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NO CAMINHO DA CONVERSÃO - Por esta época, Agostinho já andava desiludido com o maniqueísmo, começava a perceber as suas imperfeições e disparates.

Em Milão, atraído pelo dom de oratória do Bispo Ambrósio, foi algumas vezes à Igreja para ouvir as suas homilias. Aquela maneira de falar tão cativante, amistosa e paternal de Santo Ambrósio, levou-o a procurá-lo diversas vezes para conversarem sobre religião, ensejando-lhe ouvir os argumentos do prelado sobre temas que intimamente lhe perturbavam. Estava assim, numa fase de transição, querendo saber qual era a verdade e sentia que no seu cérebro havia uma torrente caudalosa de conceitos e teorias, que confundiam a sua razão, deixando-o desorientado, não lhe permitindo enxergar a realidade dos fatos.

E justamente, esta foi a primeira boa noticia que Mônica teve, logo que chegou. Sem dúvida, uma noticia alvissareira, porque relacionada com o seu principal objetivo, que era converter Agostinho e por isso, ficou emocionada com os olhos brilhando de satisfação.

Por isso mesmo, assim que encontrou seu filho e "matou" as saudades, foi procurar o Bispo, com quem conversou longamente sobre a pessoa de Agostinho. O prelado ficou admirado com o fervor daquela mulher, em querer por todas as maneiras possíveis, recuperá-lo e reconduzi-lo ao cristianismo, fazendo reviver em seu coração a chama verdadeira do amor divino. E por isso dispôs a ajudá-la no que fosse necessário, a fim de que ela conseguisse êxito em seu objetivo.

Dessa forma, nas oportunidades que surgiam, propositalmente Mônica deixava o filho em companhia do Bispo. Os diálogos animados que aconteciam, alegrava-o e também ia satisfazendo o seu desejo pessoal de conhecer a verdade. Entretanto, muito vaidoso pela posição de Reitor que ocupava na Faculdade, às vezes permanecia na expectativa, ansiando receber de Dom Ambrósio um elogio sobre a sua excelente conduta na Escola. Mas o Santo prelado, que lia o seu coração e via aquele desejo estampado, com habilidade procurava remover aquela fraqueza de seu caráter, agindo de maneira indireta, tecendo sinceros e merecidos elogios à sua mãe, ressaltando a sua piedade cristã e sobretudo, revelando com ênfase, o imenso carinho que ela tinha por ele.

Nas Missas que Agostinho voltou a frequentar, para ouvir os sermões do Bispo, começaram a despertar-lhe uma atração cada vez maior pela grandeza do conteúdo que encerra o mistério eucarístico, que aos poucos ia gravando em seu coração e desmoronando os últimos baluartes que continham guardadas aquelas falsas e errôneas idéias sobre o cristianismo.

Mas o retorno teria que ser total, não havia condições para meio termo. Foi assim que a razão começou sobrepujar a matéria e a definir os rumos de sua vida.

A situação podia ser apresentada como num polígono de quatro ângulos, no qual em cada ângulo estava um protagonista: Agostinho, Mônica, a amante e Adeodato, que necessitavam de urgente solução para as suas vidas a fim de definir a posição de cada um. Da conversa e entendimento entre eles, teria que sair a solução para o problema. O matrimônio de Agostinho com a amante, legalizando a vida em comum, tornou-se impossível por uma infinidade de motivos: ela era uma mulher pagã, de princípios e por ações; representava um passado vivo que tinha que ser esquecido, pois ambos praticaram o maniqueísmo, seguindo regularmente os preceitos da seita, a qual ela ainda estava ligada. A união de ambos também não atendia ao conceito tradicional de família e vida conjugal cristã. Por isso Mônica não estava animada em sugerir uma legalização da união, principalmente agora, que o seu filho começava a vislumbrar as luzes do verdadeiro caminho que conduz a DEUS, à medida que pesquisava e estudava os fundamentos da religião. Mas a par com tudo isto, havia o lado humano da questão, que tornava a separação dolorosa e repleta de tristezas. Assim, depois de muitas palavras veio o ajuste final. Ele ficou com o filho Adeodato e a mulher voltou sozinha para Cartago.

