UM MAGNO PONTÍFICE
GREGORIUS ANICIUS O NOVO PAPA
Naquele tempo, a eleição do Pontífice era feita pelo Senado Romano, pelas autoridades do Clero e o povo da cidade de Roma, sendo confirmada pelos Bispos da Sé Romana. E finalmente o Imperador do Grande Império, também devia confirmar ou não a posse do escolhido.
Gregório já era por demais conhecido, pois tinha sido Prefeito de Roma, realizou diversas missões em benefício do povo e da Igreja, e atualmente era Abade do Mosteiro de Santo André e Conselheiro do Papa falecido Pelágio II. Todos perceberam que para enfrentar aquela situação calamitosa, era preciso um homem de qualidades e virtudes excepcionais, como era o Abade Gregório. E por isso mesmo, a aclamação do seu nome foi unânime.
Todavia, Gregório recusou a indicação, com grande humildade, não se considerando capacitado assumir um cargo de tamanha responsabilidade, principalmente agora, naquele momento extremamente difícil que atravessava a cidade de Roma. Mas o povo e as autoridades não aceitaram os seus argumentos e mantiveram a sua eleição.
Como a ratificação ou não da eleição, dependia do parecer do Imperador Mauricio em Constantinopla, e ele Gregório, quando esteve lá como Núncio Apostólico do Papa Pelágio II cultivou fraterna amizade com o Imperador e sua família, inclusive batizou um dos seus filhos, por isso lhe escreveu, pedindo para não ratificar a sua eleição. Todavia, Germano o atual Prefeito da cidade de Roma, ficou sabendo da correspondência e conseguiu interceptar a carta de Gregório, enviando no lugar dela, uma outra, pedindo a confirmação do Papa escolhido, inclusive afirmando que a população inteira havia sufragado o nome dele, pois confiavam na competência, no espírito ativo e realizador, assim como na dignidade de Gregório.
Como a correspondência demorava em face dos precários meios de comunicação e transporte, e considerando as terríveis dificuldades e problemas que vivia a cidade, as autoridades lhe pediram insistentemente para aceitar provisoriamente a indicação. Gregório aceitou dirigir a Sé vacante, auxiliado por três altos oficiais, enquanto não chegasse a resposta do Imperador, pois ele considerava que seria a seu favor, ou seja, que Mauricio não ia ratificar a sua eleição, conforme ele mesmo havia pedido por carta.
Assim combinado, Gregório em primeiro lugar quis combater a peste, que continuava a matar muita gente. Entretanto, como não havia meios materiais e remédios capazes de enfrentar tão grave perigo, e como não existia outro recurso humano que pudesse combater a epidemia, apelou para o recurso espiritual suplicando a misericórdia infinita do SENHOR para curar o povo. Desse modo, com firmeza exortou todos os romanos a fazerem penitência, reconhecendo que aquela epidemia de peste bubônica bem que podia ser um castigo do Céu, merecido pelo povo, em face dos seus muitos pecados. E por isso, convocou a população para uma grande procissão impetratória, que deveria durar três dias, rezando e implorando a clemência do SENHOR DEUS ONIPOTENTE pelos seus pecados, e pedindo o fim da peste.
Combinaram sair em procissão de cada uma das sete regiões da cidade, e reunindo-se todas na BASÍLICA DE SANTA MARIA MAGGIORE (Basílica de SANTA MARIA a Maior). Foi um acontecimento monumental, pois foi a primeira vez que os Mosteiros com seus Abades acompanhados dos seus Monges e todas religiosas e o povo, participaram de uma procissão. Rezando e com muita fé, todas as sete procissões se reuniram na BASÍLICA DE NOSSA SENHORA, e a seguir, saíram unidos numa imensa e única procissão pela cidade, cantando musicas religiosas e rezando com fé e alegria, com a participação de todos. Ao chegar a Ponte em frente ao mausoléu do Imperador Adriano, pararam atônitos e jubilosos: "ouviram-se coros angélicos que cantavam maravilhosamente". Todos ficaram admirados e cheios de surpresa silenciaram para ouvir. E os Anjos cantavam com voz forte e bonita: “Rainha dos Céus, alegrai-Vos, aleluia. Porque AQUELE que Merecestes Portar; Aleluia. Ressuscitou como disse, Aleluia”.
