SURPREENDENTE ENCONTRO
AS CATACUMBAS ROMANAS
Eram antigos cemitérios subterrâneos em Roma, onde os primeiros cristãos se refugiavam e quando mortos, eram ali sepultados, durante as abomináveis e covardes perseguições sofridas pela Igreja, nos primeiros séculos do cristianismo.
Eram constituídas de estreitas e longas galerias, que formavam um intrincado labirinto, que para ser visitado, era necessário o acompanhamento de guias experientes e bem conhecedores dos locais, a fim de não se perder no emaranhado de acessos, cruzamentos e bifurcações.
Ali também, os primeiros cristãos, cheios de fervor, assistiam a celebração da Santa Missa, e faziam as suas orações. Não se conhece a data exata de quando começaram as Catacumbas, mas existem referências e provas da sua existência no ano 95 da era cristã, no reinado de Domiciano (51/96-dC) que era um terrível Imperador Romano.
Quando cessaram as perseguições à Igreja, no reinado de Constantino (272/337-dC) as Catacumbas deixaram de ser um lugar de refúgio e cemitério, passando a ser visitadas por piedosas romarias, constituindo-se num precioso e digno local histórico, verdadeiramente sagrado e respeitado pelos cristãos, até a ocupação de Roma pelos bárbaros, que profanaram muitos túmulos de Santos, imaginando que neles iam encontrar um grande tesouro.
Terminada a invasão dos bárbaros em 476 dC, os Papas que se seguiram, providenciaram a transladação das preciosas relíquias para as Igrejas. Só no ano 817, o Papa Pascal I, ordenou a remoção de 2.300 corpos. Na continuidade dos anos, seguindo com os estudos e as buscas, os especialistas em 1578 alcançaram notáveis descobertas de mártires. E mais entusiasmados seguiram com as pesquisas, agora amparados por leis e decretos de proteção, a fim de evitar que as relíquias encontradas fossem apoderadas por visitantes ou pessoas mal intencionadas.
Durante as escavações, no dia 24 de Maio de 1802 foi descoberta nas Catacumbas de Santa Priscila, uma sepultura que nunca tinha sido violada. Foi avisado Monsenhor Ponzetti que era o Guarda das Santas Relíquias, o qual ordenou que “se parasse de quebrar o que quer que fosse”. No dia seguinte, 25 de maio de 1802, acompanhado pelo padre Filipo Ludovici, desceram às Catacumbas para assistir a abertura do sarcófago. Verificou-se que era pequeno, provavelmente de uma criança de pouca idade, e estava fechado com três placas de terracota, onde se destacava pintado em vermelho, a seguinte inscrição: “PAX TE CUM FILUMENA” (A paz esteja contigo Filomena). Além da inscrição haviam símbolos diversos também pintados nas mesmas placas, os quais identificavam fatos importantes ocorridos na vida daquela pessoa. É assim que aparecia uma “Ancora”, considerada símbolo de esperança por se assemelhar a cruz, mas também era símbolo de martírio, por que era costume amarrar âncoras de ferro ao pescoço de um cristão, antes de lançá-lo ao rio ou ao mar. Santa Filomena foi lançada ao Rio Tibre, conforme as suas próprias revelações. Existem também “Setas pintadas em três posições diferentes”, indicando que a Santa foi martirizada três vezes. Também foram observadas, pintadas no tumulo da Santa: uma “Palma” , símbolo de triunfo, um “Açoite”, símbolo de flagelação, e um “Lírio”, símbolo de inocência e virgindade.
Nos posteriores exames dos ossos, os peritos reconheceram ter havido também fratura do crânio, o que significa afirmar, que a Santa foi “Decapitada”.
EXISTÊNCIA DE FILOMENA
Também pela análise dos ossos, os especialistas constataram que a Santa viveu nos tempos apostólicos, provavelmente entre os anos 150 a 160 da era cristã. Todavia, em revelações bem posteriores, feitas pela Santa Mártir a três pessoas distintas, ela afirma que viveu no tempo do Imperador Diocleciano, em fins do século III e princípio do século IV. Os peritos também concluíram que se tratava de uma jovem com a idade entre 12 e 15 anos, o que exatamente foi confirmado por Santa Filomena nas suas revelações.
