A DEVOÇÃO NO BRASIL
(VILA VELHA)
HISTÓRIA
No dia 23 de Maio de 1535, o registro histórico oficial relata que os portugueses vindos na caravela Gloria aportaram uma pequena enseada, onde se ergueria a cidade de Vila Velha, trazendo o donatário Vasco Fernandes Coutinho, para tomar posse de sua área. Sendo domingo, Festa de Pentecostes, batizou o seu lote com o nome de Capitania do Espírito Santo.
A esta Capitania, em 1558, chegou o Irmão Franciscano Frei Pedro Palácios, que nasceu em Medina do Rio Seco, perto de Salamanca, na Espanha. Ele se mudou para Portugal, permanecendo na Ordem dos Frades Menores e posteriormente, admirando o trabalho dos padres jesuítas, que já estavam em Vitória desde 1551, na catequese dos índios e na difusão do cristianismo, conseguiu a licença do Custódio Franciscano Frei Damião da Torre e embarcou para o Brasil.
Devoto de NOSSA SENHORA tinha um carinho muito especial por todas as imagens que representavam a MÃE DE DEUS, por isso, trouxe de Portugal um lindo quadro pintado a óleo, com a invocação de NOSSA SENHORA DAS ALEGRIAS ou dos PRAZERES, e o colocou numa Capela que construiu próximo a praia. Conta à lenda: “Certo dia desapareceu o quadro da VIRGEM e depois de exaustiva procura foi encontrado intacto no alto do morro. O quadro foi recolocado na Capela, mas o fato se repetiu mais duas vezes, sendo do mesmo modo, recolocado na Capela. Na mesma época foi observado o aparecimento de uma copiosa fonte de água no mencionado morro. Frei Palácios reconheceu por estes sinais a vontade expressa de NOSSA SENHORA em querer que lhe fosse construída uma Capela no alto do morro e não na sua base, próximo a praia. E para confirmar o desejo da SANTA MÃE, ele se recordou de um sonho que teve, quando ainda estava em Portugal, que haveria de colocar uma imagem da VIRGEM, numa Capela no alto de um morro, a qual, de uma planície ou da praia, poderia ser vista entre duas palmeiras plantadas no morro”. Examinando o local em que se encontrava, Frei Palácios constatou a existência das duas palmeiras, e inclusive, comentou o fato e a coincidência com pessoas que lhe estavam mais próximas. Então decidiu mesmo, edificar a Capela no alto da montanha, ou seja, no alto da penha.
CHEGADA A VILA VELHA
Quando ele chegou a Capitania do Espírito Santo, encontrou abrigo numa gruta de pedra, próxima a praia, atualmente denominada Gruta Frei Pedro Palácios, que tem ao lado um antigo oratório, o qual já existia. Depois de prepará-lo convenientemente nele colocou uma réplica do quadro de NOSSA SENHORA DAS ALEGRIAS.
Em 1562 construiu uma Capela dedicada a São Francisco de Assis no local hoje denominado Largo do Convento (Campinho), numa área abaixo, mas bem próxima do Convento, onde ao lado da Capela existe uma área cercada contendo dois túmulos de Padres Franciscanos Administradores.
O quadro trazido por Frei Palácios é de grande beleza, e foi executado com perfeição. Não se sabe onde o teria adquirido, nem quem foi o seu autor, havendo hipóteses de que fosse uma obra de algum pintor do Renascimento. O quadro ocupava o Altar Mor da Capela que ele edificou no alto do morro. Assim, em face da imagem da VIRGEM (o quadro) se encontrar no alto da penha, popularmente passou a ser conhecida com o nome de NOSSA SENHORA DA PENHA. E por essa razão, em 1570, aquela pintura de NOSSA SENHORA DAS ALEGRIAS ou dos PRAZERES, cedeu lugar à uma imagem de NOSSA SENHORA DA PENHA, que foi encomendada, e a qual se venera no local até hoje. O quadro de NOSSA SENHORA DAS ALEGRIAS ou dos PRAZERES é conservado na parede do Santuário, à direita do púlpito.
