Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!

 

IDEAL SACERDOTAL

 

 

NASCIMENTO E FAMÍLIA

Nasceu no dia 24 de Junho de 1542 em Fontiveros, uma pequena cidade do interior da Espanha, com extensas e ensolaradas planícies, entre as cidades de Ávila e Salamanca. Era filho de Gonçalo de Yepes e Catarina Álvarez, ambos originários de Toledo, próximo a Madrid. Sua mãe foi trabalhar naquela região como humilde empregada de uma tecelagem. No povoado conheceu Gonçalo, que era nobre e que por lá circulava em viagem de negócios. Conheceram-se, amaram-se e se casaram. Por causa da pobreza de Catarina, Gonçalo foi deserdado pelos parentes. A nova família começou a se edificar num ambiente de extrema pobreza, com muita luta, renúncias e dificuldades, para alcançar o pão de cada dia.

Nasceram três filhos: Francisco, Luis e João (seu nome completo era Juan de Yepes Álvares). Estavam vivendo praticamente na miséria, em virtude da falta de trabalho. Não ganhavam o suficiente para sobreviver e o resultado logo apareceu com a morte do pai, e logo a seguir, com a morte do filho Luis. João que foi o último, sendo mal alimentado em consequência das dificuldades da família, ficou desnutrido, franzino e de baixa estatura.

A viúva abandonou o povoado com os dois filhos e foi pedir ajuda aos ricos familiares do marido, mendigando trabalho ou sustento. Não conseguiu nada, negaram-lhe até o menor auxílio, Então, ela foi obrigada a se aventurar em outras regiões, primeiro em Arévalo e, quando João estava com 9 anos de idade, mudou-se para Medina Del Campo.

Em Medina, ela colocou o filho no Colégio da Catequese ou da Doutrina para crianças órfãs, para apreender a ler e a escrever. João se dedicou perseverantemente e em pouco tempo, lia e escrevia correntemente. A administração do Colégio exigia alguns pequenos serviços das crianças, objetivando estimular o reconhecimento pessoal pelo ensino que cada um recebia gratuitamente. João foi colocado como coroinha na celebração da Santa Missa,

Em seguida, sua mãe conseguiu e ele foi enviado para o Mosteiro da Penitência, era o nome do Mosteiro de Santa Madalena, com o objetivo de servir a Igreja e continuar como auxiliar na celebração da Santa Missa.

Embora, com toda boa vontade atendendo a sua mãezinha, que também queria que ele realizasse trabalhos manuais como: carpinteiro, alfaiate, entalhador e pintor, João não evoluiu nestas profissões, não revelou tendência para executar aqueles trabalhos, e por isso desistiu.

Pouco tempo depois, com licença da mãe, foi levado pelo senhor Alonso Alvarez Toledo para um Hospital. O senhor Alonso era um homem rico e muito piedoso, que abandonara o mundo e se recolhera ao Hospital de Nuestra Señora de la Concepción de Medina del Campo, onde morava e trabalhava servindo os pobres. Ali, o senhor Alonso o incumbiu de pedir auxilio e ajuda para os mais necessitados. O seu empenho e dedicação foram tão significativos que João angariou a simpatia e amizade do senhor Alonso e de todas as pessoas do Hospital.

E assim, deram-lhe licença para ouvir as lições de gramática, no Colégio da Companhia de Jesus. O diretor da entidade era o Padre Bonifácio que começou admirar o interesse de João e o ajudava a entender e avançar nos estudos.

E foi justamente a partir desta época, que começaram a despertar no jovem, três qualidades excepcionais: a religiosidade, o amor e o serviço aos doentes, e a dedicação aos estudos. Protegido pela graça Divina, aqueles que viviam ao seu redor e percebiam as suas primorosas qualidades lhe ofereciam oportunidades concretas para que ele pudesse desenvolver e cultivar as melhores virtudes.

Dos 17 aos 21 anos frequentou o Colégio dos Jesuítas, sem deixar o serviço no Hospital. Utilizava todo o tempo que dispunha para estudar, apreendendo as suas lições e mantendo-se em dia com todos os assuntos.

