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“ATANÁSIO OPERÁRIO FIEL”

 

Atanásio nasceu na Alexandria, no Egito, no ano 295 e morreu no dia 2 de Maio de 373, com 78 anos de idade, também na Alexandria, depois de uma longa e conturbada existência.

Era um homem apologista e lutador incansável contra a heresia ariana que se difundia com muitos adeptos querendo impor uma abominável doutrina, que negava a Divindade de JESUS.

Por seus conhecimentos, ortodoxia e convicção doutrinária é considerado um Doutor da Igreja. Assim, pelo valor de seus conhecimentos e brilhante oratória, passou a ser reconhecido pela Igreja como integrante de um pequeno número de Padres, que são respeitados e louvados até os nossos dias. A Igreja Bizantina venera três doutores: São Basílio Magno, São Gregório Nazianzeno (Gregório de Nazianzo) e São João Crisóstomo. A Igreja Latina acrescentou um quarto membro a mencionada relação dos Padres Orientais que são Doutores da Igreja: Santo Atanásio e acrescentou também, mais cinco Padres Ocidentais: São Tomás de Aquino, Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e São Gregório Magno. Estes são os oito grandes Doutores da Igreja.

Pouco se sabe da infância de Atanásio. Entretanto, quanto a sua formação, Gregório de Nazianzo afirma que ele dedicou pouco tempo às letras profanas, apenas o suficiente para aprender alguns idiomas mais usados na época: o copta, o koiné e o grego clássico. Mas desde criança foi nutrido pelos seus pais, nos hábitos e nas disciplinas cristãs. Cresceu no centro cosmopolita de Alexandria, uma cidade egípcia onde proliferavam cristãos fiéis, arianos e melecianos. Os judeus viviam num gueto, ao lado dos pagãos adoradores do deus grego-egípcio “Serápis”, misturado aos hereges maniqueus e gnósticos.

Atanásio converteu-se ainda jovem ao cristianismo, pois com 17 anos de idade, foi convidado pelo Bispo Alexandre, Patriarca da Alexandria, para ocupar na Diocese o cargo de Leitor. No ano 318, com 23 anos de idade, tornou-se Diácono e Secretário Episcopal. Nesta época a heresia ariana inflamava toda a Alexandria. Atanásio apoiou incondicionalmente o seu Bispo Alexandre, que governou o patriarcado do Egito de 312 a 328.

Àrio era sacerdote de uma importante Igreja Católica na Alexandria e fundamentado no estudo mal orientado, implantou a “heresia ariana” que podemos sintetizá-la da seguinte forma: “O VERBO (JESUS) não é eterno e nem tem a mesma natureza do PAI. Foi criado no tempo por DEUS PAI. Só por “metáfora” é que LHE chamamos de FILHO DE DEUS”(ou seja, fundamentando-se numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado). Àrio e seus discípulos separam, assim, o FILHO do PAI, afirmando que o FILHO não existia antes de ter sido gerado pela VIRGEM MARIA. E que, portanto, JESUS, o FILHO, não é “coeterno”, ou seja, não existia com o PAI desde sempre, antes dos séculos. Segundo Ário, o FILHO apenas é colocado como a primeira e mais sublime das criaturas, uma espécie de “segundo deus”, mas é alheio ao PAI quanto à essência. Esta terrível doutrina destruía a Divindade de JESUS e a SANTÍSSIMA TRINDADE.

Com sua teoria, ele ameaçava a fé autêntica em CRISTO JESUS, declarando que o LOGOS não era verdadeiro DEUS, mas um DEUS criado, um ser "intermediário" entre DEUS e o homem, e assim o verdadeiro DEUS permanecia sempre inacessível a humanidade.

O CONCÍLIO DE NICÉIA

O arianismo cresceu e estava provocando divisão no Império Romano. Por esse motivo, o Imperador Constantino convocou um Concílio para a cidade de Nicéia, com o fim de acabar com a controvérsia e costurar a unidade política do Império.

Atanásio, ainda Diácono, acompanhou o seu Bispo Alexandre ao Concílio, na qualidade de Secretário pessoal.

O evento se prolongou entre o dia 20 de Maio a 25 de Agosto de 325, e foi presidido pelo Imperador Constantino, embora ele não fosse batizado e não tivesse nenhuma formação religiosa. Sua intenção era política, ou seja, ele queria criar uma formula que pacificasse e unisse as Igrejas do Oriente e do Ocidente, para que não houvesse nenhuma interferência na unidade do Grande Império Romano. No Concílio, os 250 Bispos presentes discutiram sobre três questões chaves: as teses arianas, o cisma meleciano e a questão pascal.