O povo rejubilando de alegria, ajoelhou-se. São Gregório, com os olhos cheios de lágrimas, olhando para o Céu, disse: “Ora pro nobis DEUM”(Rogai por nós SENHOR DEUS). E todos viram no alto do mausoléu do Imperador Adriano, situado na extremidade da ponte, o Arcanjo São Miguel, com toda a sua brilhante grandeza embainhando a sua espada, indicando com aquele gesto, que a praga havia cessado. A memória deste fato magnífico e extraordinário, foi preservada, sendo aquele monumento transformado em memorial do acontecimento e ficou com o nome de “Santo Angelo” (Santo Anjo), sendo transformado em fortaleza “Castel Sant’Angelo”. Na parte superior do monumento colocaram uma linda imagem do “Arcanjo São Miguel”, em homenagem ao Grande Arcanjo, que a serviço do SENHOR DEUS, fez a peste desaparecer de Roma.
CHEGOU A CORRESPONDÊNCIA DA ÁSIA
O Imperador Mauricio não recebeu a carta de Gregório pedindo-lhe para não ser ratificado como Papa, porque como já mencionamos, a carta foi interceptada por Germano Prefeito de Roma. E Germano, escreveu ao Imperador falando das excelentes qualidades de Gregório e pedindo que ele fosse ratificado como Sumo Pontífice. Mauricio diante daquela clara e evidente indicação, ele que também era amigo de Gregório, na qualidade de Imperador do Grande Império Romano não pensou duas vezes, enviou o documento imperial ratificando a eleição do novo Papa.
Quando Gregório recebeu a documentação oficial vinda de Constantinopla, tomou um susto, pois já haviam decorridos 6 meses, e ele imaginava que o Imperador não ia confirmar a sua eleição como Papa, mas isto não aconteceu, pelos motivos já esclarecidos.
Gregório ficou atemorizado com a notícia, e logo se ocultou numa floresta próxima. Entretanto os amigos que conheciam os seus hábitos o encontraram e, ele humildemente, depois arrependido por ter fugido, aceitou a indicação, compreendendo que aquela era a Vontade de DEUS. Foi conduzido pelas autoridades à Basílica de São Pedro, sendo consagrado Bispo, e logo em seguida, entronizado como Papa, no dia 3 de Setembro de 590, adotando o nome de Papa Gregório I, com a idade provável de 50 anos. Isto aconteceu na mesma época em que o Imperador Maurício, em Constantinopla, comemorava o quinto ano de reinado.
Embora o novo Pontífice fosse um homem trabalhador e decidido, tinha uma saúde precária, sofrendo diariamente de má digestão, o que às vezes lhe ocasionava sintomas de febre. Nos anos finais da sua existência foi “vítima da gota”.
Entretanto, ao longo do seu pontificado demonstrou ser um homem de ferro, com uma invejável energia e uma disposição de jovem, juntando uma imensa coragem que possuía, em defesa intransigente dos interesses e do amor de DEUS. Mas era também uma pessoa meiga, de profunda humildade com uma simpatia maravilhosa que cativava a todos no contato diário, e que, sobretudo, ajudava a impor o seu pensamento correto e decidido. Tinha o dom de saber fazer amigos, sua simpatia unida a sua humildade o ajudava a ser caridoso, sinceramente afável, paciente e sem qualquer tipo de arrogância. E através das correspondências ficava manifesta a confiança que os amigos depositavam nele, bem como a solicitude, a fidelidade e a grande afeição que Gregório lhes dedicava.