DE ROMA A MUGNANO
Após a identificação das relíquias, o caixão foi conduzido a Capela do Tesouro Sacro, local onde permanecem os Santos e Mártires à espera da ordem do Papa, para a definitiva colocação numa Igreja.
Três anos depois, em 1805, Padre Francisco di Lucia, acompanhado do Bispo de Potenza, foi a Roma solicitar ao Sumo Pontífice, as relíquias de um mártir para a sua Igreja em Mugnano, próximo a Nápoles. O Papa autorizou e ele escolheu Santa Filomena.
As relíquias foram transportadas para Nápoles e em seguida, no dia 9 de Agosto seguiram para Mugnano. A comitiva era formada por cristãos fervorosos que conduziram o ataúde, a pé, sempre rezando o terço e diversas outras orações. Como o calor era muito intenso, faziam caminhadas noturnas e descansavam durante o dia.
Em Mugnano, desde a véspera, os sinos das Igrejas repicavam vigorosamente, anunciando a bem-vinda chegada das relíquias da Santa Mártir. Os fogos de artifícios riscavam e estouravam cobrindo de linda claridade a dimensão do espaço visual, derramando em variadas cores como se fosse uma deslumbrante chuva iluminada. Não se esquecendo de que naquela época, a região atravessava uma grande seca, como parte da preparação para uma digna recepção a Santa Filomena, o povo aproveitou para rezar mais, inclusive fazendo novenas, suplicando a intercessão dela junto a DEUS, para que chovesse e ajudasse a agricultura que estava com uma fraca produção, causando muito prejuízo aos habitantes e não atendendo as necessidades do povo. E o SENHOR misericórdia infinita, recebeu as orações e a intercessão da Santa, derramando uma preciosa e caudalosa chuva que molhou convenientemente todas as lavouras.
As relíquias de Santa Filomena foram depositadas na Igreja de NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS. A felicidade e um grande júbilo envolveu o coração de todos, dos fieis, do Padre Francisco e da Diocese, que jubilosamente fizeram multiplicar as orações de agradecimento e de boa vinda.
O SANTUÁRIO DE MUGNANO
Desde o inicio, a Igreja de NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS que guardava as relíquias, recebeu um notável volume de visitantes e romeiros, que vinham rezar diante da Capela da Santa. E na continuidade dos anos, a frequência aumentou tanto e de modo tão extraordinário, em razão da sempre crescente manifestação miraculosa que acontecia, com as graças de toda a natureza derramadas pela bondade misericordiosa do SENHOR pela intercessão atenciosa da Santa, que foi necessário ampliar a Igreja atual, construindo uma Capela especial para ela. O fervor do povo era sincero e apaixonado, revelando uma imensa fé em DEUS e muita confiança em Filomena. Assim, com o apoio decidido da nobreza em Nápoles e o fervoroso empenho dos devotos locais, em 1853 se iniciou a construção da Capela, transformando a Igreja de NOSSA SENHORA em Santuário de NOSSA SENHORA e de Santa Filomena, tendo no Altar da Capela uma linda imagem da Santa Mártir.
A obra foi terminada em 1856 e ficou muito bonita. Na Capela, toda em mármore branco de Carrara, está colocada uma urna com uma imagem de cera da Santa, vestida e adornada com lindas jóias, vendo-se na mão direita um anel de ouro com uma bonita pedra topázio, presente de Sua Eminência, o Papa Pio X.
A tradição descreve, que a imagem de cera da Santa, com o passar dos anos, parece ficar mais bonita que nos anos anteriores. È uma observação curiosa e que inclusive, despertou o interessa das autoridades em acompanhar os fatos. No dia 27 de Maio de 1902, a imagem sorriu para um grupo de pessoas em peregrinação, que rezavam na Capela. O fato ocorrido, também foi atestado por uma autoridade religiosa que se encontrava presente.
Em 1909, o Padre Paulo O´Sulivan, ao visitar a Igreja/Santuário, viu a imagem mudar de cor, de muito clara para um rosado acentuado, tendo os lábios ora comprimidos, ora abertos. E importante salientar, que é impossível a intervenção externa na imagem, pois a urna está hermeticamente lacrada e fechada, e as chaves estão com o Bispo de Nola.
