AMIZADE SINCERA
VIDA RELIGIOSA
Na verdade ele procurou se desembaraçar dos negócios e de suas posições no viver civil, para se dedicar integralmente as atividades e compromissos com a Igreja. Com esta finalidade, cheio de disposição e boa vontade, se aplicou em conhecer também a História da Igreja, os grandes Santos e as Comemorações anuais, além de realizar um grande aprofundamento dos estudos na Teologia e nas Sagradas Escrituras.
À medida que se aprofundava nos conhecimentos, com apenas três anos de dedicação ao bispado, incrementou também a sua aptidão para escrever, com o objetivo de transmitir suas idéias em beneficio do povo, colocando-as impressas em livros para conhecimento e consultas em ocasiões oportunas. Assim escreveu e publicou “As Virgens” e “As Viúvas”, aumentando o número dos seus escritos que lhe valeu o título de “Doutor e Padre da Igreja”.
Com seus escritos, calou as heresias e abriu um vasto campo ao bom e sadio conhecimento dos cristãos que desejavam se aprofundar na religião, e também, para serem beneficiados pela magnânima e eterna bondade de nosso DEUS. Quem busca conhecer DEUS, também recebe as SUAS preciosas “Graças”.
Por outro lado, também definiu responsabilidades na sua Diocese de Milão, exercitando um coerente e atencioso espírito de vigilância, com o objetivo de escolher os candidatos certos ao sacerdócio. Cuidadosamente elaborou um currículo funcional com as matérias necessárias, para de fato orientar e propiciar a boa instrução ao seminarista.
Sátiro, o amado irmão de Ambrósio, abandonou o serviço como Advogado do Estado, para se dedicar a administração e direção da casa de seu irmão, que agora sendo Bispo necessitava muito mais do seu auxílio. Anteriormente o seu irmão já o ajudava em diversos trabalhos em várias oportunidades. Todavia, logo no inicio do episcopado, provavelmente no ano 375, Sátiro com serio problema de saúde, acabou falecendo.
O IMPERADOR ROMANO
Teodósio I, nascido Flávio Teodósio, era denominado o Grande pelas vitoriosas guerras e a boa administração que realizava em benefício do Grande Império Romano. Tomou posse como Imperador no dia 19 de Janeiro de 379. Homem de família cristã, no ano seguinte decidiu estabelecer que o Cristianismo Niceno, ou seja, o Catolicismo era a religião oficial do Império Romano, mediante o edito de Tessalônica publicado em 27 de Fevereiro de 380. No mesmo decreto, proibia todos os cultos pagãos.
Como bons cristãos trabalhando pela causa comum, Teodósio e Ambrósio passaram a cultivar uma sólida e respeitosa amizade, embora existissem algumas divergências entre o Imperador e o Bispo, mas que não afetava o bom relacionamento de ambos. Em resumidas palavras, um propugnava pela independência do Estado, enquanto o Bispo Ambrósio argumentava a necessidade da obediência e plena independência da Igreja.
No ano 390, por informações venenosas de um camareiro, sem que fosse realizado qualquer tipo de apuração dos acontecimentos, Teodósio ordenou a tropa imperial de massacrar indiscriminadamente os habitantes de Tessalônica, em resposta ao covarde assassinato do seu Governador Militar, estabelecido na cidade. Como vingança autorizada por Teodósio, a tropa militar preparou um circo para jogos e apresentações, fazendo muita publicidade na cidade. No dia marcado, com o povo reunido aguardando o evento, entraram mais de 100 soldados armados que massacraram sem piedade todas as pessoas que estavam presentes. Poucos conseguiram fugir. No final da barbaridade foram contados mais de 700 cadáveres de homens, mulheres, velhos e crianças, causando tristeza e pesar na cidade e no mundo civilizado.
