SEGUNDA EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS
"Explicação Teológica"
Pouco tempo após ter enviado a primeira Carta, deve ter surgido em Corinto alguma crise disciplinar com consequências desagradáveis, que o obrigou a fazer uma rápida e amarga visita a cidade, no decurso da qual, prometeu voltar em breve para ficar mais tempo. Entretanto, um novo incidente, no qual parece ter sido ultrajada a autoridade de Paulo, na pessoa de um de seus representantes, fez substituir esta visita por uma carta severa e escrita “por entre muitas lágrimas”, que produziu um salutar efeito. Esta segunda Carta aos Coríntios foi escrita em fins do ano 57. Algum tempo depois, ele passou outra vez por Corinto e de lá regressou a Jerusalém, onde foi preso.
Paulo começa a Carta tecendo considerações e criticando de maneira oculta, os fatos que aconteceram na Comunidade, realçando que sempre lhe causou imensa alegria encontrar a Comunidade Cristã de Corinto, da mesma forma que ele percebia, quando lá chegava, sua presença sempre era uma “graça”, estando entre eles. Por essa razão, sentia grande tribulação e estava com o coração angustiado escrevendo-lhes “em meio a muitas lágrimas, não para vos entristecer, mas para que conheçais o amor transbordante que tenho para convosco”.
Entretanto, logo a seguir, muda de assunto, interrompendo a recordação dos acontecimentos desagradáveis e faz uma digressão sobre o seu ministério apostólico. Então, ele menciona o roteiro da viagem e quando pretendia voltar a Corinto para se encontrar com os fieis cristãos. E nesta oportunidade, com decisão e clareza, confirma o seu trabalho apostólico essencialmente impulsionado pelo ESPÍRITO DE DEUS, dizendo: “Não pregamos a nós mesmos, mas a JESUS CRISTO SENHOR”. “Foi ele mesmo quem reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da sua glória, que resplandece na face de CRISTO”.
Descreve a seguir, todas as suas tribulações e tristezas, assim como as esperanças de seu ministério, dizendo: “Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses”... “Pois sabemos que Aquele que ressuscitou o SENHOR JESUS ressuscitará também a nós com JESUS e nos colocará ao lado DELE, juntamente convosco”.
O Apóstolo revela sua absoluta convicção na ressurreição diante do temor da morte, ensinando que se nossa morada terrestre caminha para a ruína, teremos no Céu um edifício primoroso e eterno, obra de DEUS. Todos terão que comparecer perante o tribunal de CRISTO, onde receberão a retribuição do que tiver feito durante a sua existência. Dessa forma, sempre compenetrado no temor do SENHOR, ele procurava ensinar e convencer as pessoas, mostrando-lhes o caminho do direito, da justiça e do amor fraterno. E por isso também, esperava ser acolhido amavelmente e compreendido pela consciência de cada fiel. “Não nos recomendamos de novo junto a vós, mas desejamos dar-vos a ocasião de vos gloriardes ao nosso respeito, a fim de que possais responder àqueles que se gloriam apenas pelas aparências, e não pelo que está nos corações. Se nos deixamos arrebatar como para fora do bom senso, foi por causa de DEUS; se somos sensatos, é por causa de vós”. (Para se colocar ao alcance dos leitores, no seu ardor particular de convencer e converter as pessoas).
E seguindo este caminho, num e noutro caso, ele sempre agia compelido pelo Amor de CRISTO. E completa o seu raciocínio lembrando-lhes que eles são colaboradores na missão Divina e desse modo, não devem receber “a graça de DEUS em vão”. (A ação de graças ocupa lugar importante nas epístolas de São Paulo, porque a ação de graças deve animar todas as ações do cristão, realizadas em nome de CRISTO e por ele assumidas em sua ação de graças ao PAI ETERNO. Assim, a gratidão é um dever correspondente à vontade de DEUS, pois a ação de graças do cristão “devolve”, ainda que imperfeitamente, a graça que emana de DEUS).
(É exatamente nesta parte da Missiva, que Paulo volta a se referir, ocultamente, aos desagradáveis acontecimentos e faz exortações aos fieis de Corinto). (2 Cor 6, 2)
Agora é o tempo favorável à salvação segundo os desígnios Divinos, por isso devemos evitar acontecer qualquer motivo de escândalo, a fim de que o seu ministério não seja sujeito a escândalo. Ao contrário, exorta o Apóstolo, como ministros de DEUS, recomendamos: “ter perseverança ao sofrer as tribulações, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nas desordens, nas fadigas, nas vigílias, nos jejuns, pela pureza, pela ciência, pela paciência, pela bondade, por um espírito santo, pelo amor sem fingimento, pela palavra da verdade, pelo poder de DEUS, pelas armas ofensivas e defensivas da justiça, na glória e no desprezo, na boa e na má fama; tidos como impostores e, não obstante, verídicos; como desconhecidos e, não obstante, conhecidos; como moribundos e, não obstante, eis que vivemos; como punidos e, não obstante, livres da morte; como tristes e, não obstante, sempre alegres; como indigentes e, não obstante, enriquecendo a muitos; como nada tendo, embora tudo possuamos”!
A seguir o Apóstolo faz severas críticas e advertências, a fim de que a consciência do povo seja despertada e haja harmonia e compreensão: “A nossa boca se abriu para vós, ó coríntios; o nosso coração se dilatou. Não é estreito o lugar que ocupais em nós, mas é em vossos corações que estais na estreiteza. Pagai-nos com igual retribuição; falo-vos como a filhos: dilatai também os vossos corações”!
