"ALMA PREDESTINADA"
UM POUCO DE HISTÓRIA
No ano 1174 a Europa estava dividida em principados e ducados, onde os senhores feudais eram donos absolutos de seus territórios, muito poderosos e ricos, e arrendavam as suas terras aos camponeses, exigindo boa parte da colheita.
E pelo fato de serem donos absolutos, eram orgulhosos e cheios de vaidades. As guerras aconteciam com frequência entre os principados, frutos dos maus entendimentos, da inveja, do ódio e da vingança que existia entre eles.
Nesta época nasceu Edwiges, na Europa Central, numa montanhosa região denominada Silésia, próxima a Polônia. Seu pai era Bertoldo de Andech, Marquês de Meran, Conde do Tirol, Duque da Caríntia e da Ístria, e sua mãe, era Inês, filha do Conde Rottech. Na realidade Edwiges era a oitava filha do casal, cujos sete primeiros filhos, quatro homens e três mulheres, se tornaram pessoas ilustres e de renome ao longo dos anos, estando inseridos na história do país. É assim que o filho mais velho tinha também o nome de Bertoldo, igual ao do pai, foi Patriarca da Aquiléia; Ekelberto foi Bispo de Bamberg; Oto e Henrique seguiram a carreira militar. Uma das filhas casou-se com Felipe, Rei da França, a segunda filha se casou com André, Rei da Hungria e foi mãe de Santa Isabel da Hungria; e a terceira filha tornou-se religiosa e foi Abadessa Beneditina em Kicing.
Então, o casal Bertoldo e Inês já contava em seu lar com magníficas crianças, e agora, a esposa Inês estava sendo submetida a um trabalho de parto. E apesar de possuírem sete filhos, Bertoldo estava nervoso e impaciente, ansioso pela chegada do novo membro da família e, o restabelecimento da sua querida esposa Inês.
Nasceu enfim o oitavo filho do casal, uma linda e loira duquesinha, que foi Batizada na Capela do Palácio e recebeu o nome de Edwiges.
COSTUME DA ÉPOCA
A menina Edwiges cresceu com todos os cuidados e carinhos paternos, sempre acompanhada dos irmãos e das criadas que não a deixavam em nenhum momento. Inês era uma mãe solícita e preocupada, diariamente reunia os seus filhos e lhes ensinava a rezar, a conhecer DEUS, JESUS o FILHO DE DEUS, e a VIRGEM MARIA, SANTÍSSIMA MÃE DO FILHO DE DEUS e Nossa Mãe. Prendia a atenção dos filhos contando-lhes lindas histórias das vidas dos Santos e do heroísmo dos primeiros cristãos. Era um ambiente sadio, onde se respirava piedade e santidade.
Todavia, veio um momento de dura provação para Edwiges, pois tinha completado seis anos de idade, e de acordo com o costume da época, nesta idade, a criança era internada num Mosteiro para ser educada pelas religiosas. Ela sentiu muito a separação dos pais e irmãos, foi uma ausência dolorida e triste, o seu coração chorava a saudade dos entes queridos.
Foi internada no Mosteiro de Kicing, onde mais tarde uma de suas irmãs seria Abadessa. Com as religiosas do Mosteiro aprendeu as Sagradas Escrituras e os ensinamentos do SENHOR para a vida. Na realidade, era apenas uma criança de seis anos de idade, mas que se portava com uma impressionante dignidade, como se fosse uma pessoa de maior idade. E esta conduta a levou alcançar uma notável piedade, que nos seus doze anos de idade, já revelava uma maturidade adulta e vigorosa, sedimentada na razão, no direito, na justiça e no amor fraterno.
CASAMENTO
Completada a idade de 12 anos, seu pai arranjou-lhe um noivo, e o escolhido foi Henrique, Duque da Silésia e mais tarde também Duque da Polônia. Ele quando viu Edwiges ficou deslumbrado diante daquela beleza pura e sem adereços. E na verdade, Henrique ficou ainda mais entusiasmado na sequência dos encontros, quando os dois conversavam longamente no Palácio, tendo ele a oportunidade de também conhecer o espírito e o coração de Edwiges, que o cativou definitivamente. Henrique ficou inteiramente apaixonado por sua noiva.
