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PREFEITO E DIÁCONO DE ROMA

 

FAMÍLIA

Gregório nasceu em Roma, provavelmente no ano 540, filho de Gordiano, um nobre senador romano que possuía muitas propriedades principalmente na Sicilia, e da senhora Silvia, também de família aristocrática, mas que se destacava primordialmente, por sua profunda piedade cristã. Por isso mesmo, se acredita que os muitos ensinamentos da mãe, sem duvida, devem ter contribuído de maneira efetiva para a santidade do filho.

Quanto às datas existem muitas dúvidas, e por essa razão, não são conhecidas com precisão tanto o dia como o ano do seu nascimento. Isto porque, embora tivesse escrito uma grande variedade de assuntos, não se preocupou em revelar algo sobre a sua própria pessoa. As informações que se conhece sobre ele, foram extraídas das muitas cartas que escreveu as quais, oferecem alguma notícia sobre a sua existência.

Sobre o fato de ter possuído irmãos, suas cartas mencionam a existência de dois irmãos: Palatinus, que permaneceu em Roma e que lhe prestou serviços quando se tornou Sumo Pontífice. O outro, não se conhece o nome, mas se percebe que ele vivia na pequena Otranto, cidade da Apúlia, no sul da Itália, e que pelas cartas, sabe-se que ele tinha um excelente cozinheiro, que enviou a Roma a fim de servir ao seu irmão Papa Gregório.

Por outro lado, através da sua vasta correspondência, os hagiógrafos determinaram que a família vivesse num belo palácio no Monte Célio, uma das sete colinas de Roma, do outro lado do “Circo Máximo” , numa rua ascendente à direita.

E junto com a família dos seus pais, moravam também duas irmãs solteiras de Gordiano, Tarsila e Emiliana, virgens que se consagraram a DEUS, cultivando e exercitando diariamente uma profunda piedade, e a caridade cristã. Elas com a senhora Silvia são consideradas Santas.

 

INFÂNCIA E JUVENTUDE

O notável historiador eclesiástico, Monsenhor Phillip Hughes, efetuando minuciosas pesquisas, elaborou uma imagem dos fatos que marcaram a infância de São Gregório:

"No ano de 546, tinha Gregório 6 anos de idade, quando o bárbaro Totíla, chefe dos godos, com o seu terrível exército invadiu Roma e destruiu o que desejou e matou muita gente. A seguir, fez com que toda a população fosse evacuada, deixando a cidade completamente vazia durante seis semanas, abandonada, onde saquearam e destruíram o que quiseram sem nenhuma interferência. A população passou as mais abomináveis e maiores provações, fugindo e se ocultando, para não sofrer as agressões das violentas hordas bárbaras".

Na verdade, a maioria dos pesquisadores concorda que a família de Gregório foi para uma das suas propriedades na Sicilia onde permaneceu por um bom tempo e só retornou, quando Totíla permitiu que o povo voltasse aos seus lares. As forças romanas se reorganizaram como foi possível, em face das inúmeras dificuldades, e assim, mesmo com pouca eficiência enfrentaram a guerra contra os bárbaros, que na verdade se recuaram, transformando os ataques em guerrilhas no ano 552, as quais eram rechaçadas pelos militares locais.

Roma foi-se refazendo muito lentamente, e somente no ano 554/555, quando Gregório tinha quatorze anos de idade, pode presenciar o Imperador Justiniano arregimentar forças e conseguir expulsar o último bárbaro godo de Roma. Nesta época o Imperador também deu ao arruinado país uma nova Constituição, tornando a Itália província do Grande Império Romano, cujo centro passou a ser Constantinopla. Isto porque, por segurança foi transferida toda a administração do Grande Império Romano que se encontrava em Roma, para Constantinopla, antiga Bizâncio

E nessa situação transcorreram mais quatorze anos, e então, no ano 568 vieram do nordeste dos Alpes, os invasores mais selvagens e terríveis que abordaram a Itália, os cruéis lombardos, que eram um povo germânico que haviam colonizado o Vale do Rio Danúbio, e logo em seguida, invadiram a Península Itálica, sob a liderança de Alboíno, criando um Reino Lombardo, depois denominado Reino Itálico. Esse povo se revelou como sendo dos mais cruéis e sanguinários que até então haviam penetrado na Europa. Por onde os lombardos passavam com seus exércitos destruíam todas as benfeitorias e construções, enfim todos os vestígios que caracterizavam a organização romana em cada região desapareciam como fumaça. Com feroz, abominável e violenta avalanche, os invasores desembarcaram no Norte da Itália, eram mais de cem mil guerreiros lombardos, seguidos de mais de 500 mil idosos, crianças e mulheres, para se estabelecerem nos locais ocupados. Contam às testemunhas que a barbaridade era geral: por onde passavam as Igrejas eram saqueadas e os sacerdotes assassinados, cidades inteiras eram destruídas e trucidados os seus habitantes. De religião ariana, contrária ao cristianismo, seus métodos consistiam na violência e no terror, objetivando se apossarem definitivamente das terras ocupadas, e por isso também matava toda a elite latina e o resto da aristocracia que ainda encontravam. Desse modo, todo o Norte da Itália foi ocupado pelos lombardos, e os sobreviventes fugiam apavorados para Roma.

