EPÍSTOLA AOS ROMANOS
"Explicação Teológica"
Ela deve ter sido escrita logo após a Carta que o Apóstolo enviou aos Gálatas. Paulo estava em Corinto, no inverno de 57/58, programando sua partida para Jerusalém, de onde planejara viajar a Roma e de lá à Espanha. Por isso, escreve a mais longa e mais profunda de suas cartas, e encarregou a diaconisa Febe de levá-la aos romanos.
Inicia a carta como era comum naquela época, fazendo uma saudação em forma de votos, seguida de uma ação de graças e uma oração. Mas ele dá a essa formula uma tonalidade cristã ajuntando um pensamento teológico, que na maioria das vezes antecipa o tema principal de cada missiva. Nesta carta ele evidencia o tema “A Salvação pela Fé” , e para explicar a sua doutrina o assunto foi dividido em quatro partes:
I – A Justificação (ou seja, o Perdão dos Pecados).
II – A Salvação.
III – A Situação de Israel.
IV – E Concluí com um Parênese (Discurso Moral, Sermão).
I – A Justificação:
A fé é um ato pelo qual o homem se entrega a DEUS, que é a verdade e a bondade infinita, e a fonte única e verdadeira da salvação. Então, a fé não é uma mera adesão intelectual, mas confiança, obediência e uma verdade de vida que une a pessoa ao SENHOR. Ela exclui toda auto-suficiência e se opõe ao regime da Lei e à sua busca vã de uma justiça pelas obras. Através da fé obtemos a verdadeira justiça que é a Justiça Salvífica de DEUS. Ela é a força Divina para a Salvação de todo aquele que crê. Paulo dizia: “O justo viverá pela fé”.
O Apóstolo escreve vigorosamente aos romanos esclarecendo que a “ira de DEUS” é uma realidade inquestionável e ela acontece pela multiplicação dos pecados da humanidade. Por isso, enfatiza que todos devem reconhecer-se pecadores e assim, buscar os meios necessários para alcançar do SENHOR a sua justificação, ou seja, o perdão de seus pecados. Ele dizia que tanto os judeus e pagãos são igualmente réus perante o Tribunal de DEUS, porque ambos estão submetidos ao pecado.
O “Dia de Javé” anunciado pelos profetas como o dia da ira e da salvação, encontrará a sua plena realização escatológica no “Dia do SENHOR”, quando da volta gloriosa de CRISTO. Neste “Dia do Juízo”, os mortos ressuscitarão e toda humanidade comparecerá perante o Tribunal do CRIADOR e de CRISTO. È um juízo inevitável e imparcial, que pertence só a DEUS. O SENHOR pelo seu CRISTO julgará os vivos e os mortos. Ele que sonda os corações e prova pelo fogo, retribuirá a cada um segundo as suas obras. Ira e perdição, para as potências do Mal e para os Ímpios. Para os eleitos, que terão praticado o bem, receberão a redenção, o descanso, recompensa, salvação, louvor e glória.
Paulo menciona um texto do Livro dos Salmos, o qual afirma que o homem (a humanidade) jamais será justificado se DEUS o julgar segundo as suas obras. Por isso, buscando atalhos e fazendo argumentação objetivando manter a sua opinião, os judeus discutiam invocando outro princípio de justificação: a “fidelidade de DEUS" às promessas de salvação que Ele Mesmo fez ao seu povo. Assim eles argumentavam reivindicando a Salvação através de suas obras, lembrando a Justiça do SENHOR. Entretanto, o Apóstolo declara que precisamente esta Justiça, prometida para os tempos messiânicos, se manifestou em JESUS CRISTO, que os judeus não o acolheram e o crucificaram. Por isso eles são réus pelo pecado cometido.
Quanto ao “papel” da Lei, Paulo ensinava que ela regula a norma externa de conduta do povo e também, seguindo o desígnio Divino, tem por objetivo revelar o pecado à consciência das pessoas, mas evidentemente ela não tem a presunção de querer apagar o pecado. A Lei orienta e estabelece normas e regulamentos, para que não hajam transgressões.
Ele cita o exemplo de Abraão (Gn 15, 1-20) (Gn 22, 1-19) que foi justificado por sua fé. O Apóstolo escreveu: “De fato, não foi através da Lei que se fez a promessa a Abraão, ou à sua descendência, de ser o herdeiro do mundo, mas através da justiça da fé”. E Abraão diante da promessa de DEUS acreditou, apesar das fraquezas humanas que queriam suscitar dúvida em seu coração. Ele “se fortaleceu na fé, dando glória a DEUS, convencido de que ELE ia cumprir o que prometeu”. E isto lhe foi levado em conta de justiça. Na realidade, dizia Paulo, isto não foi escrito e determinado só para ele, mas também para nós cristãos. “Para nós que acreditamos Naquele que ressuscitou dos mortos, JESUS, NOSSO SENHOR”.