O casamento foi marcado e se realizou na metade do ano 1186. Foi um acontecimento magnífico, com muita pompa, em que todos os parentes estavam presentes reunindo a nobreza e gente importante da Europa, trajando elegante indumentária e com rara beleza. No momento da celebração Edwiges estava séria, compenetrada na grandeza daquele importante momento que ia delinear um novo rumo a sua vida, na imensidão misteriosa do tempo da sua existência. E assim, esforçando-se para que as lágrimas não brotassem de seus lindos olhos azuis, pronunciou o “sim”, que a uniu a Henrique como seu marido, até que a morte os separe. Esta foi a única vez em que se viu a Duquesa com um vestido especial para a cerimônia, com coroa e os cabelos preparados, assim como uma medalha de NOSSA SENHORA num cordão de ouro, presente da sua mãe.
NO NOVO LAR
Deixou o Palácio de seus pais em Andech e seguiu de carruagem com seu marido e comitiva, para o novo lar no Ducado de Henrique. Foi recebida com muita festa e curiosidade por todo o pessoal: parentes, administradores e gente do povo.
No outro dia, bem cedo, já estava de pé, andando pelas dependências do Palácio e assumindo a sua posição de dona da casa, procurando organizar e administrar conforme o seu desejo: distribuindo tarefas, estabelecendo horários e, sobretudo, tratando todos com muito respeito. A verdade é que com a chegada de Edwiges entrou no Palácio os seus conhecimentos e a sua educação, que exercitou atenciosamente, tudo o que aprendeu com sua mãe e no seu tempo de Mosteiro. E foi assim, que determinou hora para tudo, para o trabalho e para o descanso, para o lazer e primordialmente para as orações. E para dar o exemplo, ela fazia questão de rezar com o pessoal que estava ao seu serviço, transformando aquelas pessoas como se fossem competentes membros da família, dentro da igreja doméstica do seu lar, que era o seu palácio. Particularmente, Edwiges também tinha o hábito de dedicar muitas horas do dia à oração e à meditação. Desfrutava de uma felicidade imensa naqueles momentos, sobretudo por que sentia a presença de DEUS no seu coração e na sua vida. Desse modo, um espírito de fervor religioso encheu todo o palácio e todos ficaram felizes com a nova patroa.
MÃE COM APENAS 13 ANOS
O casal viveu uma perene lua de mel, amando-se e respeitando-se mutuamente, cultivando um amor sincero e dedicado, em todas as ocasiões. E por isso também, num clima de piedade ela aguardava a chegada do seu filho primogênito. Rezava sempre com fervor e atenção; rezava por ela, rezava pela criança que ia nascer e rezava pelo bom e atencioso marido que DEUS tinha colocado na sua vida. Assim passavam os seus dias, até que afinal chegou o grande dia. No palácio de Breslau, a capital da Silésia, onde residiam, reinava grande expectativa. A alegria foi geral quando foi anunciado:
- “A senhora Duquesa da Silésia e da Polônia acaba de dar à luz uma criança. È um menino e todos passam bem.”
O pai, o Duque Henrique, falou:
- “O nome dele será Henrique, como é o meu nome. Eu e a Edwiges já tínhamos combinado assim!”
Este foi o primeiro filho da Duquesa Edwiges, de uma série de seis filhos, que nasceram na sequência dos anos: Conrado, Boleslau, Inês, Sofia e Gertrudes.
VIDA MATRIMONIAL
Antes de abordarmos diretamente este assunto, se faz necessário relembrar a infância de Edwiges: foi criada pelos pais num ambiente cristão, com o permanente exercício das orações e um crescente conhecimento de DEUS pelos ensinamentos da sua mãe. Como era comum naquela época, foi mandada para o Mosteiro aos seis anos de idade, ou seja, ainda uma verdadeira criança, sem qualquer maldade, e com o seu coração dirigido fervorosamente a DEUS. As crianças eram entregues aos religiosos para desenvolver os seus conhecimentos cristãos e ganhar um aprimoramento no correto exercício da fé. E Edwiges nunca perdeu uma oportunidade, por menor que fosse, para melhorar o seu conhecimento de DEUS e buscar outras maneiras, inovando atitudes para agradar ao SENHOR e a Nossa MÃE SANTÍSSIMA.
Ela se casou com Henrique por amor, pois verdadeiramente gostava muito dele e também era honesta e fielmente amada pelo seu esposo. Queria tão bem a ele, que imaginou na pureza de sua mente, colaborar e contribuir para que os seus filhos, gerados num convívio de extremosa doação amorosa mútua, não fossem maculados ou atingidos pelos pecados do mundo. Por essa razão, durante o período da gravidez, combinava com Henrique, para que juntos o casal fizesse abstinência sexual até o nascimento da criança, rezando mais para DEUS NOSSO SENHOR proteger a sua família. E seu marido, respeitosamente concordou, compreendendo o carinho e a boa intenção da sua esposa. Na mente do casal, todo sacrifício devia ser realizado, para que os seus filhos nascessem fortes e protegidos pela graça de DEUS.