O Convento da Penha foi construído no cume de um penhasco, com 154 metros de altura e tem uma localização privilegiada, com uma notável vista da cidade de Vila Velha e também com uma apreciável visão panorâmica de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. Sua estrutura é simples e sóbria, e no seu interior o espaço mais expressivo é o da Igreja com sua preciosa Capela Mor. O Altar Mor da Igreja é construído em mármore e com cuidadosa madeira talhada dourada utilizada em diversos trabalhos ornamentais do escultor italiano Carlo Crepaz, mostrando Anjos, medalhões, capitéis, etc. No centro do retábulo (aquela construção acima do Altar), está o nicho que abriga a imagem de NOSSA SENHORA, ladeada por Anjos e Querubins talhados na madeira dourada. Embaixo de um lado e de outro do sacrário, estão as imagens de São Francisco de Assis e de Santo Antonio de Pádua. As paredes da Capela possuem admiráveis pinturas paisagísticas e com a história do Convento da Penha, realizadas por Vitor Meireles e obras sacras da pintora Pedrina Calixto.
A IMAGEM DE NOSSA SENHORA
A história da imagem de NOSSA SENHORA DA PENHA é muito interessante e singular. Em face do grande interesse popular, Frei Palácios idealizou conseguir uma imagem de NOSSA SENHORA DA PENHA de um celebre escultor em Portugal. A tradição descreve que a pessoa encarregada pelo Frei de encomendar a imagem ao escultor português, preocupado com os seus negócios e compromissos particulares, se esqueceu do pedido de Frei Palácios durante a viagem, não tomando nenhuma providência a respeito, quando chegou a Lisboa. Todavia, às vésperas de regressar ao Brasil, um desconhecido lhe entregou um caixote, e ao abri-lo, encontrou a imagem exatamente com todas as especificações pedidas pelo Frei! Uma preciosa e bonita imagem feita em madeira, branca, tem 76 centímetros de altura, nobreza, graça e naturalidade inimitáveis, com uma expressão facial de suave melancolia. É completamente diferente da imagem encontrada na Espanha. NOSSA SENHORA usa um vestido rosa, longo, todo franzido; a cabeça é coberta com um manto magnífico de tecido azul celeste, que desce pelos ombros até os pés, debruado em ouro, e na cabeça uma preciosa coroa de ouro e pedras preciosas. Sua mão direita está livre, e no seu lado esquerdo está apoiado o MENINO JESUS, com uma roupa branca, bordada, e com os braços abertos, segurando na mão esquerda o globo terrestre com uma cruz dourada encima e a mão direita, está ligeiramente levantada, num gracioso gesto como se indicasse que acolhe a todos que almejam e buscam o seu auxílio e proteção.
ATAQUE FRUSTRADO DOS HOLANDESES
Em 1630, os protestantes holandeses chegaram a nossa pátria, invadindo vasta região no Nordeste, e ali permaneceram durante 24 anos. Demonstrando um terrível ódio contra o catolicismo e uma desenfreada cobiça, apoderavam-se de tudo de valor que encontravam como bárbaros irracionais, semeando a morte por todas as partes, fazendo vítimas inocentes, violando lares, profanando templos, praticando os mais hediondos e abomináveis crimes.
O SENHOR DEUS sempre presente protegia a terra de Santa Cruz, suscitando para sua defesa bravos heróis, fazendo inúmeros milagres e prodígios, não permitindo que a crueldade do inimigo exacerbasse, ultrapassando os limites da tolerância.
A Capitania do Espírito Santo sofreu diversos assaltos daqueles terríveis hereges seguidores de Calvino e Lutero, inclusive, covardes ataques contra o Santuário da Penha, sendo, contudo, um dos ataques, aquele considerado mais violento e perigoso de todos, foi milagrosamente frustrado pela misericórdia do SENHOR. A construção do templo, iniciada em 1639, já estava quase concluída quando os holandeses tentaram tomá-lo de assalto em 1643.
