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“AS OBRAS NUNCA CESSARAM”

 

NO SERVIÇO DE RUA

A Irmã Dulce era elétrica, não parava para pensar, e assim, observando a situação de muitas pessoas que não tinham recursos e viviam no sofrimento, começou a recolher essas pessoas numa casa velha que estava abandonada. A casa pertencia a Prefeitura de Salvador, que logo pediu que ela saísse levando todos aqueles pobres que lá se encontravam. A Irmã tranquila e respeitosamente respondeu: “Que ela sairia na hora em que eles arranjassem um local para cuidar dos seus pobres e doentes, porque aqueles velhinhos não podiam ficar abandonados na rua”. Todavia, para evitar qualquer tipo de questão com a Prefeitura, aos poucos, a própria Irmã, com algumas pessoas que ajudavam, foram arranjando lugares para os velhinhos, perto do Convento das Irmãs.

Na realidade, durante 10 anos a Irmã Dulce não tinha conseguido um lugar próprio e especial, para abrigar os seus doentes. Em 1939, ocupou cinco casas fechadas na Ilha dos Ratos. No dia seguinte, deparou com uma mulher idosa e doente que mal podia falar. A Irmã a pegou no colo e a levou para uma casa próxima, que também estava fechada. Aproveitou e colocou mais três doentes que estavam bem apertados na Ilha dos Ratos. Alguns dias depois, o dono bateu a porta da sua casa e gritando, chamou a Irmã Dulce de ladra, mostrando a escritura da mencionada casa, que trazia nas mãos. Irmã Dulce gentilmente e bastante calma, o convidou para acompanhá-la. Quando ele entrou na sua casa ocupada, e viu aqueles doentes espalhados pelos cômodos, alguns gemendo e até crianças com a perna torta e provavelmente quebrada, ele entrou em crise e chorou. Pegou a escritura da casa e deu a Irmã.

Além desse “Serviço de Rua”, trabalhou também no POSTO MÉDICO que construiu com o auxílio do Frei Hildebrando, e na companhia dele, Irmã Dulce trabalhou no CIRCULO OPERÁRIO e no ALBERGUES. Foram 20 anos de um longo e extenuante trabalho.

 

HOSPITAL SANTO ANTONIO

Já corria o ano de 1949 e o impasse continuava: “Para onde levar os pobres e doentes?” Depois de muita busca, a Irmã conseguiu autorização da Superiora do Convento SANTO ANTONIO para ocupar o galinheiro do Convento. Desse modo, improvisou estruturas de madeira que serviram de cama e assim, deu início ao embrião do HOSPITAL SANTO ANTONIO . Ali começava a luta para um projeto admirável. Enfrentando e vencendo todas as dificuldades, a fundação do HOSPITAL aconteceu no dia 26 de Maio de 1959. Sessenta anos depois, o local já abrigava um dos maiores complexos de saúde para atendimento gratuito em todo Brasil. Segundo dados oficiais, o HOSPITAL realiza mais de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano, para usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) entre idosos, deficientes, tratamento de oncologia, crianças e adolescentes em situação de risco social e pessoas em situação de rua, inclusive as pessoas do quotidiano, de qualquer raça ou cor, que tivessem necessidade. O Hospital foi erguido com a ajuda do então Governador do Estado da Bahia, senhor Luiz Viana Filho, e também com o auxílio da Fundação Gulbenkian de Portugal, que doou uma respeitosa quantia em dinheiro. Hoje, no HOSPITAL é realizado um completo atendimento humano, de alta tecnologia e excelente qualidade. É também um Hospital-Escola, que oferece campo de ensino e preparação aos futuros médicos. Uma obra com todo equipamento moderno, que contou com a colaboração e a participação de muitas pessoas, cristãos verdadeiros e cheios de amor pela humanidade. Uma obra maravilhosa e verdadeiramente admirável. Além desse há também o precioso e útil HOSPITAL IRMÃ DULCE.