Outro fato curioso aconteceu num pequeno altar ao lado da Capela da Santa, onde existe um tabernaculo bem bonito, revestido com laminas de prata e com uma porta de vidro. Através desta porta de vidro se vê dentro do tabernaculo um pequeno “Vaso de Cristal”, contendo uma porção do sangue de Filomena, que estava num frasco na Catacumba. Mas o sangue não está liquefeito, mas bastante seco, com aparência de cinzas, o qual tem uma propriedade sobrenatural de se transformar em partículas escuras brilhantes. Às vezes aparece também sob a forma de “particulas negras”, consideradas como pressagio de desgosto ou aflição. As partículas negras foram também visíveis quando o Papa Pio IX visitou o Santuário, e ele mesmo, o Sumo Pontífice, considerou como sendo um sinal profético das amarguras que lhe estavam reservadas.
O GRANDE MILAGRE
Em 1833, o Bispo Anselmo Basilici, da Diocese de Nepi e Sutri (atual Diocese de Cività Castellana), pediu a abertura do processo de Canonização para Santa Filomena, em virtude dos inúmeros milagres Divinos que vinham sendo relatados, obtidos através da intercessão da jovem mártir. No entanto, a Cúria Romana ponderava que era necessário um milagre devidamente documentado pela Igreja e também, atestado pela Santa Sé, a fim de que o processo tivesse o fundamento inquestionável à aprovação das autoridades eclesiais. E verdadeiramente o milagre veio através de Pauline-Marie Jaricot (1799-1862).
A cura desta jovem foi fundamental, não só pela divulgação do fato em si, mas pela evidente demonstração da soberana Vontade de DEUS em querer exaltar a Mártir Filomena.
Pauline era uma moça bonita e inteligente, que despertava grande admiração na sociedade francesa, além de pertencer a uma família com boas condições financeiras. Ainda muito jovem perdeu sua mãe vítima de uma terrível e incurável doença. Com o passar dos anos, a doença cardíaca também se manifestou nela, adoecendo gravemente e se mantendo entre a vida e a morte, embora jamais se afastasse do trabalho, dos seus afazeres sociais e das atividades devocionais. Pauline era uma mulher conscientemente religiosa, e mesmo contra as suas limitações físicas, buscava alcançar e lançar projetos para o bem estar das pessoas. Fundou o “Rosário Vivo”, envolvendo pessoas solteiras e muitas famílias; fundou também a “Sociedade de Propagação da Fé Cristã”, que com um simples sistema idealizado por ela, redobrou o vigor e a atividade das missões estrangeiras, conseguindo para as mesmas, abundantes donativos. E também, atuou de maneira decisiva como ajudante na fundação da “Santa Infância” , em seu país. Então, ela era de fato uma cristã que seguia os ensinamentos de JESUS, apesar da sua terrível doença. A medicina não conseguia com seus recursos controlar e nem combater o mal que ela tinha: sentia fortíssimas palpitações no coração e se via quase sempre em risco de sufocação. Durante longos anos de sofrimentos, teve pequenos intervalos de alívio, principalmente quando rezava uma novena pedindo a intercessão de Santa Filomena. E por isso mesmo, tinha grande vontade de ir a Mugnano. Mas Pauline-Marie sabia que era praticamente impossível com seu estado físico, enfrentar aquela longa e difícil viagem até a Itália, para rezar pessoalmente diante das relíquias da Santa de sua devoção.
Aconteceu que um dia, inspirada pela Luz de DEUS, diante de uma sequência de acontecimentos bonitos e agradáveis nas suas obras sociais, pediu permissão e recomendações aos seus médicos e formou a sua comitiva, atravessando os Alpes a caminho de Roma. E a viagem não foi fácil, chegando a Chambery ficou dois dias desacordada. Conseguindo uma recuperação parcial seguiu o seu trajeto e, antes de chegar a Roma, em Loreto teve outra grave recaída, que a reteve mais dois dias. Seguindo o seu caminho chegou a Roma em estado de completa inconsciência. Foi acolhida afetuosamente no Convento das Religiosas do SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, em Trinitá dei Monti, bem na fronteira do Vaticano. Seu estado de fraqueza era tão grande que não podia nem se levantar da cama. E assim, depois de tão longa e perigosa viagem, estava sem condições de pelo menos visitar o Papa e pedir a sua bênção. Mas o Sumo Pontífice, o Papa Gregório XVI, informado dos acontecimentos e da chegada dela ao Convento das Religiosas em estado desesperador, sendo ela uma mulher empenhada na luta para o bem social no seu país, resolveu ele próprio ir visitá-la.
