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SEUS PAIS E SUA VIDA

 

NASCIMENTO E JUVENTUDE

       Joana nasceu em Bordeaux, na França no dia 27 de Dezembro de 1556, uma linda menina que encheu de alegria o lar de seus pais. Sua mãe era Joana Eyquen de Montaigne, dama da corte francesa, irmã do famoso filósofo Michel Eyquen de Montaigne, e seu pai, Ricardo de Lestonnac, um nobre magistrado e conselheiro do Rei.

       Cresceu num ambiente de contradições espirituais em sua família, na qual sua mãe era uma decidida calvinista insistente em converter sua filha a religião Protestante, e o seu pai, homem equilibrado e de fé Católica consistente, professava fervorosamente a religião cristã seguindo os Mandamentos e as Doutrinas. Além desta virtude, o pai se revelou também um excelente amigo e confidente, em todos os momentos, era aquele que lhe dava respostas honestas e diretas as suas perguntas de adolescente, principalmente aquelas relacionadas com as suas inquietudes religiosas. Sua mãe querendo impor sua vontade, era esquecida por Joana, que fugia dela e das suas insinuações, tornando muito difícil o relacionamento entre as duas. Não podiam viver juntas e compartilhar os interesses e valores mais profundos da existência, o que deve ser absolutamente natural entre uma mãe e uma filha que se amam, principalmente na idade dela, que começava a se abrir para a vida. Desta maneira, Joana sofreu diretamente as consequências da divisão do Cristianismo, imposta pela Reforma Protestante. E é importante realçar, que naquele primeiro momento da separação, a nova religião criada por Lutero e Calvino, vinha com um estilo revolucionário, querendo se impor pela força e com o maior ímpeto, causando insegurança, perseguições, sangue e até mortes. O Protestantismo estabelecido atacava frontalmente o Catolicismo, e entre outras sérias agressões, atacava a Pessoa de NOSSA SENHORA e sua atuação na História da Salvação.

        A mãe de Joana influenciada pela Reforma Protestante, a qual aderiu incondicionalmente desde o início, além de procurar encaminhar a sua filha para as doutrinas Calvinistas, não permitiu que ela recebesse o Sacramento do Batismo Católico.

        Todavia o pai e o tio materno Michel Eyquen de Montaigne, percebendo a atuação tendenciosa da mãe, agiram com vontade firme e decisão, criando dentro do lar um verdadeiro campo de combate, colocando em grave perigo a pureza da fé cristã da filha. Mesmo assim, Joana recebeu o Batismo Católico na Catedral de Bordeaux.

        Por incrível que possa parecer, o veneno da mãe era inoculado na filha, nos momentos das carícias maternas, quando contava a menina, historietas maliciosas a respeito dos sacerdotes e principalmente contra o Papa, que é o Vigário de CRISTO, falseando e ajustando as narrativas, de conformidade com o seu interesse para alcançar os seus objetivos. E procedendo assim, tentava, por todos os meios, também ocultar a primordial e eficaz atuação materna da VIRGEM MARIA, querendo colocar a MÃE DE DEUS e Nossa Mãe, numa posição de desprezo, incompatível com a realidade e os ensinamentos da Verdade Cristã.

         Desse modo, a nova apóstata calvinista, que devia se preocupar maternalmente com o crescimento do amor no coração da filha, ao contrário, tentava destruir a pureza no íntimo da Joaninha, tentando colocar a revolta e a descrença dela, na lei e nos costumes cristãos.

         A batalha familiar era terrível e se mantinha presente, porque a mãe herege encontrou a ajuda dos senhores de Beauregard, que também eram tios maternos da jovem.

CULTIVO DA EDUCAÇÃO ESSENCIAL

         Mas o pai Ricardo e o tio paterno Michel, que como já mencionamos, era um renomado filósofo humanista, autor dos “Essays” (peças literárias denominadas Ensaios), velava pela guarda da fé de Joaninha. Também, muito ajudou neste combate de “certa forma oculto”, a cooperação de Guy, irmão de Joana, que a noite, repetia para ela os ensinamentos corretos e edificantes que aprendera no Colégio dirigido pelos Padres Jesuítas. A Companhia de JESUS, fundada por Santo Inácio de Loyola já estava em Bordeaux.

        Por outro lado, Joana enriqueceu em muito a sua cultura e os seus conhecimentos, com os textos escritos pelo seu tio Michel, que na verdade, eram verdadeiras fontes de humanismo cristão em beneficio da sociedade de todos os tempos. Os “Ensaios”, como eram chamados, influenciaram sem dúvida, a sua linha de ação educativa dando-lhe a base necessária, quando acionou o projeto do seu Instituto.

PODEROSA DEVOÇÃO E CHAMADO DIVINO

        Mas, ainda jovem, as agressivas e abomináveis atitudes da mãe, querendo destruir os valores cristãos que estavam gravados na alma da filha, fizeram crescer em Joana de maneira incontrolável e fervorosa, uma poderosa devoção a NOSSA SENHORA, que se enraizou de tal modo em seu coração, que lhe criou um desejo sublime e santo, de sacrificar a riqueza e o conforto material que o mundo lhe oferecia, pela vida religiosa. E nesta época, ela não só concretizou este ideal que ocupava todas as dimensões do seu coração, por causa dos insistentes pedidos de seu pai, que temia os Claustros e os Mosteiros, considerando que eles tinham sido invadidos de modo impressionante pela heresia calvinista. Dentro das próprias Ordens Religiosas nasceu e cresceu de maneira violenta as duas Correntes Opostas, ou seja, se encontravam aqueles que cultivavam as doutrinas Católicas e aqueles devotados a Reforma Protestante, culminando com a separação definitiva e a divisão dos membros nas diversas Ordens Religiosas.