 

 

SALVA-VIDAS

Em 1952, um ônibus da cidade e um bonde se chocaram e pegaram fogo exatamente diante do Convento de Santo Antonio. Foi um estrondo. Ela estava no quarto que tinha janela para a rua, e quando ouviu o barulho, olhou e viu o acidente. No ato do choque o ônibus se incendiou. Irmã Dulce saiu correndo pelo corredor do Convento, gritando: “Fogo! Fogo! Tem um ônibus com passageiros pegando fogo lá fora”. Logo algumas Irmãs saíram na companhia dela para apagar o fogo e salvar os passageiros. Irmã Dulce e as Irmãs: Hilária, Ana Maria, Gregória e Aparecida, com seus hábitos brancos, puxaram a mangueira do Convento, e com os extintores do Cine Roma, baldes de água e latas de areia, saíram para o resgate. Tiveram êxito. Apagaram o fogo e salvaram todos os passageiros. O trabalho heróico da Irmã Dulce e das demais Irmãs culminou com valiosas condecorações: todas elas receberam do senhor Prefeito, a Medalha Thomé de Souza, que foi o fundador da cidade de Salvador, e é a maior condecoração da Capital Baiana. Mas, a Irmã Dulce, além da condecoração, no discurso do Presidente da Câmara de Vereadores, recebeu também uma saudação imortal. Ele lhe outorgou o titulo de “Anjo da Caridade”.

 

PROBLEMA QUE ALCANÇOU A ÁREA RELIGIOSA

Irmã Dulce sempre foi uma mulher muito simples que lutou abertamente para minorar e proporcionar lenitivo aos mais pobres e a existência daquelas pessoas abandonadas e sem esperança de vida. Ela se empenhava corajosamente para alcançar os seus objetivos de diminuir também a dor e o desconforto de todos aqueles que viviam numa situação desesperadora de penúria. Olhava interiormente e no fundo de seu coração sabia que aquela ajuda aos pobres, sem dúvida, tinha também a Aprovação do SENHOR DEUS. Acontece que mesmo entre alguns religiosos, às vezes, acontece um estado de discordância, e assim, considerando que ela como religiosa de formação enclausurada, não podia viver fora do Convento, realizando aquela Obra Social, colocavam dificuldades. Muito embora, a bem da verdade, a Regra do Convento limitava o tempo de assistência das Irmãs ao exterior da Comunidade. E esse assunto tornou-se preocupante, à medida que cresciam as Obras Sociais e o volume financeiro para mantê-las. A Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição a qual ela pertencia, observava o movimento com alegria, pelo admirável e maravilhoso trabalho humano, mas, também com preocupação, tendo em vista as normas da Congregação e talvez, por permanentes criticas de membros com mentalidade pouco aberta. Por essa razão, em 1943, o Conselho Provincial decretou algumas medidas restritivas a Irmã Dulce: “A proibição de ocupar a parte administrativa do CIRCULO OPERÁRIO; a necessidade de respeitar a carga horária de trabalho apontada pela Superiora da Comunidade Religiosa; a impossibilidade de ampliar sua ação no Círculo Operário e de tomar parte na direção do mesmo; a proibição de assinar promissórias ou outros documentos cuja responsabilidade fosse do CÍRCULO. A Irmã Dulce também estava proibida de assinar artigos e de participar de manifestações públicas que não fossem as festividades junto à ESCOLA DO CÍRCULO”.

Sob o aspecto prático, eram determinações que na verdade tirava a mobilidade da Irmã Dulce, mas, que mesmo assim, ela procurou cumprir integralmente, sem envolver de qualquer maneira a sua Congregação Religiosa e a sua pessoa, em nada financeiro ou desrespeitoso, preocupando-se exclusivamente com o pronto e eficiente atendimento as pessoas necessitadas. E assim, os meses passaram.