IDEAL CARMELITA

Aos 21 anos de idade tomou a decisão de entrar no Noviciado Carmelita, que acabava de ser inaugurado em Medina. Assim, iniciou a sua vida religiosa no ano de 1563, e seu interesse e sua vocação religiosa não surpreendeu ninguém, porquanto as suas virtudes excepcionais afloravam naturalmente no cotidiano.

Mas, o fato em si, causou certa perplexidade, em razão de existirem dois convites e pressões vivas e permanentes sobre ele, vindo de outras direções: uma do Hospital, que admirando as suas qualidades, queria que ele se ordenasse sacerdote e continuasse como Capelão servindo ao Hospital; a outra, vinha dos Jesuítas, que apreciando os seus dotes intelectuais, assim como a sua profunda piedade, queria mantê-lo na Ordem.

Mas na verdade, intimamente João já tinha feito a sua escolha, por que lhe atraía e cativava, o espírito contemplativo e a piedade mariana dos Carmelitas. Por isso mesmo, com naturalidade agradeceu o interesse e os convites dos outros, mas permaneceu no seu ideal.

No Noviciado, encontrou efetivamente meio e o ambiente adequado para assimilar o precioso conteúdo daquela tradição espiritual. Em 1564 fez a Profissão de Fé, recebendo o nome de Frei João de São Matias.

E logo a seguir, mudou-se para Salamanca, a fim de cursar a Universidade, fazendo os estudos de filosofia e teologia. Ficou instalado no Convento Carmelita de Santo André. E como sempre, despertou nos irmãos intensa admiração, por sua piedade, por sua vida penitente e sua notável capacidade para os estudos.

Acontece que, a admiração causada pelo brilho de suas virtudes pessoais começou a deixá-lo profundamente insatisfeito. João entrou numa terrível crise! Não uma crise de fé e de abandono da sua espiritualidade, mas uma crise de desconforto, em face do novo ambiente em que estava vivendo. Naquele ambiente acadêmico, somente de estudos, os jovens eram convidados a buscar projeção, títulos e promoções, ferindo o seu sentimento, que gostava do silêncio e almejava um ambiente conventual mais contemplativo, mais dedicado a leitura e as orações. O certo é que, depois de ter vivido um Noviciado sereno no Carmelo, agora na Universidade, entrava numa profunda depressão e então, decidiu buscar outra solução para a sua vida, e começou a pensar seriamente em entrar na Cartuxa.

 

A Ordem Cartuxa é considerada a mais severa da Igreja Católica. É uma ordem semi-eremítica de clausura monástica e de orientação puramente contemplativa. Foi fundada no dia 15 de Agosto de 1084, Festa da Assunção de NOSSA SENHORA aos Céus, por São Bruno e seus seis companheiros. Os fundadores escolheram uma montanha ao norte de Grenoble Chartreuse, na França, onde construíram o seu Mosteiro, conhecido pelo nome de Mosteiro da “Grand Chartreuse” (a Grande Cartuxa).

 

CAMINHO DA VOCAÇÃO

No ano de 1567 ele cursava o terceiro ano na Universidade, quando o desacerto vocacional alcançou um grau mais elevado em seu espírito. Nesta época ele vivia no Convento de Salamanca e duas grandes personalidades cruzaram a sua vida: Padre João Batista Rubeo, que era o Geral da Ordem Carmelita e a Madre Teresa de Jesus (Santa Teresa D’Ávila). No mês de Fevereiro Padre Rubeo foi visitá-lo. O Geral era um homem de grande espírito, que realizava reformas e corrigia abusos com decisão e suavidade. Frei João observou suas palavras, escutou os seus argumentos, confrontou mentalmente os fatos e as promessas. Ao terminar a visita, fez um consciente balanço interior, e sentiu que o programa apresentado pelo Geral da Ordem, não lhe pareceu atraente, nem lhe oferecia garantias de revigoramento contemplativo, que desejava muito, e por isso, continuou com o mesmo descontentamento e com o mesmo desejo de ir para a Cartuxa.