ENÉRGICO E DETERMINADO
Na verdade, ele sempre gostou de exercitar a contemplação, mas não era um homem que ficava paralisado, sem fazer nada, plantado num canto, ou escondido do mundo. Desde o primeiro dia como Sumo Pontífice, revelou muita energia e determinação, sendo forçado no segundo mês de pontificado, a tomar uma medida enérgica depondo o Arquidiácono Laurentius, que era o primeiro dos clérigos de Roma. E fez isto, depois de uma séria advertência numa primeira convocação disciplinar, objetivando corrigir o seu abominável orgulho e crimes cometidos. Mas, que não resultaram em nada por parte dele, ou seja, em nenhuma mudança de comportamento. Então o Papa decidiu pela deposição, e preferiu, todavia, ocultar os tipos de crimes praticados por ele. E este procedimento serviu de exemplo para todo o clero, sinalizando que o Papa não ia tolerar nenhum tipo de abuso ou de indisciplina.
CORRIGINDO ABUSOS
Foi assim que em Julho do ano 595, realizou o primeiro Sínodo no Vaticano, restringido a frequência aos Titulares e aos Padres das Igrejas de Roma, onde foram aprovados seis decretos que tratavam da disciplina eclesiástica. Eram decretos amplos que focalizavam diversos tipos de abusos e práticas que não eram recomendadas e inconvenientes ao clero.
Uma das práticas evidenciadas e condenadas referia-se a escolha dos Diáconos, que eram preferidos pela sua bela voz e bonita aparência exterior, do que por sua piedade, por sua conduta exemplar e empenho em servir a Igreja. Por essa razão, para manterem a voz sempre bonita, dedicavam-se mais aos ensaios de canto, do que ao cumprimento de suas missões específicas, instruindo o povo e atendendo aos necessitados.
Outro abuso sério que o Papa procurou corrigir, foi à incrível prática da gorjeta ou gratificação por serviços prestados, que se tinha tornado comum em todos os níveis do governo imperial e ameaçava contaminar a Cúria Pontifícia, evitando assim até a mínima aparência de simonia (comércio de coisas sagradas e espirituais) e venalidade.
Evidentemente, só era permitida a doação espontânea, sem qualquer obrigação e sem nenhum tipo de exigência. A relação do que era permitido e aquilo que não era, é uma relação longa e muito bem elaborada, com o objetivo certo de coibir qualquer tipo de abuso, por menor que fosse.
NO INICIO DO PONTIFICADO
Quando Gregório tornou-se Papa em 590, A Itália encontrava-se em ruínas. Os lombardos já controlavam a maior parte da península e seus constantes ataques praticamente paralisaram a economia. Naquele momento, eles estavam acampados à frente dos portões de Roma e a cidade estava lotada com refugiados de todos os tipos, vivendo nas ruas sem nenhuma condição de saúde ou alimentação. A sede do governo, que havia sido transferida para Constantinopla, estava muito distante e parecia incapaz de aliviar o sofrimento da população local. Diversos Papas enviaram emissários pedindo ajuda, inclusive Gregório, mas sem resultado efetivo.
O recém-eleito, Gregório redirecionou os recursos da Igreja para conseguir administrar as ações de ajuda. Ao fazê-lo, demonstrou tanto o seu notável talento quanto a sua compreensão intuitiva dos princípios de contabilidade, que só seria inventada séculos depois. Ele passou a exigir agressivamente que seus clérigos fossem atrás das pessoas que precisavam de ajuda, e repreendia os sacerdotes, quando percebia que não estavam fazendo isso.
A Igreja possuía entre 3.500 a 4.500 quilômetros quadrados de terras cultiváveis gerando receitas que eram divididas em blocos denominados "patrimonia". Produziam de tudo para serem vendidos, mas Gregório interveio e ordenou que toda a produção fosse enviada a Roma para ser distribuída às sete “diaconias”. Ordenou que também aumentassem a produção, criando uma estrutura administrativa de controle a fim da ordem ser cumprida. Desse modo, cereais, vinho, queijo, carne, peixes e azeite chegavam a Roma em grandes quantidades e tudo era doado na forma de esmola.