O fato ressoou em todo o Império Romano, levantando um clamor geral de indignação pela absurda covardia. O próprio Teodósio ficou horrorizado, mas na verdade, ele foi o maior responsável por ter concedido a autorização. O Bispo Ambrósio ciente dos fatos ocorridos e compenetrado da sua função eclesiástica, mesmo havendo um grande espírito de amizade a Teodósio, assim como um natural respeito ao Imperador a exemplo de todos os súditos, sobretudo, consciente de sua digna posição de representante de DEUS, admoestou o Imperador, dizendo-lhe: “Que nenhum sacerdote da sua Diocese lhe daria a absolvição”. E como Teodósio lhe tivesse dito que o próprio Rei David com toda a sua sabedoria havia cometido assassinato e adultério, o Bispo Ambrósio respondeu: "Você diz ter imitado David com seus erros... Significa dizer que você reconhece a sua culpa!" O Imperador não quis conversar e saiu.
Como não podia deixar de ser, Ambrósio impôs uma excomunhão temporária ao Imperador, até que ele mostrasse em público um sincero arrependimento pela sua terrível ordem de matança, que revelou um gesto terrível, desumano, cruel e que infligiu a Lei Divina. Mas o Imperador orgulhoso de seu cargo, não gostou daquelas palavras, e sentiu-se ofendido. Por isso mesmo, para mostrar que ninguém tinha o direito de lhe dar qualquer ordem, poucos dias após, Teodósio se dirigiu à Igreja com um aparato militar. Lá chegando, encontrou o Bispo Ambrósio à porta do Templo Sagrado, e que não o deixou entrar, dizendo-lhe:
- "Vejo que por desgraça, o senhor Imperador, não mediu racionalmente a gravidade do fato sanguinário ordenado por ti mesmo, e aqui está cheio de ódio contra mim. Não acrescentes um novo crime ao que já pesa sobre tua pessoa. Retira-te e submete-te à penitência que DEUS te impõe. Já que imitaste o Rei David no crime, imita-o também na penitência!”
Com lágrimas nos olhos, o Imperador refletiu e se retirou. Passaram-se oito longos meses sem que ele se apresentasse na Igreja, e nem o Bispo fosse o Palácio.
Por fim, a Fé triunfou sobre o orgulho. Na manhã do dia de Natal, banhado em lágrimas, o Imperador disse a seu camareiro:“Não sentes minha desdita? A Igreja de DEUS está aberta até para os escravos e mendigos; porém, para o Imperador está fechada, e com ela a porta do Céu também, pois JESUS CRISTO disse: O que ligares na Terra será ligado nos Céus, e o que desligares na Terra será desligado nos Céus”. (Mt 16,19)
Decidido a obter o perdão de DEUS, dirigiu-e à igreja, onde de pé o esperava Santo Ambrósio, no alto da escadaria. Foi uma conversa séria, com poucas palavras e direta:
- “Aqui estou, livra-me do meu pecado.” (Rogou o Imperador).
– “Onde está tua penitência?”(Perguntou o Santo).
– “Suplico-te que me livres desta pena, em consideração da clemência misericordiosa de nossa Mãe a Igreja. Não me feches a porta. Dize-me o que devo fazer”. (Falou Teodósio)
A decisão de Ambrósio mostrou o incansável esforço da Santa Igreja no sentido de abrandar os costumes pagãos. Assim, Ambrósio exigiu de Teodósio a promulgação de uma lei determinando que as sentenças de morte e confisco de bens, não fossem executadas antes de 30 dias, e que deveriam ser primeiro apresentado ao Imperador para autorização e confirmação da sentença. Teodósio concordou em fazer o decreto.
Então, o Bispo Ambrósio conduziu Teodósio até diante do Sacrário, onde ele se ajoelhou. O Bispo depois de fazer uma oração, traçou o sinal da Cruz sobre ele concedendo-lhe a absolvição. Teodósio espontaneamente mantinha-se ajoelhado, e olhando para o Sacrário, fez um respeitoso Sinal da Cruz. Concluídas as orações, ele se despediu e saiu.
ADMINISTRAÇÃO CRISTÃ DE TEODÓSIO
No inicio do seu reinado, como Imperador do Grande Império Romano, ele era relativamente tolerante com os pagãos, pois necessitava do apoio dos dirigentes pagãos. E assim, verbalmente autorizava a conservação de templos e estátuas pagãs “como edifícios públicos úteis”. Todavia a partir do final do primeiro ano de administração, erradicou energicamente todos os vestígios do paganismo existente. A sua primeira determinação para dificultar o paganismo foi justamente no ano 381 quando renovou a proibição dos sacrifícios, conforme anteriormente o Imperador Constantino havia determinado. E assim, na continuidade, dissolveu associações pagãs e destruiu os seus templos, onde estivessem.