Em Setembro ou Outubro do mesmo ano, encontrou-se casualmente com Santa Teresa D’Ávila (Madre Teresa de Jesus), em Medina. Frei João ficou muito impressionado com o entusiasmo e o notável projeto de vida apresentado por ela. Teresa tinha 52 anos de idade e bastante experiência no ambiente cristão, que a transformou numa pessoa aberta e decidida, nas realizações e iniciativas. Frei João tinha apenas 25 anos de idade, estava recém ordenado sacerdote, era tímido e inexperiente. Por seu lado, Madre Teresa lhe ofereceu um novo caminho, um projeto de vida comprovado e sugestivo, e comprometeu-se a lhe proporcionar todos os meios para ele alcançar os seus objetivos. Mas exigiu em troca, muita espiritualidade, compromisso firme e uma ampla capacidade de sacrifício. Frei João vibrou com uma imensa alegria interior, pois estava disposto a tudo, já era experimentado na oração e na penitência, na ciência e na bondade. Por isso, assumiu todas as implicações e incômodos de um começo, e fraternalmente impôs a Madre apenas uma condição: “a de que este projeto não demorasse muito”.

Na verdade, o projeto de Madre Teresa era fazer a Reforma do Carmelo, e com este objetivo, convidou Frei João com suas reconhecidas qualidades espirituais a participar. Ela queria a Ordem mais contemplativa, mais dedicada às orações e ao estudo bíblico, ao exercício das penitências mais severas, dilatando as possibilidades, para que o espírito fosse mais cultivado e acionado numa intensa e fervorosa busca de DEUS. Assim, com o pacto estabelecido, os dois começaram a Reforma do Carmelo entre os religiosos.

EM DURUELO

O lugar escolhido para começarem a elaborar os planos e as normas para a Reforma, foi o lugarejo de Duruelo, onde existia um grupinho de casas entre pinheirais, não longe de Fontiveros. Inauguraram os trabalhos no primeiro domingo do Advento, e mais precisamente no dia 28 de Novembro de 1568. E o tema central a ser discutido e aperfeiçoado era o espírito da Reforma: determinando ritmo intenso de oração, austeridade de vida, estilo de fraternidade e recreação, e também, moderada atividade pastoral. Trataram ainda de assuntos materiais: a casa, o hábito, os horários a serem observados, e o sustento de todos. E fundaram em Duruelo o primeiro Convento Carmelita Descalço para homens.

A Comunidade dos “Carmelitas Descalços” foi formada por Madre Teresa, Frei João e dois outros religiosos vindos também do antigo Carmelo: Padre Antonio de Jesus e Frei José de Cristo. Ao renovar a Profissão de Fé, Frei João de São Matias decidiu adotar o nome de “Frei João da Cruz”.

A vida em Duruelo corresponde ao projeto que elaboraram, firme, decidida e atenciosa, ultrapassando ligeiramente as previsões de Madre Teresa, em matéria de Oração e Penitência. Fizeram também um pacto de silêncio, pelo qual se comprometeram a não falar da experiência de Duruelo a ninguém (das graças recebidas, serviços prestados, sacrifícios), nem para os contemporâneos e nem para a posteridade.

Desde o início ficou bem definida a missão de João: ser o mestre dos noviços, formador espiritual e mistagogo (iniciador dos neófitos nos Mistérios) do Carmelo teresiano. Dos dez anos que se dedicou ao trabalho, cinco anos aplicou na formação dos Carmelitas Descalços e outros cinco anos na formação das Monjas Carmelitas. Depois organizou o Noviciado de Pastrana. Em Abril 1571 foi nomeado Reitor do primeiro Colégio da Reforma, em Alcalá de Henares. A convite de Madre Teresa, em Maio de 1572 mudou-se para Ávila, como Vigário e Confessor das Monjas do Mosteiro da Encarnação, nome escolhido por Santa Teresa D’Ávila, que era a Priora desde o ano anterior. Nesta ocasião ele completou 30 anos de idade.

É também nesta oportunidade que o convívio entre os dois chefes reformadores (João e Teresa) se tornou mais profundo e contínuo. Um mesmo projeto de vida e de vocação, de amizade e de serviço, unindo estes dois mestres da mística cristã: tão semelhantes e tão complementares.

Durante este período, no seio da Ordem do Carmelo se agravaram os conflitos jurisdicionais entre os Carmelitas Calçados e os Carmelitas Descalços, devido aos distintos enfoques espirituais referentes a Reforma. Por outro lado, além das divergências dentro da Comunidade Religiosa, avultava também a confrontação entre o poder da Realeza e o poder Pontifício, com a intenção de dominar o setor das Ordens Religiosas. Assim, em 1575, o Capítulo Geral dos Carmelitas decidiu enviar um visitador da Ordem para suprimir os Conventos fundados sem licença do Comando Geral da Ordem, ou seja, os Conventos fundados pelos "Reformadores",  e de colocar reclusa num Convento, Madre Teresa de Jesus.

