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FAMÍLIA E SANTIDADE

 

SEUS PAIS

Gaspar de Flores e Maria de Oliva y Herrera já estavam radicados no Peru há alguns anos. Casaram-se e tiveram onze filhos. Rosa foi à quarta filha do casal, e considerada a queridinha da família que todos gostavam, por sua simplicidade, obediência e disposição plena em servir.  Nasceu em Quives, Província de Lima, capital do Peru, no dia 30 de Abril de 1586, e seu pai teve o cuidado de escrever uma anotação no livrinho da família: “O parto foi sem dor e sem dificuldades, o que é considerado um milagre manifesto da Divina Providência, por isso, dou infinitas graças a DEUS”.

Foi Batizada no dia 25 de Maio do mesmo ano, na Igreja de São Sebastião, em Lima, pelo sacerdote Antonio Polanco, sendo Padrinhos: Hernando de Baldes e sua esposa Maria Osório.

Os pais de Rosa tinham um conceito firmado, que considerava o nascimento de um filho, como sendo uma real e verdadeira bênção Divina derramada sobre o casal, os pais da criança. E deste modo, como eles tiveram onze filhos, alcançaram a felicidade de receberem esta bênção especial do SENHOR, em onze oportunidades.

O senhor Gaspar nasceu na Espanha e aos 20 anos de idade emigrou para Lima. Era alto, magro, nervoso, surrado pela dureza do quotidiano e os azares da milícia, pois era militar, mas tinha um caráter sossegado, era forte e robusto, e trabalhava na Brigada de Arcabuzes, na segurança do Vice-Rei de Lima, Don Andrés Hurtado de Mendoza.

A mãe, senhora Maria de Oliva y Herrera, nasceu em Lima, embora os seus pais fossem espanhóis. Era uma mulher forte e decidida, alem de muito perseverante em todas as iniciativas. Assumiu a responsabilidade das atividades e exigências domésticas, inclusive a educação dos filhos. Gaspar respeitava e colaborava com a esposa, sempre que necessário.

E por possuir um gênio forte e exigente, a mãe de Rosa se empenhou primeiro em educá-la, a fim de que a filha buscasse a coroa da perfeição, seja no lar, no trabalho, na Igreja e no ambiente social em que viviam. E assim, conduziu a educação da filha dentro de uma existência fraterna, amorosa, responsável e religiosa nas dimensões que a inteligência e o bom-senso indicam.

Devocionalmente, à medida que passavam os anos, Rosa amorosamente passou a exercitar de modo mais efetivo a grandeza do seu amor a DEUS, pelas orações permanentes e fervorosas, no cultivo da caridade ajudando as pessoas mais necessitadas, ou através de rigorosos atos penitenciais, que atuaram perigosamente na sua saúde, trazendo uma natural preocupação aos seus pais.

Na verdade, quando lemos alguns testemunhos da época, somos convidados a não censurar a preocupação materna no lar. Isto porque, continuamente Rosa botava sangue pela boca, dando a impressão de que estava no caminho da morte, por causa da imensa dor que sentia. Sua mãe temendo pela saúde e pela vida da filha pedia que ela diminuísse aqueles excessos de jejuns, de uso dos cilícios e da prática de noites não dormidas, que ela realizava decididamente como maneira de demonstrar ao SENHOR DEUS, a grandeza do seu amor e, como penitência em benefício da conversão dos pecadores e pela salvação das almas.

Mas a senhora Maria Oliva embora sendo muito religiosa e querendo o melhor para os seus filhos, não concordava com aqueles excessos porque era prejudicial à saúde de Rosa.

O severo caminho penitencial seguido por Rosa de Lima, era gerado por um fogo no interior do seu coração, que se alastrava numa manifestação espontânea de conformidade com a grandeza do seu amor a DEUS, que não encontrando meios termos em suas ações para controlá-lo, vigorosamente imprimia em seu corpo e na sua saúde, as marcas de uma dedicação incondicional e ilimitada, vencendo os baluartes da sua própria resistência física, e mostrando de maneira clara e evidente, um intenso grau de sofrimento, apanágio glorioso de uma paixão incontrolável.

Todavia, este fato não pode e nem deve sugerir a idéia de que havia uma total incompreensão na família. E muito menos, significa afirmar que os atritos entre os pais e a filha, fossem constantes e muito frequentes! Não, não era assim. Rosa sempre teve um imenso amor, revestido de sincera reverência e respeito pelos seus pais, assim como grande e carinhosa amizade pelos irmãos. Sempre que havia desavenças e discussões familiares, cautelosamente e com palavras prudentes e discretas, ela se empenhava em acabar com a turbulência que causava o desconforto no lar. Isto porque, primordialmente aquele era um lar religioso onde habitava o entendimento, a harmonia e muita paz, que eram abraçados e cultivados por todos.

