TRABALHO APOSTÓLICO
A “Tradição Cristã” conserva, que terminado o Concílio em Jerusalém, Pedro viajou para Roma. Era um antigo ideal que zelosamente guardava no coração, de poder evangelizar o centro do Império Romano. Provavelmente se deslocou para Cesaréia e ainda no ano 49 ou 50, foi para a Itália, quando Cláudio era o Imperador Romano. Quanto ao local onde Pedro se estabeleceu e fez a sua primeira morada, há diversas suposições, quase todas baseadas em lendas, às vezes fantasiosas, sem qualquer possibilidade de comprovação, motivo porque as omitimos. Todavia, quanto ao trabalho que desenvolveu, existem muitas informações documentadas atestando a sua admirável obra, a qual dedicou-se com empenho e perseverança na divulgação do evangelho de JESUS, fundando Comunidades e dando assistência a todas elas, até o fim de sua vida. Dezenas de escritos testemunham esta verdade, dos quais citaremos alguns, dos muitos que se encontram nos Arquivos do Vaticano:
Papia, bispo de Hierápolis, conforme carta escrita a um parente, conheceu alguns discípulos dos Apóstolos no ano 121, os quais afirmavam que Pedro predicara em Roma;
Irineu, bispo de Lion, na França, e Dionísio, bispo de Corinto na Grécia, em seus escritos, datados do ano 180, falam da permanência e do magnífico trabalho que Pedro fez em Roma.
A Primeira Epístola de Pedro foi escrita em Roma, conforme podemos observar pela saudação final, onde se lê: "A (Igreja) que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho." (1 Pd 5,13). Babilônia significa aqui a capital do império romano; a referência só pode ser para Roma, porque ela é a única cidade chamada de “Babilônia” em outro lugar na literatura Cristã antiga [conforme Apocalipse (Ap 17,5; 18, 10), e também Oracula Sibyl (Capitulo V, versos 143 e 159, ed. Geffcken, Leipzig, 1902, 111)].
Tanto o Bispo Papias de Hierápolis, como o biógrafo Clemente de Alexandria, utilizaram o testemunho dos velhos Padres (i.e., dos discípulos dos Apóstolos) e testemunharam afirmando :“nós aprendemos que Marcos escreveu o 2º Evangelho de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO a pedido dos cristãos romanos que desejavam ter por escrito toda a doutrina que oralmente Pedro pregava e ensinava aos seus discípulos” (conforme Eusébio, "História Eclesiástica", II, 15; III, 11; VI, 14); isto também é confirmado por Irineu (conf. Adv. haer., III, 1).
Clemente de Alexandria, professor na Escola Catequética da cidade de Alexandria no Egito, em seu “Hypotyposes”, aproximadamente no ano 190, escreveu baseado na Tradição dos Velhos Padres: "Depois de Pedro ter anunciado a Palavra de Deus em Roma e ensinado o Evangelho do ESPÍRITO de DEUS, os líderes da Comunidade pediram a Marcos que tinha acompanhado Pedro em todas as suas jornadas, que escrevesse o que o Apóstolo tinha oralmente ensinado a eles." (Eusébio, "História Eclesiástica", IV, XIV).
O venerável Bispo Ignácio de Antioquia, escreveu uma carta no começo do segundo século (antes do ano 117), enquanto era conduzido para Roma para ser martirizado. Na epístola, se empenhava por todos os meios para conter os cristãos romanos que se esforçavam em conseguir o perdão para ele. Então ele escreveu: "Eu não lhes peço nada, da mesma forma que Pedro e Paulo também não pediram: eles eram Apóstolos e estavam junto de vocês, enquanto eu sou apenas um cativo" (conforme Anúncio. Rom., IV). O significado desta observação é que os dois valorosos Apóstolos estando em Roma, lá ensinaram o Santo Evangelho e rezaram com os fieis, com toda autoridade Apostólica, e foram mortos sob a ordem do Imperador Nero.
O Bispo Dionísio de Corinto, na carta em que escreveu a Igreja de Roma no tempo do Papa Soter (165-174), diz: " Você tem a urgente exortação semeada por Pedro e Paulo em Roma e em Corinto. Pois ambos plantaram as sementes do Evangelho também em Corinto, e juntos nos instruiu, da mesma maneira que eles ensinaram igualmente no mesmo lugar da Itália (em Roma) e ao mesmo tempo sofreram o martírio" (Eusébio, "História Eclesiástica", II, 28).
Irineu de Lyon, nasceu na Ásia Menor e era discípulo de Polycarpo de Esmirna (que por sua vez, foi discípulo de São João), passou um tempo considerável em Roma logo após a metade do segundo século, e então, foi para Lyon, na França, onde se tornou bispo em 177; de lá descreveu a Igreja de Roma como sendo a mais proeminente e principal conservadora da Tradição Apostólica, como "a maior e mais antiga Igreja, conhecida por todos os cristãos, fundada e organizada em Roma por dois dos mais gloriosos Apóstolos, Pedro e Paulo" (conf. Adv. haer.cf. III, I). Assim ele faz uso de um acontecimento muito conhecido, reconhecendo a magnífica atividade Apostólica de Pedro e Paulo em Roma, como uma indestrutível prova da Tradição Cristã contra os hereges.
