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ABRASADO PELO AMOR DIVINO

 

A FORÇA DA GRAÇA DE DEUS

Chegou ao Convento de Manfredônia no entardecer daquele dia, levou os burros para a estalagem, entregou os barris de vinho e logo foi procurar o Frei Guardião. Ainda emocionado e transbordando de amor, em face de todos os acontecimentos, logo que encontrou Padre Francisco, perguntou-lhe se podia vestir o hábito franciscano, não somente para se proteger do frio. Respondeu o religioso: “Assim, de repente, Camilo? Não parece que está exagerando? São passos que devem ser dados com calma e ponderação. Afinal, você está entre nós há pouco mais de um mês”.

Respondeu Camilo:- “Mas eu já estou vestindo o hábito de vocês: não vê Padre? Agora, quero me tornar, em tudo e por tudo, como um de vocês”.

- “Nenhum problema, meu filho. Se você tem vocação, seremos todos muito felizes por acolhê-lo, e juntos louvaremos o SENHOR por esta sua conquista e também nossa conquista. Mas preciso estar seguro de seu interesse, é necessário um pouco de tempo para resolver. Também, agora, os superiores não podem ser consultados, porque estão ocupados em preparar o Capitulo Geral, que será realizado no tempo de Pentecostes. Você pode permanecer aqui, levar a nossa vida, respeitar a regra como um de nós, rezar muito e pedir luz ao SENHOR, para você e para nós. Na ocasião oportuna, voltaremos a conversar”.

O velho soldado, ou seja, o Camilo de anos anteriores, com certeza teria protestado e insistido. O Camilo atual, o novo Soldado de CRISTO, obedeceu humildemente e despedindo-se, foi para o seu trabalho.

Os dias passaram e a transformação de Camilo era evidente e observada por todos os religiosos, inclusive pelo Guardião Padre Francisco. Chegava sempre pontual aos eventos da Comunidade, rezava com empenho, fervor e recolhimento, fez uma escrupulosa confissão e participava da Santa Missa todos os dias e aos domingos comungava como era permitido ao religioso leigo. Era muito mais dedicado ao trabalho e atencioso com todos, mais paciente, disponível e muito mais gentil.

NOVIÇO DE SÃO FRANCISCO

No inicio de Junho de 1575, chegou ao Convento de Manfredônia o Padre Jerônimo de Montefiore, que foi eleito Superior-Geral dos capuchinhos no Capitulo Geral realizado no dia de Pentecostes, mencionado anteriormente. Os irmãos religiosos se anteciparam e disseram das qualidades notáveis de Camilo. De modo que quando o próprio Camilo procurou o Padre Superior para fazer a sua solicitação de entrar definitivamente na Comunidade religiosa, o Padre Jerônimo pode constatar pessoalmente que os elogios feitos ao jovem aspirante não tinham sido generosos, e por isso, não só acolheu o pedido dele, mas o destinou ao sacerdócio. Humilde e modestamente Camilo havia declarado que queria permanecer um simples irmão leigo. Mas o Padre Jerônimo disse que confiava nele e que ele não se preocupasse com o problema do pé, porque o SENHOR tinha solução para tudo.

Enviou o aspirante no dia seguinte para a Comunidade de Trivento, em Molise, para fazer o noviciado. Na viagem de mais de cem quilômetros, a pé, caminhando entre as matas, pouco faltou para ele morrer afogado nas águas pouco confiáveis do rio Biferno, onde tinha dado um mergulho para se refrescar, se não fosse à intervenção do seu Anjo da Guarda. Ele nunca se esqueceu deste fato, e a partir daquele dia invocava o seu Anjo com muito fervor e confiança, especialmente durante as suas frequentes viagens. Em Trivento, tudo correu às mil maravilhas, como o Padre Jerônimo lhe havia predito, e, em algumas semanas logo vestiu o hábito de São Francisco. Era outro homem: cheio de serenidade, de entusiasmo, de vontade de fazer o bem e de perseverar no caminho do direito, sepultando o passado num profundo esquecimento.

Depois de receber o hábito, foi para o Convento de Torremaggiore, novamente na Puglia, perto de São Severo, para completar o noviciado. Lá, Camilo rezou intensamente, aprofundando-se no espírito da regra franciscana, fazendo penitência e trabalhando duro no serviço da Comunidade, fazendo os trabalhos mais humildes e cansativos. Tanto, que os irmãos, pelo comportamento edificante e pelo seu bom exemplo, deram-lhe o apelido de “Frei Humildade”.

