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“NASCENDO PARA A VIDA”

 

INFÂNCIA E FAMÍLIA

Catarina nasceu em Fontebranda, um bairro da cidade de Sena, na Itália, em 1347 e foi batizada na Paróquia de São Pelegrino. Na verdade, a data exata de seu nascimento é incerta, e a maioria das pesquisas aponta para o dia 25 de Março. Seu pai Iacopo de Benincasa era tintureiro de pisoamento, trabalhador competente e responsável, além de muito caridoso. Tinha temperamento indulgente e tranquilo, em contraste com o da esposa, senhora Lapa di Piagente, com quem se casara em segundas núpcias, a qual gostava de conversar e às vezes era muito queixosa com os problemas cotidianos, mas sempre estava cheia de ânimo e tinha excelente bom senso.

Catarina era a vigésima terceira filha de uma família com vinte e cinco irmãos. Giovanna, sua irmã gêmea morreu logo após o nascimento.

A fundação da cidade de Sena remonta ao início da era romana, e apesar de possuir uma população trabalhadora e progressista, não foi poupada pela epidemia de peste negra que devastou a Europa em 1348, espalhando terror e morte em todas as regiões.

O seu hagiógrafo e Confessor Frei Raimundo de Cápua descreve-nos a primeira infância de Catarina de Iacopo de Benincasa, afirmando que desde tenra idade, ela se comportava de um modo diferente das outras crianças, pois era mais bem comportada, e desde cedo aprendeu a falar o nome de DEUS e a olhar para o Céu.

PRIMEIRA VISÃO

Tinha seis anos de idade, quando em companhia de seu irmão Stefano, voltava de uma visita a casa de sua irmã Bonaventura, que residia próximo a porta de Sant’Ansano no muro que protegia a cidade, teve uma inesquecível visão. As duas crianças subiam a ladeira conhecida pelo nome de “Valle Piatta”, hoje denominada de “Il Costone” (a Crista), quando ela olhava em direção a Igreja de São Domingos, viu diante de si, suspenso no ar: “um trono de grande beleza, com majestosa ornamentação. Nesse trono, sentado como um imperador à maneira pontificial, com tiara na cabeça, estava o SENHOR JESUS CRISTO. Perto DELE estava São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, São Paulo e o Evangelista São João. Diante daquela visão maravilhosa, a menina ficou como que grudada ao solo, com o olhar fixo, olhando amorosamente o seu Salvador e SENHOR JESUS, que com um sorriso suave, ergueu a mão direita e fez o sinal da Cruz, dando-lhe a Divina bênção”.

Catarina estava imóvel e em êxtase de encantamento, em meio à multidão de transeuntes e animais que se agitavam em todas as direções, até que Stefano se deu conta de chamá-la, acordando-a daquele momento maravilhoso. Ela radiante de felicidade exclamou: “Se você visse o que eu vi, nem por todo o ouro do mundo me tirarias tão perversamente dessa visão tão bela”! Isto aconteceu em 1353. Esta visão acendeu na menina o fogo do Amor Divino, alimentando uma fogueira que ficou incandescente para sempre.

Neste mesmo ano, Joana de Anjou, Rainha de Nápoles, vendeu a cidade francesa de Avignon ao papado.

Catarina, tomada de zelo infantil, teve desejo de imitar os eremitas que iam para o deserto, a fim de se dedicar à solidão e à prece. Uma bela manhã, saiu pela porta de Sant’Ansano e se afastou da cidade, refugiando-se numa gruta, para rezar fervorosamente a DEUS. Eis que de súbito, “ela é erguida do solo, lentamente, até a altura máxima permitida pela própria gruta, e assim permaneceu em orações até as três horas da tarde”. Na sua simplicidade, não julgou o caso como se fosse um milagre, ao contrário, imaginou que fosse uma trama de satanás para distraí-la da oração. Por essa razão, continuou a rezar com mais fervor, se assim podemos nos expressar. Quando retornou ao chão, já era tarde e voltou à casa paterna, compreendendo pelo fato ocorrido que ainda não chegara a hora de ir para o deserto. Ela pensou consigo: “Papai e mamãe devem estar inquietos com a minha ausência”. Mas não perdeu a tranquilidade, olhou para o Céu e “se recomendou ao SENHOR”, como relatou à cunhada Lisa,“imediatamente ela foi erguida ao ar pelo SENHOR e em pouco tempo, sem o menor dano, foi colocada perto da porta da cidade”, então apressou o passo e chegou a sua casa. Julgaram que ela estivesse com sua irmã casada. Ela nada mencionou a respeito das suas levitações na gruta.