Para facilitar a distribuição, Gregório criou um vigoroso exército de voluntários e a distribuição era feita mensalmente. Para os doentes, os Monges levavam diariamente a comida quentinha e saborosa, os quais sempre sorriam muito satisfeitos. Naquela época difícil, até as famílias ricas eram necessitadas, pois não conseguiam comprar alimentos. Gregório enviava refeições que ele mesmo preparava na forma de presentes, preservando-os de ficar envergonhados de receber a caridade.
BOM RELACIONAMENTO ECLESIÁSTICO E SECULAR
O Papa sempre quis que a Igreja e o Governo Imperial, centralizado em Constantinopla tivessem um relacionamento adequado e cooperativo, ajudando um ao outro mutuamente para o bem de ambos, de modo que um completasse as necessidades do outro, embora permanecessem os dois poderes, absolutamente soberanos, distintos e independentes. Mas estas relações, infelizmente, eram muitas vezes tornadas mais espinhosas pelo comportamento inadequado de funcionários imperiais na Itália, que excediam em exigências burocráticas, muitas vezes inclusive, para conseguir vantagens em proveito próprio.
OS LOMBARDOS E A RELIGIÃO
Quando Gregório assumiu a cadeira de São Pedro, a Península Italiana estava sob o controle dos hereges lombardos, que colocavam todas as dificuldades para a difusão da religião Católica. De maneira nenhuma permitiam que seus filhos fossem catequizados e que se tornassem cristãos sendo Batizados na fé Católica. Eles eram hereges arianos. E por isso, centenas de ocorrências exigiam a pronta e eficaz reação do Papa, que na maioria das vezes alcançava uma solução provisória, contudo, sem resolver o problema, em face da presente ocupação territorial pelos invasores lombardos. Mas na continuidade dos meses, o Papa insistia na catequese da população, e houve uma certa acomodação, os invasores se tornaram menos agressivos.
A CONVERSÃO DA INGLATERRA
A providência de Gregório de enviar Monges a Inglaterra, foi inspirada e transformou o país numa “Ilha de Santos”. Por essa razão, São Gregório é considerado como um Apóstolo da Grã-Bretanha. É bem verdade que no ano 314, o Concílio de Arles já havia autorizado o envio de três Bispos à Inglaterra para converter o país. Todavia, na sequência dos anos, os ingleses retornaram ao paganismo, quando aconteceu a invasão anglo-saxão, no ano de 428. Por esse motivo, a iniciativa de Gregório foi mais concreta e eficaz.
Inicialmente ele pensou em comprar jovens escravos ingleses na faixa etária de 17 a 18 anos, para instruí-los na doutrina Católica e depois, ordená-los Sacerdotes. E a seguir, eles retornariam ao seu país como missionários. E com este objetivo, iniciou um conjunto de providências objetivando angariar fundos para a compra dos jovens no mercado.
Todavia, nesta mesma época, surgiram fortes rumores em Roma, de que os pagãos na Bretanha estavam dispostos a se tornarem cristãos, se existissem professores para instruí-los.
Esta notícia encorajou Gregório, que no ano 596, escolheu 40 Monges do seu Mosteiro de Santo André, e criou uma missão chamada "Missão Gregoriana" chefiada por Agostinho de Cantuária, Prior do Mosteiro de Santo André, o qual, tinha por objetivo evangelizar os anglo-saxões das ilhas britânicas. A missão teve grande sucesso e foi de onde os missionários depois partiram para cristianizar os territórios modernos dos Países Baixos e também a Alemanha. A pregação da fé Católica e a eliminação de quaisquer desvios era um dos elementos-chave da visão de Gregório e parte importante da política do seu pontificado.
