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EXCESSIVA LIBERDADE NO CLAUSTRO

 

VIDA CONVENTUAL RELAXADA

No Mosteiro Carmelita, a vida conventual continuava do mesmo jeito, muito livre, ou seja, com liberdade para sair e o hábito de receber frequentes visitas a qualquer momento, o que causava muita movimentação e distração às Irmãs. Perdia-se muito tempo no locutório com as visitas que se sucediam e, quase sempre com conversas fúteis e as vezes, até inconvenientes. Ela aceitava aquela situação, por que via ser um costume utilizado pelas Irmãs e por isso, não fazia nada, e inclusive, participava com boa vontade. Para sua justificativa interior sobre a sua própria disposição de atender as visitas, ela raciocinava que não podendo trabalhar por causa da sua doença, ao menos tinha disposição para conversar com os visitantes.

Mas os conselhos de um Confessor a recomendou que se dedicasse mais a oração e a contemplação e, deixasse as visitas.

Certo dia, diante de uma imagem de JESUS Crucificado, com tristeza observava as chagas ensanguentadas do SENHOR. Então perguntou: “SENHOR, quem VOS colocou ai?” E no fundo do seu coração, com toda a nitidez, ela ouviu a resposta:“Foram as tuas conversas no locutório que me puseram aqui, Teresa”.

Ela chorou muito e a partir daquele momento, não mais perdeu tempo com conversas inúteis e amizades que na verdade não edificavam o espírito. E então, começou a planejar alguma ação para reverter aquela desagradável situação. Como o SENHOR havia lhe concedido o dom das lágrimas, e ela gostava de ler, voltou a desenvolver com grande prazer às leituras e passou a se confessar com mais frequência, tendo aquele livro (Terceiro Abecedário) como mestre.

Aprofundando-se nos estudos, alcançou uma evidente e clara distinção entre o Pecado Mortal e o Pecado Venial, e desse modo, compreendendo a natureza do Pecado, entendeu também em toda profundidade o Pecado Original, e por isso, se conscientizou com absoluta razão da necessidade da total sujeição do ser humano a DEUS.

Estas deduções a que chegaram o seu iluminado espírito, a tornaram mais observadora, a ver que aquele costume de muitas visitas que afluíam ao Mosteiro, do qual ela também tinha participado, essencialmente não era correto, embora considerando o lado humano da atenção recípocra que normalmente deve ser inquestionável. Mas eram muitas Freiras no Mosteiro e consequentemente, o movimento dos visitantes era muito grande e quebrava o silêncio necessário ao bom ambiente religioso e a contemplação, complemento valioso e necessário a oração.

Dizia Teresa: “É coisa muito sabida amarmos mais uma pessoa quando muito nos lembramos das boas obras que nos faz. Pois, se é lícito e tão meritório procedermos assim, de modo idêntico, deve ser normal lembrarmos sempre que DEUS nos criou do nada e nos sustenta na vida, e não nos esquecermos, sobretudo, de todos os preciosos benefícios da Sua morte, da Sua Obra Redentora, das Graças que nos concede e dos Ensinamentos que realizou muito antes de nos criar. Então, por que não será lícito reconhecer, ver e considerar que muitas vezes costumamos falar das vaidades do mundo e agora, me concedeu o SENHOR, na vida religiosa, que eu queira falar somente DELE? É através da Oração que conversamos com DEUS. E a Oração é uma jóia que nos foi dada, e que, portanto, todos nós a possuímos e devemos usá-la por que forçosamente ela nos convida a amar. E raciocinando assim é fácil compreender, que o nosso amor a DEUS que cultivamos através da oração, se expressa e se concretiza através da nossa prece rezada com atenção, com mais amor e na humildade”.

Irmã Teresa passou a analisar e observar o efeito e as consequências de ser cultivado o frequente relacionamento com pessoas externas, com conversas sobre variados assuntos, seja a nível de trabalho, seja por amizade. Ela percebeu as fendas que podiam ser abertas e por onde satanás poderia entrar e envenenar o relacionamento pessoal, além de constituir séria distração, que sem dúvida, interferiria na concentração religiosa. Por isso mesmo, embora exercitando o fraterno entendimento com o exterior, já pisava o terreno com muito cuidado e certo dia, quando surgiu um relacionamento que aparentemente parecia bom e normal, NOSSO SENHOR lhe fez entender que não convinham aquelas amizades, avisando-a do perigo e iluminando a sua cegueira. CRISTO surgiu diante dela com tamanho rigor, que a fez entender o que aquilo LHE pesava. Ela viu o SENHOR com os olhos da alma, perfeitamente nítido, com toda clareza, mais visível que se O estivesse vendo com os olhos do corpo. NOSSO SENHOR ficou tão impresso na sua mente que vinte e seis anos depois, ela tinha a feliz impressão de que ELE ainda permanecia diante dos seus olhos. Teresa ficou tão espantada e tão perturbada que não quis nunca mais ver a tal pessoa com quem conversava. Ela disse:

