável situação financeira e exercitavam com convicção e humildade o Cristianismo, eram religiosos de fato, inclusive o seu Pai era Secretário do Príncipe Bispo de Hoensbroech.
Com o passar dos anos, no ambiente familiar começou a transparecer que Jeanne estaria destinada a se transformar mesmo numa verdadeira Abadessa, porque além de estudar com interesse as Sagradas Escrituras, se sentia muito confortável num ambiente religioso. E assim passou uma juventude alegre, cultivando o ideal da sua vida.
A REVOLUÇÃO ATINGIU A BÉLGICA
Todavia, aconteceu que pelo ano de 1789, quando aquela abominável onda revolucionária invadiu a França, também os revoltosos Holandeses se agruparam, se tornaram fortes e com os mesmos modos e idênticas características violentas, deflagraram uma terrível revolução. O grande problema existente na época estava enraizado na crise mundial motivada primordialmente pela fome, além da profunda desigualdade social, que gerou em consequência, uma grande crise econômica causando fome e mortes. E por incrível que possa parecer, a onda invasora nos Países Baixos era formada por legiões Holandesas, os próprios vizinhos da Bélgica, que sem nenhuma cerimônia, foi destruindo tudo, matando e invadindo todas as regiões, da mesma maneira abominável e cruel, como aquela onda revolucionária que invadiu a França. O comando revolucionário holandês investiu firme com o objetivo de conquistar a Bélgica, unindo a Holanda formando um único país. E entre as muitas providências violentas do comando revolucionário, eles depuseram o Príncipe-Bispo do qual o pai de Jeanne Haze era Secretário. Em consequência a família ficou obviamente mais exposta à fúria revolucionária e por isso mesmo, imaginou realizar uma fuga por segurança, zarpando certa noite em busca de abrigo seguro em Solingen, próximo a Dusseldorf na Alemanha. Evidentemente uma mudança de país, naquelas circunstâncias, acarretou também uma série de alterações nos hábitos familiares, inclusive no próprio modo de viver. Também a Alemanha naquela época estava mergulhada nos seus próprios problemas, que naturalmente eles também tiveram que acolher. E por isso, em consequência das muitas dificuldades que encontraram em 1795 o seu pai que já estava com a saúde meio debilitada, veio a falecer. Então, a família decidiu regressar a Liège. Mas a situação já não era a mesma: o pai estava morto e os seus bens foram todos confiscados pelos revolucionários holandeses. Agora era preciso trabalhar para viver e também cuidar da mãe. Entretanto, nada era fácil naquele tempo de revoluções e guerra. As irmãs saíram para procurar emprego onde existisse. Jeanne e sua irmã Ferdinanda (Fernanda) decidiram permanecer em casa, realizando os trabalhos caseiros, rezando e exercitando uma vida religiosa do tipo missionária, dedicadas ao trabalho e as orações; alfabetizavam, catequizavam jovens e adultos e atendiam os pobres e doentes, além de naturalmente dispensar os mais carinhosos e especiais cuidados a própria mãe.
FALECIMENTO DA MÃE
Não é difícil entender que a família atravessou muitas dificuldades, até conseguir engrenar providências num determinado rumo. Algumas das suas irmãs se casaram. Todavia Jeanne e a irmã Ferdinanda, não quiseram se casar, porque cultivavam desde criança aquela esperança interior de seguir a vida religiosa. Entretanto, naquela época, a escolha de seguir a vida religiosa era um fato praticamente impossível de se concretizar, por causa das leis anticlericais que o governo revolucionário havia implantado e estava em plena vigência.
Por outro lado, a mãe das jovens já estava com sérios problemas de saúde, que elas acompanhavam com seriedade e preocupação. Todavia, já com a idade avançada, o organismo não resistiu e ela veio a falecer em 1820. Então as duas irmãs se tornaram “Religiosas em casa”, abandonaram as reuniões familiares, se distanciaram dos passatempos mais inocente, e só saia de casa para dar assistência a alguma família necessitada e também, somente para ir a Santa Missa, sem cogitar de participar de alguma distração, mesmo que ela viesse favorecer o próprio espírito.
ESCOLA PAROQUIAL
Este afastamento do mundo não pareceu ser a vontade de DEUS: tanto que o Pároco da Igreja de São Bartolomeu de Liége, que elas frequentavam, Abade Cloes, assim como o Abade Habets, que era o Confessor e era o Diretor Espiritual estavam tão plenamente convencidos dessa verdade, que as convenceu a dirigir e ensinar na Escola Paroquial. E conscientes deste fato, as duas irmãs abriram a Escola e começaram a trabalhar firme. Mas aquele era um período negro para a Bélgica, porque estava sobre o abominável domínio dos revolucionários holandeses e não havia liberdade de ensino. Muito embora essa Escola Paroquial fosse uma das poucas Escolas que recebeu autorização provisória dos revolucionários holandeses, haviam exigências a serem cumpridas; a Escola permaneceu com poucos alunos, quase deserta, porque exigia pagamento. A Oficina de Bordados que estava instalada ao lado, ia muito bem, porque era gratuita. Isto acontecia porque naquela época em que a Bélgica estava em poder dos revolucionários, o comércio e os Colégios funcionavam de maneira totalmente irregular, e poucas pessoas conseguiam conduzir com êxito os seus negócios, justamente porque o dinheiro era muito escasso.
Então, em vista da realidade, as duas irmãs decidiram também enfrentar as condições presente em vista do movimento revolucionário, porque elas queriam trabalhar, ocupando de maneira útil o seu tempo. E por isso mesmo, propuseram ao Pároco permitir que a Escola funcionasse gratuitamente. O Pároco, Abade Cloes prontamente concordou e a Escola começou a funcionar, apesar da oposição de Guilherme I, Rei dos Países Baixos (da Holanda), que era contra a liberdade do ensino católico (porque eles eram protestantes). Assim, mesmo sem as autorizações legais dadas pelos revolucionários, as salas estavam repletas de crianças, com muito interesse e cheias de atenção. Por certo, atrás de cada uma daquelas meninas e meninos, havia uma história de miséria, de pobreza moral e de mal-estar social. E assim, as duas irmãs enfrentaram um panorama de pobreza e de necessidade que elas nem imaginavam pudesse existir. Mas com muita fé e amor, mergulharam nesse panorama de necessidades, buscando aliviá-lo e melhorá-lo da melhor forma possível.