Os invasores permaneceram na Itália até o ano 774, se estabelecendo com suas famílias, ocupando e se apoderando das cidades e das propriedades rurais, e sempre tentando alargar as áreas ocupadas realizando constantes escaramuças e assédios, em direção a Roma, e assim permaneceram praticamente durante duzentos anos, com poucas interrupções.

 

SITUAÇÃO RELIGIOSA

Com estes acontecimentos, é perfeitamente compreensível, que quando Gregório nasceu, da mesma maneira que a situação política não era boa na Península, a situação eclesiástica também era lamentável.

O Vaticano era dirigido pelo Papa Vigílio, homem fraco, sem iniciativa e sem pulso dominador. Foi o primeiro de uma relação de Papas eleitos por imposição dos Imperadores Bizantinos. A Imperatriz Teodora de Bizâncio ordenou que ele fosse levado para Constantinopla, por motivos de desavença política, lá permanecendo num semi-cativeiro por oito anos. Quando foi autorizado a regressar, morreu ao chegar a Sicília, na primavera do ano 555. Foi sucedido por Pelágio I (556-561), que também foi designado Papa por determinação do Imperador de Bizâncio.

 

ESTUDOS E EDUCAÇÃO

Não se encontra sólidas informações sobre a primeira educação de Gregório. Mas por certo foi muito boa, em face de ter encontrado um campo propício para o estudo, pois o Imperador Justiniano I realizou um grande benefício à Itália, ao preparar uma legislação específica para o desenvolvimento do ensino, da música e das artes. Esta providência ajudou efetivamente a cultura intelectual, que estava reduzida quase a zero em virtude das invasões bárbaras, permitindo que ela ganhasse um novo impulso e pujança com aquela legislação, apesar das contínuas incursões das tribos germânicas, as quais inclusive, já haviam se estabelecido em partes do território italiano. Mesmo assim, o progresso caminhou sendo abertas novas escolas de gramática, dialética e retórica, fato que evidenciava um interesse geral do povo em aprender e desenvolver os seus conhecimentos.

Assim sendo, Gregório recebeu a educação e instrução conforme os jovens da sua posição social. E deve ter sido um excelente estudante, tanto é verdade, que o seu homônimo e contemporâneo São Gregório de Tours, no escrito: “Historia Francorum”, diz que na cidade de Roma, não havia ninguém melhor e nem mais preparado em gramática, dialética e retórica, do que Gregório, o seu “chara”.

Por tradição familiar, ele cursou os estudos de Direito, seguindo a preferência do seu pai, para se formar em Advocacia, ficando mais próximo de uma carreira político-administrativa, e habituando-se a exercitar com frequência o Direito Romano de Justiniano.

Todavia, foi à literatura cristã, especialmente aquela fundamentada na tradição, que exerceu grande influência na sua vida. Leu e estudou diversos autores cristãos, especialmente: Santo Ambrósio, São Jerônimo e de modo preferencial Santo Agostinho.

 

EXPERIÊNCIA ADMINISTRATIVA

Entretanto, também exerceu vários cargos públicos com notável desempenho, e com a idade de um pouco mais de 30 anos, chegou a suprema magistratura: “Prefeito de Roma”. É bem verdade que com a transferência da capital do Império Romano para Constantinopla, por segurança, em face das permanentes invasões por povos bárbaros, o posto de Prefeito perdia muito da sua magnificência e importância, a sua responsabilidade passou a ser bem menor. Todavia, permanecia a dignidade de comandar a Cidade Imperial Eterna, e também de possuir ampla autoridade sobre a policia, sobre algumas causas criminais e, sobretudo, na defesa da cidade, das propriedades, dos bens públicos e dos habitantes. E ele desempenhou todas estas funções com sabedoria, dignidade, responsabilidade e perfeito bom senso administrativo.

 

EXPERIÊNCIA DE DEUS

São Gregório, sempre foi um jovem muito comedido em suas ações pessoais e atencioso com tudo o que se referia à religião. Pelas suas próprias palavras, não se considerava um cristão perfeito, mas respeitava e amava JESUS desde a sua adolescência. E por isso mesmo, buscava sempre exercitar a sua fé cristã. O seu progresso espiritual foi impulsionado pela graça Divina que converteu o seu coração, realidade que ele buscava com pleno interesse, e que o conduziu a uma existência irrepreensível, num chamado para uma vida mais perfeita em CRISTO.

Nos “Diálogos”, escrito por ele, confirma o seu anseio de uma vida contemplativa, dizendo: “Na época em que comecei aspirar ardentemente por uma vida retirada...” Porque, inspirado pela graça de DEUS, ele almejava por uma existência tranquila, atraído que estava por uma vida contemplativa, da mesma maneira que também gostavam de praticar a sua mãe Silvia e as duas tias: Tarsila e Emiliana.