O PROBLEMA DA FERIDA NA PERNA

Começava o final do outono e Camilo chegava ao termino do seu noviciado, quando, um dia, de repente, a ferida no tornozelo do pé direito começou a se inflamar, doer e logo em seguida, a sangrar. Ele não parava um instante, sempre em atividade, dentro e fora do Convento, e assim, o hábito áspero roçava continuamente a ferida, fazendo-a inchar e sangrar. A cada dia piorava mais. Ele procurava esconder, mas os irmãos não podiam deixar de perceber. Em meados de Outubro, Padre João Maria de Tusa, Provincial da Puglia o chamou e lhe disse:

- “Caro Camilo, todos esperávamos que sua ferida não se reabrisse, mas infelizmente aconteceu. Você sabe que as Ordens Religiosas exigem pessoas sadias, robustas e eficientes. Você é um homem forte, mas o seu problema não pode ser descuidado, você precisa se curar com urgência. Quando tiver recuperado a saúde, estará então apto a dar os passos tão importantes para os quais se sente chamado por DEUS”.

Triste e ansioso, Camilo abaixou a cabeça. Reprimiu o tumulto que se desencadeou no seu coração, porque não podia reclamar e nem se opor sem ceder à desobediência, também ao orgulho e sem faltar com a humildade. Por isso, respeitosamente disse em voz baixa: “Como quiser Padre. Irei logo a Roma e voltarei ao São Tiago para me curar novamente. Tenho fé no SENHOR e sei que desta vez me ajudará a curar completamente. Quero voltar para completar o meu noviciado e ser sacerdote”.

Dando-lhe a bênção, o Superior lhe garantiu que ele será recebido na volta, com o mesmo amor e amizade de todos.

Camilo chegou a Roma na segunda quinzena de outubro de 1575 e aproveitando o clima do Ano Santo, se preocupou em exercitar uma intensa atividade espiritual, visitando o tumulo dos Apóstolos e frequentando as diversas Basílicas, suplicando as graças e a proteção Divina. Atraído pelo fervor espiritual, passou a frequentar o Grupo do Oratório, fundado há poucos anos antes, por São Felipe Neri, grande líder da reforma católica. E na continuidade, escolheu o próprio fundador como o seu Confessor, de quem recebeu muitos conselhos e instruções para o seu amadurecimento cristão, e que foram muito benéficos ao longo de sua existência. E depois desta preparação inicial, Camilo quis se internar no Hospital São Tiago dos Incuráveis, com o objetivo de sarar o mais rapidamente possível e voltar ao Convento. Assim no dia 23 de Outubro se internou novamente no grande Hospital.

SEGUNDA INTERNAÇÃO NO HOSPITAL

O ambiente não tinha mudado: a habitual confusão, muita desorganização, o ar sufocante com os janelões sempre fechados, o mau cheiro de sempre, a luz fraca, sujeira por todos os lados e o sofrimento dos pacientes. De melhor havia uma presença maior de voluntários, leigos e sacerdotes, que circulavam entre os leitos das enfermarias para confortar e ajudar os doentes. E neste ambiente, o novo Camilo, lapidado pela força da fé e a graça de DEUS, se submeteu humilde e respeitosamente ao tratamento, com a esperança maior de ser curado e seguir o seu tão almejado ideal.

A primeira desilusão de Camilo chegou com a prorrogação da segunda internação no São Tiago, bem além das suas apressadas previsões. Ele foi submetido à terapia do guaco por dois períodos consecutivos, em anos alternados, na primavera de 1577 e na primavera de 1579. E fez todo o tratamento sem se desesperar e muito menos sem se rebelar. Muito pelo contrário, aceitava tudo com paciência e resignação, de modo tão consciente e respeitoso, que todos, desde o início, perceberam a transformação ocorrida nele. E eles percebendo a sua imensa caridade, aliada a uma grande disposição, à medida que evoluía a cura de sua ferida, passaram a utilizá-lo nos diversos setores do São Tiago, inclusive nas enfermarias. E ele pode mostrar toda a sua utilidade, agindo com presteza e competência. Quando por fim, diante das previsões encorajadoras dos doutores, e ele mesmo, vendo com os seus olhos, a ferida praticamente desaparecida, e também, se sentindo muito melhor, começou a se impacientar para voltar finalmente ao Convento. Naqueles três anos, embora imerso numa infinidade de ocupações no Hospital, jamais se esqueceu do Convento e aguardava ansiosamente a oportunidade de regressar ao Noviciado. Assim, no inicio de 1579, ele já estava pronto para voltar. Restava apenas cumprir a obrigação de informar ao seu Confessor Padre Felipe Neri (fundador do Oratório) e pedir a sua bênção.