II – A Salvação:
O cristão justificado encontra no Amor de DEUS e no dom do ESPÍRITO SANTO, a garantia da salvação. Escreveu o Apóstolo: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, estamos em paz com DEUS por NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, por QUEM tivemos acesso, pela fé, a esta graça (o favor Divino de viver na SUA amizade, o (*estado de graça*), na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança (a esperança cristã é a expectativa dos bens escatológicos: a ressurreição do corpo, a herança dos santos, a vida eterna, a visão de DEUS, ou seja, a salvação definitiva) da glória de DEUS”. E reforçando as suas palavras, Paulo escreveu: “E a esperança não decepciona, porque o Amor de DEUS foi derramado em nossos corações pelo ESPÍRITO SANTO que nos foi dado”. O ESPÍRITO SANTO é Aquele da promessa Divina, o qual caracteriza a Nova Aliança, em oposição a Antiga.
Na continuidade o Apóstolo traz presente aos cristãos de Roma o admirável e benéfico efeito da obra Divina que libertou a humanidade do pecado, da morte e da Lei.
O pecado separa o homem de DEUS. Esta separação é a “morte”: morte “espiritual” e “eterna”, da qual a morte física é o sinal. “Eis porque, como por meio de um só homem (Adão) o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”... E também, por meio de um só Homem, JESUS CRISTO, a graça de DEUS e o dom gratuito do Redentor, foram derramados sobre a humanidade de todas as gerações proporcionando vida em plenitude e salvação.
A Obra Divina começa a atuar na humanidade através do Batismo, porque é justamente por meio do Sacramento que o ESPÍRITO coloca no coração do catecúmeno a semente das três Virtudes Teologais: Fé, Esperança e Caridade. Na palavra do Apóstolo, a imersão na água sepulta o pecador na morte de CRISTO, de onde sai com ELE pela ressurreição, como “nova criatura”, o “homem novo” membro do Corpo de CRISTO, morada do ESPÍRITO SANTO DE DEUS. O Batismo destruiu o efeito do Pecado Original e apagou os pecados cometidos até aquele dia, mas enquanto o corpo do fiel não se “revestir da imortalidade” , o pecado pode encontrar neste corpo “mortal”, o estimulo da concupiscência para nele reinar. “Mas agora, libertos do pecado e postos a serviço de DEUS, tendes vosso fruto para a santificação e, como desfecho, a vida eterna. Porque o salário do pecado é a morte, e a graça de DEUS é a vida eterna em CRISTO JESUS, NOSSO SENHOR”.
O Apóstolo esclarece que o cristão está morto para Lei e para o pecado, pelo Corpo de CRISTO morto e ressuscitado. “Quando estávamos na carne, as paixões pecaminosas que através da Lei operavam em nossos membros produziam frutos de morte. Agora, porém, estamos livres da Lei, tendo morrido para o que nos mantinha cativos, e assim podermos servir em novidade de espírito e não na caducidade da letra. Que diremos, então? Que a Lei é pecado? De modo algum! Entretanto, eu não conheci o pecado senão através da Lei, pois eu não teria conhecido a concupiscência se a Lei não tivesse dito: Não cobiçarás”.
Em si a Lei é boa e santa enquanto expressa a Vontade de DEUS. Ela representa um apanágio glorioso de Israel. Entretanto, não obstante o teor de sua Lei, os judeus não somente são pecadores como as outras pessoas, mas ainda, buscam nela tal confiança em suas obras que os fecha à graça de DEUS.
O Apóstolo tinha as suas dúvidas e uma terrível luta interior, mas concorda, sobretudo, que a graça de DEUS é essencial para que as pessoas vivam em harmonia e tenham paz na caminhada existencial. “Sabemos que a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado. Realmente não consigo entender o que faço; pois não pratico o que quero, mas faço o que detesto. Ora, se faço o que não quero, eu reconheço que a Lei é boa. Na realidade, não sou mais eu que pratico a ação, mas o pecado que habita em mim... Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado que habita em mim”.
Ao regime do pecado e da morte, Paulo opõe o regime novo do ESPÍRITO. Então, não existe mais condenação para aqueles que acolheram CRISTO JESUS. A Lei do ESPÍRITO libertou a humanidade porque condenou o pecado na carne, a fim de que o seu preceito fosse cumprido nas pessoas que não vivem segundo a carne, “mas segundo o Espírito”. A palavra “Espírito” designa aqui, seja a própria pessoa do DIVINO ESPÍRITO SANTO, seja o espírito do cristão renovado pela presença do PARÁCLITO.
“E se o ESPÍRITO Daquele que ressuscitou JESUS dentre os mortos habita em vós, Aquele que ressuscitou CRISTO JESUS dentro os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, através do seu ESPÍRITO que habita em vós”. Isto porque, a ressurreição dos cristãos está em estreita dependência com a de CRISTO. É pelo mesmo poder e pelo mesmo dom do ESPÍRITO que o PAI ETERNO os ressuscitará. Mas para que isto aconteça, é necessária uma transformação pessoal com uma preparação desde agora numa verdadeira vida nova, perseverando no caminho do direito, da justiça e do amor fraterno, tornando o cristão um verdadeiro filho à imagem e à semelhança de seu DEUS. Todos os que são conduzidos pelo ESPÍRITO SANTO são filhos de DEUS, porque o ESPÍRITO é o princípio da vida propriamente Divina que há em CRISTO. “Não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! O próprio ESPÍRITO se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de DEUS”.