Todavia, muito embora manifestasse interiormente aquela grande vontade, ele não quis logo entrar na vida religiosa, pois, segundo alguns estudiosos pesquisadores da sua existência, ele na qualidade de Prefeito de Roma, sempre estava ajudando a Igreja e a sociedade, e por outro lado, sentia a responsabilidade e o dever do cargo que ocupava, percebendo as dificuldades que a cidade atravessava constantemente ameaçada pelos lombardos e outros povos invasores, que queriam saquear Roma, e por isso, ele nunca desejou abandonar a sua obrigação intransferível de proteger a população, a municipalidade, e os bens do povo.

E assim, somente depois de muitas preces, de imensa luta interior, e de perceber que a vida do povo e a cidade estavam mais protegidas foi que decidiu abandonar tudo e entrar no Convento. No mundo ele buscou servir intensamente a DEUS e não conseguindo totalmente o seu objetivo, sentiu, não devia continuar insistindo, arriscando a comprometer as suas próprias aspirações espirituais, e por isso mesmo, quis se tornar um Monge.

É provável que sua entrada na vida religiosa tenha ocorrido no ano 575, depois da morte de seu pai e provavelmente quando tinha 35 anos de idade. Isto porque, Gregório vendeu na Sicília, todas as propriedades que pertenciam a sua família e fundou seis Mosteiros na ilha. Em Roma, transformou a mansão da família num magnífico Mosteiro, que colocou sobre a invocação do Apóstolo Santo André, pelo qual nutria grande devoção. Dotou todos os Mosteiros com renda suficiente, no sentido de que os Monges pudessem viver sem preocupações financeiras.

Ele permaneceu morando no Mosteiro de Roma, no qual fez uma separação, deixando confortáveis instalações para sua mãe e as duas tias. E também, não ficou a frente do seu Mosteiro. Escolheu um santo religioso Valêncio, que já tinha sido superior de um Mosteiro na Província Romana de Valéria, e que se encontrava refugiado em Roma por causa dos lombardos.

No ardor da sua devoção cristã, escreveu um dos seus biógrafos, Gregório se alimentava com vegetais crus, que sua mãe carinhosamente providenciava e trazia. Jejuava com frequência, e por essa razão, constantemente estava doente, principalmente no inverno europeu, colocando em risco a própria vida.

Todavia, sobreviveu a todos os sacrifícios aos quais se submetia, embora permanecendo sempre com a saúde meio abalada. Em consequência, os males que posteriormente se manifestaram no seu corpo, podem ter sido motivados em parte, pelas tão extremosas penitências. Esta realidade ele mesmo compreendeu mais tarde, quando escreveu:

“Se a corda da cítara não está esticada, ela não dá nenhum som; se está esticada demais, o som será desagradável. A abstinência não vale nada se não domamos nosso corpo segundo nossas forças; ela é desregrada se sobrecarrega o corpo além da medida. O fim da abstinência não é matar a carne, mas os vícios da carne”. (Moralia in Job 20, 78)

Escreveu mais, a respeito do mesmo assunto:

“A carne é ora nossa colaboradora no bem, ora a sedutora que nos conduz ao mal. Se nós lhe concedemos mais do que convém, alimentamos um inimigo; se não lhe damos o necessário, matamos um aliado. É preciso, pois, nutrir a carne, porém, não mais do que o necessário, para que ela continue a nos ajudar a fazer o bem”. (Homilias sobre Ezequiel 2, 7, 19)

Viveu três anos em retiro no Mosteiro de Santo André, em Roma, e sempre considerou que aquele foi o melhor tempo e o mais feliz da sua vida.

 

UM DOS SETE DIÁCONOS DE ROMA

Todavia, ele não desfrutou durante muito tempo daquela reclusão que tanto desejava e gostava. No ano 577 foi convocado pelo Papa Bento I, que o ordenou Diácono e o criou Cardeal. Assim, ele passou a ser um dos sete Diáconos que presidia uma das sete regiões principais de Roma.

Acontece que o Papa Bento I (575-579) teve um reinado muito curto, pois sua administração foi terrivelmente conturbada pela invasão e devastação causada pelos lombardos que sitiaram Roma, e pela terrível fome que na sequência, matou muita gente. Faleceu em 579, se esforçando por todos os meios no sentido de controlar a situação. Em Novembro de 579 foi eleito e tomou posse o novo Papa Pelágio II.

A época em que Gregório foi criado Cardeal, os lombardos constantemente ameaçavam a cidade com incursões cruéis e destruidoras, e assim, a única chance de salvação estava na ajuda do Imperador Tibério II, que estava em Constantinopla, se ele enviasse forças para uma efetiva ação contra os abomináveis invasores. E por essa razão, o Papa Pelágio II preparou um plano e mandou uma embaixada a Bizâncio (Constantinopla), escolhendo Gregório por sua grande experiência em assuntos seculares assim como por suas admiráveis virtudes pessoais, para ser o seu representante diplomático, o Apocrisiário, ou seja, o seu Embaixador Permanente, que hoje denominamos de Núncio Apostólico, junto a Corte Imperial (do Grande Império Romano), no Oriente.

 

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