DIFICULDADES FINANCEIRAS

Os pais eram descendentes de nobres espanhóis e tinham uma controlada e regular condição financeira. Em 1597 o senhor Gaspar foi convidado a assumir a direção de uma Mina de Prata em Quives distante 60 quilômetros de Lima. Vendo a possibilidade de aumentar o patrimônio, deixou o serviço de Arcabuzes do Vice-Rei e, para lá viajou com toda família. Entretanto, o novo serviço não era bom e as vantagens financeiras não existiam. Depois de seis meses de trabalho voltou para o mesmo serviço anterior em Lima, a disposição do Vice-Rei. E agora, a família teve que se desdobrar para equilibrar a balança financeira e conseguir sustentar todos os membros que já eram muitos. A reserva financeira já não existia mais, e o soldo militar do senhor Gaspar não era suficiente. Era integralmente consumido nas despesas, sem nenhuma sobra. A senhora Maria Oliva sentindo o vulto do problema, para ajudar no orçamento doméstico, abriu na sua residência uma escola de costura e bordados, para jovens da sociedade.

Rosa também colaborava se esforçando em providências domésticas, para ajudar na manutenção do lar: cosia e bordava, muitas vezes trabalhava até tarde da noite, exercitando a atividade manual para auxiliar a cobrir as necessidades da família. Também, na época da construção da casa dos pais, ela ajudou perseverantemente, no preparo do barro, amassando e homogeneizando a massa para fazer os tijolos e, depois de cozidos, ajudou a transportá-los para a obra. Por outro lado, sempre que havia uma oportunidade, ensinava algum tipo de trabalho aos irmãos, para eles participarem do esforço da manutenção familiar. E também, procurava arranjar algum emprego para os irmãos, propiciando assim, um acréscimo na renda familiar.

OS NOMES DA SANTA

O nome de Batismo de Rosa foi Isabel, “Isabel Flores y Oliva” , e foi escolhido o nome de Isabel, em homenagem a avó materna que se chamava Isabel de Herrera e, era devota de Santa Isabel, Rainha da Hungria. Mas o nome não se firmou bem na intimidade dos parentes e amigos, que começaram a apreciar a nova criança nascida, como uma verdadeira e bonita rosa. E por isso mesmo, passaram a chamar a menina de “Rosa”. Outros membros da família, querendo explicar e também justificar a mudança de nome da criança, diziam que a troca não era só pela beleza da criança, mas pela devoção ao Rosário de NOSSA SENHORA, que era muito forte em Lima. A VIRGEM DO ROSÁRIO era a padroeira da capital do Peru. E Rosa ao nascer, os seus pais a ofereceram a VIRGEM MARIA, suplicando as graças, a proteção e o auxílio da MÃE DE DEUS, para que a menina crescesse e fosse uma pessoa de bem.

Recebeu o Sacramento da Crisma quando ainda estava em Quives. Foi preparada com outras duas crianças pelo Pároco, Padre Francisco Gonzalez, e recebeu a Crisma na Igreja Matriz, pelo Arcebispo Don Turíbio Afonso de Mongrove, que sabendo da preferência dela pela VIRGEM MARIA, crismou-a com o nome de “ROSA DE SANTA MARIA”.

SUA PRÓPRIA EXISTÊNCIA

Como toda criatura, ela tinha também os seus momentos de lazer, e para desfrutá-los convenientemente, gostava de música: tocava harpa e violão, e enquanto trabalhava nos seus afazeres domésticos ou quando colhia flores, “cantava com uma voz linda e melodiosa”, conforme escreveram os seus hagiógrafos. E ela tanto gostava de cantar que dizia: “me impedir de cantar é como me impedissem de comer”.

Tinha também uma grande predileção pelas flores, principalmente pelas rosas com sua variada coloração. Gostava de cultivá-las com interesse e prazer. E esta preferência era tão objetiva e constante, que construiu um jardim ao lado da casa, onde fazia as suas plantações e cuidava delas com esmero e paciência, acompanhando o desenvolvimento e o crescimento das flores. Depois de crescidas e viçosas, ela as colhia carinhosamente e as vendia para ajudar na economia do lar. Suas flores eram famosas, porque além de bonitas e cheias de vida, sempre exalavam um perfume suave e agradável. Rosa habilmente cultivava aquelas que proporcionavam maior alegria e satisfação, e muitas delas eram de origem espanhola.