Os leigos não tinham direito a palavra. Foi então que surgiu a figura de Atanásio. Qual o seu papel e seu lugar neste Concílio? Sua idade e sua condição não lhe permitiam ter qualquer função de primeiro plano, mas junto com o seu Bispo e em nome dele, falou, argumentou e atuou decisivamente para que a fórmula do Credo que afirma a “consubstancialidade” do FILHO com o PAI fosse aceita. Com sua admirável eloquência e força de persuasão entrou em cena, de modo que os melecianos e arianos começaram a temê-lo. E embora fosse apenas Diácono, surpreendeu aos Padres Conciliares pelo seu talento nas discussões teológicas e seu profundo conhecimento das Sagradas Escrituras. Assim, os Bispos reunidos em Nicéia responderam de modo firme, preparando e fixando o "Símbolo de fé" que passou a ser conhecido como “Credo de Nicéia”, que foi completado mais tarde no primeiro Concílio de Constantinopla, e permanece na tradição das diversas confissões cristãs e na liturgia católica como o “Credo niceno-constantinopolitano”. O texto expressa o fundamento da fé da Igreja indivisa, e hoje ele é recitado com frequência nas Celebrações Eucarísticas. No texto grego encontra-se a palavra “homooúsios”, que em latim significa “consubstantialis” e em português: “Consubstancial”, que quer indicar que o FILHO JESUS, o LOGOS, é "da mesma substância do PAI, é DEUS de DEUS, é a sua substância, e assim é posta em realce a plena Divindade do FILHO JESUS, que é negada pela heresia ariana.”

Desse modo, o “Credo de Nicéia” passou a ser o marco da ortodoxia (da fidelidade cristã) e por decisão imperial, o heresiarca Ário foi exilado.

Todavia, apesar do inequívoco êxito do Concílio, que afirmou com clareza que o FILHO é da mesma Substância do PAI, pouco depois, aquelas idéias erradas de Ário voltaram a prevalecer e o heresiarca até foi reabilitado e suas teses foram defendidas por motivos políticos, pelo próprio Imperador Constantino e depois pelo seu filho Constâncio II. Aliás, o Imperador Romano não se interessava pela verdade teológica, e por isso era indiferente à realidade da fé, o que lhe interessava era manter a unidade do Império sufocando todos os problemas políticos. Desse modo, pretendia politizar a fé, tornando-a mais acessível segundo a sua opinião, a todos os seus súditos no Império.

OS HERESIARCAS MELECIANOS

Durante a perseguição promovida por Diocleciano (302-305) e Décio (306), vários bispos e religiosos abandonaram as suas sedes, igrejas e paróquias, em busca de refúgio. Um destes foi o Patriarca Pedro I estabelecido na Alexandria. Melécio, aproveitando-se da sede vaga, deixou Licópolis e se apossou do Patriarcado de Alexandria. Com o fim das perseguições, Pedro retornou à sua diocese e convocou um Concílio de Alexandria em 306 que depôs Melécio, sob a acusação dele se apropriar do episcopado de Alexandria e de ser um “lapsi” (apóstata), por que abjurara a fé cristã durante as perseguições de Diocleciano. Melécio foi afastado com seus seguidores, formando uma legião de heresiarcas.

EPISCOPADO DE ALEXANDRIA

No dia 17 de Abril de 328, depois de ter indicado Atanásio para lhe suceder na Diocese, o Bispo Alexandre morreu. Os arianos e melecianos procuraram contestar a escolha de Atanásio empreendendo uma ferrenha oposição. Mas o clero e o povo ratificou a escolha com entusiasmo. Todavia, os quarenta e seis anos do episcopado de Atanásio (de 328 a 373) foi um dos períodos mais conturbados da história da Igreja antiga, em que ele lutou contra o heresiarca Ário e seus correligionários, contra os cismáticos melecianos e contra o Imperador Constâncio, tendo sido exilado cinco vezes por ordem do Imperador Romano, por sua intransigência e firmeza no cultivo da fé ortodoxa, do direito, da justiça e do amor fraterno.