A tentativa de assalto aconteceu assim: no dia 22 de setembro de 1643 os holandeses ocuparam o porto de Vila Velha e logo prepararam barricadas e se organizaram numa avassaladora posição de ataque, quando diante de seus olhos, o Santuário foi se transformando num imenso castelo, cercado de fortes muralhas e defendido por valente e destemido esquadrão de soldados guerreiros. Do alto do monte descia corajosamente muita gente, a pé e a cavalo, todos com armas luzentes e bastante munição, prontas para o combate. Esta era a visão dos holandeses. Mas, na realidade, no morro não existia nada disto! Não havia esquadrão militar e nenhum homem armado, a própria imagem da Penha tinha sido removida para o Convento de São Francisco, em Vila Velha, com receio de profanação por parte dos hereges. Então, os holandeses com a visão deste espetáculo aterrador, com medo de serem massacrados, fugiram desordenadamente, abrigando-se em suas naus, e aqueles que não conseguiram e tentaram se esconder na mata acima da praia, quarenta deles foram mortos pela heróica resistência local, formada pelos habitantes da Vila.
Tal fato ocorreu no dia da festa dos santos soldados mártires da Legião Tebana, com seu capitão São Mauricio. Daí surgiu à interpretação dos moradores capixabas, que o esquadrão que descia das fortificações do castelo era constituído pelo santo e seus companheiros, os quais, no dia da festa em comemoração ao seu martírio, vieram prestar socorro aos católicos da Capitania do Espírito Santo. Desse modo, seria uma ação da Legião Tebana, sob a determinação de NOSSA SENHORA DA PENHA. Por essa razão, os habitantes erigiram mais tarde no Santuário um altar em louvor a São Maurício, e também, em honra dele foi fundada uma Confraria.
LEGIÃO TEBANA
Segundo o Martirológio Romano, durante a guerra movida pelo Imperador Maximiano contra os bagaudios –– camponeses da Gália que se rebelaram contra a dominação romana em 286 ––, a Legião romana denominada Tebana, aquartelada em Agauno, província do Império, foi convocada à cidade de Octodurum, a fim de fazer sacrifícios aos deuses e prestar um juramento especial. Recusando-se obedecer à ordem, pelo fato de serem cristãos, Maurício, Esupério, Cândido, Victor, Inocêncio e Vital e seus 666 companheiros de Legião foram massacrados pelos próprios romanos. Então, a Santa Igreja conhecendo o fato, canonizou todos eles como mártires.
EXPULSÃO DEFINITIVA DO HEREGE INVASOR
Uma segunda tentativa de saquear o convento foi feita pelos holandeses no final de 1653, pouco antes de serem expulsos definitivamente do Brasil. O superior do Santuário da Penha era então Frei Francisco da Madre de Deus, que trabalhava ativamente para concluir a construção.
Os holandeses chegaram de repente e em plena madrugada tomaram de assalto toda a montanha e arredores, pegando de surpresa os religiosos e empregados. Contra a força das armas não podia haver resistência, mas Frei Francisco permaneceu imóvel em oração diante da imagem de NOSSA SENHORA DA PENHA, enquanto os holandeses roubavam todas as preciosidades da sacristia e do altar, mas sem molestar o religioso.
Quando se preparavam para pegar a coroa e o manto da VIRGEM, Frei Francisco levantou-se e exigiu que não tocassem na imagem, que ele mesmo ia retirar o que eles queriam. E assim ele entregou aos holandeses o manto e a coroa de NOSSA SENHORA.
E levaram também um precioso par de brincos de ouro, da efígie sagrada.
O Frade aborrecido diante daquela vil e sacrílega profanação dos holandeses reagiu com enérgicas palavras: “Vão embora e vão ver como estes brincos hão de lhes custar muito caro... Este será o último atrevimento que cometerão no Brasil, porque só faltava este pecado para transbordar a taça do castigo sobre vocês e os demais”.
Os holandeses partiram, levando muitos valores e alguns empregados como escravos, mas com os religiosos nada fizeram.
A previsão de Frei Francisco se cumpriu do modo mais completo. Dias depois, no memorável combate de 27 de janeiro de 1654, João Fernandes Vieira, que comandava a vanguarda do exército luso-brasileiro, entrou triunfalmente na cidade de Recife, libertando-a do jugo holandês e acabando com a invasão batava no Brasil.
Pouco antes daquele terrível e encarniçado combate em Recife, maldosamente os holandeses espalharam o boato de que o comandante João Fernandes Vieira tinha morrido na luta, isto com a finalidade de abater a moral do povo, deixando-os com medo de enfrentar os invasores. Fernandes Vieira tomando conhecimento da noticia, riu e falou:
“Quem disse isto aos flamengos falou a verdade... Mas quando cheguei aos Céus, NOSSO SENHOR me perguntou se ficaram mais holandeses no Recife e eu LHE respondi que sim. ELE então me mandou de volta para acabar de matá-los”.
