FORÇA DO IDEAL
PAI, IRMÃS E TRABALHO
Pedro Julião Eymard nasceu no dia 4 de Fevereiro de 1811, em La Mure, região Rhone-Alpes, no Departamento de Isère, próximo a Grenoble, na França. Era o único filho do segundo casamento de seu pai senhor Julião Eymard com Maria Madalena Pélorse. Sua meia-irmã Mariana, a única filha que sobreviveu do primeiro casamento, vivia com eles. Na continuidade, os pais adotaram Nanette, que veio aumentar a família.
O senhor Eymard era um homem dedicado ao trabalho e cristão fervoroso. Inscreveu-se numa Associação Religiosa Eucarística, de caráter penitencial e acompanhava piedosamente todos os eventos da Associação. Financeiramente, nunca foi um homem rico, mas alcançou um nível respeitável, graças ao seu trabalho e habilidade profissional, afiando todos os tipos de ferramentas.
Depois instalou um equipamento para esmagar nozes e fabricar óleo. E este foi um abençoado caminho, por que a prensa de óleo se tornou bastante lucrativa, tanto que lhe permitiu contratar um homem para ajudá-lo na fabricação do óleo. Para auxiliar o esforço paterno, Pedro Julião se incumbiu de entregar o óleo aos clientes do seu pai.
MENINO ESPERTO
Julião era um menino como muitos da sua idade, pertencia ao coro da Paróquia e gostava das brincadeiras naturais dos jovens. Era costume em La Mure, que um dos meninos do coro, antes das cerimônias, percorresse as ruas principais do lugarejo, batendo um sino, convidando as pessoas a irem a Igreja. E como havia muitos meninos, existia uma natural disputa para pegar o sino. Aquele que o pegasse primeiro, tinha o privilégio de sair às ruas acionando-o. Não sendo um menino tímido, muito pelo contrário, era um jovem bem inventivo, logo começou a imaginar os caminhos da melhor atuação e, viu que não era muito eficiente acordar bem cedo, para chegar primeiro a Igreja e se apoderar do sino. E que então, era melhor levar de uma vez o sino para casa, por que aí não ia correr nenhum risco de alguém pegá-lo primeiro. E foi exatamente o que fez revelando uma maneira engenhosa de se apoderar do sino, evitando a concorrência dos outros meninos.
AMOROSO COM JESUS E A VIRGEM MARIA
Muito cedo, sua mãe e as irmãs o levaram a Igreja. Procedimento que atuou beneficamente em sua formação espiritual, moldando adequadamente um bom caráter no menino. Assim, da mesma maneira que seus pais e irmãs, Julião era fiel e fervoroso nas práticas religiosas. Sempre que saía para fazer a entrega do óleo, passava na Igreja, a fim de fazer uma visita a JESUS no SANTÍSSIMO SACRAMENTO no Sacrário, e rezar diante de uma bonita imagem da MÃE DE DEUS.
Imitando os seus pais, durante a Quaresma procurava fazer sacrifícios para amenizar as dores e consolar os desapontamentos do Coração Divino, por causa dos pecados da humanidade. Também jejuava a pão e água.
Frequentando a Igreja com interesse, preparou-se na Catequese da Paróquia e recebeu a PRIMEIRA SAGRADA EUCARISTIA num Domingo da Paixão do SENHOR, no dia 16 de Março de 1823, com a idade de 12 anos.
PROBLEMA DOS ESTUDOS
Nos estudos, frequentou a Escola de La Mure, sempre manifestando disposição para o aprendizado, boa inteligência e vivacidade. Mas por necessidade de ajudar o trabalho paterno, ainda não tinha 13 anos de idade quando seu pai decidiu retirá-lo da Escola, dizendo:“Meu filho aprendeu em Matemática e em Redação, mais do que o necessário para manter e continuar com a pequena empresa de óleo da família”.
Pedro Julião ficou desolado, pois já havia revelado aos seus pais, o desejo de se tornar um sacerdote. Triste e decepcionado com a decisão paterna viu o seu sonho esvaecer. Por isso suplicou a proteção da VIRGEM MARIA, fazendo uma peregrinação ao Santuário de NOSSA SENHORA DO LAUS, distante 50 quilômetros.