Mas o Padre Felipe mostrou-se frio e contra aquele projeto de volta, inclusive afirmando, que a ferida poderia reabrir e os Capuchinhos iam mandá-lo embora!

VOLTOU LIGEIRO PARA O CONVENTO

Camilo ficou muito sentido com as palavras de seu Confessor, mas não desanimou, seguiu para o Convento e foi recebido de braços abertos pelo Padre João de Tusa, que se tornou Procurador Geral dos Capuchinhos. E Camilo foi mandado ao noviciado, comportando-se de maneira edificante e com total respeito à regra. Mas depois de quatro meses, no inicio do outono, de repente, a ferida começou a sangrar e a doer. Assim o vice-mestre Padre Luis de Ascoli e os Padres Capitulares do noviciado se viram obrigados, unanimente, a dispensar o noviço. Como está escrito nos documentos: “Não por qualquer defeito ou falta de virtude, mas somente por causa da ferida na perna, que dava sinais evidentes de uma doença incurável”.

A tristeza envolveu o seu coração era o fim de sua esperança de se tornar um frade e cumprir o voto que tinha feito a DEUS. Ficou inconsolável. Pediu declarações aos seus superiores que o exonerasse de qualquer responsabilidade na exclusão da Ordem e de não poder cumprir o voto de se tornar um frade. Foi para Roma, tentou entrar no Convento Franciscano de Ara Coeli, e também foi rejeitado pelo mesmo motivo. Camilo abatido e desanimado, na metade de Outubro de 1579 entrou no Hospital de São Tiago para tratamento pela terceira vez.

PELA TERCEIRA VEZ NO HOSPITAL EM ROMA

Embora o Hospital fosse muito procurado e as vagas fossem difíceis, ele já era conhecido e pelo seu empenho e excelente trabalho realizado na última internação, o receberam de braços abertos. Na verdade, ele tinha realizado aquele magnífico trabalho não somente por caridade, mas, sobretudo, buscando a própria santificação e comunhão que devia levar adiante com os irmãos na vida religiosa.

ADMINISTRADOR FIEL

Agora era diferente, porque exercitando a caridade com a mesma dedicação, sentia que sua vida seria lá, naquele lugar de dores físicas e morais. Até quando? Somente DEUS sabia, porque estava claro que aquela era a Vontade do SENHOR. Com esse espírito, Camilo arregaçou outra vez as mangas e mergulhou firme e com ímpeto renovado no trabalho. E tão eficiente e dedicado se portou que Monsenhor Antonio Maria Salviati, Dirigente Prelado do Hospital, o nomeou “administrador”, uma função tão delicada, quão importante e complexa, a qual, Camilo se desincumbiu com perfeição e louvor. Em todo lugar, observava as coisas, tudo controlava e tudo providenciava. Como um servente comum, não somente assistia os doentes, mas pensava em todas as necessidades e serviços do hospital: como o fornecimento dos alimentos, da lavagem, conservação, mudança e distribuição de roupa branca, limpeza das enfermarias e de todos os locais, implantação de turnos de trabalho, instrução e aprimoramento técnico dos funcionários, controle do pessoal, atuação dos médicos-sanitaristas e outros. No “Livro das Recordações”, o livro de registro mais importante do Hospital, está escrito além de uma infinidade de atividades, que o salário mensal de Camilo era mais de 20 escudos, o qual ele doava integralmente ao Hospital. E ele com prioridade estabeleceu que os enfermos devessem ser tratados da melhor maneira, serem curados e assistidos com amor, com respeito e afeto, delicadeza e veneração, como se nas suas dores físicas e morais, o próprio CRISTO renovasse e revivesse a sua Paixão.

Como administrador teve muito trabalho com o setor pessoal: especialmente enfermeiros e auxiliares (os paramédicos de hoje), porque na sua maioria descuidava dos deveres e obrigações, se esquivando de certos serviços, e também, maltratavam os doentes e eram grosseiros, não tinham muita paciência. Mas Camilo era teimoso e insistia, ensinava e repreendia os faltosos para corrigir os defeitos e fazia isso com tanto empenho, que o levava a repetir para si mesmo: “O meu lugar é aqui, onde há muito a fazer e combater, para amar e converter, para servir e reformar, onde há CRISTO que sofre, enquanto muitos continuam traí-lo, vendê-lo, insultá-lo e crucificá-lo”.