No inicio encontraram desânimo, boatos perturbadores de que a situação na Inglaterra era deplorável, além de muitos outros desabonadores rumores. Pensaram em voltar. Mas o Papa Gregório escreveu firme, inspirando os seus Monges e os animando para a preciosa missão. Entre outras recomendações a carta dizia: “... Não destrua os templos pagãos, mas os purifica e consagra ao verdadeiro DEUS; não acabe bruscamente com certos costumes dos gentios, mesmo que os costumes não fossem muito louváveis. Desde que não fossem também absolutamente incompatíveis com a religião Católica. Fizessem vistas grossas e passassem por cima, até que essa nova planta estivesse forte e capaz de abraçar inteiramente todo o rigor da disciplina eclesiástica cristã”.
Outro fato que ajudou na evangelização da Inglaterra foi à conversão do Rei Etelberto. Jovem inteligente, que em menos de 20 anos de reinado, estabeleceu um imenso domínio, abrangendo grande parte da Inglaterra, Irlanda e Pais de Gales. Seu prestigio atravessou fronteiras, o que levou Cariberto, Rei de Paris, lhe oferecer sua filha Berta em casamento. Entretanto, como Cariberto era cristão exigiu que sua filha tivesse o pleno e livre exercício da Religião Católica. Ele concordou. Mais tarde, o próprio Etelberto foi convertido ao Cristianismo e foi Batizado. O exemplo do Rei foi seguido por muitos súditos, de modo que no dia de Natal do ano 597, milhares de pessoas receberam o Batismo em todo reino inglês.
FINAL TRÁGICO PARA O IMPERADOR EM BIZÂNCIO
O imenso Império Romano continuava estendendo seu poderio da Europa até a Ásia. Entretanto, o Imperador Mauricio continuava não se revelando um sábio administrador, isto não só com as providências além mar, como no caso da Itália que ele não protegeu como devia, enviando tropas para combater os lombardos, mas também em muitas ocorrências internas. Em 599 recusou pagar um resgate aos bárbaros, para liberar 12 mil soldados romanos que estavam prisioneiros dos bárbaros. Em consequência, os bárbaros mataram todos. Quando ele, o Imperador se arrependeu, já era tarde, o massacre já tinha acontecido.
No ano de 602 teve outra decisão equivocada. Em face da administração ter apresentado um volume de despesas grande, acima do que ele e seus administradores calculavam, para equilibrar o orçamento, mandou cortar os subsídios das tropas militares, determinando que elas deviam se manter e sustentar, do butim que conseguissem pilhar nos países inimigos que entrassem. E isso em pleno inverno! As consequências foram violentas. Como as famílias dos militares poderiam viver? Começaram com passeatas e arruaças na capital do Império, e depois com muita decisão, sob o comando do Militar Focas depuseram o Imperador. Todo exército aclamou Focas, um soldado ignorante e de poucos conhecimentos administrativos, elegendo-o Imperador. Foi o pior Imperador que existiu!
Mauricio teve que fugir com a mulher e os filhos. Mas foi alcançado na Macedônia, e os revoltosos mataram o Imperador e toda a sua família.
AS IRMÃS RELIGIOSAS NAS ÉPOCAS DIFÍCEIS
Na época do Papa Gregório, naquela Roma destruída pelos invasores lombardos, cheia de famintos, enfermos e refugiados, havia aproximadamente 3 mil religiosas de clausura, que por certo passavam todos os tipos de necessidades, inclusive fome e frio. E o Sumo Pontífice se entristecia e utilizava todos os recursos possíveis, para suprir os Mosteiros e não permitir que nada faltasse as religiosas. Ele tinha tanta estima as religiosas que se manifestava assim: “Sua vida é tal e tão submetida a lágrimas e abstinência que, se elas não se interpusessem (com orações e sacrifícios), nenhum de nós teria podido sobreviver durante tantos anos neste lugar entre as espadas dos lombardos”.