E escreveu muito mais: “Não formeis parelha incoerente com os incrédulos. Que afinidade pode haver entre a justiça e a impiedade? Que comunhão pode haver entre a luz e as trevas? Que acordo entre CRISTO e Beliar?” (Beliar ou Belial, que é o Maligno, Satanás) “Que relação entre o fiel e o incrédulo? Que há de comum entre o Templo de DEUS e os ídolos? Ora, nós é que somos o templo do DEUS vivo como disse o próprio DEUS: Em meio a eles habitarei e caminharei, serei o seu DEUS, e eles serão o meu povo".. (Ez 37,27)
Tendo concluído as suas advertências, Paulo cita o Profeta Ezequiel e exorta os fieis a se purificarem dos pecados que mancharam o corpo e a alma, a fim de poderem caminhar no temor de DEUS para a busca da santificação pessoal. Se vos entristeci com minha carta, escreve o Apóstolo, não me arrependo, porque a tristeza produz arrependimento que leva a salvação.
Na segunda parte da epístola ele aborda a “Organização da Coleta”. Exorta os coríntios à generosidade, discorrendo sobre temas que lhe são caros: a pobreza, fonte de enriquecimento para os outros; o exemplo de CRISTO, o dom de DEUS que suscita o dom dos cristãos. Também ele realça as virtudes dos fieis: “Visto que tudo tendes em abundância: fé, eloquência, ciência, toda espécie de zelo e a caridade que vos inspiramos, procurai também distinguir-vos nesta obra de generosidade. Quando existe a boa vontade, somos bem aceitos com os recursos que temos; pouco importa o que não temos. Não desejamos que o alívio dos outros seja para vós causa de aflição, mas que haja igualdade”. Paulo esclarece que o fiel deve oferecer apenas o supérfluo, ou seja, aquilo que não lhe irá faltar posteriormente.
Com a coleta o Apóstolo põe em prática o que ele ensina: “Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor”... (1 Cor 13,5)
Depois, ele faz uma apresentação elogiosa dos delegados que estão a serviço das Comunidades Cristãs. Ele menciona Tito que era um cristão de origem pagã convertido por ele e a quem chama de filho, e o outro apresentado é provavelmente Lucas, que logo se destacou por sua maneira brilhante e fervorosa de pregar o Evangelho.
E finalizando esta segunda parte de sua missiva, evidência os benefícios que resultarão com a coleta, citando versículos do Livro Provérbios: “Sabei que quem semeia com parcimônia (pouco), também colherá com parcimônia, e quem semeia com largueza (abundância), com largueza também colherá”. (Pr 11, 24-25)
Na terceira parte, forçado pelos acontecimentos na Comunidade Cristã, faz uma apologia de sua pessoa, respondendo primeiro sobre a “acusação de fraqueza”. “Não quero dar a impressão de incutir-vos medo por minhas cartas”. (Ou seja, que a severidade de Paulo era meramente verbal) “Pois as cartas, dizem, são severas e enérgicas, mas, uma vez presente, é um homem fraco e a sua linguagem é desprezível”. Ele esclarece com palavras simples e rápidas que isto não corresponde à verdade e recomenda que tenham consciência de sua pessoa, porque do mesmo modo como fala, ele também procede.
Respondendo a “acusação de ambição”, ele lembrava que seus adversários o caluniavam e tinham por único titulo de glória a elevada opinião que eles faziam de si mesmos. Paulo acrescentava: quanto a mim, posso glorificar-me de haver cumprido a missão que DEUS me confiou, porque fundei a Igreja em Corinto. E em seguida, o Apóstolo disse-lhes: esperamos que, quando a vossa fé tiver crescido suficientemente, assim também teremos chance de crescer ainda mais em vossa estima. “Quem se gloria, glorie-se no SENHOR. Pois não aquele que recomenda a si mesmo é aprovado, mas aquele que DEUS recomenda”.
Constrangido a fazer elogio a si mesmo, Paulo suplica:
“Suportai-me”! E com
devoção explica o seu zelo por todos eles, de modo semelhante ao zelo de DEUS
por todos nós. E por isso, receia que os pensamentos deles se corrompam e
aconteça como na sedução da serpente no Paraíso, desviando-os da simplicidade
devida a CRISTO, ou seja, que eles venham a acolher a pregação de alguém que
lhes apresente um JESUS diferente daquele que ele ensina.“Todavia julgo não ser inferior, em coisa alguma, a esses
eminentes apóstolos!
Ainda que eu seja imperito no falar, não o sou no saber”. “Terá sido falta minha anunciar-vos
gratuitamente o Evangelho de DEUS, humilhando-me a mim mesmo para vos exaltar” ?
Todos os fatos ocorridos na existência do Apóstolo o ensejavam a
gloriar-se de seu trabalho. Mas ele sempre foi modesto e acima de tudo, colocava
a vontade de DEUS em primeiro lugar. Mas lembrava aos coríntios:
“Os sinais que distinguem o Apóstolo realizaram-se entre vós: paciência a toda
prova, sinais milagrosos, prodígios e atos portentosos”.
Paulo termina a epístola revelando as suas apreensões e inquietudes, porque tinha receios de que quando voltasse a Corinto, encontrasse a discórdia, a inveja, as rivalidades, arrogância e desordens como acontecia no passado. Por isso mesmo, decepcionado e constrangido terá que agir e prantear muitos daqueles que pecou anteriormente e que voltaram a pecar, não tendo sido convertidos da impureza, da fornicação e das transgressões que cometeram.