A crise ariana, que se pensava estar resolvida em Nicéia, continuou por decênios, com vicissitudes difíceis e divisões dolorosas na Igreja. E como já foi mencionado, por cinco vezes ao longo de trinta anos, entre os anos 336 e 366, Atanásio foi obrigado a abandonar a sua cidade, passando 17 anos no exílio e sofrendo pela fé. Mas durante as suas forçadas ausências de Alexandria, o Bispo também teve a oportunidade de defender e difundir no Ocidente, primeiro em Trier e depois em Roma, a fé iluminada no Concílio de Nicéia e inclusive, os ideais do Monaquismo (pessoas que deixam o mundo e abraça somente a religião, monges, monjas), seguido no Egito pelo grande eremita Antão com uma opção de vida à qual Atanásio sempre esteve próximo. Por outro lado, Santo Antão, com a sua força espiritual, era a pessoa mais importante na defesa da fé de Santo Atanásio.

Instalado de novo e definitivamente na sua sede, depois do último cativeiro, Santo Atanásio, Bispo de Alexandria, pôde dedicar-se à pacificação religiosa e à reorganização das comunidades cristãs. Faleceu a 2 de Maio de 373, data em que a Igreja celebra liturgicamente a sua memória.

SUAS OBRAS

Embora, em face das circunstâncias, levasse uma vida de peregrino, de exílio em exílio, os aborrecimentos e vicissitudes não lhe impediram de escrever numerosa obra. Ele encontrava tempo e uma admirável interiorização no meio de tantas tribulações e de uma vida agitada, para redigir tantas obras que exige calma, tempo e reflexão. Consideradas no seu conteúdo a obra do grande Doutor Alexandrino pode ser dividida em Tratados Dogmáticos, Polêmicos, Históricos, Morais e Exegéticos, sem que as citadas divisões sejam absolutamente rigorosas. Ou seja, acontece encontrar num Tratado Dogmático, assuntos Polêmicos ou Históricos e até Morais ou Exegéticos. Todavia, a maior parte de sua obra está relacionada com a defesa do “Credo de Nicéia” , ou seja, a defesa da “consubstancialidade” e consequentemente da Divindade do VERBO. Aliás, o Tratado que ele escreveu sobre a Encarnação do VERBO, JESUS, o LOGOS Divino que se fez carne tornando-se como nós para a nossa salvação, é a sua obra mais famosa. Atanásio nesta obra faz uma afirmação que se tornou célebre, dizendo que o VERBO DE DEUS "se fez homem para que nos tornássemos deuses; ELE (JESUS) fez-se visível no corpo para que tivéssemos uma idéia do PAI invisível, e ELE próprio suportou a violência dos homens para que nós herdássemos a incorruptibilidade". De fato, a Ressurreição de NOSSO SENHOR JESUS fez desaparecer a morte. A idéia fundamental de toda a luta teológica de Santo Atanásio era precisamente a de que DEUS é acessível. Não é um DEUS secundário e nem distante, é o DEUS Verdadeiro, e através da nossa comunhão com CRISTO podemos unir-nos realmente ao DEUS ETERNO. Assim, JESUS DE NAZARÉ tornou-se verdadeiramente o "DEUS conosco".

Entre as obras deste grande Padre da Igreja que em boa parte permanecem ligadas às vicissitudes da crise ariana, recordamos as quatro cartas que ele enviou ao seu amigo Serapião, Bispo de Thmuis, durante o seu terceiro exílio no deserto de Tebaida (356-362). O assunto das cartas é sobre a Divindade do ESPÍRITO SANTO, em que, com determinação, argumenta solidamente afirmando a Divindade do Santo Paráclito. O Bispo, seu amigo, levou ao seu conhecimento, o problema que estava ocorrendo: grupos avessos estavam ensinando no Egito, na Ásia Menor e em Constantinopla a heresia: “que o ESPÍRITO SANTO era uma entidade celeste pouco superior aos Anjos; que o ESPÍRITO SANTO não era DEUS, mas uma Criatura feita pelo PAI por meio do FILHO. Isto porque, se fosse aceita a sua processão (procedência) da Substância Divina do PAI, ter-se-ia que concluir que ELE, o ESPÍRITO SANTO, também era FILHO de DEUS, e que, portanto, o FILHO JESUS tendo um irmão, não é mais o Unigênito”.

