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PREÂMBULO HISTÓRICO

 

No final do século XIX o comercio em geral e o mundo dos negócios estava dividido entre o capitalismo e o comunismo, que se preocupavam em buscar um aumento da produção assim como um decidido melhoramento tecnológico. Por isso mesmo, como consequência natural, observou-se uma mudança rápida nas relações de trabalho com os profissionais e os operários. A revolução Industrial estava estimulando não apenas um crescimento da tecnologia, mas principalmente um sensível aumento da organização da produção e do trabalho em si, estabelecendo métodos e diretrizes eficazes, numa época em que pudemos apreciar a notável ascensão da burguesia ao poder, em diversos países da Europa Ocidental, nos Estados Unidos e no Japão.

E por outro lado, acompanhando o desenvolvimento industrial, paralelamente, as cidades cresceram de modo notável, o que evidentemente possibilitou a formação e o desenvolvimento da classe operária, assim como as diversas especialidades das diferentes profissões. Enquanto isso ocorria na América, na Europa e parte da Ásia, a África também passava por acentuadas transformações.

COLONIZAÇÃO DA ÁFRICA

O continente africano só foi aberto aos europeus depois da metade do século XIX. Antes disso, as relações entre os povos aconteciam de forma violenta, primordialmente pelo fato do degradante comércio de escravos. Portanto, não é de se estranhar que os primeiros missionários que chegaram ao continente africano, encontrassem ali enorme oposição, que muitas vezes, lhes custava à própria vida. Isto porque, eles não eram diferenciados dos exploradores, e portanto, considerados pelo povo africano, também como pessoas más e perigosas.

No século XIX, Buganda era um reino independente ao norte do Lago Vitória, no centro da África. Por manobras de interesse comercial, o Governo Inglês conseguiu penetrar no território transformando-o numa das quatro províncias do protetorado inglês da Uganda. Como regime administrativo, já existia no reino africano independente, uma monarquia hereditária do tipo estabelecido por eles mesmos, em que o Monarca tinha direito absoluto de vida e morte sobre todos os seus súditos. Desse modo, era um Governo organizado, e que funcionava dentro das suas naturais limitações, o que na verdade era raro naquele continente, que não estava totalmente civilizado, e que por esse motivo, quando os ingleses e outros europeus chegaram em Buganda, ficaram surpreendidos com a organização existente.

ORGANIZAÇÃO DO REINO E PRIMEIROS CATÓLICOS

Cerca de três mil pessoas viviam no conjunto do palácio real, incluindo 400 pajens encarregados dos ofícios mais diversos ligados ao Monarca. Tais pajens eram escolhidos pelos chefes locais entre os mais inteligentes e bem apessoados. Eram meninos recrutados para o reino com 12 anos de idade, e que quando atingiam os 20 anos, passavam para a guarda pessoal do Rei. Assim, a elite de Buganda tinha em seu conjunto, esses jovens bem treinados e formados no palácio real.

Os primeiros missionários católicos chegaram ao reino em 1878, e eram denominados “Missionários da África” ou “Padres Brancos”, de origem francesa, que foram cortesmente recebidos pelo Rei Mutesa I, como o foram também os missionários protestantes e os missionários muçulmanos, que chegaram na sequência dos anos.

A pregação cristã começou em 1879 pelos “Padres Brancos”, da congregação fundada na França, pelo cardeal Lavigérie. Posteriormente, somaram-se a eles os padres Combonianos. E justamente por causa dos exploradores que aportavam a África nos famosos Navios Negreiros, em busca de escravos, não era fácil aos Padres Catequistas e Evangelizadores, mostrar aos africanos a diferença entre os missionários e os colonizadores. Mesmo quando eles adquiriram certa simpatia pelos missionários, em face dos benefícios que os religiosos proporcionavam ao povo, mesmo assim, ainda permanecia no coração dos africanos certa desconfiança e algum receio, em virtude do péssimo e abominável procedimento dos colonizadores.

PRIMEIRO NÚCLEO CRISTÃO

A Sociedade dos Missionários da África (conhecidos como “Padres Brancos” ) depois de trabalharem 6 anos em Uganda, apesar de todas as dificuldades, conseguiram edificar uma comunidade de convertidos cuja fé se mantinha acesa e vigorosa,apesar das investidas malévo-las que tentavam destruí-la.

Por essa razão, os missionários europeus lutavam vigorosamente, e buscando o progresso local, os “Padres Brancos” abriram um orfanato que se tornou o núcleo da futura cristandade. Mas na continuidade, embora os missionários estivessem cheios de ideais, ficaram decepcionados com o fraco interesse do povo. Os religiosos sabiam como resistir a pressão das autoridades do palácio real, mas o descaso do povo, principalmente daqueles que carinhosamente eles se dedicavam e serviam, deixava-os tristes e acabrunhados. Até os órfãos, que necessitavam de muito mais apoio e atenção, se mostravam indiferentes e difíceis de educar. E este tipo de procedimento não mudava, passavam meses seguidos e os africanos continuavam frios e arredios. De modo que, com tanta dificuldade, em 1882, os missionários decidiram se retirar do país. Mas, deixaram alguns conversos, pessoas que abraçaram o cristianismo com fé e devoção, e que não só perseveraram, mas começaram a fazer um apreciável e eficaz apostolado.