Foi um drama a separação, que lhe causou angústias e aflições. E no meio de uma terrível luta íntima, revelou ser um grande homem, pois se humilhou com decisão, reconhecendo os seus erros e sua insensatez optando definitivamente pelo correto. Sofreu conscientemente, porque reconhecia que aquela era a única solução.

Com o passar das semanas, as chagas foram cicatrizando-se e a paz lentamente veio chegando a seu coração. Mas ainda os dias eram muitos negros. Na sua mente a volúpia passou a operar intensamente, despertando desejos proibidos que lhe corroíam a alma. Era a lembrança do mal, sempre presente, que lhe incitava e fustigava o seu íntimo, sem que ele pudesse, apesar de toda a sua erudição, conseguir uma maneira de vencer a tentação diabólica. A concupiscência era muito forte, dilacerava as suas entranhas, enfraquecia a sua vontade, entorpecia a sua mente e lhe confundia o raciocínio, produzindo uma cruel insegurança e uma vergonha que até transformava a sua fisionomia.

Certo dia, na ausência do Bispo, procurou o Padre Simpliciano que viera de Roma para ser o diretor espiritual de Ambrósio. Simpliciano era como um pai para o Bispo, pois o tratava com desvelo e com todos os cuidados de um atencioso protetor.

Agostinho abriu o coração e contou ao Padre a sua vida. O prelado silenciosamente ouviu o relato sem nada comentar. Porém, quando Agostinho falou que tinha lido uns livros platônicos traduzidos para o latim por Vitorino, o Padre quebrou o mutismo e deu-lhe os parabéns pelo fato de os ter lido e não se ter enveredado por escritos de outros filósofos menos escrupulosos e cheios de engano.

Padre Simpliciano conheceu Mario Vitorino pessoalmente e sabia que ele era um filósofo muito respeitado. Dada a sua projeção intelectual, teve uma estátua no Fórum de Trajano, em Roma, como homenagem aos seus grandes conhecimentos e a sua obra. Entre outras, traduziu para o latim a Isagoge de Porfírio, a Eneida de Plotino e as Categorias de Aristóteles. Escrevia sobre filosofia, retórica e religião, mas seus conceitos religiosos deixavam muito a desejar, porque estavam impregnados de heresias, oriundas de pesquisas mal orientadas. Mas Vitorino converteu-se com a ajuda do Padre Simpliciano e tornou-se um valente cristão, sendo inclusive memoravelmente batizado na Catedral de Milão.

Para aqueles que tinham muita fama, ou que tinham pouco desembaraço, ficando acanhados no momento da cerimônia, a Igreja permitia que fizessem reservadamente o voto de fé. Mas Vitorino tinha pregado abertamente a heresia contra a doutrina cristã, usado de todos os seus conhecimentos e da sua inteligência para apontar erros na religião católica. Por este motivo, resolveu professar publicamente a Doutrina de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, que agora, ele estava plenamente convicto de que era a certa, desculpando-se assim, de seu passado cheio de equívocos e inverdades.

O exemplo de Vitorino, revelando uma decidida coragem na busca da "verdade fundamental", sensibilizou Agostinho e foi calar bem no fundo de seu coração, que ardeu de desejos em imitá-lo, apesar de naqueles tempos, ainda viver com uma terrível dúvida, sem saber qual o caminho que deveria seguir.

E nesta guerra intima, certo dia em que se encontrava com o espírito extremamente exaltado e com o coração torturado por um turbilhão de dúvidas, ouviu uma voz de criança vinda da casa ao lado. Não pode verificar se era de um menino ou de uma menina. A criança apenas cantava e repetia: "toma e lê", "toma e lê".

Que significava aquilo? Seria o refrão de uma música? Certo é que olhando com atenção para a sua pessoa, observou que na pequena mesa em que se encontrava, bem a sua frente, estava um livro com as Epístolas de São Paulo. Abrindo-o ao acaso, as palavras que seus olhos viram, foram:

"Como de dia andemos decentemente; não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do SENHOR JESUS CRISTO e não procureis satisfazer os desejos da carne". (Rm 13, 13-14)

Alípio, seu inseparável amigo, estava junto e admirado presenciou a forte comoção que ele sentiu.