A aparente mudança de política que se podia observar nos seus decretos imperiais passou a ser atribuída à crescente e frequente influência do Bispo Ambrósio. Depois de ultrapassados aqueles acontecimentos da excomunhão, a amizade e o respeito se consolidou firmemente entre o Imperador Teodósio I e o Bispo Ambrósio.
Também desde então, se firmou o poder eclesiástico para julgar os poderes públicos, não só em questões dogmáticas, mas também nas questões oriundas de erros públicos dos dirigentes. E esta realidade prevaleceu até a Civilização Moderna.
O Imperador Teodósio morreu em Milão por causa de um edema vascular, em 17 de janeiro de 395. O Bispo Ambrósio providenciou e organizou tudo para que o seu corpo repousasse numa propriedade em Milão. E como última homenagem ao seu amigo, Ambrósio pronunciou um panegírico (discurso de louvor) intitulado "De Obitu Theodosii”, no qual detalhou a energia e o trabalho de Teodósio, na supressão da heresia e do paganismo. Seus restos mortais foram trasladados definitivamente para Constantinopla no dia 8 de novembro de 395. A Igreja Ortodoxa reconhece Teodósio como Santo.
CONVERSÃO DE SANTO AGOSTINHO
Agostinho era professor em Cartago, mas não estava satisfeito com as condições de trabalho. Sendo um homem inteligente, almejava alcançar um campo mais desenvolvido, para que também pudesse progredir e revelar as suas boas qualidades. Assim, decidiu ir para Roma que era um centro bastante desenvolvido, que oferecia oportunidade a todos.
Chegando a Roma, encontrou hospedagem na casa de uma pessoa que também professava a mesma religião “Maniqueu”. Mas por esta época, Agostinho já andava desiludido com o maniqueísmo, pois começava a perceber as suas imperfeições e seus disparates.
Trabalhando em Roma, certo dia apareceu uma bela oportunidade. De Milão enviaram uma carta ao Prefeito de Roma, solicitando um professor de retórica para a Escola da Cidade. A notícia espalhou e ele foi conversar com o Prefeito de Roma solicitando a vaga em Milão. O Prefeito o submeteu aos testes necessários e observando as suas boas qualidades, o aprovou. Agostinho viajou para Milão no ano 384 e foi contratado pela Prefeitura local. Havia muito trabalho, e ele se empenhou decididamente, revelando todas as suas melhores qualidades.
Em Milão, atraído pelo dom de oratória do Bispo Ambrósio, foi algumas vezes à Igreja para ouvir as suas homilias, e gostou. Aquela maneira de falar tão cativante, amistosa e paternal de Santo Ambrósio, levou-o a procurá-lo diversas vezes para conversar sobre religião, ensejando-lhe ouvir os argumentos do prelado sobre temas que intimamente lhe perturbavam. Estava assim, numa fase de transição, querendo saber qual era a verdade e sentia que no seu cérebro havia uma torrente caudalosa de conceitos e teorias, que confundiam a sua razão, deixando-o desorientado, não lhe permitindo enxergar a realidade dos fatos. E Ambrósio com conhecimento e inteligência, abordou e lhe explicou todos aqueles pontos que perturbavam Agostinho. Os diálogos eram animados, e primordialmente o alegrava, porque satisfazia o seu desejo pessoal de conhecer a verdade. E dessa forma acabou se convertendo definitivamente ao Cristianismo.
Nas Missas que Agostinho voltou a frequentar, também para ouvir os sermões do Bispo Ambrósio, começou a lhe despertar uma atração imensa, e cada vez maior, pela grandeza do conteúdo que encerra o Mistério Eucarístico, que aos poucos ia gravando em seu coração, desmoronando os últimos baluartes que continham guardadas aquelas falsas e errôneas idéias sobre o Cristianismo.