Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!

O AMOR É MAIS FORTE

 

 

Estamos no final do Mês de Julho de 1941. Depois de um dia intenso de trabalho, embaixo de um sol escaldante, foi um alívio quando o sol se escondeu, com a chegada da noite. Todos almejavam por aquele momento. Dado o sinal para encerrar as atividades do dia, eles recebiam para comer uma sopa rala com um pequeno pedacinho de pão, e logo eram encaminhados para o dormitório. E entrando no pavilhão alguém que vai contando os presos. Naquele dia falou alto:

- “Está faltando um. Ele deve ter fugido”.

E a noticia se espalhou rápido, em pouco tempo, se ouviu a voz terrível do chefe:

- “Se até amanhã a tarde ele não aparecer, ou não for capturado, dez de vocês irão morrer de fome no bunker”. 

Em Auschwitz havia diversas formas de castigo e de extermínio, algumas satanicamente perversas, além das maneiras habituais. Entre os blocos 11 e 13, ficava o paredão de fuzilamento. Havia um muro elevado revestido com placas de madeira para as balas não ricochetearem, e ao lado do muro, havia um tablado de madeira. As pessoas completamente despidas: homens, mulheres, crianças e velhos, eram colocados no tablado próximo ao muro, e um Nazista com uma rajada de metralhadora aniquilava todos. Depois, antes de mandar os cadáveres para os fornos crematórios, com um revolver na mão, inspecionava cada um: se ainda houvesse um resquício de vida, dava um tiro de misericórdia no crânio da vítima. Lá também estavam as forcas com os corpos dependurados. Outra maneira, mais requintada, era constituída por um imenso banheiro, onde os presos imaginavam finalmente poder tomar um banho e fazer um asseio. Só que dos chuveiros não saiam água, o que saia era gás venenoso ziklon ou sarin, que sufocava e matava todos em poucos minutos: era a famosa câmara de gás. Além de outros terríveis processos, existiam os “Bunker”. Eram pequenos quartinhos construídos no subsolo do Bloco 11. Neles, com medidas aproximadas de 4,00 m x 4,00 m, não havia janela, apenas existia em alguns uma fresta (uma pequena abertura), para entrada de ar e luz, mas não existia lavatório e nem vaso sanitário, e não tinha cama e nem cadeira. Nestes quartinhos eram colocadas dez (10) pessoas para morrer de fome. Não recebiam nada para comer e nem um gole de água para refrescar. Ali ficavam encarceradas até o organismo não aguentar mais e então, ia morrendo. Todos os dias um carrasco vinha, abria a porta para ver, ele puxava o morto com um gancho de ferro. Os outros presos permaneciam no mesmo local, até encontrarem a morte.

Deste modo, aquela palavra terrível do chefe do Campo de Concentração, representava uma perigosa ameaça à vida de todos os prisioneiros. Como é natural, ficavam apreensivos e com medo. O “bunker” era de fato, uma coisa pavorosa, pois alguém morrer de fome e sede, agonizando durante mais de dez dias, secando como uma flor cortada do seu ramo, não é coisa fácil nem de se imaginar. E mais, as necessidades fisiológicas eram feitas numa lata, que diariamente o carrasco recolhia numa pseudo limpeza. Entretanto, sempre a lata virava e derramava o seu conteúdo, ficando no piso do quartinho um mar de sujeira... Imagine como ficavam os prisioneiros...

Então todos pensavam: alguém fugiu do Campo de Concentração, e se não for recapturado, dez de nós prisioneiros vamos morrer lá, no terrível “bunker”!... É, não é fácil não” ...

Mal clareou o dia, como de costume, um toque de corneta despertava todos os blocos, ordenando que todos se levantassem. Eram reunidos no grande pátio e o Comandante naquele dia falou:

- “O prisioneiro não foi encontrado. Se ele não aparecer até as 17 horas, dez do bloco 14, onde ele estava, irão para o bunker da fome. Permaneça em formação os prisioneiros do bloco 14, os outros, podem se dispersar”.

Todos os prisioneiros permaneceram de pé, embaixo de um sol escaldante, sem receberem uma gota de água para aliviar o calor e a sede. Horas depois, cai desmaiado no chão um prisioneiro, completamente tonto e com fraqueza. Ele é puxado para um canto do páteo. E logo depois desmaia outro, e depois outro, caindo de fraqueza e cansaço, e logo diversos prisioneiros caem também, e os guardas fazem o mesmo, e os arrastam para um canto.