POR AMOR A DEUS

Catarina sem nada anunciar, ainda criança, estava totalmente convertida. As flagelações que se aplicava a si mesma, os pequenos e instrutivos sermões que fazia as suas companheiras, ou praticando o silêncio total, ou ainda, rezando em todos os momentos, ou pela recusa em se alimentar, jejuando com frequência, e principalmente pela constante busca de solidão, todas elas inequívocas práticas de ascese, eram manifestações concretas que revelavam a sua vocação. Desse modo, a sua piedosa conduta mostrava com impressionante ênfase o seu imenso e dedicado amor a DEUS. A levitação que sempre lhe ocorria, ela procurava esconder, pois também acontecia em sua casa, como sua mãe descreveu diversas vezes, afirmando que ela ao subir ou descer a escada da residência, era erguida ao ar e seus pés não tocavam os degraus.  Este fato vinha confirmar de modo inquestionável a presença da graça de DEUS em sua vida.

Em 1354, com sete anos de idade, sua vocação já se firmava para nunca mais recuar. Certo dia, num local retirado, longe das pessoas, ela se ajoelhou, deixou que o silêncio envolvesse o seu coração e com convicção olhou para o Céu e disse a NOSSA SENHORA em voz alta: “Bem-aventurada e SANTÍSSIMA VIRGEM, Vós que fostes a primeira a consagrar perpetuamente a Vossa Virgindade ao SENHOR, e por graça DELE, Vos tornastes a MÃE de Seu Único FILHO, suplico a vossa incomparável misericórdia, de me conceder a graça de me dar por Esposo AQUELE que desejo com todas as forças da minha alma, Vosso Santíssimo FILHO, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Eu prometo, a ELE e a Vós, jamais escolher nenhum outro esposo e tudo fazer, para conservar intacta a pureza de minha virgindade”.

Depois desse voto, Catarina mostrava no cotidiano um notável progresso na via da santidade. Com mais seriedade, visivelmente transparecia nela o crescimento das grandes virtudes: fé, esperança e caridade. Seus pais, os parentes e a vizinhança de Fontebranda ficavam admirados com o comportamento da moça, sempre séria, gentil, humilde e tão devota. Este é o fiel retrato de Catarina, principalmente na faixa entre os sete e doze anos de idade.

A FAMÍLIA QUER UM CASAMENTO

Aos treze anos, sua mãe, segundo o costume da época, definiu que estava na época da filha se casar. Catarina recusou aceitar aquela idéia e procurava fugir ao assédio da mãe. Então, a senhora Lapa recorreu a sua filha mais velha, Bonaventura, que já estava casada e podia instruir devidamente a Catarina. Muito a contragosto, e somente para obedecer à ordem da mãe, foi se encontrar com a irmã. Mas tanto argumentou a irmã, que inicialmente Catarina ficou meio confusa e se deixou persuadir, cuidando das vestes, tingindo os cabelos e embelezando o rosto. E embora não tivesse renunciado ao voto de castidade que guardava em segredo, sentia, entretanto, que de certa forma, aquele novo procedimento atenuava o seu fervor espiritual.

Todavia, passada essa breve “crise de vaidade”, apesar de sua pouca idade, segundo a expressão usada pelos seus hagiógrafos, ela lamentou amargamente aquele procedimento, acusando-se severamente numa confissão sacramental.

Em Agosto de 1362, aconteceu um drama na sua família, sua irmã mais velha, Bonaventura, morreu de parto. Todos ficaram tristes e penalizados com o acontecimento. Ela só se consolou depois de algum tempo, pela confiança de que suas preces ao SENHOR teriam rapidamente tirado sua irmã do Purgatório e levado para o Céu.