        Joana era admirada por sua beleza que realçava os seus dons naturais, e também, pelo seu modo de pensar e agir, por sua educação e sensibilidade pessoal, que orientava o seu comportamento digno nas diversas fases da juventude. Também é verdade que o seu temperamento apaixonado e decidido lhe ocasionou momentos de luta interior para amadurecer decisões, a fim de clarear o raciocínio envolvido em dúvidas. Quando chegou a idade em que toda jovem sente a necessidade de tomar uma decisão maior como opção de vida, em face dos variados horizontes que se descortinam a sua frente, ela sentiu no fundo de sua alma que DEUS se fez presente, e no interior da sua consciência ela ouviu e compreendeu o chamado Divino:

         “Cuida Minha filha de não deixar apagar o fogo sagrado que EU acendi em teu coração e que te move e impulsiona a ME servir com tanta ternura e fervor”.

        Interpretando esta chamada de DEUS como um concreto convite, quis entregar a sua vida ao serviço Divino. Mas naquela época, com aquela abominável e terrível situação, que colocava a vida religiosa diante de um crítico dilema, não oferecia campo e nem condições para uma mulher atuar, realizando o seu sagrado ideal.

CASAMENTO E FAMÍLIA

        Tendo completado 17 anos de idade, Joana já era observada com muito interesse pelos rapazes, que logo se apaixonaram pelo seu perfil esbelto, pelo sorriso cativante e pelos lindos olhos azuis. E no conjunto das muitas investidas, o seu pai acabou cedendo aos constantes e insistentes pedidos de Gastão de Montferrant, Barão de Landirás e de La Mothe, concedendo-lhe a mão da sua filha.

        Na verdade, Gastão estava entusiasmado por ela, e nas visitas que fazia a família, procurava conversar com todos, mas especialmente com Joana. Então, da simpatia que começou a existir entre os dois, floresceu um amor sincero e correspondido. Gastão soube valorizar em Joana a sintonia de sua beleza física com a sua admirável beleza moral.

         O casamento aconteceu no dia 12 de Setembro de 1573, e foi uma festa que marcou presença, porque deixou saudosas lembranças na mente dos seus familiares e dos amigos.

         E ela assumiu verdadeiramente o novo estado civil, realizando fielmente o projeto matrimonial, com uma vivência sólida e bem edificada, fruto da expansão de um amor correspondido que se dilatava em carinho e ternura. Foi mãe de oito filhos, sendo que os três primeiros morreram com poucos meses de vida. Os outros cinco, dois homens e três mulheres, cresceram fortes sob a disciplina, o carinho e o olhar atento da mãe. Mesmo assim, um dos meninos, também faleceu. Somente quatro filhos chegaram à idade adulta: Francisco (o mais velho), Marta, Madalena e Joaninha.

         A Baronesa Joana, como passou a ser chamada, se empenhou em cultivar nos filhos de maneira eficiente, os ensinamentos evangélicos, ensinando-lhes amorosamente a lei de DEUS e os deveres da caridade católica: com visita aos pobres, auxilio e apoio aos colonos da propriedade, atendimento abnegado a todos que necessitavam e que batiam á porta da casa, ensinando aos seus filhos que nunca negassem uma esmola a quem pedia. Joana sentia que DEUS lhe ensinava:“que os bens somente servem quando são fontes de entrega, de generosidade e também, quando permitem tornar possível a fraternidade”.

        O matrimônio vivido em união com DEUS, acrescentou nela outras importantes virtudes, que ela mesma pediu ao decidir ser esposa e mãe: ter delicada atenção, serenidade e sabedoria nas relações com as pessoas, habilidade em organização, paciência nos variados acontecimentos e fortaleza nos momentos de dor, como por exemplo, na morte prematura de seus três primeiros filhos.

MORTE E SOFRIMENTO

         Entretanto, o ano de 1597 marcou profundamente a sua existência, porque foi um ano muito triste, repleto de acontecimentos que enlutaram a sua vida. Após 24 anos de uma intensa e harmoniosa vida matrimonial, faleceu o seu marido Gastão de Montferrant. E por incrível que possa parecer, ao longo deste mesmo ano, também morreu o seu pai Ricardo, o seu tio Miguel e mais um de seus filhos. Foram ocorrências que incidiram fortemente em seu caráter e no seu coração, deixando-a abatida pelos fatos. Todavia, a fé de Joana era muito grande e ela tinha uma imensa confiança em DEUS. ELE é PAI, sempre sabe o que é melhor para cada um de nós. Assim também, com muita fé em NOSSA MÃE SANTÍSSIMA e com bastante confiança na Providência Divina, Joana continuou sozinha a sua luta para educar cristãmente os quatro filhos que lhe restaram. Estava gravado em seu coração aquele pensamento de 24 anos atrás, quando ela sentiu pela primeira vez na sua alma o chamado de DEUS: “Cuida Minha filha de não deixar apagar o fogo sagrado que EU acendi em teu coração e que te move e impulsiona a ME servir com tanta ternura e fervor”.

        E junto com os deveres e obrigações maternais, se dedicou com empenho, ocupando todo o seu tempo num apostolado de levar alívio aos enfermos, ajudar os necessitados e os presos, e com dedicação, buscava descobrir através das orações, a inspiração para continuar a sua caminhada existencial.

 

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