Os sofrimentos e as tribulações do tempo presente apesar de incômodos, são muito inferiores à grandeza da glória que revelará em nós. “O ESPÍRITO socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio ESPÍRITO intercede por nós com gemidos inefáveis, e Aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do ESPÍRITO; pois é segundo DEUS que ELE intercede pelos santos (pelos cristãos). Paulo recomenda orar sem cessar, seguindo o exemplo de JESUS e dos primeiros cristãos. Ele mesmo rezava sem descanso pelos seus fieis. Porque é somente através da oração que o fiel entra em comunhão com o SENHOR, que o ilumina nas suas decisões e lhe concede a solução para as suas necessidades.
III – A situação de Israel:
A seguir ele faz colocações sobre os privilégios e a real situação de Israel e lamentava que o povo jamais correspondesse a “escolha Divina”. Eles receberam a adoção filial, as alianças, a legislação, o culto, as promessas, foi berço dos patriarcas e primordialmente onde nasceu JESUS CRISTO. Então se as pessoas são indóceis, incoerentes, falsas e más, a culpa não é de DEUS. DEUS é justo e fiel. Ele é o SENHOR absoluto de sua obra, não tem sentido acusá-lo de injusto. Israel não invoca o nome do SENHOR JESUS, porque sempre se mostrou rebelde à “luz” que lhe foi proposta. Assim, como poderiam acreditar Naquele que nunca ouviram e jamais conheceram as suas obras? A Lei de Moisés, dizia o Apóstolo, em si é boa e santa, fez as pessoas conhecerem a Vontade de DEUS, mas tinha um grave defeito, não infundia a força interior necessária para cumpri-la com dignidade. Por esse motivo, o que a Lei mosaica conseguiu foi apenas fazer o povo tomar consciência de seu pecado e de compreender a insubstituível premência da ajuda Divina. São Paulo afirma que, o socorro de DEUS completamente gratuito, prometido outrora a Abraão antes do dom da Lei, acaba de ser concedido em JESUS CRISTO, porque a morte e a ressurreição do SENHOR destruíram a antiga humanidade, viciada pelo pecado de Adão e agora, recriada “humanidade nova”, da qual ELE, JESUS, é o Protótipo. Unido a CRISTO pela fé e estimulado pelo ESPÍRITO SANTO, as pessoas recebem doravante, gratuitamente, a verdadeira justiça e podem viver segundo a Vontade Divina.
São Paulo tinha esperanças na conversão de Israel e assim ele dizia aos romanos: “Com efeito, como vós outrora fostes desobedientes a DEUS e agora obtivestes misericórdia, graças à desobediência deles, assim também eles agora são desobedientes graças á misericórdia exercida para convosco, a fim de que eles também obtenham misericórdia no tempo presente. DEUS encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia”.
IV – Parênese:
“Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de DEUS, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a DEUS: este é o vosso culto espiritual (em oposição aos sacrifícios do culto judaico ou gentílico). E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a Vontade de DEUS, o que é bom, agradável e perfeito”.
A Comunidade Cristã sucede ao Templo de Jerusalém e o ESPÍRITO SANTO que nela habita torna mais intensa e permanente a presença de DEUS no meio do povo santo. A fé desabrocha vigorosamente no florescimento dos dons espirituais distribuídos por DEUS aos membros da Comunidade, para assegurar a sua vida e o seu desenvolvimento. E dessa forma, há uma infinidade de dons que são distribuídos aos fieis, a fim de que cada um exercite o dom que lhe foi concedido em benefício e proveito de toda Comunidade.
Paulo recomendava que os cristãos devessem respeitar-se mutuamente e a viverem em harmonia fraterna sob o Amor de DEUS. Que também evitassem discussões e intrigas, inclusive no que se referia aos costumes e a alimentação, porque são raízes de desavenças e brigas: “Deixemos, portanto, de nos julgar uns aos outros; cuidai antes de não colocar tropeço ou escândalo diante de vosso irmão. Eu sei e estou convencido no SENHOR JESUS que nada é impuro em si. Alguma coisa só é impura para quem a considera impura. Entretanto, se por causa de um alimento teu irmão fica contristado, já não procedes com amor. Não faças perecer por causa do teu alimento alguém pelo qual CRISTO morreu! Que o vosso bem não se torne alvo de injúrias, porquanto o Reino de DEUS não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no ESPÍRITO SANTO”.
No Epílogo da missiva, o Apóstolo menciona o seu projeto de viagens e termina enviando recomendações e advertências aos cristãos romanos, com as habituais saudações e doxologia (fórmula litúrgica de louvor a DEUS) no final.