“Compreendi tudo ouvindo estas palavras: “Já não quero que tenhas conversações com homens, senão com Anjos”. “A mim isto me causou muito espanto, porque o movimento da alma foi grande e em espírito me foram ditas estas palavras e por isso me atemorizei, embora, por outra parte, me desse grande consolo. A meu parecer, isso foi causado pela novidade. E o fato se cumpriu muito bem, pois nunca mais tenho podido construir amizades, nem ter consolação, nem amor particular, senão com as pessoas que percebo que têm DEUS e aqueles que procuram servi-LO. Se não entendo isto, é para mim uma cruz penosa tratar com alguém. Nem tenho vontade sobre isso, mesmo que sejam parentes ou amigos. Este é, sem dúvida, o meu parecer. Desde aquele dia fiquei tão fervorosa em deixar tudo por DEUS, que não foi necessário que ELE me ordenasse outra vez”.

Ela completou: “Vi claramente que em muitas daquelas visitas, embora eu de fato estivesse muito enferma, era a tentação do demônio que estimulava a minha frouxidão. Desde que não ando com tantos cuidados e não sou tão amimada, tenho muito mais saúde e mais disposição para compreender e ver a realidade”.

No ano de 1556, algumas pessoas que não concordaram com a decisão dela, imaginaram que este conhecimento revelado a Teresa fosse de origem diabólica. Ela ficou muito aborrecida e triste com aquele boato e, se fechou num profundo silêncio passando a exercitar diversas flagelações e vários tipos de mortificações, suplicando ao SENHOR a luz do entendimento. Nesta época, o seu Confessor, o jesuíta Padre Francisco de Borja, depois de longa conversa com ela e de uma profunda análise dos fatos, lhe assegurou que na verdade, ela teve uma Divina inspiração.

 

MAIOR ATENÇÃO E FERVOR NAS ORAÇÕES

Nas suas orações e meditações, Teresa procurava aperfeiçoar sua conduta pessoal e suas próprias decisões, buscando encontrar equilíbrio perfeito que lhe favorecesse e lhe possibilitasse um maior grau de fervor amoroso a NOSSO SENHOR. E nesta procura, o CRIADOR presenteando o seu esforço e sua boa vontade, lhe propiciou acontecimentos variados que não deixavam dúvida de que provinham de DEUS. Seja avisando-a de alguns perigos para ela e para outras pessoas, de fatos que estavam para ocorrer, sendo que muitos deles ocorreram em três ou quatro anos, os quais, na época certa, todos se cumpriram, assim como, anúncios de acontecimentos que ocorreriam no presente.

Rezava com frequência aos Santos da sua devoção, inclusive fazendo novenas a Santo Hilário e a São Miguel Arcanjo, para que a livrasse do demônio, suplicando-lhes que conseguisse do SENHOR DEUS esta preciosa graça. Depois de dois anos de muita oração aconteceu um fato surpreendente. Conta Irmã Teresa:

 

JESUS AO SEU LADO

“Estando em oração no dia da festa do glorioso São Pedro, 29 de Junho de 1559, de repente senti CRISTO junto de mim. Digo assim, por que nem com os olhos do corpo e nem com os da alma não conseguia vê-LO. Mas me parecia que ELE estava ali junto de mim. Não sabia o que fazer, estava com grande temor e chorei. ELE me disse apenas uma palavra e foi o suficiente, fiquei tranquila e sem medo. Tive que realizar os meus afazeres. ELE parecia andar sempre ao meu lado. E como era uma visão imaginária, eu não via JESUS, mas sentia muito claramente Sua Presença ao meu lado direito e ELE era testemunha de tudo quanto eu fazia. E mesmo que eu me distraísse realizando algum serviço, ELE continuava ali, junto de mim. E assim permaneceu até o entardecer”.

Para a sua maior certeza e convicção de que realmente era JESUS quem estava ao seu lado, DEUS NOSSO SENHOR concedeu-lhe a virtude de apreciar visões que lhe aconteceram de modos variados,  diversas vezes, durante mais de dois anos ininterruptos. Numa visão o SENHOR quis que ela visse o Anjo enviado. Não era grande, mas pequeno, formoso ao extremo, com o rosto tão abrasado, que parecia um dos Anjos mais sublimes da Corte Celeste. Descreve Irmã Teresa:

“Deve ser dos Anjos que chamam Querubins, pois no Céu há tantos Anjos que é difícil dizer. Vi na sua mão um dardo de ouro comprido e, no fim da ponta de ferro, me parecia que havia um pouco de fogo. Ele me cravava o dardo no coração seguidas vezes, o qual chegava às minhas entranhas. Ao tirá-lo, dir-se-ia que as levava consigo, e me deixava toda abrasada em grande amor de DEUS. Era tão intensa a dor, que me fazia gemer e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandíssima dor, que não podia desejar que terminasse, nem a minha alma se contentava com menos por que sabia que era de DEUS. Não era dor corporal, mas espiritual, embora o corpo não deixasse de sofrer a sua parte, e até muita. Isto me aconteceu algumas vezes, quando o SENHOR queria que me viessem estes arroubamentos, tão grandes eram, que até mesmo estando entre muitas pessoas, não lhes podia resistir, e assim, com muita pena minha, muita gente viu e começaram a divulgar estes fatos”.