A LITURGIA – O CANTO GREGORIANO
Ele fez diversas alterações na Liturgia Romana, mais a titulo de acréscimos:
a)Organizou a parte principal das leituras (da Sagrada Escritura) e das orações da Santa Missa.
b)Ordenou que o PAI NOSSO fosse recitado no Cânon (leituras sagradas), antes de partir a Sagrada Hóstia.
c)Introduziu o hábito de ser rezado ou cantado o Kyrie Eleison [SENHOR tem piedade, (ato penitencial ao PAI ETERNO)], na Santa Missa.
d)Estabeleceu que o Aleluia fosse cantado ou rezado, depois do Gradual (antes do Evangelho), mesmo fora do período Pascal.
e)Proibiu o uso da Casula pelos subdiáconos, e aos diáconos, de participar de qualquer parte musical da Santa Missa, a não ser o Cântico do Evangelho.
É possível que ele tenha alterado ou melhorado outros pontos menores, mas não é possível estabelecer com certeza quais foram.
Também são atribuídas a ele certos hinos Litúrgicos, o “Sacramentário Gregoriano”, isto é, o Missal e o Ritual da Igreja Romana que ele reformou. Toda a Reforma Litúrgica de Gregório está descrita no “Livro dos Sacramentos”.
Por outro lado, por motivo do seu grande empenho pelo “Canto Litúrgico”, lhe é atribuído um “Antifonário e Responsório”. Gregório considerava que a música sagrada não era apenas um acessório para embelezar a oração, mas uma parte integrante da própria oração.
No ano 600, o Papa Gregório ordenou que fossem copiados os escritos dos cânticos ou hinos cristãos primitivos (conhecidos como Antífonas, Salmos ou Hinos). Tais liturgias de louvor a DEUS eram celebradas nas antigas catacumbas de Roma já no ano 52 dC, iniciadas por Simão Pedro.
Atualmente no frontispício da edição Vaticana do Canto Gregoriano, vem escrita a lenda de sua origem: “O muito Santo Gregório derramava-se em preces para que o SENHOR lhe concedesse a música a colocar nos textos litúrgicos. O ESPÍRITO SANTO desceu então sobre ele sob a forma de uma pomba, e seu coração foi esclarecido. Ele começou imediatamente a cantar.”
Para perpetuar o canto, o Papa fez construir duas casas, uma próxima a Basílica de São João de Latrão e a outra próxima ao Vaticano, para instruir os clérigos e meninos que cantavam na Igreja.
Assim, o nome do grande Pontífice ficou ligado ao canto religioso, conhecido por todos como “Canto Gregoriano”.
ESCRITOR ADMIRÁVEL E MESTRE DE ESPIRITUALIDADE
Ele escreveu muito, bem mais do que se pode imaginar, e isto apesar dos seus compromissos e obrigações que diariamente absorvia a sua atenção e lhe causava as muitas preocupações. Excetuando apenas o Papa Bento XIV, Gregório foi o Papa que mais Obras escreveu. Tinha uma inteligência privilegiada e uma vasta cultura, que ampliou profundamente os seus conhecimentos. Seus escritos e suas pregações o levou a ser considerado como um grande Mestre de Espiritualidade, no mesmo grau de Santo Agostinho de Hipona e São Bernardo de Claraval.
As Obras de Gregório como teólogo e doutor da Igreja são importantes, não por abrir novos caminhos e novas soluções para velhos problemas, mas primordialmente na sumarização dos ensinamentos dos antigos Padres da Igreja, que ele os consolidava com mais opções de argumentos, num conjunto totalmente harmonioso. Foi por essa razão que os seus escritos se tornaram um verdadeiro “Compêndio de Teologia” da Idade Média.
Suas principais Obras foram:
1 – Moralium Libri XXXV, também denominado Magna Morália.
2 – Homiliarum in Evangelia Libri II.
3 – Homiliarum in Ezechielem Prophetam Libri II.
4 – Diálogos ou De Vita et Miraculis Patrum Italicorum et de aeternitate animarum.
5 – Regulae Pastoralis Liber (Regra para Pastores).
6 – Epistolarum Libri XIV.
E muitas outras Obras.