Esta doutrina errônea foi denominada jocosamente pelos ortodoxos de “doutrina dos pneumatômacos” e foi combatida tenazmente por Atanásio, que expôs o seu pensamento respondendo em quatro cartas a Serapião. Ele começa fornecendo os notáveis atributos que o ESPÍRITO SANTO tem e que a Bíblia enumera com ênfase: Único, Imutável, Onipotente, Eterno, Criador, Santificador, Vivificante, etc., evidenciando que estes dons não podem ser absolutamente predicados de uma simples criatura. Então o ESPÍRITO SANTO é alguém além das criaturas e demonstra que ELE é próprio do FILHO e não estranho a DEUS PAI. “Se, pois o FILHO, porque tem origem no PAI, é próprio da Substância Divina, necessariamente também o ESPÍRITO, que é dito por DEUS, é realidade própria do FILHO segundo a Substância Divina. O ESPÍRITO não está fora do LOGOS (FILHO) , mas está no LOGOS e, através Deste, em DEUS”. Seguindo um silogismo teológico, enquanto equipara o ESPÍRITO ao FILHO, une-O estritamente ao PAI, sendo este, o PAI, por sua vez, idêntico ao FILHO que gerou de SI, de tal modo que: “O ESPÍRITO é com razão dito ESPÍRITO DO PAI, procede do PAI, está no PAI e participa da mesma realidade Divina do PAI”. Nas quatro cartas, Atanásio defende a plena Divindade do ESPÍRITO SANTO contra a “doutrina dos pneumatômacos”, também denominada de “doutrina macedônia”, e assim, ele vai formulando o esquema do Dogma Trinitário. Modernamente não existe nenhuma duvida na afirmação teológica de que o FILHO procede do PAI e o ESPÍRITO SANTO procede de ambos.

Atanásio escreveu também as denominadas “Cartas Festivas”. Era costume, naquela época, no inicio de cada ano, os Bispos escreverem as suas Igrejas, estimulando a união e fidelidade dos cristãos. Ele escreveu cerca de trinta cartas, dirigidas no início do ano às Igrejas e aos Mosteiros do Egito para indicar a data da festa da Páscoa, e, sobretudo, para garantir os vínculos entre os fiéis, fortalecendo a fé e preparando-os para a grande solenidade da Paixão, Morte e Gloriosa Ressurreição de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

SANTO ANTÃO

Atanásio escreveu ainda, muitos textos meditativos sobre os Salmos, que foram bastante difundidos e, sobretudo, foi o autor de uma obra que se constituiu na grande novidade da antiga literatura cristã: “A Vida de Santo Antão” . É a biografia do Abade Antão, escrita pouco depois da morte dele, precisamente quando ele, o Bispo de Alexandria, estava exilado, vivendo com os monges no deserto egípcio. Atanásio foi amigo do grande eremita, a ponto de receber dele como herança, uma das duas peles de ovelha deixadas por Antão, juntamente com a capa que o próprio Bispo de Alexandria lhe tinha oferecido de presente em certa ocasião. A obra teve uma excelente aceitação e depressa se tornou muito popular. Foi traduzida quase imediatamente para o latim, por duas vezes, e depois, foi traduzida em diversos idiomas orientais. A biografia desta figura exemplar e muito querida contribuiu efetivamente para a difusão do Monaquismo (pessoas que deixam o mundo e abraça somente a religião, como os monges e as monjas), no Oriente e no Ocidente.

Não por acaso que a literatura deste texto, em Trier, está no centro de uma emocionante narração da conversão de dois funcionários imperiais, que Santo Agostinho colocou no seu livro Confissões (VIII, 6, 15) como premissa da sua própria conversão. De resto, o próprio Atanásio mostra ter uma consciência clara da influência que a figura exemplar de Antão podia ter sobre o povo cristão. De fato escreve na conclusão da sua obra: "Que fosse conhecido em toda a parte, por todos admirado e desejado, até por quantos não o tinham visto, é um sinal da sua virtude e da sua alma amiga de DEUS. De fato, Antão não é conhecido pelos escritos nem por uma sabedoria profana nem por qualquer capacidade, mas só pela sua piedade em relação a DEUS. E ninguém poderia negar que isto é um dom do próprio DEUS. De fato, como se teria ouvido falar na Espanha e na Gália, em Roma e em África deste homem, que vivia retirado entre os montes, se o SENHOR DEUS não tivesse dado a conhecer em toda a parte, como ele faz com quantos lhe pertencem, e como tinha anunciado a Antão desde o princípio? E também, se estes agem no segredo e desejam permanecer escondido, o SENHOR mostra-os a todos como um lampadário, para que quantos ouvem falar deles saibam que é possível seguir os Mandamentos e se sintam encorajados a percorrer o caminho da virtude" (Vida de Antão 93, 5-6).

Para um melhor conhecimento sobre o Santo eremita, resumimos a seguir o livro sobre a sua vida, escrito por Santo Atanásio.

 

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