Este local se tornara popular em face da Aparição da MÃE DE DEUS a uma jovem camponesa no século XII. Os Padres Oblatos de MARIA IMACULADA é que administravam o Santuário. Naquele dia em que se encontrava no templo, também estava o Padre Touche, que era um pregador famoso. Com ele decidiu se confessar e contar as suas dificuldades e o projeto da sua vida. Padre Touche sendo um homem bem experiente, viu qualidades naquele menino de 13 anos, e por isso, aconselhou que não abandonasse o seu projeto, e que buscasse estudar o latim.
Deste modo nasceu um primeiro conhecimento entre os dois, que na verdade, se estendeu por toda a vida. E naquele momento, diante da imagem de NOSSA SENHORA, se consolidou outra amizade que havia começado em La Mure, e que agora criava raízes mais sólidas e vigorosas em Julião: "O amor a VIRGEM MARIA, a quem ele havia voltado em sua dor e desolação". NOSSA SENHORA teve uma atuação muito importante em toda a sua vida.
Regressou ao lar muito feliz, certo de que devia lutar pelo seu ideal de ser Padre. Na continuidade dos dias, encontrando-se com rapazes que estudavam latim e, com a cumplicidade da sua mãe, comprou uma gramática latina. Durante dois anos estudou com empenho e dedicação. Preparava exercícios para praticar e, no período das férias, aproveitava a presença de seminaristas na cidade, e pedia-lhes para corrigir os seus trabalhos. O progresso nos estudos acontecia visivelmente.
Um dia, aproximou-se do pai com um carinhoso jeito e colocou a questão da volta às aulas. O pai, no entanto, respondeu: “Nunca, isto custa muito caro”.
Na verdade, nem era tão caro assim... O pai não queria é que Pedro Julião estudasse para ser Sacerdote. Ele tinha outro plano para o filho, para ajudá-lo na fabricação do óleo e depois, assumisse o negócio em nome da família. Por isso, não deixava o menino estudar.
EM BUSCA DE OUTRO CAMINHO
Julião vendo que não conseguia o apoio do pai para realizar o projeto da sua vida, já com a idade de 16 anos, decidiu procurar amigos influentes junto ao Prefeito de La Mure, buscando a possibilidade de obter uma das três bolsas disponíveis, que a Prefeitura pagava no Colégio, em benefício dos pobres. Fez o pedido, e com a influência dos amigos, conseguiu a bolsa. Mas, o Diretor do Colégio não gostou daquela situação. Embora aceitando o Pedro Julião com sua bolsa de estudos, não perdia a ocasião de criticá-lo:
- “Você não é pobre. Seu pai tem um negócio rendoso e não está passando necessidade, e você vem aqui, ocupar a bolsa de um verdadeiro pobre”!
Anos mais tarde, Pedro Julião lembrando-se deste período de estudos, recordava-se com tristeza: “Sei o que isto me custou. Fui desprezado e humilhado muitas vezes. O Diretor me fez pagar um preço bem caro, pelos estudos. Em lugar de me deixar ir ao recreio, como os outros estudantes iam, me fazia acender a sua lareira, varrer o seu quarto e escritório, e mil outras ocupações, com o intuito preconcebido de me lembrar sempre, que eu era um dos três pobres”!
Mas numa cidade pequena como La Mure, as notícias corriam ligeiro e logo, todos ficaram sabendo que o pai do Pedro Julião não pagava os estudos do filho. Tendo ele uma firma rendosa, ficou sem jeito com a circulação daquele boato. E a notícia se tornou mais incômoda ao senhor Eymard, quando ele ficou sabendo que o Diretor humilhava o seu filho por causa daquela situação. Assim, num dia, ele não aguentou mais, foi ao Colégio para desabafar com o Diretor... Mas o Diretor muito sério reagiu apenas assim: “Leve o seu filho daqui”.
Pronto. Mais uma vez Pedro Julião voltou para a prensa de óleo e retornou ao seu trabalho de entrega das encomendas aos clientes.
AUXILIAR NO MANICÔMIO
Algumas semanas depois, um Padre veio a La Mure em visita a parentes, e também, a procura de um rapaz para trabalhar em sua residência e no seu escritório no Hospital em Grenoble. Pedro Julião sabendo da notícia por amigos apresentou-se ao Padre e lhe suplicou que obtivesse a permissão do seu pai. Diante dos acontecimentos muito recentes, o pai logo concordou.