Particularmente, não era muito social. Na verdade, tinha vocação para a solidão e o silencio. Assim se sentia melhor nas suas orações e devaneios espirituais. Aos 11 anos de idade, construiu num sitio distante da casa um pequeno oratório, feito com ramos e galhos de árvore. No interior colocou um pequeno altar, um crucifixo e duas velas. Ali se recolhia em oração e passava grande parte do seu tempo livre. E se as preocupações durante o dia não lhe permitiam uma conversa intensa com DEUS no seu recanto predileto, na quietude da noite, no seu quarto, aproveitava para melhor contemplar interiormente o SENHOR e LHE dedicar fervorosas orações.

A ENFERMARIA CASEIRA

Quando estava mais crescida, obteve permissão do seu pai para cuidar das mulheres pobres e doentes, que não tinham a quem recorrer. E para tratar delas, preparou uma sala da própria residência, a que deu o nome de “Enfermaria” . Em pouco tempo tornou-se um precioso refúgio para os pobres de Lima. E logo apareceram as notícias. Passados alguns meses de grande frequência, vários índios começaram a propalar que tinham sido curados na “Enfermaria”, especialmente depois que Rosa lhes permitiu segurar uma estatueta do MENINO JESUS. Aquela estatua, insistiram eles, era milagrosa, e a própria Rosa se referia a ela chamando-a de “Doutorzinho”.

INFLUENCIA DOMINICANA

Rosa viveu em profundidade a espiritualidade dominicana. São Domingos de Gusmão queria que suas freiras exercitassem uma espiritualidade rígida e austera, não moralizadora e nem ameaçadora. Mas, uma espiritualidade positiva e cristocêntrica, essencialmente fundamentada na Obra de CRISTO, não simplesmente devocional e sentimental, mas enraizada no Evangelho, exercitando os ensinamentos do SENHOR. Rosa sabia de memória o Evangelho e as cartas de São Paulo e, a partir destes preciosos conhecimentos, ela inclusive, fazia excelentes pregações.

São Domingos quis para a sua Ordem Religiosa e para todas as pessoas cristãs influenciadas pelo trabalho da sua Ordem, uma fé livre e profética, que não criasse escrúpulos e nem dependências desnecessárias na alma. DEUS é Amor, não é Lei. Por isso ele determinou que as leis da sua Ordem Religiosa não obrigassem sob pena de pecado. Exigia sim, o cumprimento das mesmas, mas respeitava a disposição das almas dos seus membros.

Viveu a presença de DEUS em cada dia da sua existência e o seu alimento era a Eucaristia. Amou com toda a força e dedicação do seu ser a VIRGEM MARIA, sob a invocação do Rosário. Traduziu sua caridade em serviço e na ajuda aos mais necessitados, assim como fez sua, a dor dos marginalizados, principalmente dos negros e dos índios.

Outra característica da espiritualidade de Rosa é sua admirável familiaridade com o MENINO JESUS. Do mesmo modo que rezava para NOSSA SENHORA, também fazia as suas orações para ELE. E assim, sempre que conversava com a VIRGEM MARIA, também falava com o MENINO DEUS e, sempre ouvia respostas concretas, que clareavam as suas dúvidas e orientavam a sua decisão. Em outras vezes, Rosa teve um prazer maior, de sentir o carinho e ver que ELE, o MENINO JESUS lhe sorria com amizade e amor.

NOIVA DE CRISTO

No Domingo de Ramos do ano 1610, com a idade de 24 anos, ela dirigiu-se a Igreja de São Domingos para participar da cerimônia religiosa. Enquanto dois Irmãos leigos terminavam a distribuição dos ramos bentos, o coro começou a cantar, e logo foi formando a procissão, e Rosa acabou não recebendo o seu ramo de palma bento. Quando o coro terminou o cântico e a longa fila de pessoas voltava aos seus lugares, Rosa caminhou para a Capela do Rosário e ajoelhou. Ela amava muito aquela imagem de NOSSA SENHORA com o MENINO JESUS ao colo. Ali diante Dela, há quatro anos passados, tinha recebido da MÃE BENDITA, aprovação a sua vocação a Ordem Terceira Dominicana. Agora, fixando o olhar na VIRGEM murmurou: “Querida MÃE, obrigado mais uma vez por me deixar ser uma Terciária Dominicana. E não estou triste porque o Irmão se esqueceu de me dar uma palma benta. A palma que eu na verdade desejo é uma que jamais murchará, pois, é aquela que dais aos bem-aventurados no Céu”.