PROBLEMAS EM TOLEDO

Aqueles que não aceitavam as Reformas, passaram a denominar os reformistas de “Rebeldes”. Esta divisão logo deu origem a certa intolerância, gerando constantes incidentes. O conflito entre os membros do antigo Carmelo e os da Reforma cresceu assustadoramente, ultrapassando limites e fronteiras e se enraizando de maneira apaixonada e cruel, nos corações mais endurecidos e renitentes. Um grupo de religiosos da antiga Ordem surgiu à noite do dia 3 de Dezembro de 1577, na pequena Casa da Encarnação (Mosteiro) e sequestraram João. Levaram-no por caminhos desconhecidos e às vezes com os olhos vendados, para o Convento de Toledo, a fim de ser julgado e castigado como “Rebelde”. Juridicamente tratava-se de um entre tantos outros fatos similares que aconteciam na vida religiosa e que estava previsto na legislação, como forma de castigo e punição para os infratores das Normas. Ninguém ficou sabendo do paradeiro dele, nem os irmãos e nem as autoridades civis. Trancaram-no num cubículo estreitíssimo, sem ar e nem luz. Ali passou um inverno e um verão, sofreu fome e sede, frio e calor, num ambiente sujo, com piolhos e sem trocar de roupa. Foi privado de todo consolo religioso e sacramental, recebendo castigos contínuos e também, a exigência de retratar-se publicamente, dizendo que abandonou a Reforma. E neste abominável castigo passou nove dolorosos meses.

Este tipo de castigo era denominado de “Cárcere Conventual”, no qual um religioso era designado “Carcereiro”, encarregado de vigiar, trazer a comida e acompanhar o preso, quando o mesmo tivesse que aparecer em público.

Consciente de todas as dificuldades que teria de enfrentar, colocou tudo nas mãos de DEUS, e dizia: “Estas coisas não são feitas pela força dos homens, mas pela permissão de DEUS, que sabe o que nos convém, o que é melhor para nós e as determina para o nosso bem”.

Com o castigo em pleno andamento, lá pelo mês de Maio ou Junho, mudaram o carcereiro, que passou a se mostrar mais benigno e amigável. Um dia, Padre João lhe pediu: ... “que lhe fizesse a caridade de lhe arranjar um pouco de papel e tinta, porque queria escrever algumas coisas devocionais para se entreter”. Foi-lhe trazido o que pediu. Então escreveu o poema do “Cântico Espiritual”, a “Fonte” e os “Romances”. Coisas devocionais e de entretenimento! Que palavras humildes e modestas! Na verdade, uma obra admirável, com o mais elevado lirismo espanhol!

Suportou heroicamente o castigo e nas oportunidades sempre afirmava: “que as graças que recebia compensavam com vantagem, os sofrimentos da prisão”. Portando-se com dignidade, em suas horas de solidão, escolheu o melhor momento para preparar a sua fuga, sem despertar qualquer suspeita. Não podia pedir auxílio e nem a ajuda de ninguém, pois estava totalmente incomunicável. Assim sendo, tinha que se decidir e agir por sua própria conta e risco. Esperou o momento certo. Numa noite entre os dias 16 e 18 de Maio de 1578, arrancou o ferrolho da porta e rasgou o próprio manto em muitas tiras, emendou-as e desceu por uma janela. Saltou o muro que separa o precipício do Rio Tejo, e fugiu para um local desconhecido. Fazendo perguntas aos transeuntes, chegou ao Convento das Carmelitas Descalças, que o esconderam durante algumas horas e depois, o encaminharam a um benfeitor da Comunidade Religiosa, onde ele permaneceu se restabelecendo e se preparando para viajar. Com a intervenção de Madre Teresa que tinha muita amizade com a Duquesa Alba, refugiou-se no Mosteiro de Jaén e se preparou a fim de poder continuar com sua missão.

 

 

Próxima Página

Página Anterior

Retorna ao Índice