E assim, ele seguiu com o Padre para Grenoble. Todavia, o trabalho que lhe cabia executar, ocupava quase que integralmente o seu tempo, não lhe oferecendo nenhum espaço para estudar e muito menos, nenhuma oportunidade para o Padre lhe ensinar o latim, conforme ele mesmo lhe havia prometido. Então, foi um período extremamente difícil que ele teve de enfrentar. O Hospital que o Padre disse ser o local do trabalho era exatamente um Manicômio, que não lhe propiciava nenhum tempo livre.
Um dia, quando Pedro Julião atravessava o pátio do Manicômio, o Diretor ignorando que ele não soubesse da notícia, falou lamentando sem preâmbulos: “Pobrezinho, então sua mãe morreu, não é”? Julião ficou estarrecido. Aquela noticia deixou-o chocado profundamente. Apressou-se em chegar a Capela e não mais segurou as lágrimas, rompendo num doloroso e triste choro acompanhado de entrecortados soluços. Implorou a VIRGEM SANTÍSSIMA que tivesse misericórdia dele e que Se tornasse a sua Mãe. Imediatamente partiu para La Mure, mas quando chegou, sua mãe já tinha sido sepultada. Seu pai o acolheu em prantos, sentindo uma imensa dor pela perda da segunda esposa. E então, mais uma vez, para ajudar o seu pai e a consolá-lo, Pedro Julião permaneceu no lar. Abandonou o serviço em Grenoble e retomou o seu lugar na prensa de óleo, momentaneamente não pensando no projeto da sua vida.
Os meses seguiam e em La Mure, Pedro Julião, seu pai e as irmãs Mariana e Nanette, seguiam vivendo com o trabalho de cada dia.
EXPERIÊNCIA NO SEMINÁRIO
Uma noite recebeu em casa, a visita do Padre José Guibert, Sacerdote Missionário dos Oblatos de Maria Imaculada, que havia pregado o retiro da Quaresma na Paróquia local. Sabendo das notícias e do desejo do jovem, de ser Sacerdote, veio especialmente convidar Pedro Julião a entrar no Noviciado da sua Comunidade Religiosa. Era sem dúvida, um chamado de DEUS. Julião já estava com 18 anos de idade e o pai compreendeu que não devia mais segurar o filho. Então consentiu.
E assim, depois de uma breve visita ao Santuário de NOSSA SENHORA DO LAUS, para agradecer a VIRGEM SANTÍSSIMA, voltou a sua casa para se despedir do pai e das irmãs. No dia 7 de Julho de 1829, repleto de felicidade, vestiu o hábito religioso dos Oblatos de MARIA IMACULADA, no seu Noviciado em Marselha.
Aconteceu que depois de cinco meses de Noviciado, Pedro Julião adoeceu de modo preocupante. Primeiro queixou-se de fortes dores de cabeça e depois, de dores no estômago.
DOENÇA ESTRANHA
O médico que cuidava dele sentiu-se incapaz de diagnosticar aquela doença, e como tentativa, fez duas sangrias, que o deixou ainda mais fraco e imobilizado no leito. Vendo que não conseguia debelar o mal do rapaz, declarou que o caso era incurável. Todos ficaram assustados. Pedro Julião foi mandado de volta ao lar, para morrer na companhia dos seus familiares. Em pleno inverno europeu, colocaram o rapaz com sua bagagem numa carruagem, para um trajeto de mais de 200 quilômetros. Ele chegou arrasado em La Mure. Suas irmãs se empenharam em cuidar dele durante meses seguidos, até que aos poucos ele foi readquirindo a saúde e melhorando do mal.
Nesse período, aprendeu a tocar violino e piano, para relaxar e se distrair. E assim, Pedro Julião, dia a dia ficava mais forte e se integrava aos afazeres da família, e nas horas de folga tocava lindas melodias.
FALECIMENTO DO PAI
Todavia, antes da sua cura total, o seu pai adoeceu seriamente. Carinhosamente se empenharam e cuidaram do senhor Eymard. Mas, o caso dele foi tão terrível que em pouco tempo a doença acabou com a sua vida. Ele morreu nos braços do filho, no dia 3 de Março de 1831, aos 65 anos de idade, deixando Pedro Julião e as filhas inconsoláveis, eles que amavam e respeitavam tanto o seu pai.
Com a morte do pai, Pedro Julião deveria assumir a frente dos negócios. Mas não foi assim, deixou toda a herança e o negócio comercial da família nas mãos da sua irmã Mariana e seguiu para entrar num Seminário e realizar o projeto da sua vida, de ser Sacerdote.