Então o Comandante Fritsch tem “um gesto de misericórdia” . Concede meia hora de descanso a todos, e manda servir uma sopinha rala e fraquinha aos prisioneiros. Vencido o prazo, voltam para a formação em fila. Agora o Comandante com um sorriso sarcástico e satânico, falou: “São 17 horas, o fugitivo não apareceu. Então vou fazer a minha escolha”. Os prisioneiros tremeram de medo. E Fritsch caminhando entre eles apontou com o dedo e disse: “Este”! E depois: “Este aqui”!... “Mais este”! E assim escolheu os dez prisioneiros que como castigo, ia morrer de fome no “bunker” , porque um havia fugido.

Neste momento, um homem saiu da fila chorando convulsivamente e apelou em voz alta: “Piedade senhor Comandante, tenho esposa e filhos”! “Nunca mais poderei ver minha esposa e meus filhinhos”!... O Comandante ficou indiferente.

Os que não foram escolhidos puderam respirar aliviados, enquanto os dez escolhidos são alinhados numa fila. Palitsch, ajudante do Comandante ordenou: “Tirem os sapatos”!

Foi nesse momento que aconteceu um fato inusitado. Do meio do grupo de prisioneiros do bloco 14 saiu um prisioneiro, magro, com a cabeça inclinada, calmo e a passos lentos, olhando fixamente para o Comandante Fritsch. Este assustado tirou o revólver do coldre e deu um passo a trás gritando: “Pare! O que quer esse porco polonês”?

Era o Padre Maximiliano Kolbe, fraco, cansado e falando baixinho para o Chefe Nazista: “Eu gostaria de morrer no lugar de um destes condenados”...

Fritsch ficou confuso, porque aquele gesto, verdadeiramente ele não podia entender, os seus sentimentos estavam por demais embrutecidos. E também, um carrasco como ele não gostava de ser contrariado em nada, inclusive nas suas decisões. Era comum ele resolver situações como esta, disparando o revolver contra a cabeça do intrometido. Mas agora, estava perplexo, com a arma na mão. Então perguntou:

- “Mas por que você quer ir ao lugar de outro”?

Frei Maximiliano Kolbe sabia que existia uma norma entre os Nazistas, que ordenava o extermínio sumário dos velhos, dos fracos e dos inúteis, por isso, respondeu ao carrasco:

- “Estou velho. Minha vida não serve para mais nada. Minha vida não tem mais nenhuma utilidade”.

Perguntou o Comandante:

- “No lugar de quem você quer ir”?

Respondeu Padre Kolbe:

- “Daquele homem que tem mulher e filhos”...

Maximiliano apontou para o homem que tinha soluçado e implorado piedade, cheio de angústia. Era o Sargento Francisco Gajowniczek.

A maioria das pessoas não ouviu o teor do diálogo, mas estavam admirados, porque nunca tinham visto o Fritsch conversar com um prisioneiro. E a curiosidade do Comandante Nazista foi mais longe, e por isso ele perguntou:

- “E quem é você”?

Padre Kolbe com modéstia e simplicidade, apenas disse:

- “Sou um Sacerdote Católico”.

Cheio de dúvida, sem entender o valor do sentimento e da atitude do Padre Kolbe, o carrasco Nazista ainda com uma misteriosa expressão e guardando o revolver, falou:

- “Está bem! Vá com eles”!...

Um silêncio envolveu todo o ambiente. O Comandante sem dizer mais nada, sem falar qualquer palavrão, ficou observando. Padre Kolbe tirou os tamancos e se juntou aos homens escolhidos, enquanto o ajudante Palitsch ordenou:

- “Em frente! Marchem”!

Descalços, os condenados vão se movimentando devagar, eles estão a caminho do bloco 11, o bloco da morte.

No momento em que chegam à porta do “bunker” , naquela tarde do final do mês de Julho de 1941, ouviram-se muitos gritos, urros e palavrões vindo dos outros “bunkers” próximos, onde mais de vinte infelizes agonizavam.

Agora Palitsch berra uma nova ordem:

- “Tirem as roupas”!

Todos obedeceram, e logo a seguir, com a coronha do fuzil, os condenados são empurrados para dentro do “bunker”, um local úmido, que não tem ar, não tem leitos e nem um banco para se assentar. E com estrondo a porta foi fechada e trancada.

A partir daquele momento Padre Kolbe assumiu o comando. Na escuridão daquele quarto ele tinha que preparar aqueles nove homens que com ele, estava indo ao encontro da morte. E então, com serenidade e muito amor, colocou no coração de cada um deles a presença de DEUS, que jamais abandona um de seus filhos em dificuldade, e que buscam a Divina ajuda. Ensinou-lhes também sobre NOSSA SENHORA, a Mãe querida de JESUS, o FILHO DE DEUS, que nos foi dada como Mãe Espiritual, e que em todas as oportunidades, jamais deixa de auxiliar um de seus filhos que procura a sua inefável e tão querida proteção. Explicava o Padre: “Aqui neste quartinho os Nazistas conseguirão exterminar a vida do nosso corpo, mas não alcançarão e nem conseguirão tocar na nossa alma, que ligeiro, daqui subirá ao Céu, para encontrar a felicidade eterna junto de DEUS e de nossa MÃE SANTÍSSIMA. Assim, para sermos dignos de tanto amor Divino, vamos nos preparar rezando”. E desse modo, rezavam, cantavam e louvavam o SENHOR e a VIRGEM MARIA.