Não leu mais nada. Fechou o livro, abaixou os olhos e assentou-se numa cadeira próxima. Uma sensação de paz interior apossou de seu corpo. Finalmente, sentiu que tinha conseguido a primeira vitória sobre a sua vontade. A palavra de DEUS tranquilizou a sua alma, dominando a sufocante confusão de idéias e os maus pensamentos que queriam arrasta-lo de volta ao vício. Era um passo importante na sua conversão.

Em companhia de Alípio, fez questão de levar este fato ao conhecimento de sua dedicada mãe, ela que sacrificara a vida inteira para tirá-lo do caminho da perdição e ainda lutava com todas as forças, a fim de orientar sua alma para DEUS.

Agostinho ao vê-la sentiu as lágrimas de alegria inundar-lhe os olhos, ao mesmo tempo em que se jogou nos braços dela e sem dizer qualquer palavra, carinhosamente acomodou-se em seu regaço. Mônica compreendeu a transformação, não eram necessárias as palavras. As suas preces tinham sido bem recebidas pelo CRIADOR e agora começava a concretizar o seu ideal tenazmente perseguido por tantos longos anos: a conversão de seu filho.

Com a maior presteza Agostinho se desfez dos compromissos em Milão, pois sentia a necessidade de ficar só. Queria isolar-se o mais depressa possível, por que desejava organizar a sua cabeça e a sua vida, assim como, precisava de mais tempo disponível, para estudar a religião e penetrar conscientemente nos mistérios de DEUS.

RETIRO ESPIRITUAL - No meio dos diversos amigos que conquistou na Reitoria teve em Verecundo um sincero companheiro, que conhecendo o seu problema e as suas intenções, emprestou-lhe uma casa de campo em Cassiciaco, não muito distante de Milão.

Por outro lado, Romaniano, o seu grande protetor ajudou-lhe financeiramente a comprar todo o necessário, a fim de que pudesse passar um longo tempo distante do burburinho da cidade.

Assim, terminado o ano escolar, em companhia da mãe, do irmão Navígio, do filho Adeodato e de alguns discípulos mais afeiçoados, seguiram para a Quinta de Cassiciaco, onde ficaram desde setembro de 386 a março de 387, durante seis meses, pesquisando, estudando e formando em cada um deles, uma sólida cultura cristã.

A par com a conscientização e o aprofundamento doutrinário, na tranquilidade daquela linda região, preparou também o seu espírito, para que pudesse receber dignamente o Sacramento do Batismo.

Cassiciaco chama-se hoje Cassago de Brianza, situado aproximadamente a 42 quilômetros de Milão, encravado no meio das montanhas. Na colina onde existia a casa de Verecundo, levantaram séculos mais tarde, o palácio do Duque Visconti.

Naquele recanto aprazível, tudo concorreu de maneira certa e proveitosa, para o aperfeiçoamento espiritual de todos eles.

Mônica repleta de felicidade, nas folgas de suas ocupações caseiras, observava o desenvolvimento extraordinário do filho. De vez em quando, era solicitada por ele, que também sempre contemplava a santidade dela, porque reconhecia em sua mãe uma admirável experiência e grande sabedoria de vida, para participar das "rodas de fogo", quando cada pessoa tinha que explicar corretamente uma passagem da Vida de JESUS, ou alguma trecho da moral cristã, ou ainda, um aspecto doutrinário de uma determinada literatura, que era colocada em evidência.

Agostinho estava tão envolto por um ardentíssimo amor a DEUS, que abrasava o seu coração com um poderoso ímpeto e o levava a exclamar com indizível ternura:

"O beleza antiga e sempre nova, muito tarde te conheci, muito tarde te amei”...

Voltando à cidade, foi batizado na Catedral de Milão pelo Bispo Ambrósio. Nesta oportunidade, também foram batizados Adeodato e os discípulos que o acompanhava. Seu irmão Navígio já tinha sido batizado em Tagaste.

 

FOTOGRAFIAS: 1)Agostinho em Milão, confraternizando com pessoas; 2) A famosa Catedral Duomo em Milão; 3) Ministrando aula em Milão; 4) Ruínas do Teatro em Madaura, Algéria; 5) Ruínas de Cartago na Tunísia; 6) Desenvolvendo estudos espirituais; 7) Bíblia manuscrita; 8) Agostinho é Batizado em Milão por Dom Ambrósio.

 

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