Em 1964, a Madre Provincial, Irmã Emília Rosa Seixas Barros fez uma visita ao Convento Santo Antonio, onde vivia a Irmã Dulce e as outras Irmãs. Durante as conversas na Comunidade, a Madre lhes comunicou a intenção de estabelecer um horário de fechamento do Convento. Durante o dia os atendimentos poderiam continuar acontecendo, mas à noite o Convento seria fechado, e as religiosas deviam viver na Comunidade, ou no Colégio Santa Bernadete (próximo ao Convento), onde também passariam a dormir. Irmã Hilária que era uma daquelas que atendiam no Convento com a Irmã Dulce questionou a Madre Emilia Rosa, “Como elas poderiam deixar doentes crônicos sem auxílio?”... Ela explicou a Madre, que tinham que sair a noite para atender os necessitados, pois em caso contrario, eles poderiam morrer sem auxílio. A Madre insistiu que elas deviam obediência a “Clausura”, conforme a Norma do Convento. E o diálogo continuou tenso. Irmã Dulce estava com cinquenta anos de idade e nesse momento se sentiu dividida entre os seus pobres necessitados e as Normas Conventuais. Ela sempre foi obediente a Congregação e se desdobrava para atender os seus pobres, sem ferir as normas da Comunidade Religiosa. Como abandonar os pobres? Pediu tempo a Madre, pois queria rezar e pensar no assunto. Mais tarde, procurou a Madre para conversar e então, ouviu dela um conselho: “A senhora deve fazer um pedido de desenclausuração, ou seja, de sair da Clausura da Congregação. È necessário proteger a Congregação do grave perigo que as Obras Sociais representam!”

O “cânone 6 do Código de Direito Canônico” determina: “A exclausuração só pode acontecer com o consentimento do conselho ou do moderador supremo, por motivo de causa grave”. O religioso ou a religiosa professa de votos perpétuos pode ficar afastado até por três anos, com possibilidade de prorrogação de prazo. E foi exatamente isso o que ocorreu com a Irmã Dulce. Ela pediu o afastamento, mas continuou usando o hábito que ela sempre honrou.

Para que não houvesse mal entendimento na sociedade, Dom Eugênio Sales, Administrador Apostólico da Diocese, colocou a Irmã Dulce sob “sua obediência direta”, deixando que ela continuasse o seu admirável e necessário trabalho com os pobres. No dia 20 de Dezembro de 1964, orientada por Dom Eugênio, a Irmã Dulce escreveu a Madre Emília Rosa: “Estou de acordo com a retirada das nossas Irmãs do trabalho do Hospital, do Albergue e também dos outros serviços. A Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição não terá nenhuma responsabilidade com relação às obras de construção e às outras despesas feitas por mim.”

A despedida das Irmãs foi dolorosa e triste e fez a Irmã Dulce sofrer muito. Mesmo assim, ela não guardou nenhum rancor da Madre. Todos os dias ela rezava pelo bem estar dela. Quando a Provincial passava pela obra do Hospital Santo Antonio, a Irmã a tratava com toda atenção, como se nada tivesse acontecido. Durante 10 anos Irmã Dulce permaneceu desenclausurada, usando o hábito com respeito e dignidade, continuando o seu maravilhoso trabalho por aquele imenso povo necessitado. No momento certo, pediu para voltar à Congregação, com o apoio de Dom Avelar Brandão Vilela, Arcebispo de Salvador. Em 1975 quando ela voltou a fazer parte da Congregação, e quando perguntada ou questionada, ela era veemente em afirmar: “Na verdade, eu não voltei, porque realmente eu nunca havia saído da minha Congregação”. Ela continuou usando o hábito com o maior amor e o permanente respeito. Viveu assim e também morreu usando aquele mesmo hábito.

 

FALECIMENTO DO PAI

No Dia 25 de Fevereiro de 1976, seu pai faleceu, depois de ter enfrentado doenças que minaram o seu organismo durante vários meses. Irmã Dulce chorou muito a despedida do seu querido e amado pai.

 

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