Corajosamente Frei Kolbe, iluminado pela Luz de DEUS, estimulou que cada um confessasse os seus pecados, sem medo e sem timidez, pois ali, juntos até o último momento, era a oportunidade ideal para limpar o coração, e permitir que o ESPÍRITO SANTO, através das orações do sacerdote, purificasse integralmente cada alma, santificando aqueles últimos dias de vida, escancarando para cada um deles, as Portas do Paraíso Eterno de nosso DEUS e CRIADOR.

Cada dia um prisioneiro de nome Borgowiec, que servia aos Nazistas, acompanhado por mais três soldados fortemente armados, vinham e batiam na porta do “bunker” com a coronha do fuzil, para acordar os prisioneiros, a fim de ser recolhida a lata com os dejetos orgânicos, e depois recolocada no mesmo recinto.

A partir do terceiro dia de total jejum, o ambiente começou a ficar mais difícil, pois a fome e a sede fazem sentir os seus efeitos. Falta saliva, as convulsões e câimbras do estomago são mais frequentes, parece que há fogo nas vísceras e as vítimas soltam mais gemidos.

No quinto dia, quando Borgowiec abriu a porta do “bunker” , já encontrou um prisioneiro morto. Os homens que faziam a remoção do cadáver não colocavam as mãos nele. Cada um tinha um grande gancho de ferro, preso num pau, que arrastavam o corpo para fora do “bunker”. E depois, com pás apropriadas, colocavam o corpo num carrinho, a fim de transportá-lo para os fornos crematórios.

No sétimo dia dois companheiros estão agonizando... Frei Kolbe reza com muito amor e lhes concede a absolvição, encomendando as suas almas à misericórdia de DEUS.

E assim foram morrendo todos os companheiros de infortúnio. Frei Kolbe sofria calado. O martírio que sempre desejou estava acontecendo vagarosamente. A coroa vermelha, que viu na infância, pairava sobre a sua cabeça. E ele pensava em seu coração: “Minha MÃE, não faltaste com TUA promessa. Agora sinto que o Céu me está bem próximo”! Isso lhe dava mais forças para animar os seus companheiros.

MORTE DO PADRE KOLBE

No décimo quarto dia de jejum total e absoluto, os três últimos companheiros de Maximiliano agonizavam. Somente Frei Kolbe estava lúcido. Era o dia 14 de Agosto, véspera da festa da ASSUNÇÃO DA VIRGEM IMACULADA, que em Corpo e Alma, foi levada pelos Anjos aos Céus. Viu seus últimos companheiros exalarem o último suspiro. Sua missão estava cumprida.

Enquanto os carrascos faziam o seu trabalho, ele permaneceu sentado no chão, encostado a parede, com a cabeça um pouco inclinada. Vê o Nazista entrar com uma seringa na mão. Percebe tudo, ele era o único vivo e ninguém poderia sair dali com vida. Estende o braço descarnado para a picada fatal. O carrasco lhe injeta o mortal ácido de fenol. Padre Kolbe sente um fogo ir penetrando no seu corpo e ele ainda rezou a VIRGEM MARIA:

“E chorando de amor e alegria,
Reclinado em TEU Coração,
Eu quisera escutar de TEUS Lábios
As Palavras que dizes a todos
De amor e perdão” ...

O prisioneiro da limpeza Borgowiec estava presente. Ele disse que os outros corpos estavam imundos, enquanto o corpo de Frei Kolbe estava totalmente limpo e até brilhava. Ficou emocionado e com lágrimas nos olhos. Não pode resistir à cena e fugiu. Afirmou: “Nunca irei esquecer a impressão que me causou”.

A noticia da morte do Padre Kolbe provocou muito choro, junto aos seus companheiros no bloco 14. Quiseram sepultá-lo, mas a lei Nazista era implacável e não permitiu: Devia ser cremado como os outros, nos fornos crematórios que fumegam dia e noite.