UM NOVO REI EM UGANDA

Quando faleceu Mutesa I em 1884, subiu ao trono o seu filho Muanga II, de 18 anos. Este rapaz não tinha o senso político do pai e tinha um terrível vício, era dado às práticas homossexuais, utilizando para suas torpes ações os meninos pajens da corte.

Apesar de seu caráter deformado, Muanga II que na sua infância admirava os missionários, pediu e enviou embaixadores a Europa, suplicando que eles voltassem ao seu reino, porque tinha a convicção do bem que eles poderiam trazer ao povo. Todavia, em face dos próprios projetos das Ordens Religiosas Européias, os missionários somente puderam voltar a África, dois anos depois. E na verdade, ao chegarem, tiveram uma grande surpresa e alegria, ao encontrar um núcleo de aproximadamente duzentos conversos entre rapazes e moças do palácio real, os chamados “rezadores” , como as autoridades os denominavam, que exercitavam a religião com fé e devoção.

Entretanto, o trabalho dos missionários aplicado na evangelização e conscientização do povo sobre os ensinamentos e as verdades cristãs, não combinavam e não estavam de acordo com o procedimento e os hábitos do próprio Rei, o qual devia ser o primeiro a dar o bom exemplo e não dava, continuava com a prática de seu terrível vício. Por isso, depois de alguns meses de trabalho e entreveros, ele mesmo, o rei Muanga II, desistiu da presença missionária, e começou a imaginar um modo de eliminar os cristãos que já existiam em Uganda, pois os consideravam “fanáticos” e incômodos.

PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS

Entre 1885 e 1887, uma centena de cristãos, entre os quais alguns anglicanos, foram vítimas da perseguição em Uganda.

Um pajem de dezessete anos chamado Dionísio foi apanhado pelo rei ensinando religião. De próprio punho Muanga II atravessou o seu peito com uma lança e o deixou agonizando por toda uma noite, e só permitiu a sua decapitação na manhã seguinte. Usou o exemplo para avisar que mandaria matar todos os que “rezavam”, isto é, todos “os cristãos”.

José Mukasa, de 26 anos, um dos convertidos ao catolicismo, era um dos braços direitos de Muanga II. De temperamento tranquilo, mereceu do rei Mutesa I, o soberano anterior, o apelido de “Balikuddembe” , que significa, “homem de paz”. Ele dirigia os pajens do Rei, e depois que se converteu ao catolicismo os defendia contra a tara do novo Monarca, que era o Rei Muanga II filho de Mutesa I que assumiu o trono, com o falecimento do pai. E também, José Mukasa passou a aconselhar e repreender o novo rei por suas ações antinaturais, mostrando-lhe como as Sagradas Escrituras condenam esse vício infame. Com o Livro Sagrado nas mãos, lia para o Monarca o texto do Livro Levítico (18, 22), que diz: “Não te aproximarás dum homem como se fosse mulher, porque é uma abominação”. E mais adiante, no versículo 29, acrescenta: “Todo aquele que cometer alguma destas abominações, perecerá do meio do seu povo”. Citava também o Novo Testamento, apresentando-lhe as advertências de São Paulo, que afirmava aos infelizes daquele vício: “como não procuraram a DEUS, DEUS abandonou-os a um sentimento depravado, para que fizessem o que não convém ” (Rom. 1, 28). E também, na carta aos Coríntios, São Paulo declarou peremptoriamente que “nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os avarentos, nem os que se dão à embriaguez, nem os maldizentes, nem os ladrões possuirão o reino de DEUS”(I Cor. 6, 10). Além destes argumentos objetivos e diretos, José Mukasa lembrava ao novo Rei, que Sodoma e Gomorra tinham sido destruídas por causa da prática desse abominável e infame vício homossexual.

O Rei Muanga II ao invés de perceber a imensidão e grandeza dos seus erros, ficava muito irritado com as repreensões que José lhe fazia constantemente, por causa dos seus vícios e dos atos contra a natureza que ele praticava.

Em 1885, o terrível primeiro ministro Katikiro, denominado “o bruxo”, que detestava os cristãos, fez a cabeça do novo Rei, afirmando que José devia morrer, pois era líder daquela Religião que levava os jovens a desobedecer à autoridade e as ordens do Monarca. Então, o Rei Muanga II acreditando nas palavras do primeiro ministro, concordou e mandou executar José no dia 15 de Novembro de 1885, sendo ele o primeiro Mártir africano. No momento da execução, José pediu que informassem ao Rei: “Eu lhe perdôo por me matar; mas precisa mudar de vida, caso contrário, eu o acusarei diante do tribunal de DEUS”.