Do mesmo modo que Irineu, Tertuliano também invoca, nos seus escritos contra os hereges, como prova da verdadeira Tradição Eclesiástica o labor Apostólico de Pedro e Paulo em Roma. Em ("De Praescriptione", XXXV), ele diz: "Se tua arte está perto da Itália, tu apresse a chegar em Roma onde a autoridade sempre está dentro do alcance. Quão afortunada é esta Igreja para a qual os Apóstolos derramaram o ensinamento deles com o próprio sangue, onde Pedro viveu a Paixão do SENHOR e onde Paulo foi coroado com a morte igual a João Batista." Em ("Scorpiace", XV), ele também fala da crucificação de Pedro. "A fé que brotava em Roma, Nero transformou em sangue. Lá Pedro foi cingido por outro, desde que ele foi ligado à cruz". Como ilustração sobre o batismo cristão, ele declara no seu livro (“De Baptismo”, Cap. V) que não há "nenhuma diferença entre o Batismo que João batizou no Jordão e o Batismo de sangue que Pedro batizou no Tiber" (ambos santificam o homem); e contra o herege Marcion ele invoca o testemunho dos cristãos romanos, "a quem Pedro e Paulo deram o Evangelho lacrado com o seu próprio sangue." (Adv. Marc., IV, V).
O sacerdote Caius, conhecido como o romano, morou na capital do Império ao tempo do Papa Zeferino (198-217). Escreveu no seu Diálogo com Proclus contra os Montanistas: "Mas eu posso mostrar os troféus dos Apóstolos. Se você se preocupa em ir até o Vaticano ou na estrada de Ostia, tu acharás os troféus desses que fundaram esta Igreja". (Eusebio, "Hist. Eccl.", II, XXVIII). Pelos troféus (tropaia) Eusebio entende os sepulcros dos Apóstolos. Eusébio também se refere que "a inscrição dos nomes de Pedro e Paulo lá foram preservados" até o dia de hoje, no lugar onde foram sepultados (i.e. em Roma).
Os Atos apócrifos e os Atos de São Pedro e São Paulo, atribuídos a Pedro, embora não reconhecidos pela Igreja como livros canônicos, pertencem igualmente à série de testemunhos importantes sobre a obra e a morte dos dois Apóstolos em Roma. Existe uma coletânea de livros editados na França em 1870, onde se encontram diversos textos interessantes dos mencionados manuscritos, os quais testemunham a presença e a obra de Pedro e Paulo em Roma e na Ásia Menor. Também há vários fragmentos que foram preservados por Clemente de Alexandria e publicados. (cf. Dobschuts, "Das Kerygma Petri kritisch untersucht" em " Texte u. Untersuchungen ", XI, I, Leipzig, 1893).
DURAÇÃO DO TRABALHO
As informações acima, tem a finalidade de suprir a ausência de elementos mais precisos sobre a atividade do Apóstolo Pedro e de sua morte em Roma. Podemos acrescentar que o trabalho de Pedro abrangeu um período razoavelmente longo. Esta conclusão é confirmada pela voz unânime da Tradição que, já na metade do segundo século, designou o Príncipe dos Apóstolos como fundador da Igreja romana. É praticamente certo que Pedro viajou para Roma depois de 49 A.D. Sobre a duração do trabalho evangelizador de Pedro em Roma, há também controvérsias e não podemos seguir integralmente os dados cronológicos de Eusébio e Jerônimo, cujas considerações foram estabelecidas sobre crônicas do terceiro século, as quais não fazem parte da Velha Tradição, mas apenas constituem o resultado de cálculos que tiveram por base uma lista episcopal datada de fins do segundo século. Conforme Eusébio, foi apresentado no terceiro século o "Chronograph 354", que estabelece um tempo de vinte e cinco anos de pontificado para São Pedro em Roma. Entretanto, consideramos o mencionado tempo excessivamente longo, se lembrarmos que a chegada de Pedro a Roma foi em 49. De acordo com a "Crônica" de Eusébio, o décimo terceiro ou décimo quarto ano do reinado de Nero é considerado como o ano em que ocorreu a morte de Pedro e Paulo (ou seja, ano 67-68). Assim sendo, como Pedro chegou a Roma no ano 49 e morreu no ano 67, a relação apresentada pelo “Chronograph 354” que fixa o seu episcopado em vinte e cinco anos, evidentemente não está correta e assim, o tempo de 25 anos deverá ser reduzido para dezoito anos, (porque 67 - 49 = 18 anos) (cf. Bartolini, Roma, 1868). Na verdade o período de 18 anos é um tempo mais condizente com os fatos conservados pela Tradição Cristã.