BEATIFICAÇÃO

Depois da Segunda Grande Guerra Mundial, o martírio do Frei Maximiliano, começou a comover não só a Polônia, a sua terra natal, mas todo o mundo, à medida que era divulgado o relatório da sua heroicidade no Campo de Concentração de Auschwitz. De todas as partes começaram a chegar a Roma, pedidos para que ele fosse Canonizado. Atendendo a esses pedidos, no dia 17 de Dezembro de 1971, o Papa Paulo VI declarava Beato, Frei Maximiliano Maria Kolbe. E no ato solene da Beatificação, o Papa Paulo VI fez a seguinte homilia:

“Maximiliano Kolbe, Beato (Bem-Aventurado). O que isso quer dizer? Quer dizer que a Igreja reconhece nele uma figura extraordinária, um homem em que a graça de DEUS e a alma dele, se uniram de tal modo, que produziu uma vida estupenda. E quem observa com atenção descobre essa simbiose de um duplo princípio operante, o Divino e o humano. Um misterioso, o outro experimental, mas complexo e dilatado a tal ponto de atingir aquele singular aspecto de grandeza moral e espiritual que chamamos Santidade. Isto é, a perfeição alcançada no parâmetro religioso, que, como se sabe, desliza pelas alturas infinitas do Absoluto.

Beato, pois, quer dizer, ser digno daquela Veneração. Isto é, daquele culto permitido, local e relativo, que convida a admiração para aquele que nele foi extraordinária e magnífica, a luz do ESPÍRITO SANTIFICANTE.

Beato, quer dizer ser salvo e glorioso. Quer dizer, cidadão do Céu, com todos os sinais peculiares do cidadão da Terra. Quer dizer, irmão e amigo, que sabemos ainda nosso, na verdade até mais que nosso, porque identificado como membro operante da Comunhão dos Santos, que é o Corpo Místico de CRISTO, a Igreja Vivente, tanto no tempo como na eternidade. Quer dizer, por essa razão, um Advogado, um Intercessor e Protetor no Reino da Caridade, juntamente com CRISTO NOSSO SENHOR, sempre vivo para poder interceder por nós (Hb 7,25; conforme Rm 8,34); Beato, quer dizer, finalmente, campeão exemplar, tipo de homem no qual podemos conformar nossa existência, sendo a ele, ao Beato, reconhecido o privilégio do Apóstolo São Paulo, de poder dizer ao povo cristão: “Sede meus imitadores, como eu o sou de JESUS CRISTO” (1 Cor 4,16; 11,1; Fl 3,17; conforme 1 Ts 3,7).

CANONIZAÇÃO

No dia 10 de Outubro de 1982, o Papa João Paulo II, inscreveu Padre Maximiliano Maria Kolbe como mártir, no catálogo dos Santos da Igreja.

Além das homilias dos dois Sumos Pontífices, vários articulistas enalteceram Padre Kolbe em artigos publicados no L’Osservatore Romano.

A CANONIZAÇÃO aconteceu num memorável Domingo na Praça de São Pedro, no Vaticano, com milhares de fieis presentes. Durante a cerimônia, o Papa pronunciou solenemente a fórmula ritual:

“Para honra da SANTÍSSIMA TRINDADE, para exaltação da fé Católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de NOSSA SENHORA, depois de ter longamente refletido e invocado o auxílio Divino e o de muitos Irmãos nossos no Episcopado, declaramos e definimos “SANTO”, o Beato Maximiliano Maria Kolbe, incluímo-lo no álbum dos Santos e estabelecemos que em toda a Igreja, ele seja devotamente cultuado entre os SANTOS MÁRTIRES. Em nome do PAI, do FILHO e do ESPÍRITO SANTO”.

A homilia de Sua Santidade o Papa João Paulo II, foi eloquente e maravilhosa, na qual explicou de maneira clara e direta, o martírio sofrido pelo Padre Kolbe e a grandeza de seu amor, por DEUS, pela IMACULADA CONCEIÇÃO e pela humanidade.

PALAVRAS FINAIS

Durante todos estes anos A MILÍCIA IMACULADA mantém-se viva e vitoriosa, tendo superado a Segunda Grande Guerra Mundial, o martírio de seu próprio fundador no campo de extermínio de Auschwitz na Polônia, e criado mais forças, se expandindo por diversos países através da Ordem dos Frades Menores Franciscanos Conventuais, assim como de Leigos integrantes da mesma MILÍCIA IMACULADA. Com empenho, dedicação, excelente capacidade evangelizadora, e de agregação e união da humanidade, primordialmente sempre revestida de generosa caridade e muito amor, a “MI” vive e mantém todos os meios possíveis, a conduzir os fieis no caminho do direito, da justiça e do amor fraterno, conforme a Vontade de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, para honra e glória de DEUS PAI e alegria de nossa querida MÃE SANTÍSSIMA.

 

Papa João Paulo II com o Sargento Francisco Gajowniczek, o homem que Padre Kolbe salvou a vida, substituindo-o no "bunker da fome" em Auschwitz.

 

Próxima Página

Página Anterior

Retorna ao Índice