O SONHO DE UMA COMPANHIA

Frequentemente estes pensamentos e os problemas administrativos não o deixavam dormir. Em uma dessas noites de insônia, veio-lhe a cabeça a idéia “de fundar uma companhia de homens piedosos e de bem, sem visar o dinheiro, mas voluntariamente e por amor a DEUS, servissem os enfermos com o amor e carinho igual aquele que as mães têm pelos próprios filhos doentes”. Seriam esses os pioneiros da nova saúde, e seu exemplo convenceria e arrastaria homens e instituições.

Na busca de companheiros, Camilo não encontrou mais do que cinco homens piedosos e de bem, dispostos a ajudá-lo a formar uma Companhia para tratar e cuidar dos enfermos, em tempo integral, por amor a JESUS. Eram eles: Padre Francisco Profeta, Bernardino Norcino, Curzio Lodi, Ludovico Altobelli e Benigno Sauri. Guiados e eletrizados por Camilo, multiplicaram os esforços, a diligência, a disponibilidade, o empenho generoso entre os leitos dos doentes e em todos os serviços e necessidades do Hospital. Num determinado horário à noite, os seis se encontravam num quartinho desocupado, que prepararam para as suas exigências. Era a salinha de reunião, a Capela onde rezavam diante de um altarzinho com um Crucifixo, o seu oratório. A meta primordial do grupo era servir JESUS sofredor nos doentes, com abnegação e seriedade, sem qualquer outro interesse. Em suma, a recém nascida “Companhia” procuraria encarnar uma realidade nova, para melhorar as condições hospitalares e, ao mesmo tempo, levar todo o pessoal a se empenhar mais e melhor, nos próprios deveres morais e profissionais, para proveito material e espiritual dos doentes e da instituição.

A INVEJA, O SECRETÁRIO DE SATANÁS

Mas, como era previsível, a dedicação continua e sem reservas de Camilo e seus companheiros ao trabalho e aos doentes, nos outros serventes e dirigentes do Hospital, fez nascer um abominável ciúme. Diziam: “O que esse administrador está querendo? Porque incitou aquela turma de hipócritas a serem os primeiros da classe? Estão querendo reformar o Hospital? Ou querem aparecer como bonitinhos diante do Cardeal Vigário ou até diante do Papa”? Até o novo Diretor do Hospital, Monsenhor Agostinho Cusani e o Padre Felipe Neri, Confessor dele, influenciados pelas palavras caluniosas e ciumentas dos outros, voltaram-se contra Camilo e o seu grupo, criticando-o e censurando os seus “cuidados excessivos”.

Se Camilo tivesse dado atenção ao seu Confessor, nunca teria fundado a sua tão benéfica e eficaz Ordem Religiosa e nem reformado a saúde de seu tempo. Graças a DEUS desobedeceu-o, não por rebelião ou teimosia, mas para seguir a Vontade de DEUS, realizando o bem dos doentes e a vocação para servi-los dignamente. E na verdade, no próprio ambiente oratoriano, que ele frequentava, nem todos pensavam como o fundador, sobre a obra de Camilo. Dois deles, o leigo Marcantonio Corteselli e o Padre Francesco Tarugi, a quem Camilo havia confidenciado os seus projetos e realizações, se manifestaram favoravelmente a obra que ele realizava, inclusive, divulgaram abertamente para os demais membros do Oratório, o trabalho e o grande benefício que Camilo e seu grupo prestavam ao São Tiago. E por isso mesmo, foi também graças ao estimulo daqueles dois companheiros que Camilo começou a pensar seriamente em ampliar o horizonte de seu projeto, dilatando a sua “Companhia” para fora do Hospital São Tiago.

NOSSO SENHOR TRANQUILIZA O SEU ESPÍRITO

As agressões não cessavam. Certo dia, Camilo encontrou o quartinho das reuniões e oratório, todo revirado, o altarzinho desfeito e até o Crucifixo no chão. Superado o choque, retomou a coragem, recolheu JESUS e levou para o seu quarto. Estava triste e desencorajado com tantas críticas, e zombarias e agora com este ato covarde e selvagem. Então, ajoelhou-se diante do Crucifixo e disse a JESUS:

- “Porque tantas dificuldades e tantos problemas? TU não nos ajuda? Talvez não queira que formemos esta Companhia! Talvez sejamos realmente pobres iludidos e presunçosos como dizem Padre Felipe e Monsenhor Cusani! Faze-me conhecer a TUA Vontade, SENHOR, e ajuda-me a realizá-la”.