Nestas ocasiões, Teresa ficava em profundo êxtase.

 

A ESCURIDÃO DAS TREVAS INTERIORES

Por volta do ano 1560, estando Teresa com 45 anos idade, ocorreu uma grande virada na sua vida. Depois das muitas aflições interiores, dos seus escrúpulos, daquilo que a mística denomina “noite escura” ou “trevas interiores”, que são terríveis provas que a alma deve superar, ela alcançou a misericórdia infinita e carinhosa do SENHOR, pois aconteceu o encontro iluminador com o Padre franciscano Frei Pedro de Alcântara, que passou a ser o seu diretor espiritual.

 

O CONFESSOR FREI PEDRO DE ALCÂNTARA

Ela já tinha ouvido muitos bons comentários a respeito dele. Soube que ele na sua busca de maior concentração espiritual para suportar as tentações, durante 20 anos usou continuamente um cilício feito com folhas de lata. E também, como bom franciscano, cumpria fervorosamente com todo rigor a primeira Regra da Ordem fundada pelo bem-aventurado São Francisco de Assis. E desse modo, não foi difícil um franco entendimento entre os dois. Frei Pedro logo ficou sabendo das necessidades dela, pois foi testemunha das aflições que ela sentia e a consolava com sabedoria.  Era tanta a sua fé que não podia deixar de crer que era o espírito de DEUS que lhe visitava, enquanto os outros diziam ser o demônio. Teresa lhe descreveu com muita clareza a sua vida e a maneira como procedia na oração. Frei Pedro ouviu e depois lhe deu uma excelente orientação, porque pelo menos nas visões que não eram imaginárias, ela não entendia o que podia ser aquilo, e, nas que via com os olhos da alma, tão-pouco compreendia como podia acontecer. Somente aquelas que se vê é que logicamente ela não teria qualquer dificuldade, mas estas eram poucas.  Este santo homem lhe deu uma grande luz e lhe explicou como funcionavam aquelas manifestações sobrenaturais. Depois, quando ele estava distante, eles combinaram: ela lhe escreveria tudo o que acontecesse de novo.

 

AS INCESSANTES TENTAÇÕES

E na busca de esclarecimento e tranquilidade, dizia Teresa: “Não me fartava de dar graças a DEUS e ao glorioso Pai São José, pois me pareceu que foram ELES quem trouxeram aquele homem, porque, Frei Pedro de Alcântara era Comissário Geral da Custódia de São José na cidade. E a São José eu sempre me encomendava muito, assim como a NOSSA SENHORA, nossa querida Mãe”.

“Os meus problemas pessoais, causavam muita confusão ao meu espírito, e eu sofria muito. Acontecia-me algumas vezes, e ainda agora me acontece, embora não tantas, estar com grandíssimos trabalhos de alma e ao mesmo tempo com tormentos e dores no corpo, devido aos meus fortes problemas de saúde. Outras vezes tinha males corporais muito graves e, como não tinha os da alma, passava-os com muita alegria. Mas, quando era tudo junto, a situação ficava difícil, era tão grande trabalho que me via na maior aflição. Eu até me esquecia, ou ficavam ocultas no meu cérebro as maravilhosas graças que o SENHOR muitas vezes me havia proporcionado”.

“A tentação diabólica surgia de diferentes maneiras, até como meio de travar algum acontecimento. Recordo-me que num dia antes da véspera de CORPUS CHRISTI, o ataque do maligno durou só um dia, diferente de outras vezes quando duraram oito dias, quinze e até três semanas. E acontece assim: o demônio prende de repente o meu entendimento, que embora com coisas ridículas, o faz transtornar tudo o que ele quer. A alma fica aferrolhada, sem ser senhora de si, sem poder pensar outra coisa mais que nos disparates que ele lhe representa, não conseguindo se livrar do seu poder. Não se pode dizer que neste caso eu venha a padecer. O demônio busca amparo para conseguir seus objetivos e DEUS permite em parte, naquilo que posteriormente pode ser revertido em benefício da alma que se portar com dignidade. Mas deixemos isto e, vamos abordar um caso mais concreto que me aconteceu numa noite de Finados. Estando num Oratório, rezava umas orações que estão no fim do nosso Breviário, em benefício das almas. Surgiu um demônio sobre o livro, me impedindo de rezar. Eu benzi, fazendo o sinal da Cruz, ele desapareceu. Recomeçando a rezar, ele voltou, e assim, aconteceram três vezes. Enquanto não lhe joguei água benta, ele permanecia ali não permitindo que eu rezasse. Quando joguei água benta ele sumiu e pude terminar as orações. E no mesmo momento, vi que saíram algumas almas do Purgatório, às quais deviam faltar pouco para saírem de lá e irem para o Céu, e pensei que era isto o que o demônio pretendia estorvar, ou seja, impedir as minhas orações em benefício delas, para que elas continuassem no Purgatório. Poucas vezes vejo o demônio em forma corporal e, muitas vezes, sem forma nenhuma, como nesta visão em que, eu sentia claramente que ele estava ali”.

 

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