O sacramento do matrimônio outorga ao casal direito absoluto de posse mútua. O SENHOR falou: “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une a sua mulher, e eles se tornam uma só carne”. (Gn 2, 24) Uma só carne quer nos lembrar, uma única vontade, uma prodigiosa harmonia vivencial e, sobretudo, uma profunda e verdadeira fidelidade. Significa dizer que embora existindo Normas e Padrões de Vida adaptados a cada época, o casal em busca da felicidade e do engrandecimento do amor, pode na vida matrimonial estabelecer para ambos outros procedimentos e atitudes, muito embora estas atitudes e procedimentos, não sejam acolhidos e nem cultivados por outros casais.
E pensando assim, Edwiges e Henrique, se amando com todas as forças do coração, como forma de agradecimento pelas graças que recebiam do SENHOR e ainda, como prova de seu incandescente e ardoroso amor a DEUS, quiseram também cultivar o severo sacrifício da abstinência sexual durante muitas ocasiões de sua existência, além daquela abstinência sexual praticada no período de cada gravidez.
Viveram assim, desse modo honesto e preocupado, exercitando um amor corajoso, fiel e repleto de sacrifício durante trinta anos, até a morte de Henrique.
OS FILHOS DO CASAL
Edwiges e Henrique procuraram educar os seus filhos com sólida piedade, com um amplo conhecimento de DEUS, preparando-os a receber a imensidão de graças que diariamente o SENHOR derrama sobre a humanidade de todas as gerações. O casal buscou infundir no coração dos seus filhos os princípios das virtudes, o exercício da fidelidade e o amor sincero, sem limites. Fizeram do palácio uma verdadeira e praticante Igreja Doméstica, em que o exemplo dos pais iluminava o cotidiano e determinava uma grandiosa harmonia em toda a família.
Mas, nem tudo saiu como desejavam, eles tiveram muitas e grandes decepções. As fraquezas do mundo, representadas pela febre do dinheiro, do poder, a ganância de ter, de ser grande, de possuir muitos domínios, derramou um amargo fel no delicado e generoso coração de Edwiges e lançou uma profunda tristeza no espírito de Henrique. Quase todos os seus filhos não resistiram às terríveis e abomináveis investidas da tentação maldita do mundo.
O Pai Henrique, querendo ajudar o filho Conrado, que tinha o apelido de Crespo, arranjou-lhe um casamento com a filha do Duque da Saxônia e lhes deu como herança e presente de núpcias, as terras de Lubex e de Lusacia. E para que não existissem ciúmes entre os irmãos, por recomendação da sua esposa Edwiges, o Pai Henrique deu ao filho mais velho, Henrique, as terras de Lessete e Wlatislávia.
Conrado, que tinha um gênio irascível, ficou com inveja do irmão e por isso, concebeu um ódio terrível contra ele, e de tal dimensão que movido por audácia diabólica, articulou uma abominável e traiçoeira trama, conquistando habilmente a amizade dos poloneses que eram hostis aos germânicos das terras de seu irmão Henrique. E assim, reunindo poderoso exército marchou contra o próprio irmão.
Edwiges sofreu terrivelmente. Rezava a todo instante e fazia duras penitências, suplicando a misericórdia de DEUS, para que acontecesse a reconciliação entre os filhos. Mas no momento, os seus pedidos não foram atendidos.
Então, Henrique organizou também o seu exército e foi enfrentar o seu irmão Conrado. Foi uma luta terrível com muitas mortes dos dois lados, mas Henrique venceu a guerra, e Conrado conseguiu fugir indo se abrigar junto ao seu pai Henrique.
Vivendo nas terras do seu pai, certo dia Conrado saiu para caçar. Todavia numa momentânea distração, foi atacado por um animal feroz que o deixou em lastimoso estado, vindo a falecer dias após. Por solicitação de sua irmã Gertrudes, que o amava muito, o corpo foi levado para o Mosteiro de Trebnitz, onde ela era a Abadessa, e o seu irmão foi sepultado na Capela do Mosteiro.
Edwiges ainda estava imersa em abomináveis sofrimentos pela morte de outro filho, Boleslau, também morto numa outra guerra, quando recebeu a notícia do falecimento de Conrado. Foi um choque muito grande para ela, que sem dúvida, fez aumentar muito mais as dores no seu carinhoso coração de mãe.