O SENHOR no Crucifixo lhe respondeu, uma vez à noite, em sonho, outra vez em visão.

Enquanto Camilo rezava, JESUS desprendeu os braços da Cruz, inclinou-se para ele e disse:

- “Por que você se tortura, Camilo? Não seja fraco e não se entregue. Continue a lutar e perseverar. Vai ver que conseguirá, porque aquilo que está fazendo não depende de você, mas é Obra Minha”.

A COMPANHIA GANHA UMA NOVA ALMA

Aquela prodigiosa revelação acendeu no coração de Camilo um ardor tão profundo, que não se apagaria nunca mais, em toda a sua vida. E também, a sua devoção por aquele Crucifixo acompanhou todos os dias da sua vida espiritual e caritativa. (Hoje, aquele Crucifixo é venerado na Igreja de Santa Maria Madalena, Igreja e Casa Mãe Romana dos Camilianos).

Levando o fato ao conhecimento de seus companheiros, todos ficaram mais entusiasmados e repletos de um imenso ardor, continuando firmes no projeto da “Companhia”. E por isso, compreenderam que só um sacerdote, Padre Francisco Profeta, era muito pouco em comparação com as dimensões do ideal que envolvia o coração de todos. Então Camilo se perguntou: “Por que não começar por mim? Tornar-me-ei sacerdote, e assim poderei fazer o bem, tanto ao corpo como à alma dos enfermos, dos meus companheiros e também de todos os outros”.

SACERDOTE DO DEUS ALTÍSSIMO

Assim, com 32 anos de idade e o mísero passado escolar que construíra, o “administrador” se curvou sobre os livros e cadernos, para se preparar para o grande passo. Matriculou-se no Colégio Romano, a respeitável Universidade fundada pelo Papa Gregório XIII, em 1567, para clérigos e estudantes de toda a Igreja, a qual era administrada pelos jesuítas. Com todo trabalho que tinha no Hospital, pode-se imaginar a grandeza do esforço e dos muitos sacrifícios que ele teve de fazer. Depois de três anos sob pressão, passou nos últimos exames, recebeu as ordens menores e se encaminhou para a reta final, rumo ao sacerdócio. Mas precisou parar bruscamente por uma dificuldade imprevista. Só podia chegar às ordens maiores e ao presbiterado, se tivesse um título patrimonial: uma propriedade, uma renda, dinheiro afinal. Camilo não tinha herdado nada de seus pais e também não possuía nenhuma economia, pois o seu salário de administrador devolvia integralmente ao Hospital. Mas a Providência Divina atuou. Camilo ganhou um generoso benfeitor e admirador, Fermo Calvi, que lhe doou seiscentos escudos, que era a renda anual mínima considerada pelo estatuto da entidade para o aspirante poder alcançar o sacerdócio (pois o sacerdote teria que ter as mínimas condições para se auto-sustentar). Camilo foi ordenado na Catedral dos Romanos, São João de Latrão, pelo Monsenhor Thomas Goldwel, bispo inglês que servia em Roma, no dia 25 de Maio de 1584, quando comemorava os seus 33 anos de idade.

Com a presença de todos os companheiros, e de Fermo Calvi, o seu grande benfeitor, Camilo celebrou a sua primeira Santa Missa no altar de NOSSA SENHORA, confiando a Ela a sua obra e o seu amanhã. Nesta ocasião, com generosidade e delicadeza, Calvi também doou ao novo sacerdote um cálice, um missal, três casulas, e um enxoval completo com os paramentos sagrados que usaria no cotidiano.

Em face da ordenação de Camilo, o pessoal do Hospital se acalmou, imaginando que ele iria continuar lá, pois todos conheciam a sua eficiência e honestidade, Assim os dirigentes do São Tiago o nomeou Capelão e lhe confiou o cuidado com a pequena Igrejinha vizinha ao Hospital entregue a proteção de NOSSA SENHORA DOS MILAGRES. Era um local modesto e inexpressivo, muito insalubre pela umidade, e frequentemente pela névoa que subia do rio, e também, sempre exposto ao perigo de inundações. Mas esta foi a primeira sede da Companhia de Camilo e seus companheiros, depois do quartinho do Hospital São Tiago.

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