Ao lhe ser transmitida a mensagem, o Rei Muanga II, temeroso na sua ignorância, mandou matar um outro servo e misturar as suas cinzas com as de José, a fim de que ele não fosse mais reconhecido pelos Anjos do SENHOR, e assim, segundo imaginava o Rei, o José não poderia testemunhar contra ele no tribunal Divino.

CARLOS LWANGA ASSUME A GUARDA DOS PAJENS

Em Maio do ano seguinte, o Rei Muanga II tentou seduzir Muafa, que era um dos jovens pajens que trabalhava no Palácio Real. Mas ele se recusou ao gravíssimo pecado da prática homossexual, dizendo que seu corpo era templo do ESPÍRITO SANTO. O Rei Muanga II ficou desapontado e procurou investigar a vida do rapaz. Ficou sabendo que ele estava sendo catequizado por outro pajem de nome Denis, de 17 anos de idade, recém Batizado. Mandou chamar o “tal professor” para que viesse à sua presença e, o interrogou sobre o que estava ensinando a Muafa. Denis respondeu corajosamente que lhe ensinava a única Religião verdadeira, a Religião Cristã. Enfurecido, o Rei Muanga II matou-o imediatamente, arremessando uma lança com violência, que atravessou o pescoço do rapaz. Denis Sebuggwawo, foi o segundo mártir Africano.

Desde o martírio de José Mukasa, Carlos Lwanga ficou encarregado dos pajens em geral, inclusive dos cristãos que serviam o Palácio. E ele, ciente da sua responsabilidade em manter íntegro o caráter dos jovens e despertar em cada um deles o amor ao cristianismo, seguia firme no seu trabalho, dando o bom exemplo e nas oportunidades, ensinava aos jovens o caminho do direito e da justiça. Também ensinava muitas orações, recomendando que rezassem com frequência, porque rezar, dizia ele: “era unir o coração a Vontade de DEUS”.

Durante a noite que se seguiu ao martírio de José Mukasa, Carlos Lwanga, que tinha ficado encarregado dos pajens, viu que as coisas estavam tomando um rumo muito perigoso e resolveu batizar quatro pajens ainda catecúmenos, inclusive Kizito, de apenas 13 anos de idade, e lhes recomendou perseverança na fé.

Carlos Lwanga nasceu no reino de Buganda, na parte sul do Uganda moderno, e serviu desde tenra idade, como pajem e naquela época, como um dos importantes auxiliares na corte do Rei Muanga II. E por isso mesmo, ele conhecia todos os meandros do palácio e preocupado, acompanhava as decisões do Rei, com relação aos cristãos.

Como parte do esforço do Rei para resistir à colonização estrangeira e o crescimento do cristianismo, ele insistia com os cristãos convertidos para que abandonassem a nova religião, que não lhes ofereciam nenhuma vantagem e causava mal-estar a administração do reino.

O REI QUER ACABAR COM OS REZADORES

E na continuidade, o Rei Muanga II sabendo do apostolado de Carlos, que inclusive, conduzia os jovens nos dias de folga e nos momentos de repouso, a rezar e ouvir os ensinamentos dos “Padres Brancos”, mandou chamá-lo a fim de esclarecer aquelas noticias e outros fatos.

Diante do Monarca, Carlos ouviu as palavras do Rei: “Sei que você é competente no trabalho e que não desobedece ao seu Rei; portanto não há o que temer. Eu não proíbo ninguém de praticar a religião. Apenas reze aqui no Palácio, não procure os homens brancos. Além disso, por que ir lá? Não ganhas presentes, não ganhas nada indo lá. Mas se insistires em visitá-los, deves entender que estarás me traindo, do mesmo modo que José Mukasa me traiu. Então serei obrigado a expulsar os estrangeiros do meu reino e você irá junto com eles. E no fim o que vai acontecer? Os ingleses irão te tratar como escravo e terá uma vida dura e te arrependerás de ter desobedecido as minhas ordens”.

Carlos Lwanga respondeu: "Caro Rei, acusas os homens brancos de desejarem lhe tomar o reino e, a nós, de ajudá-los nesta tarefa! Saibas que a religião que eles ensinam diz para sermos leais ao nosso Rei. Até hoje tens me confiado várias tarefas. Sempre cumpri minhas obrigações com paciência e responsabilidade. Declaro, então, que ainda estou pronto a morrer ao serviço do meu rei."

E continuando com o seu apostolado, apesar das proibições e ameaças do Rei Muanga II, Carlos sempre buscava uma maneira de participar das celebrações e catequeses organizadas pelos missionários católicos.

E por outro lado, nas orgias homossexuais que o Monarca continuava a realizar e convidava os servidores do palácio a participarem, especialmente os jovens pajens, Carlos Lwanga que os comandava e catequizava, estava sempre vigilante, não os deixava comparecer, recomendando e protegendo todos os jovens, para que fugissem dos desejos do rei.

 

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