Na rendição final dos hereges invasores, em Recife, estava presente Frei Daniel, do Santuário da Penha, a quem foram restituídos os empregados que estavam como escravos, juntamente com as alfaias, ornamentos e outras peças roubadas durante o saque do Santuário.
Com a morte de Frei Palácios, a Capela ficou a cargo de alguns devotos e amigos, que sempre a conservaram dignamente. Esta realidade perdurou até 1591, quando as autoridades de Vitória e de Vila Velha decidiram entregar a Capela aos Frades Franciscanos. Desde então, eles aumentaram a Capela e a transformaram no magnífico Santuário que hoje existe.
Na história de NOSSA SENHORA DA PENHA, no Espírito Santo, são abundantes os milagres e prodígios que por intercessão da Santa, o SENHOR sempre realizou e continua a operar em nossos dias, em benefício das pessoas que amam DEUS e Sua Divina MÃE e que suplicam a sua eficaz e tão poderosa intercessão.
NOMEADA PADROEIRA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
O Pedido foi feito pelo Bispo Dom Fernando ao Papa Pio X. A Declaração do Vaticano na qual coloca toda a Diocese do Espírito Santo sob a proteção da SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA, sob o titulo popular de NOSSA SENHORA DA PENHA, foi assinado no dia 27 de Novembro de 1912 pelo Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos Cardeal Martinelli e o seu secretário Padre Pedro Lafontaine.
“Desde os tempos mais remotos os fiéis cristãos da Diocese do Espírito Santo acompanham com grande cuidado (carinho) o exercício da devoção à SANTÍSSIMA VIRGEM MÃE DE DEUS sob o título popular da Penha, cuja imagem pintada num quadro de madeira foi primeiramente exposta à veneração pública no ano de 1558. Em seguida foi colocada no templo sobre um alto monte (situado à entrada do porto de Vitória) generosamente construído e dedicado à IMACULADA MÃE DE DEUS sob o título de Penha da Cidade de Vitória que é a sede episcopal da celebre Diocese. Por motivo dessa insigne piedade e como a Diocese do Espírito Santo ainda não gozasse de um celeste Patrono, o clero e o povo relembram o decreto de Urbano VIII, de 23 de Março de 1630, escolhendo a SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA sob o título da Penha, como sua principal protetora junto a DEUS e apelam com suplicantes votos para o Revmo. Senhor Dom Fernando de Souza Monteiro, Bispo do Espírito Santo, para que consiga essa confirmação apostólica do Santíssimo Papa Pio X. Por conseguinte, essa piedosa súplica, sendo deste modo exposta ao abaixo assinado, Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, por sua suprema autoridade constituiu e declarou a SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA, com todos os privilégios e honras atribuídas à mesma Padroeira, que competem por direito aos principais patronos. Assinado na festa da mesma SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA DA PENHA, segunda-feira depois da oitava da Páscoa, conforme entrou em voga o memorável costume de celebrar a mesma festa nesse mesmo lugar”.
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DA PENHA
Ó MARIA SANTÍSSIMA, SENHORA DA PENHA, em cujas mãos foram depositados todos os tesouros das graças Divina, constituindo-VOS amorosa e larguíssima dispensadora, a todos os que a VÓS recorrer com viva fé. Eis-me cheio de esperança no VOSSO eficacíssimo patrocínio, solicitando, humildemente, VOSSA proteção e amparo. Não negueis o VOSSO favor, ó querida MÃE, a este amoroso, embora indigne filho. Recordai-VOS, ó SENHORA DA PENHA, que nunca se ouviu dizer que algum dos que em VÓS tem depositado esperança tenha ficado iludido. Consolai-me, pois, ó amorosíssima SENHORA, com VOSSAS Graças que tão fervorosamente suplico, a fim de continuar a VOS honrar na terra, com meu eterno reconhecimento até que possa, um dia, no Céu, mais dignamente VOS agradecer todos os benefícios derramados em minha existência. Amém!