Mas, a morte de Bonaventura fez crescer o empenho da família para que ela se casasse e tivesse filhos, e assim, seria mais um casal a trabalhar e ajudar o restante da numerosa família. Mas Catarina recusava, já estava chegando aos 15 anos de idade e se sentia com a convicção plenamente edificada em base sólida. Mas os pais não pensavam assim, “queriam demovê-la daquela teimosia incompreensível”. E com este objetivo, recorreram a Frei Tommaso della Fonte, um jovem dominicano que fazia parte da família, pois desde a infância, tinha sido criado pelos Benincasa. Frei Tommaso se tornou o confidente de Catarina. Diante dos tormentos que ela enfrentava e impressionado com a firmeza de sua decisão de recusar o casamento, ele lhe disse: “Já que está decidida a servir ao SENHOR e seus pais querem o seu casamento, mostre a firmeza de seu projeto cortando os cabelos, isto talvez os acalme”.

O resultado foi desastroso. O furor dos Benincasa ultrapassou os limites. Ela sofreu uma severa reprovação e ouviu insultos, ameaças e sarcasmo, nada lhe pouparam, “principalmente agora”, segundo a visão dos pais, “que haviam encontrado o marido ideal para a filha”. As admoestações não se limitaram a palavras, Catarina foi expulsa do pequeno aposento onde se recolhia para fazer as suas orações e foi forçada a substituir a empregada em todas as tarefas domésticas.

Mas, tais acontecimentos não abalaram as suas convicções, embora tenham lhe ocasionado muita dor e tristeza. Por isso mesmo, se fechou em si mesma, criou no seu interior um lugar ideal, aconchegante e secreto, para viver sua experiência amorosa com o SENHOR. Da mesma forma como fazia Santo Agostinho, era nos recantos maravilhosos e repletos de silêncio de sua alma que Catarina encontrava DEUS.

Desse modo, maltratada pelos seus, transformada em empregada doméstica, alvo de constantes sarcasmos, a Santa teve uma idéia inspirada que a ajudou suportar todos aqueles transtornos. Colocou na sua mente que seu pai representava JESUS, sua mãe era MARIA, e seus irmãos e demais membros da família eram os Apóstolos do SENHOR. Assim, ao servir a mesa, ela imaginava estar servindo ao seu Divino Esposo e a sua Mãe Santíssima, ao cozinhar ou exercendo as demais atividades no lar, era como se estivesse ocupando dos Santos Mistérios. Com este procedimento, ela quebrava a frieza em muitos corações e fazia reinar a alegria em si mesma.

E deste modo, a vida continuou e assim se arrastou por vários meses, embora interiormente, bem lá no âmago de seu coração, Catarina ansiasse pela liberdade. Suplicava ao SENHOR para que não tardasse realizar o seu desejo de entrar na Ordem dos Irmãos Pregadores. Certa vez, “São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores, lhe apareceu em sonho, rodeado por fundadores de diversas outras Ordens Religiosas, e cada qual expunha razões e motivos que ela devia considerar, a fim de atraí-la para a sua congregação. Mas foi São Domingos que conseguiu levá-la. Trazendo na mão um lírio branco e dobrado sobre o braço, o hábito das Irmãs Dominicanas da Penitência, disse: Minha doce filha não perca a coragem, não deves temer nenhum obstáculo, pois conforme o teu desejo, eu te asseguro que vestirás este hábito”.

 

 

A Ordem dos Padres Pregadores foi fundada por São Domingos de Gusmão, no século XIII, e é conhecida pelo nome: “Dominicanos”. Durante as heresias albigenses e dos cátaros, os Dominicanos combateram vigorosamente divulgando a fé, através da pregação, pelo ensino e pela imprensa, convertendo muita gente. Em alguns lugares são conhecidos como “Frades Negros”, pela cor do manto que cobria o seu hábito branco. São Domingos fundou também uma Ordem feminina, ou Ordem Segunda de São Domingos, com as mesmas regras da Ordem Primeira, mas acrescentando a clausura. Domingos nasceu em Caleruega, no Reino de Castela, no dia 24 de Junho de 1170 e faleceu em Bolonha, na Itália, no dia 6 de Agosto de 1221. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 8 de Agosto.