Enquanto suspirava esta pequena oração, viu maravilhada que a MÃE DE DEUS lhe sorria e se virava amorosamente para JESUS em seus braços. Ninguém na Igreja apinhada de gente viu o milagre e, nem ouviu as palavras que o MENINO JESUS lhe falou:

- “Rosa de Meu Coração, sê Minha Esposa!”

Rosa ficou repleta de felicidade, não sabia o que responder. Sorrindo com exuberante alegria, as lágrimas desceram de seus olhos em sinal de completa e incondicional aceitação. Ali permaneceu um longo tempo deliciando o convite Divino, depois voltou para casa. Mais tarde, ainda emocionada e repleta de júbilo, pediu a seu irmão Fernando que comprasse um anel de ouro para ela. Queria um anel simples, mas com os dizeres: “Rosa, sê Minha Esposa!”

E ela pensou: “Hoje é Domingo de Ramos, se meu anel estiver pronto na quarta-feira próxima, talvez o Padre Alonso possa colocá-lo no Sacrário na Quinta-feira Santa. Seria esplêndido. Por certo, eu teria que lhe dar um bocado de explicações. Tudo bem eu farei o que puder. NOSSO SENHOR estará escondido no Sacrário na Quinta-feira Santa, e eu quero que o meu anel esteja com ELE. No Domingo da Páscoa, quando ELE voltar cheio de glória, eu receberei o anel e vou usá-lo até a morte”.

E assim aconteceu.

DECISÃO DE ENTRAR NO CONVENTO

Por sua beleza e excelentes qualidades pessoais, Rosa foi pretendida pelos jovens de Lima, mas rejeitou a todos, por amor a CRISTO. Em idade de se casar, procurou a Ordem Dominicana, pois queria seguir a vida religiosa.

Como norma e exigências dos próprios Estatutos Dominicanos, buscou discernir a sua vocação à clausura. Sabemos que houve um conselho de quatro Frades, “dos mais doutos do Convento de São Domingos”, para decidir se a moça entraria ou não, num Convento de Clausura. Como a decisão dos sábios Dominicanos foi unânime, Rosa aceitou a rejeição e soube esperar para ver com mais clareza: “qual seria a Vontade de DEUS”? (Que nem sempre coincide com a vontade dos entendidos).

Depois da indecisão dos Conselheiros Dominicanos, Rosa ficou morando na sua casa. Levava uma vida de recolhimento, de oração e trabalho. E como tinha grande simpatia e admiração por Santa Catarina de Sena, pensou também em entrar na Ordem Terciária Dominicana. A pequena ermida que tinha construído no quintal distante da casa, era o seu Convento, o seu refúgio, o seu lugar de encontro com DEUS.

A mãe de Rosa não queria uma vida de consagração para a sua filha. Mas, quando lhe entregaram o hábito branco e preto das dominicanas, ela comentou: “Quando a vi vestir o hábito, eu era contra. Mas, quando ela já andava com ele, pareceu-me vê-la subir ao Céu. Gostei muito e fiquei consolada”.

Por isso mesmo, em consequência da identificação da sua vida com o ideal de São Domingos de Gusmão, Rosa se decidiu e se fez Irmã Terciária Dominicana, exatamente como Santa Catarina de Sena. Vestiu o hábito branco e negro das Irmãs Dominicanas no dia 10 de Agosto de 1606. Quando assumiu o hábito da Ordem Religiosa, sabia com que estava se comprometendo. Essa seria sua nova família espiritual. Ela sabia que numa Comunidade com duzentos Frades, a concórdia fraterna nunca é fácil e por isso mesmo, não era indiferente as dificuldades. Enriqueceu a Ordem com suas fervorosas orações, com o seu perseverante apostolado, com o seu testemunho de serviço às pessoas mais necessitadas e com seus conselhos.

Sempre considerou Santa Catarina de Sena, como seu modelo de vida. Por coincidência Rosa também nasceu no dia 30 de Abril, Festa de Santa Catarina. Como havia de ser natural, ela interpretou esta coincidência como manifestação da Providência Divina. Por isso mesmo, desde pequena, se familiarizou com a Vida da Santa Dominicana, com sua espiritualidade e com a sua extraordinária atividade apostólica.

Irmã Rosa viveu esta espiritualidade com fervor e seriedade. Não se destacou pela oração de fórmulas, nem viveu sob as normas restritas da Ordem Religiosa. Permaneceu em sua casa, em seu oratório, em sua família e no seu trabalho, e dali realizou um imenso apostolado.

 

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