Nas palavras que conversaram, o Papa percebeu que o estado de saúde dela era extremamente delicado, por isso consolou Pauline dizendo-lhe com muito afeto: “Reze por mim quando chegar ao Céu”. Ela prometeu que rezaria e acrescentou: “Mas, se eu me recuperar e visitar Mugnano, suplico-vos, sem demora, proceder a investigação final sobre o processo de Canonização de Santa Filomena”.
O Papa vendo o difícil estado de saúde de Pauline, por caridade ele concordou imediatamente, embora, na verdade, este já era também o pensamento dele, em face das constantes noticias sobre a ocorrência de milagres extraordinários, acontecidos pela intercessão de Santa Filomena junto a DEUS. Depois, ele abençoou a moça e a recomendou ao Cardeal Lambruschini, concedendo-lhe todos os privilégios e indulgências da Igreja.
Com mais dois dias de repouso, Pauline adquiriu alguma força e embora o seu estado de saúde ainda fosse extremamente delicado, mandou uma mensagem despedindo-se do Papa e viajou a Mugnano, enfrentando o abrasador calor italiano do mês de Agosto. Chegou a Nápoles quase sem vida. Entretanto, depois de mais um dia de repouso, seguiu para Mugnano, onde chegou no dia 8 de Agosto de 1835, quando se iniciavam as solenidades da Festa de Santa Filomena.
O povo local sabendo da chegada de Pauline-Marie, da sua obra e do seu precário estado de saúde, juntaram as suas orações e suplicas as preces que ela fazia a Querida Filomena, para que a Santa intercedesse junto a DEUS e, NOSSO SENHOR concedesse a graça da recuperação da saúde àquela jovem mulher benfeitora da Igreja.
No dia da Festa, durante a Santa Missa, quando Pauline-Marie Jaricot recebeu a Sagrada Comunhão, ao lado da urna de Santa Filomena, sentiu dores tão fortes por todo o corpo e pulsações tão violentas no coração que desmaiou, sendo amparada e conduzida para fora da Igreja. Assim que melhorou, pediu para ser reconduzida novamente ao interior e, foi colocada junto a urna da Santa. Olhando fixamente para a urna e apertando fortemente na mão um Crucifixo, suas lágrimas brotaram caudalosas e inundarem os seus olhos, descendo vagarosamente pela face, ao mesmo tempo em que emocionada sentiu um imenso calor interior, que indicava algo, que proporcionou um profundo júbilo a sua alma, pois era como se lhe estivesse anunciando a chegada da Graça de DEUS que curou integralmente o seu corpo.
Auxiliada por parentes, conhecidos e amigos, com a face inundada de lágrimas, se abriu num amplo e alegre sorriso de felicidade, que indubitavelmente anunciava a todos o poder da misericórdia e da imensidão do Amor de DEUS. Pauline-Marie estava curada. E por sua vontade, permaneceu algum tempo em Mugnano, fazendo novenas em ação de graças a DEUS e a Santa Filomena e, também agradecendo a SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA, que sempre lhe consolou e amparou nos dias mais difíceis e de grande sofrimentos, ao longo da sua existência.
Antes de regressar a França, se consagrou solenemente a Santa, vestindo o hábito das Irmãzinhas de Santa Filomena. E também mandou fazer uma bonita imagem da Santa, em tamanho natural, vestiu-a ricamente com seda branca bordada a fios de ouro, tendo nas mãos uma âncora e uma palma. Na cabeça colocou um diadema, lembrando a sua origem real.
Chegando a Roma no caminho de retorno à sua casa, quis visitar o Papa. O Sumo Pontífice feliz por vê-la com saúde perguntou: “Mas é realmente a minha querida filha? Ou é uma defunta que se ergueu da sepultura”?
Sorrindo, paternalmente recebeu Pauline-Marie e seus acompanhantes, que conduziam a imagem de Santa Filomena em tamanho natural. O Papa benzeu a imagem da Santa que logo foi denominada “A Princesa do Paraíso”, pela sua carinhosa e eficaz intercessão junto a DEUS.
Na oportunidade, Pauline pediu e o Papa autorizou, a construção de uma Capela na sua propriedade, na França, especialmente dedicada a Santa Filomena.