 

 

Cheia de santa e irresistível alegria, Catarina decidiu abrir o seu coração para toda a família, revelando o seu voto de virgindade e reafirmando a sua decisão irrevogável de não se casar e de se entregar totalmente a DEUS. E ainda acrescentou que poderia continuar trabalhando como empregada e serva de seus pais e familiares, até o fim de seus dias, ou jogada na rua, se assim o quisessem. O Esposo que ela tinha escolhido era “tão rico e poderoso” que jamais a abandonaria.

O espanto foi geral, aquelas palavras incisivas tocou o coração de todos. Aconteceram algumas reclamações, entretanto sem exageros, ouviu-se mais choro, suspiros e muita estupefação, diante da firmeza das palavras dela. O pai Iacopo admirado com a coragem da filha percebeu que aquela atitude não era um capricho de mulher, mas o notável impulso de uma poderosa força interior, que por certo emanava do poder do ESPÍRITO SANTO. Então falou: “Que ninguém mais se oponha a decisão dela”. Em silêncio, cada um se afastou e foi cuidar de seus afazeres. O pai completou suas palavras, dizendo: “Reza bastante por nós, para que possamos ser dignos das promessas de seu Esposo, que pelo dom Divino te escolheu desde os primeiros anos”.

SANTIFICANDO O ESPÍRITO

E assim, Catarina começou a viver a vida que almejava. Tinha um quarto pequeno, estreito e escuro, com algumas tábuas de madeira como cama, onde dormia a maneira dos santos eremitas. Trajava uma túnica de lã e na cintura cingia com uma corrente de ferro tão apertada que às vezes sangrava. A oração contemplativa ocupava a maior parte de seu tempo. Pela manhã, subia a colina da rua principal para alcançar a Igreja de São Domingos e participar da Santa Missa. Catarina não aprendeu a ler e nem a escrever. Mas as leituras Bíblicas e as homilias que ouvia, gravaram profundamente em seu espírito, e formaram a base de sua doutrina.

Também na Igreja de São Domingos, tinha a oportunidade de se encontrar com os irmãos pregadores e as irmãs da Ordem da Penitência, e através deles edificava a sua instrução. Também com frequência, se aconselhava com Frei Tommaso.

Ela era de compleição robusta, acostumada ao serviço pesado, e por isso, agora, com maior dedicação, mortificava o seu corpo com duras disciplinas e com tal intensidade, que chegou a se enfraquecer, necessitando de tratamentos e alguns cuidados. Sua Mama Lapa ficou preocupada, suspirava e reagia, dizendo: “Minha pobre filha, eu te vejo morta. Vai acabar te matando! Pobre de mim! O que eu fiz para merecer isto”?

Ela se privava do sono com tal disposição, que chegou alcançar a proporção assustadora de apenas meia hora de sono em cada dois dias. Significa dizer, que ela estava conduzindo a prática da ascese a um ponto extremo. Então, seus pais se reuniram com ela e decidiram viajar para uma estação balneária a fim de refazer as energias da filha.

SAÚDE PARA CATARINA

Vignone era uma estação balneária de repouso, não distante de Sena, no conhecido Vale de Orcia. As suas águas sulfurosas eram excelentes para a cura e recuperação de muitos males do corpo. Era bastante conhecida na Itália e frequentada por pessoas de todas as classes sociais. Mas como acontece em todos os locais semelhantes a este, muitas pessoas vão para se divertir, não tem aquela preocupação extremosa de cuidar da saúde. Catarina, com a lucidez que sempre a caracterizou, observou aquela realidade, refletiu e meditou bastante diante daquele espetáculo novo para ela. Assim, para se preservar dos perigos que a rodeava, imaginou uma eficaz contra-ofensiva. Ao mergulhar nas águas sulfurosas, ela se colocava debaixo das águas mais quentes, sob o risco de se queimar. Depois confessou a Frei Raimundo: “Enquanto ficava dentro d’água, pensava nas penas do inferno e do Purgatório, e rezava a meu CRIADOR, a Quem tanto eu ofendi com minha vaidade, para que, em Sua Divina Misericórdia, ELE se dignasse aceitar as dores que eu suportava voluntariamente, em troca daquelas que eu sabia merecer. Como tinha a certeza de receber a graça de sua misericórdia, tudo o que suportava se transformava num prazer, tanto que a temperatura da água nem chegava a me queimar, apesar da dor que eu sentia”.

 

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